Nascido na Fazenda Irissanga, em Jau, interior do Estado de São Paulo, em 04 de abril de 1900, João Ribeiro de Barros desde cedo apaixonou-se pela aviação. Por causa dessa paixão, abandonou o curso de Direito e foi para os EUA, com apenas 19 anos de idade, para estudar engenharia mecânica. Dois anos depois regressou ao Brasil já com o brevet internacional de piloto. O brevet tinha o número 88 e foi-lhe concedido pela Ligue Internationale des Aviateurs, da França. Durantes três anos participou de vários reides pelo interior do País e acabou voltando aos EUA, onde fez curso de navegação aérea, e depois foi à Alemanha, onde frequentou uma escola de acrobacia aérea. Em 1926, com apenas 26 anos de idade, propõe-se a atravessar o oceano Atlântico sul em um vôo sem auxílio da terra, como eram os vôos até então. Sua idéia era voar da Itália até o Brasil, no percurso que ficou conhecido como Reide Internacional Gênova-Santo Amaro. Em busca do sonho Buscou ajuda do governo brasileiro, na época, Washington Luís, mas não foi atendido. Decidido a ir em frente com seu projeto, vendeu sua parte da herança e foi para a Itália, onde comprou um hidroavião da fábrica Savóia Marcheti e, após prepará-lo para a empreitada, o batizou com o nome de Jahu, em homenagem à sua terra natal. Faltava a equipe agora. Barros contratou o mecânico Vasco Cinquini, o navegador Newton Braga e o segundo piloto Cunha. Este último iria atraiçoar Barros e tentar fazer fracassar o projeto. O governo italiano, ao saber do reide, e não se conformando que um piloto sul-americano fizesse uma proeza até então só esperada na Europa, quis tornar o reide oficial, e contratou o piloto De Pinedo. Mas para isso se tornar possível, já que a imprensa já noticiara os propósitos de Barros, era necessário fazer de tudo para atrasar a saída dos brasileiros. E para isso usaram até de sabotagem, colocando um pedaço de bronze no carter do Jahu, e ainda sabão, terra e água, nos reservatórios de combustível. Prisão, traição e malária Sem nada saber, a equipe brasileira alça vôo rumo ao Brasil, mas em Alicante, na Espanha, são obrigados a fazer um pouso forçado, e acabam sendo presos pelas autoridades espanholas. Soltos pela interferência da embaixada brasileira, e depois dos reparos no Jahu, retomam a missão, mas têm de fazer novo pouso forçado em Gibraltar, por causa de problemas no combustível. O Jahu alça vôo novamente, em precárias condições, sendo o combustível injetado através de bomba manual, e segue até Porto Praia, no arquipélago de Cabo Verde. Na ilha, Barros e sua equipe passaram vários meses fazendo os reparos definitivos no hidroavião, pois a partir dali, não poderia haver mais 'pousos forçados', e eles teriam que ir numa única escala, até as terras brasileiras. Arrancada para a glória Na madrugada de 28 de abril de 1927 o Jahu alça seu vôo definitivo rumo ao Brasil indo amerissar em Fernando de Noronha. Dali o Jahu voou para o Rio de Janeiro, onde Barros e sua equipe foram recebidos como verdadeiros heróis que eram. O piloto norte-americano Charles Lindbergh repetiu a façanha de Barros 22 dias depois, voando pelo Atlântico Norte. Mas Barros foi o primeiro, e por isso, além das homenagens recebidas por todo o Brasil, inclusive uma coroa de louros da Faculdade de Direito do Recife, Barros ainda foi agraciado com a Ordem do Tosão de Ouro, de Portugal, Ordem de São Francisco e São Lourenço, da Italia, Cavaleiro da Legião de Honra, da França, honrarias da Coroa da Belgica e o troféu Harmon, da Liga Internacional de Aviadores, em Paris, entre outros.. Em 1929, Barros pretende repetir a façanha, desta feita voando do Brasil para a Europa. Mas a morte de sua mãe abate o herói e o faz adiar a empreita. Quando finalmente resolve voar com o avião ao qual havia batizado com o nome de Margarida, vê, surpreso, que não poderia fazê-lo, por ordem do ditador Getulio Vargas. Desanimado, resolve viajar pelo mundo só retornando ao Brasil quando fica sabendo da Revolução Constitucionalista. Barros doa seus prêmios para ajudar os revolucionários. Perseguição, desilusão e morte Com o fim da revolução, Barros retorna à Fazenda Irissanga, onde mais tarde será preso pelos homens de Vargas, acusado de publicar um jornal clandestino contra o ditador. A polícia de Vargas nada encontra para incriminar Barros, e ele é solto. Completamente desiludido com o gênero humano, o herói se recolhe em Irissanga, onde falece em 20 de julho de 1947, com apenas 47 anos de idade.
Enquanto se esforçavam para continuar, Barros foi traido por Cunha, que foi expulso da equipe e foi substituido mais tarde por João Negrão. Mas Barros ainda sofreria quatro crises de malária e ainda uma campanha difamatória do jornal carioca A Pátria. Desanimado, já pensava em desistir, quando um telegrama de sua mãe, Margarida Barros o reanimou. Disposto a continuar, o herói respondeu à sua mãe: "A viagem de qualquer maneira será feita; haveremos de aportar ao Brasil. E se isso não se der, estaremos assim mesmo pagos, porque o Jahu terá a mais dígna sepultura, o mesmo oceano que haverá de banhar eternamente essa terra, tão grande na sua riqueza; tão grande na sua História!"
Empolgado com sua história, com a qual tive contato em 1977, através de um livro do professor José Raphael Toscano, tive a intenção de imediato de publicar uma HQ com sua epopéia. Fui juntando tudo que podia a respeito do herói, além do livro de Toscano de dados me fornecidos por Roberto Mussitano Rosa, fã número um de Barros, e de notícias publicadas no jornal Folha da Manhã (hoje Folha de São Paulo), consegui editar em 1994, com o apoio do Café Central, a revista A Águia Jauense. Tal revista, que foi distribuida a alunos das escolas jauenses hoje se encontra, para meu prazer, na Biblioteca da Editora Brasil-América e também na Itália. Ao professor Toscano e ao Roberto Mussitano, dedico essa página sobre o nosso herói internacional, comandante João Ribeiro de Barros.
Vasco Cinquini, Newton Braga e João Negrão
01 - Detentor do "Harmon Trofhée", honraria máxima que a "Ligue Interationale dês Aviateurs", com sede em Paris, oferece a piloto-aviador que tenha realizado um feito aviatório de tamanha importância, insuperável nos dez anos seguintes;
02 - Comendador da "Ordem Militar de Cristo"- pela Presidência da República Portuguesa;
03 - Agraciado com a "Legião de Honra", da França;
04 - Comendador da "Ordem de São Gregório", pela Coroa Real Italiana;
05 - Eleito vice-presidente da "Ligue Internationale dês Aviateurs", com sede em Paris;
06 - Láurea ofertada pelo rei Albert I, da Bélgica, como "Haut Protecteur de la "Ligue Internationale dês Aviaterus, em Bruxelas;
07 - Sócio de honra do "Reale Aeroclub d’Itália";
08 - Condecorado com a "Cruz Gamada", do governo alemão, na época, a mais alta distinção civil da Alemanha;
09 - Comendador da "Ordem de São Maurício"- pela Coroa Real Italiana;
10 - Diploma de "Grande Ufficiale de l’Ordine della Corona d’Italia", ofertado pelo rei Vittorio Emmanuele III (título de raríssima concessão, que dava ao agraciado o direito de se dirigir ao rei, chamado de primo);
11 - Convidado especial do governo alemão (Von Hindenburg) para participar da travessia do Atlântico, a bordo do dirigível mais famoso do mundo, o "Graf Zeppelin" (cabine 13), com destino a Berlim, escalando em Friedrichsafen;
12 - Comenda da "Cruz de Malta", com as armas italianas;
13 - Capitão da Força Pública do Estado de São Paulo;
14 - Major honorário do Exército Brasileiro;
15 - "Coroa de Louros"- Ribeiro de Barros foi o segundo brasileiro a cingir essa coroa, na Faculdade de Direito de Recife (PE);
16 - Sócio honorário do "Aeroclube do Brasil";
17 - Honrado com um telegrama de congratulações e reconhecimento do Pai da Aviação, Alberto Santos Dumont;
18 - Diploma da "Ordem do Mérito Aeronáutico", que o Presidente da República do Brasil, - Grão Mestre da mesma ordem – houve por bem admitir – post mortem – o comandante João Ribeiro de Barros, no corpo de Graduados Especiais, com o grau de Oficial – 1954;
19 - Ruas, praças, avenidas com seu nome, em quase todas as capitais e cidades principais do país;
Uma grande rodovia, com 450km, no Estado de São Paulo e que passa pela cidade de Jaú, no centro do Estado;
20 - Dois monumentos expressivos, em pedra e bronze, em sua cidade natal, Jaú;
21 - Um monumento, em São Paulo, de grandes proporções, em pedra e bronze, homenageando os aviadores transoceânicos, Francesco De Pinedo, da Itália e João Ribeiro de Barros, do Brasil.
22 - Recente - Encontra-se já aprovada, a algum tempo, pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, a proposta para substituir o nome do Aeroporto Internacional de Cumbica para Aeroporto Internacional "Comandante João Ribeiro de Barros", a exemplo do "Leonardo da Vinci", na Itália, "Charles de Gaulle", na França, "John F. Kennedy" nos Estados Unidos, "Santos Dumont", no Rio de Janeiro, e muitos outros, no mundo todo, homenageando os seus respectivos grandes homens.
Mas... , infelizmente, não se tem mais falado nesse assunto! ... Talvez, um gesto nobre de reconhecimento, por parte do nosso Ministério da Aeronáutica, pudesse ajudar na resolução dessa justíssima homenagem a favor daquele que, com audácia, coragem e grande desprendimento pessoal, deu tantas glórias à Aviação do Brasil, passando inclusive a fazer parte do patrimônio da humanidade, como os heróis de todos os tempos, que "por suas obras valorosas, se vão da lei da morte libertando"