7.2.12

A República chinesa de 1911: o fim da Dinastia Manchu dos Qing

Sun Yat-sen, primeiro presidente da China. Foto: Getty Images

Sun Yat-sen, primeiro presidente da China
Foto: Getty Images

Desgastada e desmoralizada por sucessivas concessões e derrotas sofridas durante o século XIX e começos do XX, frente às potências colonialistas europeias e o Japão, a Dinastia Manchu dos Qing, que então governava a China Imperial, praticamente não ofereceu resistência quando foi golpeada por um levante civil e militar iniciado em outubro de 1911, em Wuchang, no interior do país.
O acontecimento mais significativo do golpe - o prego derradeiro martelado no caixão da Dinastia Qing (1644-1912), que ocupava a Cidade Proibida de Pequim - foi o triste e vergonhoso resultado da Revolta dos Boxers, acontecimento dramático que ocorrera na capital no ano de 1900.
A Revolta dos Boxers foi uma rebelião anticolonialista promovida por lutadores de artes marciais do Movimento Yihetuan, uma seita ultranacionalista denominada de 'boxers' pelas autoridades ocidentais, que se insurgiram à revelia do governo. Começaram por atacar as missões religiosas cristãs e matando chineses convertidos. Indignados com os privilégios que os estrangeiros gozavam em solo chinês, entre eles o direito de extraterritorialidade (que colocava um inglês, um francês, um russo ou um alemão fora do alcance da lei local), tomaram Pequim submetendo ao sítio por quase dois meses o Bairro das Embaixadas de Pequim (Dongjiaominxiang), um verdadeiro enclave colonialista no coração da China.
'Ajam como os hunos'
A resposta das oito potências europeias e dos Estados Unidos ao golpe foi devastadora. O imperador alemão Guilherme II recomendou às tropas que partiam para o Oriente que agissem 'como os hunos', que arrasassem tudo o que vissem pela frente. Aos alemães, além da esquadra inglesa, juntaram-se ainda os exércitos de inúmeras outras nações (britânicos, australianos, franceses, japoneses, russos, austríacos, norte-americanos e italianos) que, formando a coligação dos Oito Países, num total de 49 mil soldados, fizeram uma marcha implacável sobre a capital da China ocupando-a em 14 de agosto.
A coligação, devido a sua superioridade tecnológica, rapidamente deu fim aos boxers. Para que a vexação dos chineses fosse ainda maior, depois de saquearem a metrópole, os invasores transformaram a Cidade Proibida, morada histórica dos imperadores, num grande quartel. Além de arrancarem mais concessões (econômicas, comerciais e territoriais) da Imperatriz Cixi, a coligação dos Oito Países exigiu uma pesada indenização pelos gastos que tiveram ao invadir o país e obrigaram as autoridades chinesas a elas mesmas executarem os líderes da rebelião nativista. Quem deveria ficar com as mãos manchadas de sangue dos patriotas eram os carrascos da monarquia manchú e não os europeus vitoriosos.
Punição aos derrotados
No dia 7 de setembro de 1901, a monarquia Qing assinou um protocolo - denominado como Protocolo dos Boxers - com os representantes das potências colonialistas (incluindo além das já citadas, a Bélgica, Espanha e a Holanda), pelo qual a China assumia:
1) indenizá-las com 450 milhões de liang de prata ao longo dos 39 anos seguintes, sobre o qual acrescentava uma taxa de 4% o que no final iria perfazer um total de 980 milhões (equivalente a U$ 333 milhões, valor este que se transformariam no final em U$ 700 milhões, na cotação da época)
2) o Bairro das Legações Estrangeiras ficaria vedado aos chineses e os estrangeiros poderiam trazer suas tropas para nele acamparem caso fosse novamente necessário. Comprometeu-se ainda em desmantelar a fortaleza de Dagu e aceitar que soldados colonialistas ocupassem pontos estratégicos da estrada-de-ferro que ligava Pequim ao porto de Shanhaiguan.
Com o Protocolo dos Boxers, a monarquia Qing apenas confirmava uma histórica política de sujeição aos interesses estrangeiros que vinha dos tempos da primeira Guerra do Ópio (1839) e que se ampliara no transcorrer do século XIX com uma série de favores e vantagens dadas aos estrangeiros que fizeram do país 'a colônia de todas as colônias', segundo o líder patriota Sun Yat-sen, ou ainda 'um melão enfatiado'.
Sem esquecer-se de mencionar a exigência dos anglo-franceses em fazer com que, após a Segunda Guerra do Ópio (1860), o governo chinês fosse obrigado a liberar o consumo da droga. O historiador Jonathan D. Spence calculou que ao redor de 1900 havia 40 milhões de usuários de ópio, sendo que 15 milhões deles já eram dados como casos perdidos, totalmente dominados pelo vício.
Certamente que na entrada do novo século a China tinha o maior mercado de entorpecentes do mundo. Parte considerável do povo buscava no ópio um sonolento consolo para suportar as sucessivas desgraças nacionais. O que não deixa de ser impressionante é como a monarquia manchu conseguiu manter-se no poder por tanto tempo ainda. Talvez fosse simplesmente o peso da inércia de um regime milenar que teimava em sobreviver apesar de tudo em meio a uma sociedade profundamente conservadora. Afinal, desde 221 a.C. os chineses eram governados por um só trono, isto é, há mais de dois mil anos.
Fonte:http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/noticias/0,,OI5547097-EI16742,00-A+Republica+chinesa+de+o+fim+da+Dinastia+Manchu+dos+Qing.html