22.1.14

A epopéia de Perseu




Acrísio era rei de Argos e a sua vida tornou-se um inferno quando um oráculo profetizou que o neto, o filho da filha Dánae, haveria de o matar. Para contrariar a profecia, manteve a filha sempre dentro de casa, talvez mesmo encarcerada numa torre de bronze. Mas isto não representava qualquer obstáculo para o rei dos deuses, Zeus (Júpiter), que se aproximou de Dánae na forma de chuveiro de ouro. Passado pouco tempo ela ficou grávida do deus, mas como estava escondida na torre, Acrísio não soube do nascimento do filho, Perseu, senão quando ele já era uma criança ativa e fazia tanto barulho que ele ouviu, mesmo apesar das grossas paredes da torre. E foi assim que o segredo de Dánae foi descoberto. Acrísio estava fora de si, de fúria e perplexidade.

Como é que o amante teria chegado até Dánae? E como poderia ele destruir Perseu sem cometer crime de sangue? Acrísio ordenou que fosse construída uma grande arca de madeira e que a mãe e o filho fossem postos dentro dela. Em seguida foi colocada no mar e o rei esperava que ambos morressem.

Quase todos os oráculos se transformam em realidade, mas as pessoas fortes lutam contra eles. Perseu e Dánae sobreviveram na arca de madeira até que foram apanhados na rede de um pescador perto da ilha de Sérifos, que levou mãe e filho para a corte do rei Polidectes que se sentiu muito atraído por Dánae. Durante anos cortejou-a, mas ela continuou a recusá-lo, dizendo que estava totalmente dedicada ao filho. Um dia, o rei convidou Dánae para uma festa, assim como Perseu, que nesta altura já era um jovem. Todos os convidados comeram e beberam bem. Polidectes pediu a cada homem que lhe oferecesse um cavalo, dizendo que precisava deles para o seu namoro com uma princesa de longe. Talvez o vinho tivesse tomado a cabeça de Perseu, pois após admitir que não tinha cavalo para oferecer, viu-se a prometer que faria tudo para agradar ao rei.

Mataria até o monstro Medusa. Era isto o que Polidectes esperava ouvir, para ter uma desculpa para se desembaraçar do jovem inconveniente, e, em vez de considerar que aquela conversa se devia ao vinho, aceitou prontamente a oferta de Perseu. Atena (Minerva) e Hermes (Mercúrio) gostavam do jovem Perseu e, na manhã seguinte, estavam à espera dele com conselhos e presentes. Atena deu-lhe o equipamento que ele iria precisar para lutar com a Medusa - um saco, um escudo polido tão brilhante como um espelho, e um elmo que em tempos tinha pertencido a Hades (Plutão), o deus do mundo dos mortos. Este elmo fazia com que quem o usasse fosse invisível. Hermes deu-lhe uma espada curva como uma foice e um par de sandálias com asas, em vez de lhe pôr as asas nos artelhos. Atena disse-lhe para experimentar as asas voando para o reino da Noite, para a casa das Greias, as únicas que sabiam onde encontrar a Medusa.

As Greias eram três divindades antigas que partilhavam um único olho que faziam entrar e sair das cavidades oculares vazias, e um único dente que entrava e saía das suas bocas pegajosas. Perseu estava pronto para as enfrentar, mas Atena recomendou-lhe que usasse a inteligência e não a força. Aguardou mesmo à entrada da entrada da gruta que elas ocupavam, com o elmo de Hades na cabeça para se tornar invisível, mas as Greias podiam sentir

que estava ali alguma coisa. «Dá-me o olho, irmã», insistiu uma delas e esticou a mão.

A que tinha o olho, com relutância, tirou-o e, durante um instante, as três estavam cegas. Perseu precipitou-se para a que tinha o olho na mão e tirou-lho. Ficou depois à espera que uma das irmãs entrasse em pânico e tirasse o dente para o entregar à seguinte e imediatamente o arrebatou. Como elas ficaram à mercê de Perseu, ele prometeu devolver-lhes os preciosos dente e olho com a condição de lhe dizerem onde podia encontrar a Medusa. As Greias não tinham escolha e disseram-lhe o que ele queria saber. Segundo narrativas ele devolveu o dente e o olho às irmãs, lutras referem que os terá atirado para as profundezas do lago deixando as Greias em desespero.

Medusa era uma das três irmãs Górgonas filhas de um deus do mar e viviam longe das terras dos homens mortais, numa ilha mais remota dos oceanos.

Duas destas Górgonas - Euríale e Esteno, eram imortais, enquanto a irmã - Medusa - podia ser morta. Em algumas versões da estória, porém, medusa não era irmã das imortais de nascimento, mas uma mulher mortal que tinha sido punida por Atena por se intrometer nos seus mistérios, ou por ter feito amor com Posídon (Neptuno) no templo da deusa virgem. Nesta versão, Atena não lhe tinha retirado a formosura, mas transformara-lhe o cabelo num emaranhado de serpentes e condenara-a a esconder-se na escuridão, impossibilitando-a assim de mais alguma vez ter intimidades com um homem.

Quem a olhasse nos olhos com amor seria instantaneamente petrificado. Em muitas narrativas e obras de arte, a Medusa é representada terrificamente feia, com uma língua gorda que lhe sai da boca, mas também é representada como uma mulher de uma beleza serena cujas serpentes são ornamentos reais colocados na sua cabeça e não repugnantes desfigurações.

Perseu utilizou o elmo da invisibilidade para entrar na gruta onde as Górgonas estavam a dormir, e usou o escudo que parecia um espelho para olhar para a Medusa indiretamente, fixando o seu reflexo ao aproximar-se e puxou da foice. A Górgona com serpentes no cabelo contorceu-se, pressentindo o perigo, mas não via nada para atacar. Sem poder saber de onde, a espada brilhou e decepou-lhe a cabeça.

Mesmo a morrer, a terrível cabeça tinha o poder de transformar em pedra quem a olhasse diretamente.

Perseu enfiou aquela coisa a sangrar dentro do saco e fugiu. Precisava de toda

a destreza e agilidade das sandálias com asas para fugir das outras Górgonas, mas, finalmente, elas ficaram para trás, derrotadas e chorosas, na escuridão.

Mal a cabeça da Medusa foi cortada, de dentro do seu pescoço saltou o cavalo alado, Pégaso, e um guerreiro humano já adulto, Criasor, filho dela e de Posídon.

O sangue da Medusa pingava do saco enquanto Perseu voava sobre os desertos da Líbia e cada gota transformou-se numa cobra diferente. Por fim, o herói estava cansado e quis descansar, mas quando tentou aterrar no noroeste de África, o Titã Atlas empurrou-o para o céu, porque um oráculo lhe tinha dito

que seria espoliado por um filho de Zeus. Quando Atlas não o deixou aterrar, Perseu tirou a cabeça para fora do saco e o gigantesco Titã foi espoliado de vida e transformado numa ainda mais gigantesca cadeia de montanhas, as Montanhas do Atlas, cujos cumes chegam aos céus.



Andrómeda e o Monstro

Perseu continuou a voar, encantado com a velocidade a que podia deslocar-se primeiramente para o norte mais distante e depois para sul. Quando voava sobre o mar em direção à costa da Etiópia, viu uma enorme rocha na praia e uma mulher nua acorrentada a ela. Deveria ter-se debatido, já que os braços e as pernas tinham feridas feitas pelas correntes, mas agora estava paralisada de medo, olhando para o mar onde uma serpente monstruosa cavalgava as ondas em sua direção.

A mulher acorrentada era Andrómeda, filha do rei Cefeu e da rainha Cassiopeia, a qual era tão louca que, tal como Níobe, atreveu-se a vangloriar-se de que se igualava aos deuses em beleza e, tal como Níobe, a gabarolice acabou em lágrimas. Cassiopeia afirmou que era mais bela que qualquer uma das suas ninfas, mais formosa que Hera (Juno), e o deus do mar Posídon retaliou inundando o país com um dilúvio e enviando uma serpente marinha para atacar o povo. Cefeu consultou o oráculo de Zeus para saber como poderia salvar o país da inundação e do monstro, e foi-lhe dito que só o sacrifício voluntário da própria filha aplacaria o deus do mar. Nessa manhã, os pais destroçados seguiram em procissão, banhados em lágrimas, em direção à pedra do sacrifício para aí acorrentarem a chorosa filha, tal como os pais de Psique choraram quando a levaram para casar com a morte.

Perseu desceu rapidamente do céu à terra, com a espada na mão, e golpeou a serpente até a matar. A seguir cortou a corrente que prendia Andrómeda e levou-a para a entregar aos pais, se bem que ansiasse tê-la nos braços. O rei não podia fazer mais nada do que consentir o casamento da filha com Perseu, embora ela já tivesse sido prometida ao tio Fineu. Andrómeda não queria casar com o tio, mas ele desejava muito casar com ela e, no dia do casamento, ele e os seus homens começaram a arranjar problemas. Perseu, porém, sabia bem como silenciar as suas línguas furiosas; tirou a cabeça da Górgona ainda a pingar do saco e, assim que Fineu e os seus homens olharam para ela, ficaram transformados em pedra. Alguns dizem que Cassiopeia também tinha colocado objeções ao casamento da filha e que, tal como Fineu, também foi petrificada. Mas parece mais provável que ela tenha ficado muito feliz com o salvamento da filha e que Posídon finalmente a tenha perdoado e homenageado nos céus noturnos, na forma da constelação Cassiopeia, perto da constelação Cefeu, que

celebra o marido. O monstro marinho de Posídon também pode ser encontrado no céu, como constelação Ceto. Perseu e Andrómeda também originaram constelações em memória da sua morte, e em que a estrela Argol representa a cabeça da Medusa na mão de Perseu.

Muito antes de Perseu e Andrómeda terem envelhecido e morrido, mesmo antes de se terem casado, Perseu tinha questões a resolver com dois reis. Primeiramente, vingou-se de Polidectes, o rei que tentou enviá-lo para uma morte certa. Voou até ao palácio de Polidectes e disse-lhe que tinha matado a Medusa, tal como prometido, mas o rei acusou-o de jactância infundada. Convocou todo o povo para a praça do mercado a fim de expor o mentiroso à vergonha pública.

Ninguém acreditou no que Perseu afirmava, à exceção da mãe, Dánae, e o do pescador, Díctis, que os tinha salvo a ambos retirando-os do mar.

«Tapem os olhos!», disse Perseu a Dánae e a Díctis e, em seguida, tirou a cabeça de Medusa mais uma vez do saco e ergueu-a no ar para que todos a vissem nesse mesmo instante, a praça do mercado encheu-se de estátuas de pedra em vez de pessoas vivas.

Após esse extermínio em massa, Atena decidiu que a cabeça da Medusa era demasiado potente para ser usada como arma por qualquer mortal e ficou com ela para adornar o seu aegis, a pele de cabra que ela usa quando vai armada para as batalhas. Perseu devolveu então o elmo da invisibilidade e as sandálias com asas, mas continuava com uma tarefa por cumprir que consistia em procurar e perdoar ao rei Acrísio que tinha encarcerado Dánae na torre e que depois o tinha enviado e à mãe para o mar dentro de uma arca de madeira. Acrísio estava escondido na cidade de Larissa, calculando que Perseu haveria de vir matá-lo. Mesmo quando soube que a cabeça da Medusa já não estava no saco de Perseu, teve dificuldade em acreditar que a sua vida não corresse perigo.

Perseu sugeriu um ritual de reconciliação e depois juntou-se a um concurso atlético que tinha lugar em Larissa. Participou no lançamento do disco e, quando ele o lançou, não se sabe porquê voou na direção errada e bateu num pé de Acrísio. O rei era então já velho e a dor e o choque provocaram-lhe a morte. O oráculo tinha-se cumprido e ele tinha morrido às mãos do neto. Teria sido um acidente, em que aconteceu o disco seguir o trajeto diferente do dado por Perseu, ou ele voou segundo o sentir do lançador, mesmo que sem intenção consciente?


Fonte:
Mitologias de todo o mundo
http://www.historia.templodeapolo.net/textos_ver.asp?Cod_textos=233&value=A%20epop%C3%A9ia%20de%20Perseu&civ=Mitologia%20Grega#topo


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