16.12.10

Biografia de Hegel

trodução sobre Hegel



Hegel


A história como autorrealização. Era assim a perspectiva que o filósofo alemão Hegel tinha do andamento da humanidade. Para ele, a história caminha dentro de um progresso inevitável, num processo dialético em que o objetivo é a descoberta do sentido da vida. O núcleo do pensamento hegeliano, o método dialético, seria décadas após a morte de seu criador utilizado por Karl Marx para fundamentar sua utopia comunista.
Hegel viveu numa das épocas mais transformadoras do mundo. A Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial construíram o cenário sobre o qual sua vida se passou. Sua filosofia baseada na dialética permitiu a ele guinadas radicais em seus pensamentos políticos. Quando jovem viu com satisfação a Revolução Francesa e seus desdobramentos como prova de que o andamento da história operava de acordo com o método dialético que preconizou. Na velhice, elogiou o arquiconservador estado prussiano.


A definição da dialética

Toda verdade ou pensamento realmente lógico tem três aspectos. Primeiro, o aspecto abstrato ou compreensível, que indica o que uma coisa é. Segundo, sua negação dialética, que diz o que ela não é. Terceiro, o especulativo – que é a compreensão concreta: “A” é ao mesmo tempo aquilo que não é. Esses três aspectos não constituem os três aspectos da lógica; são antes momentos de tudo que possui realidade e verdade lógica. São partes de todo conceito filosófico. Todo conceito é racional, é uma abstração oposta a outra e é abrangida por uma unidade com seu oposto.

Enciclopédia das ciências filosóficas, 1

A filosofia que Hegel desenvolveu é de difícil compreensão. Ele próprio admitiu que “apenas um homem me entende, e mesmo ele não o consegue”. Em seus textos ou mesmo em suas aulas na universidade suas explicações são complexas e tortuosas. Durante sua vida ele produziu ideias sobre estética, filosofia da religião e sua famosa filosofia da história, fundamentada no processo dialético. Conheça nas próximas páginas mais sobre a vida e obra desse importante filósofo alemão.

A juventude de Hegel
Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em 27 de agosto de 1770, em Stuttgart, na Alemanha. A época do seu nascimento é uma das mais fecundas intelectualmente e agitada politicamente na Europa. O continente vivenciava a atmosfera da véspera da Revolução Francesa, Immanuel Kantdesenvolvia sua impactante filosofia metafísica, o Romantismo produzia suas primeiras obras e a Revolução Industrial começava a mudar as relações econômicas e sociais.

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© iStockphoto.com / Michael Cavén

Nesse ambiente, ele cresceria e produziria uma das mais complexas, herméticas e impactantes obras da filosofia. Tão difícil de ser compreendida, que o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, uma das mentes mais brilhantes da época, comentou: “o cúmulo da audácia em oferecer um puro despropósito, em juntar labirintos de palavras sem sentido e extravagantes, antes vistas apenas em hospícios, foi finalmente alcançado em Hegel, tornando-se o instrumento da mais desavergonhada mistificação geral jamais ocorrida, com resultados que parecerão fabulosos à posteridade e permanecerão como um monumento à estupidez alemã”.

A infância de Hegel foi marcada por doenças e tragédias. Aos seis anos de idade a varíola quase o matou e deixou marcas em toda a sua pele. Quando tinha onze anos, uma grave febre acomete toda a sua família e acaba matando sua mãe. Na adolescência foi a malária que o deixou acamado pro vários meses. O jovem Hegel cresceu lendo muito e de tudo. De literatura a periódicos, todos os assuntos lhe interessavam, o que fez dele uma das pessoas mais eruditas de seu tempo. Erudição que iria transparecer em suas obras filosóficas numa montanha de citações e referências, algumas às vezes com erros desprezíveis que sinalizaram que ele utilizava sua memória enciclopédica para inseri-las sem recorrer às fontes.

Órfão de mãe e com um pai que foi ao que parece um tanto distante, Hegel desenvolveu uma grande afeição por sua irmã Christiane, três anos mais nova do que ele. Mas esse forte vínculo entre os dois teria consequências trágicas no futuro.

Quando tinha 18 anos, Hegel foi estudar Teologia na Universidade de Tübingen. Ao chegar lá, começou a se interessar profundamente pela filosofia e tornou-se um revolucionário romântico. Quando começou aRevolução Francesa, para saudá-la ele plantou uma “Árvore da Liberdade” na praça do mercado junto com seu então colega de universidade Friedrich Schelling, que viria a ser no futuro um dos filósofos que mais combateria as ideias hegelianas.

A publicação de “A Crítica da Razão Pura”, de Kant, impressionou tanto a Hegel que ele a considerou o maior evento em toda a história da filosofia alemã. Ao mesmo tempo em que se aprofundava no pensamento kantiano, Hegel fez incursões na cultura grega antiga. Com uma erudição assombrosa para sua idade, Hegel concluiu a universidade em 1793, mas não manifestou nenhuma intenção de entrar na Igreja. Sua vontade era obter um posto acadêmico, mas o que conseguiu foi ser professor particular em Berna, na Suíça, onde solitariamente entrou em profunda comunhão com a natureza. Ele começava a se preparar para produzir uma das mais importantes obras da história da filosofia: “A fenomenologia do espírito”.

Hegel e a fenomenologia do espírito
Após três anos na Suíça, Hegel mudou-se para Frankfurt (Alemanha), onde seu amigo o poeta Hölderlin conseguiu-lhe um emprego de professor. Nessa época, Hegel estava lendo as obras de Spinoza, filósofo que a partir de poucos axiomas e definições básicas, elaborou, utilizando uma série de teoremas, um sistema infinito de extrema limpidez e racionalismo. Provavelmente influenciado pelo pensamento spinozista, Hegel teve uma visão: a percepção da unidade divina do cosmo, onde toda divisão finita era vista como ilusória, tudo era interdependente e a realidade última era o Todo.

Em 1801, o ainda amigo Schelling encorajou Hegel a juntar-se a ele no corpo docente da Universidade de Iena, uma das mais atraentes da Alemanha. Lá começou como “privatdozent”, um cargo cuja remuneração dependia da quantidade de alunos. Suas aulas confusas não atraíam tantos alunos e ele começou a enfrentar problemas financeiros. Foi necessária a intervenção de Goethe para que Hegel fosse nomeado “professor extraordinário” e conseguisse ter um salário decente. Nessa época, ele pôde avançar na elaboração de sua principal obra filosófica: “A fenomenologia do espírito”.

Só que além de finalizar seu trabalho mais perfeito e complexo, Hegel também acabou por engravidar sua senhoria. E após salvar os manuscritos de “A fenomenologia do espírito” da guerra entre as tropas de Napoleão e as alemãs, Hegel conseguiu publicar a obra em 1807. Nela ele revelava seu sistema filosófico, que incluía absolutamente tudo. E esse sistema se apóia no original método desenvolvido por Hegel: a dialética. A dialética começa com uma “tese”. A “tese” provoca o surgimento de seu oposto: a “antítese”. Mas assim como a “tese” a “antítese” também é inadequada. Então, os dois opostos se juntam para formar uma “síntese”. Essa síntese conserva o que há de racional tanto na tese como na antítese e pode virar uma nova tese, que gerará sua antítese e que juntas formarão uma nova síntese. E assim por diante, ascendendo a domínios cada vez mais racionais, até atingir o Conhecimento Absoluto, que, segundo Hegel, é o espírito conhecendo-se como espírito.

No ano seguinte a publicação, Hegel torna-se diretor do Gymnasium em Nuremberg. Nessa ocasião algo inacreditável aconteceu. Ele se apaixonou e foi correspondido. Marie Von Tucher, de 18 anos, pertencia a uma respeitável família local. Ela se casou com ele e aparentemente tiveram uma feliz vida conjugal e dois filhos.

No período em Nuremberg, Hegel escreveu “A ciência da lógica”, obra que na verdade trata da metafísica e do processo dialético, a partir de um enfoque histórico da filosofia. O livro o tornou famoso e em 1816 foi lecionar na Universidade de Heidelberg. Lá escreveu a “Enciclopédia das ciências filosóficas”, com o objetivo de que seus alunos a estudassem antes de frequentarem as aulas. Nela, ele elabora seu sistema que é uma espécie de monismo espiritual construído a partir de uma série de estruturas piramidais. No topo dessa estrutura há uma supertríade formada pela tese que é a “Ideia Absoluta”, sua antítese que é a “Natureza” e a síntese que é o “Espírito Absoluto” ou “Realidade Absoluta”. O método dialético atua ao longo de todo o processo. A verdade só pode ser conhecida após ter se diferenciado – gerado sua antítese – e superado esse fato.

Nos anos seguintes, como se a dialética aplicasse-se a ele próprio, Hegel, que saudou o espírito revolucionário no final do século 18, tornou-se praticamente o filósofo oficial do Império Prussiano, que àquela altura exercia seu poder sobre a Alemanha. Em 1830, ele foi nomeado reitor da Universidade de Berlim e no ano seguinte condecorado pelo rei Frederico Guilherme III. Em 1831, uma epidemia de cólera chegou a Berlim e em 14 de novembro Hegel, acometido pela doença, morreu.
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