O “homem bom”: símbolo da exclusão política sacramentada no ambiente colonial.
No processo de organização da administração colonial, percebemos que a Coroa Portuguesa tinha claras pretensões em preservar seus interesses particulares em território brasileiro. Para tanto, não devia somente cuidar da indicação do governador-geral, mas também traçar estratégias de controle que pudessem funcionar eficazmente nas esferas menores do amplo território.
Na formação das vilas e cidades, observamos que as Câmaras Municipais deveriam tratar dos problemas e questões que atingiam aquela localidade. Ao mesmo tempo, manifestando a sua integração ao projeto colonizador, essas mesmas Câmaras deveriam fazer cumprir os ordenamentos emitidos pela metrópole. De tal forma, era necessário que os organizadores do poder local fossem naturalmente comprometidos com as demandas da metrópole.
Foi nesse contexto, que a ideia de “homem bom” surgiu na colônia para determinar as pessoas que poderiam ocupar cargos políticos na esfera local. Para alcançar a condição de “homem bom”, era necessário que o indivíduo fosse maior de 25 anos de idade, casado ou emancipado, praticante da fé católica e não possuísse nenhum tipo de “impureza racial”. Além disso, estes mesmos homens deveriam ter a posse de terras que legitimavam sua condição social distinta.
Em primeiro plano, o “homem bom” deveria congregar toda essa espécie de distinção para que o mesmo não fosse acidentalmente confundido com uma figura comum da população local. Com isso, a possibilidade de assumir cargos políticos no espaço colonial não determinava o exercício de um direito amplamente compartilhado entre todas as pessoas. Ser um “homem bom”, discutindo leis, administrando a esfera pública e realizando importantes obras, transformava-se em um privilégio reservado a poucos.
Do ponto de vista histórico, podemos ver que a restrição da vida política aos “homens bons” assinalava que vários outros membros integrantes do mundo colonial não tinham nenhuma via de acesso à vida política daquela época. Ao mesmo tempo, isso também nos revelava que os representantes políticos de tais regiões estavam em consonância com as demandas metropolitanas, já que exploravam nossas terras com o claro objetivo de firmar relações comerciais com o mercado externo.
Ao longo das décadas e séculos, podemos notar que a figura do “homem bom” perpetuou uma problemática noção que ainda se manifesta em nossa cultura política. Ainda hoje, percebemos que a ocupação de cargos públicos ainda se concentra nas mãos de integrantes das elites econômicas e intelectuais da nação. Não raro, as pessoas julgam que a falta de instrução formal ou de prestígio entre as elites econômicas, impedem o bom cumprimento de um cargo político.
Por Rainer Sousa
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