Hynkel, o tirano vivido por Charles Chaplin em O Grande Ditador (1940), perseguia judeus e queria conquistar o mundo. Associar o líder da fictícia Tomânia a Adolf Hitler é fácil, mas a semelhança física entre os dois deixou ainda mais óbvia a sátira. Além do físico franzino e do fato de ambos terem a mesma idade (nasceram em abril de 1889, com quatro dias de diferença), um detalhe consolidou de vez a piada de Chaplin: o bigodinho postiço. Duas peças foram confeccionadas para o personagem, garantindo que ninguém visse Hynkel sem pensar em Hitler. Após as filmagens, os bigodes foram dados pelo ator ao historiador francês Maurice Bessy, amigo e autor de uma biografia sobre Chaplin. Bessy, que foi diretor artístico do Festival de Cannes nos anos 70, recolheu preciosidades cinematográficas durante décadas e chegou a possuir uma coleção avaliada em torno de 130 mil euros (cerca de 340 mil reais). Ele tinha vários objetos deChaplin, além de outras relíquias do cinema, como o veículo lunar usado por Sean Connery em 007 – Os Diamantes São Eternos (1971). Em dezembro de 2004, em um leilão na casa Christie's, de Londres, os bigodes foram vendidos por quantias muito acima da expectativa, que girava em torno de 3 mil e 5 mil libras (15,6 mil e 26 mil reais na época). Um deles foi arrematado por 18 mil libras, cerca de 94 mil reais. O outro, usado menos vezes por Chaplin, alcançou o valor de 11,9 mil libras, aproximadamente 62 mil reais. Segundo o que um dos organizadores do leilão afirmou, o valor dos bigodes não parece tão exagerado se considerarmos a importância de O Grande Ditador para o cinema. Chaplin criou o roteiro em 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia e dava início à Segunda Guerra. O longa, o primeiro com som de sua carreira, foi censurado no Brasil pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) por ser considerado “comunista” e “desmoralizador das Forças Armadas.” Somente após a guerra ele pôde ser assistido no país. Os novos donos dos bigodes não se identificaram. No mesmo leilão, foram arrematados um apito usado por Chaplin em Luzes da Cidade (1931) – vendido por cerca de 15 mil reais – e a bengala do personagem Carlitos em Tempos Modernos (1933), que saiu por módicos 250 mil reais. Fonte: Acessório do filme O Grande Ditador era sátira descarada a Hitler
por Lívia Lombardo