Através da análise aos dentes de oitoAustralopithecus africanus e 11Paranthropus robustus, uma equipa de cientistas da Universidade do Colorado Boulder descobriu que estes hominídeos ancestrais tinham uma particularidade: as fêmeas percorriam maiores distâncias no território do que os machos. Os cientistas analisaram o esmalte dos dentes destes indivíduos. Chegaram à conclusão que, em mais de metade das fêmeas, os dentes definitivos formaram-se muito longe do local onde nasceram e passaram a infância. Apenas 10 por cento dos machos tinham as mesmas características. O estudo está publicado na «Nature». Sandi Copeland, investigadora que dirige a equipa, afirma que “um dos objectivos do estudo era encontrar algum indicativo que sugerisse como aqueles primatas hominídeos se relacionavam com o território. Pelo que parece eram as mulheres que, normalmente, deixavam os seus grupos de origem”. Este padrão de dispersão feminina pode ainda observar-se em populações de chimpanzés comuns e bonobos (os animais geneticamente mais próximos do ser humano). A característica é, de resto, muito pouco frequente noutros primatas. Os gorilas machos, por exemplo, têm de deixar o seu grupo de origem para procurar as suas fêmeas. Os dentes estudados têm entre 2,4 e 1,7 milhões de anos e são todos originários das grutas Sterkfontein e Swartkans, na África do Sul, dois sítios importantes para o estudo da evolução humana. Isótopos de estrôncio Os cientistas analisaram a quantidade de vários isótopos de estrôncio presentes no esmalte dos hominídeos. Esta técnica sofisticada permite averiguar onde viveu um indivíduo na altura da formação dos seus dentes. O estrôncio é um elemento natural que faz parte das rochas e do terreno e que é absorvido por animais e vegetais, incluindo os que são consumidos pelo homem. Por isso, os traços desses isótopos podem encontrar-se no esmalte dental. Os diferentes isótopos de estrôncio reflectem as particularidades geológicas de um território concreto e, por isso, revelam a procedência dos proprietários dos dentes, sendo um indicador directo da alimentação dos hominídeos. Os isótopos foram “impressos” nos molares destes indivíduos na época final da formação de esmalte, quando tinham oito ou nove anos. As descobertas dizem também que a maior parte dos machos deslocou-se poucos quilómetros à volta do sítio onde nasceu. Para Copeland as conclusões sugerem outra novidade. Normalmente, o bipedismo é visto como uma evolução que permitiu que os hominídeos se deslocassem a longas distâncias. O estudo põe também esta teoria em causa. Artigo: Strontium isotope evidence for landscape use by early homininsRelação dos Australopithecus africanus e Paranthropus robustus com o território analisada através dos dentes
8.6.11
Há dois milhões de anos só as fêmeas hominídeas percorriam grandes distâncias
2011-06-02