Ouçam a triste estória da humanidade: A princípio sem maiores cuidados eu lhe dei mente e razão. A Grécia Arcaica deu passagem à Época Clássica, num movimento rápido de luz e sombras, cheio de alegria e medo. Conforme os helênicos aniquilavam e absorviam os primitivos Aqueus, os valores outrora articulados nos Mistérios e, de alguma forma, cruamente aplicados à esfera social eram formulados com uma nova consciência intelectual e sensibilidade política. As tiranias familiares foram reduzidas a oligarquias e, em Atenas, a democracias. As divisões sociais que haviam sido afastadas apenas para propósitos específicos e dramáticos - por exemplo, o resgate de Helena de Tróia, a busca do Velocino de Ouro na região de Colchis - foram deixadas de lado em novas e ousadas alianças, forjadas por interesses comerciais e políticos que se expandiam, pela colonização e por um certo sentido patriótico de "Grécia Maior", assim como por repetidas incursões da Pérsia. Não faltaram questões e experimentos, que tanto revitalizavam os ideais antigos quanto geravam novas perspectivas, enquanto minavam as bases dos Mistérios. Na excitação do processo de liberação e enfraquecimento da nova ordem, alguns pensadores sensíveis previram a perigosa possibilidade dos Mistérios se tornarem irrelevantes e a necessidade de contenção do crescimento do abismo entre o conhecimento das verdades eternas e suas aplicações seculares no âmbito público. Dentre os primeiros a reconhecer esta necessidade e a trabalhar por ela através de uma transformação ousada dos materiais existentes estava Ésquilo, "o pai da tragédia grega". A vida de Ésquilo é quase desconhecida, a não ser por um esboço geral encontrado num manuscrito do século XI sobre várias peças de teatro, hoje em dia preservado em Florença. Seu autor e sua fonte original estão perdidos para a história. Ésquilo nasceu em Elêusis em 525 AC., filho de Eufórion e descendente dos Eupátrides, a antiga nobreza ateniense. Sua família era, sem dúvida, altamente respeitada, acostumada à proeminência nas apresentações cívicas e, conforme a tradição, imersa nos Mistérios de Elêusis, consagrados a Deméter, deusa da terra e da ressurreição da vida. Todos os anos, uma elaborada procissão era cruzava as paisagens proibidas desde Atenas até Elêusis, onde as multidões esperavam para ver a celebração pública dos Mistérios Menores. Uns poucos estudantes da vida, dedicados e auto-testados, eram admitidos aos graus dos Mistérios Maiores, e neles Ésquilo juntou-se a seu pai. É mais que provável que Ésquilo tenha recebido uma educação excelente, o que, para uma pessoa de sua classe social, incluía o cultivo de um profundo senso de responsabilidade pelo estado ateniense. Durante a prolongada guerra com a Pérsia, de 490 a 479 AC, Ésquilo lutou nas batalhas de Maratona, Artemísia, Salamis e Plataea. Em Maratona ele viu seu irmão Cinaegirus ser morto num ato de bravura. Os irmãos lutaram com tanta nobreza que mereceram ser imortalizados no quadro de Maratona no Pórtico Pintado (N.E. localizado no mercado público de Atenas, Grécia, inaugurado por volta do ano 300 AC.). Embora ninguém saiba quando Ésquilo tenha volvido seu intelecto penetrante à expressão poética, isto deve ter sido em sua juventude, pois ele primeiramente disputou o prêmio no festival de drama de Atenas em 499 AC, quando tinha vinte e seis anos. Sua primeira vitória registrada ocorreu em 484 AC, e entre aquela data e seu último ciclo de peças de teatro, apresentadas em 458 AC, ele ganhou o prêmio mais de doze vezes. De acordo com Suidas, Ésquilo escreveu noventa peças, das quais títulos e fragmentos de mais de oitenta delas ainda existem. Infelizmente, apenas sete peças completas permanecem como testemunho de seu gênio excepcional. Ésquilo viveu a turbulência espiritual e psíquica que marcou a transição de um mundo familiar a Homero e outro no qual Sócrates passou sua juventude. Talvez desde o começo, e certamente pelos anos de sua maturidade afora, Ésquilo procurava expressar as verdades eternas num idioma forjado na consciência da época, mas apontando para além dela. Superou a compressão inevitável da história, transformando o ritual em drama, uma forma de arte capaz de descrever verdades universais em formas temporais acessíveis à contemplação e à observação. Ésquilo escolheu como sua expressão a tragoidia, ou tragédia, que significa literalmente uma "canção ao bode". De acordo com os gregos antigos, esta forma de drama recebeu seu nome do sacrifício de um bode quando as canções eram entoadas, ou de um bode dado em prêmio pela melhor canção. Apresentado juntamente com o festival de Dionísio na primavera, o antigo teatro de mímicas de canções parecia celebrar o tema da ressurreição de Dionísio, o deus solar, senhor da fertilidade universal e patrono do êxtase - aquele que quebra os limites da forma. Até mesmo antes de Ésquilo, algumas destas apresentações relacionavam-se diretamente com Dionísio. Thespis introduziu versos falados ao coro, e em 534 AC Atenas estabeleceu apresentações anuais desta nova arte. Peisistratus aprovou o acréscimo de um segundo ator e estabeleceu o coro em quinze elementos. O arcaico picadeiro - onde os grãos eram separados das cascas- deu lugar a um palco semicircular e um cenário de fundo padrão. Ao longo de um dia, um dramaturgo apresentaria quatro peças, três tragédias e uma sátira, que era uma peça leve apresentando os companheiros de Dionísio. As tragédias antigas deviam ter finais felizes e até mesmo gloriosos, mas nunca deixavam de citar os Mistérios através de suas investigações mais sérias sobre as relações dos homens com os deuses. O assunto de uma tragédia é a confusão neste relacionamento, e sua conclusão levava à aniquilação ou à reforma. Os mitos ganhavam vida nos dramas que enfrentavam o duplo reflexo de um caleidoscópio, ao mesmo tempo mostrando aos homens as idiosincrasias dos deuses, e refletindo de volta sobre os homens suas próprias naturezas não desenvolvidas. De posse de todos estes elementos, Ésquilo explorava seus potenciais ao máximo, introduzindo uma mistura de diálogo, comentários em coro, ação dramática e efeitos brilhantes para trazer os mitos antigos à vida. Reconhecendo no tempo uma tocante imagem da eternidade, ele expunha ante o véu do proskenion (N.E. a parte frontal do palco) a imagem da sabedoria secreta por detrás, ora ocultando ora revelando-a. Compreendendo profundamente as possibilidades da tragédia, Ésquilo mereceu o título de "pai da tragédia grega". Já que as vidas comuns são, na maioria das vezes, uma mistura de fraquezas, ambigüidades, boas intenções e tristes recordações, Ésquilo usou as vidas arquetípicas dos deuses e dos heróis antigos, cujas forças e erros são fortemente marcantes, para demonstrar como se desequilibra e se restaura a relação entre o humano e o divino, assim como as conseqüências de cada ato. Para tal, ele fez perguntas ousadas sobre as ações e o pensamento humanos e sobre a natureza e significado das respostas divinas. Já que seus personagens representam qualquer ser humano envolvido em circunstâncias familiares, as idiossincrasias se minimizavam, o destino e o caráter eram realçados e, dentro do período relativamente curto de uma peça, era essencial a atenção cuidadosa da audiência. O resultado era uma experiência arquetípica, intensa, que podia ser aplicada aos fatos obscuros da vida diária. Gerações de estudiosos já ponderaram sobre a ordem na qual Ésquilo teria escrito suas peças e especularam sobre os fragmentos torturantes das peças que se perderam para a história. Dentro destas incertezas, parece que se pode vislumbrar uma cena geral. 'Os Persas' foi apresentada em 472 AC, e 'Sete Contra Tebas', em 467AC. A tetralogia (inclusive a sátira) da qual só 'Os Suplicantes' sobrevive, foi encenada provavelmente em 466 ou 463. A 'Orestéia', a única trilogia intacta, data de 458, e a 'Prometéia', conhecida desde Prometeu Acorrentado e alguns fragmentos, foi escrita nos dois últimos anos de vida do autor. Embora seja impossível discernir de que forma o pensamento e a composição de Ésquilo evoluíram ao longo de uma vida imensamente produtiva, suas meditações mais amadurecidas são representadas. Nas peças mais antigas ainda existentes, o arquiteto divino não é questionado. As regras de Zeus podem ser severas e até mesmo inflexíveis, mas o cosmos é tão confortável que pode ser previsível. As ações passadas têm conseqüências presentes e os descendentes podem colher os resultados dos erros dos ancestrais. O desequilíbrio não se acerta sozinho, mas se transmite pelas gerações, ajudado pelo conluio inconsciente dos envolvidos. Em 'Os Persas', o fantasma de Darius conta que um velho oráculo predisse a queda do exército persa por causa da arrogância, mas Xerxes se deixa levar pelo orgulho confirmando a previsão. Em 'Sete Contra Tebas', Eteocles, que vivia sob o domínio de uma maldição, enfrenta com nobreza o choque de descobrir que a cidade será atacada por seu irmão Polineices. A catástrofe se completa quando Eteocles decide lutar com a mesma paixão violenta que inflama Polineices. E ele declara sua intenção: "De um Governante de bom grado arrebatar o trono, irmão com irmão igualados e inimigo com inimigo, é assim que enfrento a questão. Para o paredão!" E o Líder do Coro entoa: - Oh, Coração Sensível, Oh, Filho de Édipo! Não se entregue à ira também, como o homem cujo nome uma maldição murmura! Já basta que o clã de Cadmo lute com a hoste de Argos, pois lá só o sangue pode expiar aquela falta! Ésquilo mostra que os deuses, e especialmente Zeus, podem fixar as regras da vida com alternativas terríveis, mas o desequilíbrio catastrófico é desencadeado pelo homem, desejoso de se lançar num precipício. Nas peças posteriores esta perspectiva é tomada como certa e elevada a outro nível. Os deuses deixam de formar o pano-de-fundo cósmico e de tecer comentários aos eventos; eles entram como seguidores de diferentes partidos. O conflito no peito humano é o reflexo da guerra nos céus. Se o homem é uma marionete dos deuses, ele também é o instrumento essencial através do qual se efetua a reconciliação das forças afetadas. Em 'Os Suplicantes' as cinqüenta filhas de Danaus fogem dos cinqüenta filhos de seu irmão, Aegiptus, que as desejam como esposas. Procurando refúgio em Argos, terra natal de sua ancestral Io, elas resistem ao casamento, mas na seqüência perdem a batalha e os cinqüenta filhos de Aegiptus as obrigam ao casamento, ignorando que Danaus ordenara que cada filha assassinasse seu marido indesejado. Quarenta e nove filhas obedecem, mas a qüinquagésima, Hipermnestra, se recusa a fazê-lo, por amor. Na terceira peça, também perdida, Afrodite, deusa do amor, defende Hipermnestra. Ésquilo levantou muitos questionamentos acerca do casamento, amor, dever e obediência, e é impossível saber o quanto trabalhou com estas questões. Entretanto, um fragmento do discurso de Afrodite permanece como indicador de suas abordagens. 'Neste momento, o Firmamento puro tenta alcançar a Terra. Agora é a Terra que é tomada de desejo pelo casamento. As chuvas caem do Céu companheiro, Enchem-na de vida, e ela dá à luz, pelo homem, Rebanhos de ovelhas e o trigo doador de vida. E daquele líquido jorra a alegria, perfeita, o tempo das árvores. Eu participo disso.' Quando a ordem social está em conflito, não é suficiente nos apegarmos a expressões ritualísticas de valor. Homero não é mais válido como uma enciclopédia de etiqueta e muito menos de ética. Para se compreender os prós e os contras da ação, deve-se olhar para as origens universais. No caso de macho e fêmea, deve-se entender a natureza da polaridade cósmica (representada por Afrodite) e então escolher. Assim, Ésquilo criou uma nova profundidade de consciência ética em sua audiência. Um padrão semelhante é encontrado na 'Orestéia', uma trilogia de complexidade quase impenetrável. Os erros ancestrais infectam as vidas dos descendentes e os assassinatos levam à vingança, um ciclo aparentemente infinito até que a intervenção divina dissolva alquimicamente o padrão. Aqui, Zeus é retratado como um mistério que deseja que a humanidade se torne sábia. 'Zeus - se, para o Desconhecido, aquele nome, de muitos nomes, parecer bom - É somente Zeus que mostra o caminho perfeito do conhecimento: Ele determinou que o homem aprenderá a sabedoria, ensinada pela aflição.' Os irmãos Atreus e Thiestes se tornaram inimigos, e quando Thiestes ofendeu a esposa de Atreus, este revidou matando os filhos de seu irmão e os serviu num banquete assustador. Desta forma, a Casa de Atreus ficou amaldiçoada. Seus filhos Agamemnon e Menelaus se casaram com Clitemnestra e Helena, que foi raptada por Páris e levada para Tróia. Menelaus pediu a ajuda de Agamemnon para vingar este ultraje, e os irmãos decidiram ir resgatá-la. Ártemis enviou maus ventos, que impediram que a frota grega fosse lançada ao mar até que Agamemnon sacrificasse sua filha Efigênia. Depois do sacrifício, os gregos puderam iniciar a viagem a Tróia, onde lutaram por dez anos, enquanto Clitemnestra ficava abandonada em Argos. A perda de sua filha pela honra dúbia do resgate de Helena a afetara profundamente e, depois de algum tempo, ela tomou como amante Aegisthus, um filho de Thiestes, jurando se vingar de Agamemnon. Agamemnon, a primeira peça de 'Orestéia', se baseia nesta vingança. Quando Agamemnon volta para Argos com a vidente Cassandra como sua concubina, Clitemnestra lhe dá as boas vindas, estendendo um tapete de vermelho real. De início hesitante em pisar num tapete feito para os deuses, ele foi encorajado por Clitemnestra a deixar de lado o orgulho, e enquanto ele caminhava pelo palácio no tapete vermelho (símbolo de realeza), Cassandra previu qual seria o resultado: Agamemnon e Cassandra foram assassinados pela exultante Clitemnestra. Mesmo pedindo um fim para a violência, a peça termina com um certo presságio apocalíptico. O Choefori retoma a estória anos depois. Orestes estava segregado quando seu pai Agamemnon foi assassinado e sua irmã, Electra, permanecera no palácio. Eles se encontraram, aparentemente por coincidência, na tumba de Agamemnon, onde Electra convenceu Orestes a matar sua mãe para vingar a morte de seu pai. Disfarçado, Orestes entrou no palácio noticiando sua própria morte. Enquanto Clitemnestra se mostrava sinceramente angustiada, Orestes matou Aegisthus, e Clitemnestra adivinhou a verdade. 'Alack, decifro seus enigmas com clareza - Quem com ferro fere, com ferro será ferido. É o que diz a maldição, e é como a enfrento aqui.' Depois que Orestes matou sua mãe, viu-se perseguido pelas Fúrias vingativas. Nas Eumênides, Orestes, seguido pelas Fúrias, fugiu para Atenas. Lá, Atena deu às Fúrias o que mereciam pelas forças de retribuição num universo regido por leis, mas apaziguou-as estabelecendo o Areópago, uma Corte de Leis para julgar crimes. Substituindo o princípio cego de vingança pela lei, Atena persuadiu as Fúrias a ajudar a humanidade como as Eumênides, as boas graças. A transformação alquímica das Fúrias em Eumênides é semelhante à transformação alquímica da vingança em recompensa. Ambas são desígnios de Zeus, mas como a percepção ética da humanidade é elevada a um reconhecimento de lei universal, as forças no cosmos são vistas sob uma nova luz. Se a humanidade deve ganhar sabedoria, suas instituições devem chegar a refletir a estrutura do cosmos vivente, que é o governo de Zeus. A responsabilidade humana pelo desequilíbrio, exibida nas peças antigas, aqui é transmutada na idéia de trabalhar com a lei divina, ao invés de apesar da mesma. O homem aprende através do sofrimento, que o torna un tanto mais divino. Na última trilogia, a 'Prometéia', o tema místico desta mudança é revelado. Das três peças, apenas Prometeu Acorrentado sobreviveu, mas há indícios da existência dos conteúdos de Prometeu Liberto e Prometheus Pyrforos ou 'O que Traz o Fogo'. Utilizando-se da interpretação sétupla dos deuses, Helena P. Blavatsky afirmou que os deuses representam hierarquias divinas, forças inteligentes da Natureza, raças da humanidade e princípios da constituição humana. Segundo ela, o Zeus de Prometeu Acorrentado é kama manas (i.e. "desejo-mente", N.E.), os limites necessários do Raio projetado, enquanto Prometeu é Manas (mente) aspirando a Buddhi (intuição), aquele que pode transcender, mesmo enquanto usa, sua projeção. Em Prometeu Acorrentado, Prometeu como um Titã é mais velho que Zeus, mas ainda assim seu súdito. Ao levar o fogo - o símbolo universal da inteligência espiritual ou a verdadeira autoconsciência - para o homem, Prometeu viola conscientemente a vontade de Zeus. Ele foi acorrentado e pregado pelo peito a um rochedo em Scitia, onde a águia de Zeus diariamente rasgava seu abdome e devorava seu fígado. No simbolismo biológico grego, o fígado representava a base da vontade humana e esta era a forma pela qual Zeus tentava destruir a vontade de Prometeu. Mas o Titã tinha previsto tudo o que ocorreria depois de seu ato sacrificial, e embora sofresse dores excruciantes, recusava-se a se render a Zeus. Em Prometeu Liberto, Heracles (Hércules), um filho de Zeus, libertou Prometeu com a secreta permissão do pai e assim ganhou sua imortalidade. Embora o conteúdo do terceiro drama - provavelmente mais uma verdadeira peça dos mistérios - seja desconhecido, nesta Prometeu e Zeus se reconciliam. Diferentemente de todas as outras tragédias, a 'Prometéia' é a única que não envolve seres humanos, ignorando os conflitos da terra e enfocando somente os embates celestiais. Ésquilo aqui mostrou que não existe dicotomia entre a lei celestial e a terrena vontade humana. Esta última pode refletir aquela porque as duas são uma só. Se Prometeu é a hierarquia de pais solares que catalisam a mente no homem ao entrar nas vestes humanas, o homem é a hoste celestial encarnada. O homem sofre não porque seja vítima dos deuses, mas porque ele é um deus. A 'Prometéia' é a estória da vida interna e, portanto, real, da humanidade. Zeus é derrubado do trono que nunca possuiu através da reconciliação de Zeus e Prometeu, dois aspectos da Necessidade que é, ao mesmo tempo, a dissolução da ignorância que parece separar deus e o homem, destino e livre arbítrio, lei e ação, céu e terra. A 'Prometéia' é a verdadeira estória da humanidade e, como tal, permanece fora dela. Ésquilo uniu tão brilhantemente o abismo que ameaçava se abrir entre a sabedoria espiritual e a conveniência social que foi acusado de revelar os Mistérios. E tão grande era o respeito que tinham por ele que sua negativa em reconhecer que assim o fazia foi suficiente para que o inocentassem. No final de sua vida, retirou-se para Gela, aonde veio a falecer em 456 AC. Sua tumba recebeu o epitáfio que ele escreveu para si próprio: "Sob esta pedra descansa Ésquilo, filho de Eufórion, o Ateniense, que faleceu na terra de trigo de Gela; de sua nobre bravura o bosque de Maratona pode falar, ou o persa de cabelos compridos que bem o conhece." Não fez nenhuma referência aos seus escritos. Atenas o honrou com uma lei de que qualquer pessoa que quisesse poderia apresentar suas peças nos festivais de Dionísio, o que era uma exceção à tradição. Por séculos depois dele, Ésquilo foi conhecido menos por sua bravura em Maratona do que pela coragem de sua alma em contar ao homem o quê e quem ele é. Talvez o epitáfio mais apropriado para ele seja o que escreveu em Prometeu Acorrentado: 'Apresento com clareza tudo o que você deve aprender; Elton Hall Fonte: www.levir.com.brAESCHYLUS (ÉSQUILO)
E não é em depreciação dos homens que falo e sim para mostrar
que meus dons eram oferecidos de boa vontade.
Pois ver, eles não viam; ouvir, não podiam.
Todas suas vidas passavam como formas de sonhos, confusas e sem propósito...
Agiam sem conhecimento até a minha chegada...
Inventei para eles o número, senhor das ciências,
E como arranjar palavras e escrever e a habilidade da memória,
a mãe das Musas...
Diferenciei as diversas modalidades de profecias
e fui o primeiro a discernir, nos sonhos, o que o Destino ordenava que acontecesse.
Dei-lhes o sentido oculto de vozes,
sons e visões encontradas por acaso nas estradas da vida.
Guiei a humanidade à uma arte oculta
e li para ela as insinuações das chamas dos altares.PROMETEU ACORRENTADO ÉSQUILO
- Mas - irmão lutando contra irmão até a morte - não é somente o tempo que pode expiar o pecado!
Não falo através de metáforas obscuras, mas com simplicidade,
Já que o diálogo é exercício entre amigos.
Veja, este que está à sua frente é Prometeu,
O que trouxe o fogo para a humanidade.'