Uma das maiores descobertas arqueológicas de todos os tempos, o exercito de terracota do Primeiro Imperador envolveu também um dos mais vastos canteiros de escavações jamais visto. O sitio cobre mais de 2 hectares e ainda resta muito a explorar. O fosso 1, o mais explorado até agora, tem cerca de 5 metros de profundidade, 225 metros de comprimento e mais de 60 metros de largura. Para abrir esse fosso, bem como os outros dois em que foram encontradas esculturas, os trabalhadores do imperador removeram mais de 100 mil metros cúbicos de terra - volume suficiente para encher cerca de 36 piscinas olímpicas. Como o poço aberto, os escavadores jogaram para o fundo uma parte da terra, para socá-la bem, até obter um piso duro como cimento, de 60 centímetros de espessura. Com o mesmo método, ergueram ao longo de todo perímetro muros de 3 metros de altura; alguns têm 2,5 metros de espessura e outros conservam marcas das armações que seguravam a terra enquanto esta era compacta. Paredes divisórias separam os fossos 1 e 2 em longos corredores, no sentido leste-oeste; após erguê-las, os pedreiros forraram o chão com cerca de 250 mil tijolos retangulares, mantendo um certo declive a partir do centro, em direção às laterais, para garantir o escoamento da umidade para os lados. Para abrigar o exercito soterrado, os carpinteiros colocaram pesados postes de pinho ou de cedro enterrados em cavidades de 30 centímetros de profundidade escavadas junto aos muros fronteiriços e divisórios e os uniram com traves horizontais, formando vigas. Perpendicularmente a estas, arrumaram séries de caibros de 12 metros de comprimento e, sobre estes últimos, camadas de bambu ou de palha trançada, que recobriram com uma outra camada de 28 centímetros de argila, que atualmente parece vermelha, talvez devido ao incêndio que assolou o sitio há 2200 anos. Marcas de rodas deixadas nas rampas fazem supor que as estátuas, eram colocadas em seus lugares com auxilio de rodas, após o teto ter sido terminado. Em seguida, tais acessos foram obstruídos com postes, esteiras e terra batida e, por fim, toda a abertura foi enterrada - até a eternidade, segundo a crença de seus construtores - sob 3 metros de terra. Segundo os textos antigos, apenas uma obra da época Tsin ultrapassou a grandeza da Grande Muralha, em termos de ocupação de força de trabalho - o colossal mausoléu de Chi Huang-di, que mobilizou 700 mil prisioneiros e outros trabalhadores. A construção foi iniciada em 246 a.C., quando Chi, ainda menino, herdou o trono de Tsin; e não estava concluída quando ele morreu, 36 anos mais tarde. Os arqueólogos só podem especular sobre o que todos esses trabalhadores poderiam ter realizado se dispusessem de mais tempo. No entanto, é inegável que criaram uma obra considerada hoje como uma das grandes maravilhas do mundo - o exército de terracota. O trabalho está longe de ser concluído - sob alguns aspectos mal começou. Porém, os pesquisadores já puderam colher desse material preciosas informações acerca da estrutura e da organização do exercito de Chi Huang-di, bem como a respeito de suas armas e de suas táticas. O fosso 1, a cova retangular penetrada inicialmente pelos arqueólogos, tem sido o mais estudado. Ele conserva a principal força de combate do exercito enterrado - que se estima conter ao todo pelo menos 6 mil figuras de barro, das quais mais de duzentas formam a vanguarda da unidade. Vestidos com simples túnicas de combate, calçados leves e perneira, sem armaduras, essas tropas estão formadas ombro a ombro em três fileiras, na extremidade oriental do fosso. A posição das mãos dos arqueiros e a abundancia de peças de bronze achada nas proximidades - como mecanismos arremessadores de bestas e pontas de flecha - levou os arqueólogos a concluir que cada soldado, originalmente, devia portar uma besta, constituída de um arco de madeira de 1,35 metros de comprimento, enrolado com tiras de couro e laqueado, depois preso a uma vara de madeira com ranhuras. Segundo as fontes, essa arma tinha um alcance de 800 metros e produzia um impulso de 360 quilos, mais que suficiente para trespassar a amadura do inimigo. Os modernos historiadores afirmam que essas armas apareceram pela primeira vez no Ocidente na batalha de Sogdiana, na Ásia central, em 36 a.C., quando os escudos dos soldados romanos foram furados com facilidade pelas flechas vindas das bestas. Durante o ataque os arqueiros provavelmente se colocavam a uma certa distancia, em posição semelhante à da moderna artilharia de longa distancia, para crivar os inimigos do Primeiro Imperador com uma chuva de flechas letais Imediatamente atrás dessa vanguarda, onze corredores se abrem em direção ao oeste; em seis deles há carros cobertos puxados a cavalo e uma tropa avançada de soldados de infantaria. Um par de sinos de bronze de 3 quilos cada um e os restos de tambores também foram encontrados ao de dois dos carros, levando os arqueólogos a concluir que os veículos eram mais carros de comando do que de combate - suposição apoiada por fontes históricas. Um toque de tambor, por exemplo, assinalava o inicio da marcha das tropas, segundo os textos, enquanto um segundo toque significava o inicio do ataque. Por outro lado, o toque do sino advertia os soldados para encerrar o combate, e um novo repicar dava a ordem de retirada. A maior parte do exercito de terracota é formada por soldados de infantaria, usando armaduras leves. Impressionantes pelo número, que constituía a maior força do exercito real, eles se erguem em fileiras de quatro atrás dos carros e, em três corredores, ao lado de lanceiros sem armaduras. Embora atualmente as estatuas apresentem uma uniforme cor castanho-acinzentada, ainda permanecem aqui e ali as marcas de pintura no barro, indicando que os personagens brilhavam outrora com vestes de cores vibrantes: armadura de tom castanho presas por tiras vermelhas, túnicas e perneiras verdes ou cor de púrpura e chapéus castanhos, ou brancos, amarrados com laços de cor vermelha ou púrpura. Duas longas fileiras de arqueiros prontos para o combate foram descobertos nas alas das extremidades norte e sul do fosso e as sondagens exploratórias sugerem a presença de três fileiras de atiradores de elite - uma imagem em espelho da vanguarda - em posição no oeste. Em cada lado, os arqueiros que formam as alas estão voltados para o exterior, tornando a massa interna de soldados e cavalos invulnerável a um ataque de surpresa, vindo de qualquer direção. Porém, está não era a única vantagem dessa formação, acrescentam os historiadores. Ela permitia que o exército de Tsin fosse tão eficiente em combate frontal quanto capaz de se desdobrar fácil e rapidamente para uma formação em "V", por exemplo, para envolver o inimigo - ou e, "V" invertido, para tentar penetrar o centro. Sondagens preliminares e escavações em determinados pontos revelaram que o fosso 2, a galeria subterrânea situada imediatamente a nordeste do fosso 1, abrigava igualmente um notável dispositivo militar. Cerca de oitenta arqueiros, todos eles descansando sobre o joelho direito e olhando com segurança para o leste, estão organizados em uma formação quadrada, no canto nordeste da câmara, rodeados por todos os lados por soldados de infantaria em marcha, sem armaduras. A oeste dos arqueiros está agrupado um conjunto formado por carros, infantaria e cavalaria - soldados com armaduras, que levam uma besta na mão esquerda e as rédeas de um cavalo de terracota na mão direita. Os historiadores militares afirmam que essas tropas tiveram um papel decisivo durante a campanha de Changping, que opôs os reinos de Tsin e Tsao, uma no antes do nascimento do Primeiro Imperador. Ao fim do conflito, um destacamento Tsin especial, formado por 25 mil condutores de carro e soldados de infantaria perseguiu o exercito de Tsao em retira, enquanto 5 mil cavaleiros iam atacar os acampamentos de defesa do inimigo. A ofensiva foi de eficácia decisiva e sangrenta. O exercito de Tsao foi dividido, ficando apartado de suas vias de suprimento. Acredita-se que os oitos corredores mais meridionais do fosso 2 abriguem apenas carros e seus condutores. As sondagens exploratórias até hoje realizadas não encontraram nenhum instrumento de comando, nem soldados de infantaria, como os que acompanhavam os veículos semelhantes do fosso 1. Essa constatação levou alguns estudiosos a concluir que os carros do fosso 2 representavam a força reserva. Originalmente, dezenas de soldados armados - com os calcanhares encostados nas paredes e os olhos mirando fixamente à frente - se mantinham em guarda na ala sul do fosso 3, uma câmara em forma de U que é a menor entre as três que contêm estatuas. Duas filas de onze guerreiros estavam aguardando, em um corredor semelhante, ao norte. E perto do centro da galeria os arqueólogos descobriram os restos de um carro coberto, atrelado a quatro cavalos de terracota. Os historiadores militares acreditam que os homens do fosso 3 constituem uma guarda permanente do centro de comando do conjunto do exercito de terracota esses carros provavelmente serviam para levar as ordens às tropas, no campo de batalha. Contudo, a presença de cifres de veado e ossos de animais no mesmo local levou os investigadores a concluir que o fosso 3 tivera também uma segunda função, como lugar especial para reuniões, no qual eram realizados sacrifícios e orações, e onde se tentava predizer os resultados das batalhas que se realizariam. Os historiadores não têm dúvida acerca do fascínio que tais praticas exerciam sobre o Primeiro Imperador. No entanto, é pouco provável que algum oráculo tenha conseguido predizer a rapidez com a qual seu reino - e sua dinastia nascente - iriam desaparecer. Fonte: www.chinaonline.com.br
Desde que o sitio foi descoberto oficialmente, em 1974, os arqueólogos têm estado ocupados em desenterrar, documentar e penosamente tentar preservar essas figuras.