Luís Gonzaga Pinto da Gama foi a primeira grande figura do movimento abolicionista brasileiro. Morreu em 1882, portanto antes da Abolição da Escravidão pela qual tanto lutou. Gama nasceu em Salvador, em 21 de junho de 1830, uma década marcada por várias revoltas dos negros. Sua mãe participou da Sabinada, revolução de caráter federalista deflagrada na Bahia, em 1837.
Foi presa algumas vezes e fugiu para o Rio de Janeiro. Seu pai era um fidalgo português, que, falido, o vendeu como escravo quando Luís, nascido livre, tinha apenas 10 anos.
Ele foi para o Rio e, depois, para São Paulo. Deveria trabalhar nas plantações de café, mas os negros oriundos da Bahia, especialmente de Salvador, eram considerados rebeldes demais, a ponto de ameaçar a ordem das senzalas. Luís Gama acabou ficando na cidade de São Paulo, como escravo doméstico.
Alfabetizou-se e, aos 18 anos, fugiu do cativeiro. Serviu como soldado durante seis anos. Na Justiça, conseguiu demonstrar a ilegalidade de sua condição. Assim, conquistou a liberdade. Liberto, tornou-se soldado da Força Pública. Depois, escrivão da Secretaria de Polícia de São Paulo. Aproveitou-se do cargo para conhecer a legislação e usar o que aprendia em defesa dos escravos. Inaugurou a imprensa humorística paulistana, ao fundar, em 1864, o jornal O Diabo Coxo.
Em 1869, foi demitido da função de escrivão devido a seu comportamento diante de um juiz que resistiu a julgar casos de libertação de escravos propostos por ele. A demissão foi exigida pelo presidente da província e Luís Gama não se abalou. Respondeu: “Honro-me com a demissão que acabo de receber.” Além de demitido, foi processado por calúnia e injúria. Assumiu sua defesa diante do júri popular e foi absolvido por unanimidade. Depois desse episódio, Luís Gama passou a exercer exclusivamente a função de advogado. Mesmo sem jamais ter cursado qualquer faculdade, viria a se destacar como grande defensor da causa da liberdade.
Seu trabalho garantiu a liberdade de muitos negros. Seu recurso era usar as leis em vigor, que não eram respeitadas pelos fazendeiros. A principal era a lei de 1831 que declarava livre todos os negros que entraram no país depois daquela data. Foi também um militante da causa republicana. A defesa das causas da abolição e da República fez com que Luís Gama tivesse uma vida difícil, perto da miséria. Morreu em 24 de agosto de 1882. Seu enterro foi um acontecimento notável. Na São Paulo de 40 mil habitantes, três mil pessoas acompanharam o caixão do líder abolicionista. O jornal A Província de São Paulo publicou: “Jamais esta capital (...) viu mais imponente e espontânea manifestação de dor e profunda saudade de uma população inteira para com um cidadão.” De Luís Gama, disse Rui Barbosa: “Um coração de anjo, um espírito genial, uma torrente de eloqüência, de dialética e de graça”.
Fonte:
Livro 100 Brasileiros (2004)