Reportagem
Por Patrícia Mariuzzo e Sueli Mello
Por Patrícia Mariuzzo e Sueli Mello
Depois dos caminhos percorridos pelos viajantes, a preservação e divulgação dos acervos sobre as viagens de estrangeiros pelo Brasil é o caminho – muitas vezes ainda inédito – a percorrer para conhecer o trabalho desses homens que atravessaram o Brasil e outros países da América Latina, em busca do conhecimento das terras e dos povos do novo mundo. Segundo Ana Maria Belluzzo, professora de história da arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em artigo publicado na Revista da USP, em 1996, o legado iconográfico e a literatura de viagem dos cronistas europeus trazem a possibilidade de novas aproximações com a história do Brasil. No entanto, isto só é possível a partir do acesso ao material produzido por eles.
O Brasil possui um acervo rico sobre viajantes ainda com infinitas possibilidades de pesquisa. Uma das primeiras iniciativas de divulgação desses acervos ocorre com a publicação no Brasil dos diários viajantes, a partir da década de 1940. Para Valéria Alves Esteves Lima, historiadora da Unicamp, que estuda a obra do pintor Jean-Baptiste Debret, a iniciativa de traduzir e publicar livros de viajantes, entre outras obras consideradas “clássicas” sobre o país, é resultado de um movimento promovido pelo Estado Novo para estimular a cultura e afirmar a brasilidade. Um dos expoentes desse movimento é José de Barros Martins, editor e proprietário da Livraria Martins, que traduziu e publicou a coleção Biblioteca Histórica Brasileira, com livros escritos por viajantes estrangeiros, tais como Debret, Rugendas, Kidder, Saint-Hilaire, Luccock, Ribeyrolles.
O Brasil possui um acervo rico sobre viajantes ainda com infinitas possibilidades de pesquisa. Uma das primeiras iniciativas de divulgação desses acervos ocorre com a publicação no Brasil dos diários viajantes, a partir da década de 1940. Para Valéria Alves Esteves Lima, historiadora da Unicamp, que estuda a obra do pintor Jean-Baptiste Debret, a iniciativa de traduzir e publicar livros de viajantes, entre outras obras consideradas “clássicas” sobre o país, é resultado de um movimento promovido pelo Estado Novo para estimular a cultura e afirmar a brasilidade. Um dos expoentes desse movimento é José de Barros Martins, editor e proprietário da Livraria Martins, que traduziu e publicou a coleção Biblioteca Histórica Brasileira, com livros escritos por viajantes estrangeiros, tais como Debret, Rugendas, Kidder, Saint-Hilaire, Luccock, Ribeyrolles.
Mas muitas vezes é necessário ir além dos livros e consultar registros mais antigos, originais, edições fac-símile, anotações, diários, pinturas, aquarelas, cartas, enfim, materiais diversos que podem dizer mais sobre o projeto dos viajantes em terras estrangeiras. As obras sobre viajantes são classificadas como obra rara, tanto pela idade, como pela importância histórica e seu conteúdo. Para evitar a constante manipulação do original, o trabalho de preservação feito pelas bibliotecas e arquivos inclui a microfilmagem, a duplicação fac-similar e, mais recentemente, a digitalização, que tem a vantagem de facilitar também a divulgação do acervo via internet.
Acervos só adquirem sentido quando são acessados para pesquisas. Para o historiador Danúzio Gil Bernardino da Silva, organizador da coleção Diários de Lansgsdorff, a preservação não tem valor se não houver divulgação do acervo. “Não adianta deixar a informação oculta nas coleções de obras raras”, alerta. Para ele, a dificuldade de acesso por parte dos pesquisadores gera subutilização dos acervos. “O ideal é que a consulta seja aberta para todos, não apenas nas universidades, mas que inclua alunos e professores do ensino médio”, defende.
O mais recente esforço de preservação e divulgação de acervo de viajantes é o projeto Flora Brasiliensis On-line, do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), da Unicamp, financiado pela Fapesp, Natura e Fundação Vitae. O projeto torna acessível e público um acervo que antes só podia ser consultado em bibliotecas especializadas, e confirma a impossibilidade de entender determinadas questões de botânica, ecologia, geografia, biologia e da história do Brasil sem recorrer aos acervos dos diversos viajantes que percorreram o país nos séculos XVIII e XIX. Da mesma forma, a construção de imagens do Brasil e da América passa pelos relatos dos artistas, cronistas e cientistas estrangeiros que atravessaram o continente desde o século XVI.
Acervos digitalizados
A Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, fez uma parceria com o Instituto Embratel 21, com base na Lei Municipal de Incentivo à Cultura, que resultou na digitalização de 25.500 documentos e obras raras, apenas na primeira fase. O projeto, que contemplou também a restauração e o tratamento das obras, priorizou três importantes coleções históricas e raras da cidade de São Paulo, uma delas a coleção “Os viajantes”, composta por mil gravuras e cem livros dos séculos XVI a XIX. Foram digitalizados 45 álbuns de viajantes que estiveram no Brasil. O conjunto de imagens complementa os livros sobre o Brasil, também digitalizados na íntegra. Responsável pela seleção das obras que seriam digitalizadas, Rizio Bruno Sant’Ana, explica que o acervo sobre viajantes foi escolhido “pela importância histórica e porque são obras muito procuradas pelos usuários”. No site da Biblioteca, mil imagens estão disponíveis para consulta.
Na mesma linha, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da USP, que possui cerca de sete mil obras raras em sua biblioteca, também buscou a digitalização para ampliar o acesso ao acervo. “Temos uma infinidade de relatos de viajantes, que muitas vezes são exemplares únicos no Brasil. Para mim, a divulgação desses livros tornou-se uma necessidade”, relata Márcia Moisés Ribeiro, coordenadora do projeto Brasil Ciência, financiado pela Fapesp, o qual constitui-se numa base de dados relacionada à prática e ao saber científico no período do século XVI ao XIX. Através desse instrumento de pesquisa, o usuário tem acesso não só a informações relativas a todos os documentos contidos na base, como também ao conteúdo integral de diversos manuscritos e livros impressos existentes no arquivo e na biblioteca do IEB, os quais também estão disponíveis para impressão. Embora o processo de digitalização do material ainda esteja em andamento, a base de dados já está on-line, com cerca de 400 títulos de obras raras, entre impressos e manuscritos. Segundo a coordenadora, a digitalização começou pelos livros mais procurados e pelas obras inexistentes em outras bibliotecas e arquivos de São Paulo.
Outro acervo indispensável para pesquisadores da obra dos viajantes está na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Apesar de espalhado em áreas especializadas da biblioteca, o volume de material supera possíveis dificuldades com a localização das obras. A bibliografia reúne cerca de 600 títulos, compilada pela Divisão de Informação Documental e publicada na última edição dos Anais da Biblioteca Nacional (2006). A bibliografia não foi exaustiva, mas tentou reunir a maior parte do acervo sobre viajantes da maior biblioteca do Brasil. “As principais fontes para a compilação foram os catálogos da BN e a obra de Paulo Berger, que relacionou bibliografia sobre viajantes e autores estrangeiros no Rio de Janeiro”, explica Eliane Perez, coordenadora de pesquisa da biblioteca. Assim como em São Paulo, muitas dessas obras já estão digitalizadas como parte de projetos mais amplos de digitalização de raridades da Biblioteca Nacional.
Grande variedade de material
Descrever o cotidiano do povo brasileiro pela ótica da cidade, era, por exemplo, o projeto de Jean-Baptiste Debret, pintor francês que chegou ao Brasil com a Missão Artística Francesa de 1816 e que aqui permaneceu por quase 15 anos. Ele reúne parte das suas impressões sobre o Brasil na obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, com três volumes. Para explicar como Debret organizou a publicação, Valéria Lima, percorreu coleções raras em São Paulo e Rio de Janeiro, estados com a maior parte do acervo sobre viajantes no Brasil, e em Paris, França. Ela salienta a importância de comparar o material encontrado em diferentes acervos. “Além da questão da tradução, muitas edições omitem partes dos originais. No caso de Debret há um capítulo chamado Notas Históricas que não aparece em nenhuma tradução”, comenta. Para ela, só uma visão ampla do acervo pode responder a determinadas questões colocadas pelo pesquisador. Um conjunto fundamental da obra do artista, que não foi publicado, está no Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro. São 490 aquarelas e 61 desenhos originais que o empresário Raymundo Ottoni de Castro Maya comprou dos familiares do pintor em 1939 e 1940. O acervo está digitalizado e pode ser consultado apenas no próprio museu. As aquarelas originais não estão disponíveis para consulta.
Acervos só adquirem sentido quando são acessados para pesquisas. Para o historiador Danúzio Gil Bernardino da Silva, organizador da coleção Diários de Lansgsdorff, a preservação não tem valor se não houver divulgação do acervo. “Não adianta deixar a informação oculta nas coleções de obras raras”, alerta. Para ele, a dificuldade de acesso por parte dos pesquisadores gera subutilização dos acervos. “O ideal é que a consulta seja aberta para todos, não apenas nas universidades, mas que inclua alunos e professores do ensino médio”, defende.
O mais recente esforço de preservação e divulgação de acervo de viajantes é o projeto Flora Brasiliensis On-line, do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), da Unicamp, financiado pela Fapesp, Natura e Fundação Vitae. O projeto torna acessível e público um acervo que antes só podia ser consultado em bibliotecas especializadas, e confirma a impossibilidade de entender determinadas questões de botânica, ecologia, geografia, biologia e da história do Brasil sem recorrer aos acervos dos diversos viajantes que percorreram o país nos séculos XVIII e XIX. Da mesma forma, a construção de imagens do Brasil e da América passa pelos relatos dos artistas, cronistas e cientistas estrangeiros que atravessaram o continente desde o século XVI.
Acervos digitalizados
A Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, fez uma parceria com o Instituto Embratel 21, com base na Lei Municipal de Incentivo à Cultura, que resultou na digitalização de 25.500 documentos e obras raras, apenas na primeira fase. O projeto, que contemplou também a restauração e o tratamento das obras, priorizou três importantes coleções históricas e raras da cidade de São Paulo, uma delas a coleção “Os viajantes”, composta por mil gravuras e cem livros dos séculos XVI a XIX. Foram digitalizados 45 álbuns de viajantes que estiveram no Brasil. O conjunto de imagens complementa os livros sobre o Brasil, também digitalizados na íntegra. Responsável pela seleção das obras que seriam digitalizadas, Rizio Bruno Sant’Ana, explica que o acervo sobre viajantes foi escolhido “pela importância histórica e porque são obras muito procuradas pelos usuários”. No site da Biblioteca, mil imagens estão disponíveis para consulta.
Na mesma linha, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da USP, que possui cerca de sete mil obras raras em sua biblioteca, também buscou a digitalização para ampliar o acesso ao acervo. “Temos uma infinidade de relatos de viajantes, que muitas vezes são exemplares únicos no Brasil. Para mim, a divulgação desses livros tornou-se uma necessidade”, relata Márcia Moisés Ribeiro, coordenadora do projeto Brasil Ciência, financiado pela Fapesp, o qual constitui-se numa base de dados relacionada à prática e ao saber científico no período do século XVI ao XIX. Através desse instrumento de pesquisa, o usuário tem acesso não só a informações relativas a todos os documentos contidos na base, como também ao conteúdo integral de diversos manuscritos e livros impressos existentes no arquivo e na biblioteca do IEB, os quais também estão disponíveis para impressão. Embora o processo de digitalização do material ainda esteja em andamento, a base de dados já está on-line, com cerca de 400 títulos de obras raras, entre impressos e manuscritos. Segundo a coordenadora, a digitalização começou pelos livros mais procurados e pelas obras inexistentes em outras bibliotecas e arquivos de São Paulo.
Outro acervo indispensável para pesquisadores da obra dos viajantes está na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Apesar de espalhado em áreas especializadas da biblioteca, o volume de material supera possíveis dificuldades com a localização das obras. A bibliografia reúne cerca de 600 títulos, compilada pela Divisão de Informação Documental e publicada na última edição dos Anais da Biblioteca Nacional (2006). A bibliografia não foi exaustiva, mas tentou reunir a maior parte do acervo sobre viajantes da maior biblioteca do Brasil. “As principais fontes para a compilação foram os catálogos da BN e a obra de Paulo Berger, que relacionou bibliografia sobre viajantes e autores estrangeiros no Rio de Janeiro”, explica Eliane Perez, coordenadora de pesquisa da biblioteca. Assim como em São Paulo, muitas dessas obras já estão digitalizadas como parte de projetos mais amplos de digitalização de raridades da Biblioteca Nacional.
Grande variedade de material
Descrever o cotidiano do povo brasileiro pela ótica da cidade, era, por exemplo, o projeto de Jean-Baptiste Debret, pintor francês que chegou ao Brasil com a Missão Artística Francesa de 1816 e que aqui permaneceu por quase 15 anos. Ele reúne parte das suas impressões sobre o Brasil na obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, com três volumes. Para explicar como Debret organizou a publicação, Valéria Lima, percorreu coleções raras em São Paulo e Rio de Janeiro, estados com a maior parte do acervo sobre viajantes no Brasil, e em Paris, França. Ela salienta a importância de comparar o material encontrado em diferentes acervos. “Além da questão da tradução, muitas edições omitem partes dos originais. No caso de Debret há um capítulo chamado Notas Históricas que não aparece em nenhuma tradução”, comenta. Para ela, só uma visão ampla do acervo pode responder a determinadas questões colocadas pelo pesquisador. Um conjunto fundamental da obra do artista, que não foi publicado, está no Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro. São 490 aquarelas e 61 desenhos originais que o empresário Raymundo Ottoni de Castro Maya comprou dos familiares do pintor em 1939 e 1940. O acervo está digitalizado e pode ser consultado apenas no próprio museu. As aquarelas originais não estão disponíveis para consulta.
Enquanto a obra de Debret sobre o Brasil está concentrada em instituições no Brasil, os originais de outro importante artista-viajante do século XIX, Johann Moritz Rugendas, está dispersa em várias coleções no Brasil e na Europa. Segundo Pablo Diener, professor da Universidade de Munique, Alemanha, que fez um trabalho de compilação e catalogação da obra de Rugendas, o acervo do pintor soma aproximadamente seis mil peças entre pinturas a óleo, aquarelas e desenhos. A maior parte dos trabalhos encontra-se em duas coleções alemãs, em Munique e em Augsburgo. O restante está disperso em numerosas coleções públicas e particulares da Alemanha e no continente americano. No Brasil há um conjunto de 437 folhas na Coleção de Arte Gráfica do Museu de Munique. São desenhos da flora e fauna, motivos etnográficos e cenas de tema histórico, como a coroação de Dom Pedro I. Existem ainda 79 ilustrações originais na Academia Russa de Ciências, em São Petesburgo, Rússia, que o pintor entregou para o barão Langsdorff, ao deixar a expedição russa.
Talvez por ser o último dos grandes viajantes, Lansgsdorff demorou mais tempo para ser descoberto pelos pesquisadores. A equipe da expedição tinha, além do próprio médico, um botânico, um astrônomo e cartógrafo, zoólogo e dois pintores. Dessa variedade de profissionais resultaram da viagem volumosas coleções científicas que ficaram durante anos no Museu Botânico de Leningrado, na Rússia. A coleção de documentos sobre a expedição foi trazida para o Brasil em 1990, pelo pesquisador russo Boris Komissarov, através de uma ação conjunta da Fiocruz, Funasa, Fundação Nacional de Saúde e da AIEL, Associação Internacional Estudos Langsdorff, em forma de microfilme. Além da Fiocruz e da AIEL, o acervo também pode ser consultado no Centro de Memória da Unicamp e na Universidade de Brasília. Em 1997, foram publicados os diários de Lansgsdorff. Danúzio Bernardino da Silva, que organizou a coleção, explica que o objetivo da publicação foi dar um sentido para o acervo, monumental em termos de informação.
Dicionários de línguas indígenas, diários de viagem, documentos sobre demografia, economia, mapas, desenhos, comentários sobre a escravidão, são exemplos do tipo de material que compõe o conjunto do acervo. “Como todo diário, é composto por anotações, observações e fragmentos do cotidiano. É exatamente essa visão fragmentada que compõe o mosaico de sua época. Os diários são a chave para conhecer o acervo”, acredita Danúzio. Na fase final da viagem, Langsdorff contraiu malária, o que o impediu de terminar os diários. A tarefa foi assumida por Hércules Florence, pintor francês que entrou na equipe da expedição no lugar de Rugendas.
Além do acervo sobre a Expedição Langsdorff, outras obras fazem da seção de obras raras da biblioteca da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), um importante centro de documentação científica, com fontes de pesquisa dos séculos XVII ao XX. Em publicado na revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos, 2002, Maria Elide Bortoletto, pesquisadora da Fundação, conta que entre os itens do acervo, destacam-se raridades como o livro História naturalis brasiliae (Amsterdam, 1648), de Piso e Marggraf, naturalistas que vieram ao Brasil a convite de Maurício de Nassau durante o período da ocupação holandesa no Nordeste. “O livro, como sabemos, foi considerado o primeiro escrito sobre história natural do Brasil e seus textos e ilustrações serviram de base para outros trabalhos que se seguiram, alguns dos quais produzindo importantes obras de referência, como a coleção de Flora Brasiliensis, de von Martius”, destaca ela. Do século XIX são significativos livros e atlas de viajantes como Alexander von Humboldt, Maximiliam von Wied, Auguste de Saint-Hilaire, Johann Baptist von Spix, von Martius, Louis Agassiz, entre muitos outros. “A Fundação tem ainda material sobre viajantes descobertos por uma produção recente nessa temática, sobretudo de historiadores, como as obras de François Auguste Biard, Hermann Burmeister, Henry Coster e Jean Théodore Descourtilz, todas ricamente ilustradas e com textos importantes sobre fauna, flora e costumes dos povos dos países visitados”, completa.
Bases de dados podem facilitar pesquisas
Diante da diversidade de instituições que detêm acervos sobre viajantes e naturalistas, um caminho para incentivar a consulta e facilitar o acesso a acervos sobre o mesmo tema é a criação de bases de dados, cruzando as informações das bibliotecas e institutos. O Centro de Pesquisas em História Social da Cultura (Cecult), da Unicamp, iniciou a implantação de um projeto deste tipo. “A principal motivação para constituir uma base de dados sobre viajantes foi construir um instrumento de pesquisa, que reunisse o maior número possível de referências sobre esse grande cabedal de fontes e, através de vários cruzamentos de dados possíveis, fornecer um acesso mais rápido, organizado e amplo a pesquisadores que se interessem por esse tema”, explica Eneida Maria Mercadante Sela, pesquisadora do Cecult. Segundo ela, não se tem notícia de uma base de dados especializada em obras de viagem no Brasil.
O projeto teve como referência inicial um vasto catálogo de obras de viajantes e, secundariamente, de cronistas e memorialistas, brasileiros e estrangeiros, que produziram textos sobre a África, Portugal e Brasil entre os séculos XVI e XIX. Em função dos interesses das várias pesquisas que integram o Cecult, foram selecionadas somente obras de viajantes que contenham registros sobre as províncias de São Paulo, Minas Gerais e/ou Rio de Janeiro durante os séculos XVIII e XIX. Foi elaborada, então, uma ficha para coleta de dados dessas obras nas bibliotecas da Unicamp, do IEB-USP, Biblioteca Mário de Andrade (em São Paulo) e Biblioteca Nacional. Os campos dessa ficha, após várias reuniões e testes, foram definidos de modo a obter informações básicas sobre cada autor e livro, privilegiando elementos editoriais e de conteúdo. Segundo Sela, o trabalho de inclusão de dados foi concluído, totalizando aproximadamente 400 autores, cada um com várias edições de suas obras. O material encontra-se em fase de revisão, mas já disponível para consultas no Cecult. A idéia, entretanto, é disponibilizar o acesso on-line ao banco de dados.
Talvez por ser o último dos grandes viajantes, Lansgsdorff demorou mais tempo para ser descoberto pelos pesquisadores. A equipe da expedição tinha, além do próprio médico, um botânico, um astrônomo e cartógrafo, zoólogo e dois pintores. Dessa variedade de profissionais resultaram da viagem volumosas coleções científicas que ficaram durante anos no Museu Botânico de Leningrado, na Rússia. A coleção de documentos sobre a expedição foi trazida para o Brasil em 1990, pelo pesquisador russo Boris Komissarov, através de uma ação conjunta da Fiocruz, Funasa, Fundação Nacional de Saúde e da AIEL, Associação Internacional Estudos Langsdorff, em forma de microfilme. Além da Fiocruz e da AIEL, o acervo também pode ser consultado no Centro de Memória da Unicamp e na Universidade de Brasília. Em 1997, foram publicados os diários de Lansgsdorff. Danúzio Bernardino da Silva, que organizou a coleção, explica que o objetivo da publicação foi dar um sentido para o acervo, monumental em termos de informação.
Dicionários de línguas indígenas, diários de viagem, documentos sobre demografia, economia, mapas, desenhos, comentários sobre a escravidão, são exemplos do tipo de material que compõe o conjunto do acervo. “Como todo diário, é composto por anotações, observações e fragmentos do cotidiano. É exatamente essa visão fragmentada que compõe o mosaico de sua época. Os diários são a chave para conhecer o acervo”, acredita Danúzio. Na fase final da viagem, Langsdorff contraiu malária, o que o impediu de terminar os diários. A tarefa foi assumida por Hércules Florence, pintor francês que entrou na equipe da expedição no lugar de Rugendas.
Além do acervo sobre a Expedição Langsdorff, outras obras fazem da seção de obras raras da biblioteca da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), um importante centro de documentação científica, com fontes de pesquisa dos séculos XVII ao XX. Em publicado na revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos, 2002, Maria Elide Bortoletto, pesquisadora da Fundação, conta que entre os itens do acervo, destacam-se raridades como o livro História naturalis brasiliae (Amsterdam, 1648), de Piso e Marggraf, naturalistas que vieram ao Brasil a convite de Maurício de Nassau durante o período da ocupação holandesa no Nordeste. “O livro, como sabemos, foi considerado o primeiro escrito sobre história natural do Brasil e seus textos e ilustrações serviram de base para outros trabalhos que se seguiram, alguns dos quais produzindo importantes obras de referência, como a coleção de Flora Brasiliensis, de von Martius”, destaca ela. Do século XIX são significativos livros e atlas de viajantes como Alexander von Humboldt, Maximiliam von Wied, Auguste de Saint-Hilaire, Johann Baptist von Spix, von Martius, Louis Agassiz, entre muitos outros. “A Fundação tem ainda material sobre viajantes descobertos por uma produção recente nessa temática, sobretudo de historiadores, como as obras de François Auguste Biard, Hermann Burmeister, Henry Coster e Jean Théodore Descourtilz, todas ricamente ilustradas e com textos importantes sobre fauna, flora e costumes dos povos dos países visitados”, completa.
Bases de dados podem facilitar pesquisas
Diante da diversidade de instituições que detêm acervos sobre viajantes e naturalistas, um caminho para incentivar a consulta e facilitar o acesso a acervos sobre o mesmo tema é a criação de bases de dados, cruzando as informações das bibliotecas e institutos. O Centro de Pesquisas em História Social da Cultura (Cecult), da Unicamp, iniciou a implantação de um projeto deste tipo. “A principal motivação para constituir uma base de dados sobre viajantes foi construir um instrumento de pesquisa, que reunisse o maior número possível de referências sobre esse grande cabedal de fontes e, através de vários cruzamentos de dados possíveis, fornecer um acesso mais rápido, organizado e amplo a pesquisadores que se interessem por esse tema”, explica Eneida Maria Mercadante Sela, pesquisadora do Cecult. Segundo ela, não se tem notícia de uma base de dados especializada em obras de viagem no Brasil.
O projeto teve como referência inicial um vasto catálogo de obras de viajantes e, secundariamente, de cronistas e memorialistas, brasileiros e estrangeiros, que produziram textos sobre a África, Portugal e Brasil entre os séculos XVI e XIX. Em função dos interesses das várias pesquisas que integram o Cecult, foram selecionadas somente obras de viajantes que contenham registros sobre as províncias de São Paulo, Minas Gerais e/ou Rio de Janeiro durante os séculos XVIII e XIX. Foi elaborada, então, uma ficha para coleta de dados dessas obras nas bibliotecas da Unicamp, do IEB-USP, Biblioteca Mário de Andrade (em São Paulo) e Biblioteca Nacional. Os campos dessa ficha, após várias reuniões e testes, foram definidos de modo a obter informações básicas sobre cada autor e livro, privilegiando elementos editoriais e de conteúdo. Segundo Sela, o trabalho de inclusão de dados foi concluído, totalizando aproximadamente 400 autores, cada um com várias edições de suas obras. O material encontra-se em fase de revisão, mas já disponível para consultas no Cecult. A idéia, entretanto, é disponibilizar o acesso on-line ao banco de dados.
Fonte: COM CIÊNCIA - Revista Eletrônica de Jornalismo Científico.