Maria Quitéria de Jesus Medeiros nasceu, possivelmente, em 1792, em arraial de São José de Itapororocas, na Bahia, mais precisamente no sítio do Licorizeiro. Sertaneja, em 1822 juntou-se às tropas que combatiam os portugueses, no movimento de Independência do Brasil. Primeiro ingressou no Corpo de Artilharia e, depois, no de Caçadores. Seu nome de guerra: soldado Medeiros. Em fins de 1822, incorporou-se ao Batalhão de Voluntários de Dom Pedro I, tornando-se,oficialmente, a primeira mulher a fazer parte de uma unidade militar no Brasil.
Em 20 de agosto de 1823, Dom Pedro I recebeu Maria Quitéria em audiência especial. Concedeu-lhe o soldo de alferes de linha e a condecoração de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro. Contam-se, sobre Maria Quitéria, histórias de coragem e audácia. Diz-se que tomou de assalto uma trincheira inimiga e fez prisioneiros, que conduziu sob a mira das armas. Diz-se também que usava uma farda azul com um saiote que ela concebera e um capacete com penacho. Apesar de tudo, Maria Quitéria nunca deixou de lado a feminilidade.
Após conquistar as glórias de guerreira, casou-se com Gabriel Pereira Brito e com ele teve uma filha, chamada Luísa Maria. Viúva, foi para Feira de Santana, tentar receber uma parte da herança do pai. Sua personalidade despertou a atenção da escritora inglesa Maria Graham, que sobre ela registrou: “Maria de Jesus é iletrada, mas viva. Tem inteligência clara e percepção aguda. Penso que se a educassem, ela se tornaria uma personalidade notável. Nada se observa de masculino nos seus modos, antes os possui gentis e amáveis.”
Não foi como mulher, porém, que Maria Quitéria conseguiu se alistar. Foi disfarçada de homem que ela se alistou como soldado voluntário. O motivo de seu ingresso nas forças armadas foi o ataque de um canhoneira contra a cidade de Cachoeira. As notícias sobre o incidente chegaram a Maria Quitéria pelos tropeiros que percorriam o sertão baiano. Duas semanas depois de alistar-se, descobriram que era uma mulher. Seu pai, que a procurava, tentou levá-la embora, mas o major Silva e Castro (avô do poeta Castro Alves) não permitiu que ela fosse desligada, por causa de sua facilidade no manejo das armas e da sua disciplina.
Seu fim de vida não foi coerente com a trajetória da heroína, reconhecida em maio de 1953, quando o Exército determinou que se inaugurasse, em todas as suas repartições, um retrato da mulher-soldado. Maria Quitéria morreu em 1853, em Salvador, para onde se mudara com a filha, quase cega e no anonimato. Em 1996 tornou-se patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.
Fonte:
Livro 100 Brasileiros (2004)