24.9.08

Ovide Decroly


Ovide Decroly nasceu em 1871 e morreu em 1932. Sua obra educacional destaca-se pelo valor que colocou nas condições do desenvolvimento infantil; destaca o caráter global da atividade da criança e a função de globalização do ensino. Foi ao mesmo tempo educador, psicólogo, médico, universitário. Suas teorias têm um fundamento psicológico e sociológico e podemos resumir os critérios de sua metodologia no interesse e na auto-avaliação. Promove o trabalho em equipe, mas, mantendo a individualidade do ensino com o fim de preparar o educando para a vida. A ausência de ideais religiosos é uma das características de seu modelo pedagógico.
Como conseqüência de sua formação tinha a convicção de que somente uma formação científica rigorosa pode ajudar na busca de soluções para os problemas que a humanidade apresenta. Sua proposta contém diversos elementos: um método de análise, uma ética e uma filosofia fortemente impregnadas de cientificismo, influenciado pela corrente filosófica racionalista, especialmente de H. Spencer.
Postulava que a escola, considerada a instituição humana mais elevada, devia modificar-se de maneira profunda. Sua crítica sobre a escola era bastante severa, já que segundo ele, não cumpria com seus propósitos e para ele o futuro de um povo dependia da organização e influência da escola. Para ele, a educação não se constitui em uma preparação para a vida adulta; a criança deve aproveitar sua juventude e resolver as dificuldades compatíveis ao seu momento de vida. Como pressuposto básico postulava que a necessidade gera o interesse, verdadeiro móvel em direção ao conhecimento. O interesse está na base de toda atividade, incitando a criança a observar, associar, expressar-se. As necessidades básicas do homem em sua troca com o meio, seriam: a alimentação, a defesa contra intempéries, a luta contra perigos e inimigos e o trabalho em sociedade, descanso e diversão.
Desse pressuposto deriva sua proposta de organização da escola.
Seu método, mais conhecido como centros de interesse, destinava-se especialmente às crianças das classes primárias. Nesses centros, a criança passava por três momentos:
OBSERVAÇÃO: não acontece em uma lição, nem em um momento determinado da técnica educativa, pois, deve ser considerada como uma atitude, chamando a atenção do aluno constantemente. Os exercícios de observação, fundamento das aprendizagens, fazem a inteligência trabalhar com materiais recolhidos pelos sentidos e pela experiência da criança, levando em conta seus interesses.
ASSOCIAÇÃO: permite que o conhecimento adquirido pela observação seja entendido em termos de tempo e espaço.
EXPRESSÃO: por esse meio a criança poderia externar sua aprendizagem, através de qualquer meio de linguagem, integrando os conhecimentos adquiridos, de maneira globalizadora. A expressão seria a culminância do processo e nela pode-se destacar:
Expressão concreta (materialização das observações e criações pessoais; se traduz em desenho livre, trabalhos manuais...).
Expressão abstrata (materialização do pensamento através de símbolos e códigos convencionais; apresenta-se no texto livre, linguagem matemática, musical...).
Para ele a atividade globalizadora se exerce de maneira espontânea e permite aquisições como a linguagem, o conhecimento sobre o meio material, vivo e social, assim como a adaptação a uma série de formas de atividades.
"Diferentemente de Montessori, que faz experimentar num material educativo "artificial" e preorganizado, Decroly incita a criança a utilizar objetos concretos do mundo real, recorrendo à experiência direta e à intuição". (Pourtois. J. P. A educação Pós-Moderna, p.117)
De acordo com *Zabala(p.203, 2002) as justificativas de Decroly baseiam-se em argumentos pragmáticos baseados em sua experiência:
"A criança é o ponto de partida do método". O fato de partir de uma base biopsicológica e da observação sistemática facilita a percepção de que as diferenças individuais tanto em relação às aptidões, quanto ao tempo de maturação são muito grandes e a origem desse tipo de diversidade encontra-se no próprio indivíduo e no ambiente. Deste modo, a criança é um ser biológico que se adapta evolutivamente às mudanças de seu entorno.
O respeito à personalidade do aluno. "A educação deve estar para a vida e mediante a vida. A resposta à imobilidade que condena a uma escola passiva é o ensino ativo, que permite ao aluno ou à aluna atuar como o inventor ou o artista, ou seja, fazendo tentativas - ensaios e erros". (Decroly).
O interesse é a chave de toda a aprendizagem eficaz, mas não qualquer interesse e sim, aquele que advém das necessidades primárias e da manifestação dos instintos.
A vida como educadora. A eficácia do meio é decisiva. Pelo fato de considerar as aquisições que a criança adquiriu antes de ir para a escola leva Decroly a pensar que a maioria das aprendizagens ocorre de maneira espontânea, pelo contato com o meio imediato.
As crianças são seres sociais. A escola precisa ser pensada de forma a favorecer o desenvolvimento das tendências sociais latentes na pessoa.
A atividade mental é organizada em muitos aspectos pela função globalizadora e pelas tendências que predominam nos sujeitos. Decorrem disto as diversas significações que adquirem os objetos, os acontecimentos, etc., para cada pessoa em cada momento de sua vida.
Concedia muita importância à natureza.
O principal valor que o preocupava era a liberdade e como conciliar as liberdades individuais com as coletivas.
Não havia um programa pré fixado. Do ato de comer poderia surgir o estudo da alimentação, a origem dos alimentos, sua classificação, os preços, o preparo, a produção. E, com a curiosidade infantil e o desenvolvimento das crianças, surgiriam noções de geografia, história, ciências, redação, desenho, matemática. Decroly não esquece de nada que a escola devesse ensinar à criança; o que ele fez foi transformar a maneira de aprender e ensinar, adequando-as à psicologia infantil. Os exercícios de observação, fundamento das aprendizagens, fazem a inteligência trabalhar com materiais recolhidos pelos sentidos e pela experiência da criança, levando em conta seus interesses. Contrariamente à Montessori, Decroly estimula o uso pela criança de objetos concretos, do mundo real, recorrendo à experiência direta e à intuição. Como Claparède, concedeu amplo espaço ao jogo.
Não existe uma síntese "doutrinal" reunida por ele do conjunto de suas concepções e princípios educativos ou suas investigações sobre psicologia, o que implica numa certa dificuldade para estudar o conjunto de seus textos.
Algumas críticas feitas às concepções pedagógicas aqui expostas, apontam que as necessidades básicas postuladas por ele, são as dos adultos, e não a das crianças. E ainda, a de que, o objetivo do trabalho escolar continua sendo a aquisição de conhecimentos predeterminados, pois, os centros de interesse, apenas fariam uma reorganização dos conhecimentos contidos nas matérias escolares, apesar de proporem atividades que vão do empírico ao abstrato e também que deixa de lado a realidade sócio-econômica e cultural em que as crianças estão imersas. Alguns autores consideram que o projeto decroliano baseou-se nas preocupações da classe intelectual dirigente de seu tempo: este contexto cultural, social, econômico, político e ideológico constituíram a fundamentação de onde surgiram as bases de quem fundou em 1907, em Bruxelas, a escola de L'Ermitage, com o lema " a escola por e para a vida"

Zabala, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: ARTMED Editora. 2002.
Pourtois, Jean-Pierre. A educação pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1999.

Fonte: Centro de Referencia Educacional