As pinturas de Debret podem estabelecer uma rica discussão sobre a escravidão no Brasil.
Quando trabalhamos o tema do trabalho escravo em terras brasileiras, geralmente nos deparamos com turmas e mais turmas de alunos bastante desinformadas ou impregnadas de noções equivocadas. De fato, a falta de um trabalho minucioso sobre a situação do escravo acaba abrindo todo um campo de distorções e problemas. Tendo em vista essa questão, podemos começar a desconstruir essas inverdades por meio de um divertido trabalho com imagens.
Contudo, antes que isso aconteça, realize um trabalho prévio com os alunos buscando explorar o cabedal de informações que eles mesmos têm sobre o tema. Para tanto, o professor pode coordenar uma primeira atividade em que os alunos produzam uma breve dissertação expondo como imaginam a situação dos negros submetidos à escravidão. Provavelmente, não será muito difícil encontrar alguns relatos carregados de dramaticidade, simplificações e alguns exageros.
Sendo necessário valorizar a produção realizada, busque a participação de alguns alunos que tenham interesse em contar a sua descrição aos demais colegas da turma. À medida que os textos forem lidos, anote no quadro-giz alguns elementos e expressões que são recorrentemente utilizados na narrativa dos jovens autores. Daí então, retomando as informações registradas, passe a questionar se as descrições oferecidas pela turma seriam semelhantes a algumas produções do pintor Jean Baptiste Debret.
Após fazer uma simples exposição sobre quem é o artista em questão, anuncie aos alunos que a aula terá prosseguimento com a observância de algumas das obras do pintor. Com o auxílio de um projetor ou do laboratório de informática, realize a exposição destas imagens fazendo uma breve explanação sobre o tema da cena a ser trabalhada. Primeiramente, exponha o açougue retratado pelo pintor:
Nesse primeiro quadro, podemos observar que o açougue de Debret revela uma interessante informação sobre a cultura alimentar da época: a maioria das carnes disponíveis no recinto é de origem suína. Além disso, podemos observar que os dois funcionários do local são negros, assim como a mulher e a criança que estão de costas. Passada essa primeira observação, exiba os quadros “Loja de barbeiros”, de 1821, e “Negra tatuada vendendo caju”, de 1827.
Mais uma vez, observamos a figura de negros que são colocados em ofícios comerciais ou prestando algum tipo de serviço. Por meio dessa recorrência, o professor tem condições para explanar outra faceta da escravidão no Brasil. Salientando que as imagens trabalhadas são todas referentes aos ambientes urbanos da época, já é possível deslocar aquela usual imagem que relaciona os escravos ao trabalho nas grandes propriedades rurais.
Além disso, o docente tem a oportunidade de trabalhar com o fato de que nas cidades muitos negros trabalhavam como “escravos de ganho”. Nesse sentido, além de explorar outra rotina de ofícios, o professor pode também destacar que alguns desses negros conseguiam a sua alforria com as pequenas compensações financeiras acumuladas ao longo de período em que prestam serviços, cuidavam de lojas ou comercializam produtos diversos.
Por meio desse trabalho, os alunos reconhecem uma faceta pouco trabalhada em ambiente escolar. Entretanto, tal exercício não pode ser confundido com qualquer tentativa de abrandamento das explorações que uma parcela significativa dos escravos sofria. Portanto, não se pode ignorar, nas aulas posteriores, a discussão sobre as punições dirigidas aos escravos e as formas de resistência oferecida pelos mesmos.
Por Rainer Sousa
Fonte: http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/os-multiplos-papeis-negro-na-sociedade-escravocrata.htm