Rachel Costa
Interpretar um texto não é simplesmente saber o que se passa na cabeça do autor quando ele escreve seu texto. É, antes, inferir. Se eu disser: “Levei minha filha caçula ao parque.”, pode-se inferir que tenho mais de uma filha. Ou seja, inferir é retirar informações implícitas e explícitas do texto. E será com essas informações que o candidato irá resolver as questões de interpretação na prova.
Há de se tomar cuidado, entretanto, com o que chamamos de “conhecimento de mundo”, que nada mais é do que aquilo que todos carregamos conosco, fruto do que aprendemos na escola, com os amigos, vendo televisão, enfim, vivendo. Isso porque muitas vezes uma questão leva o candidato a responder não o que está no texto, mas exatamente aquilo em que ele acredita.
Vamos a um exemplo.
É mundialmente reconhecida a qualidade do champanhe francês. Imaginemos, então, que em um texto o autor trate do assunto “bebidas finas” e escreva que na região de Champagne, na França, é produzido um champanhe muito conhecido. Mais tarde, em uma questão, a banca pergunta qual foi a abordagem do texto em relação ao tema e coloca, em uma das alternativas, que o autor afirma que o melhor champanhe vendido no mundo é o da região de Champagne, na França. Se você for um candidato afoito, vai marcar essa alternativa como correta, certo?, sem parar para pensar que o autor não havia feito tal afirmação e que, na verdade, o que ele assegurou foi que há um champanhe que é muito conhecido e que é produzido na França. O fato de possivelmente ser o melhor do mundo é uma informação que você adquiriu em jornais, revistas etc. Entendeu a diferença?
Propositadamente, a banca utiliza trechos inteiros idênticos ao texto só para confundir o candidato, e ao final, coloca uma afirmação falsa. Cuidado com isso!
Contudo, não basta retirar informações de um texto para responder corretamente as questões. É necessário saber de onde tirá-las. Para tanto, temos que ter conhecimento da estrutura textual e por quais processos se passa um texto até seu formato final de dissertação, narração ou descrição.
Como o tipo mais cobrado em provas de concurso é a dissertação, vamos entender como ela se estrutura e em que ela se baseia.
Quando dissertamos, diz-se que estamos argumentando. Mas argumentando o quê? A respeito de quê?
Para formular os argumentos, antes necessitamos de uma tese, algo que vamos afirmar e defender, a respeito de um determinado assunto.
Então, por exemplo, se o assunto é “Aquecimento global” é imperativo apresentar uma tese baseada nele. Pode-se escrever “O aquecimento global tem sido motivo de preocupação por parte dos cientistas”, ou “A população deve preocupar-se com o superaquecimento do planeta” etc. O importante é que na tese esteja claro aquilo que deverá ser sustentado por meio de argumentos.
O próximo passo é estabelecer quais argumentos poderão ser utilizados para tornar a afirmação feita na tese cada vez mais sólida.
Apresentados os argumentos, basta concluir a dissertação.
Tudo o que aqui foi exposto é apenas ilustrativo para que se tenha idéia de como um texto é estruturado e, a partir daí, estudar o texto apresentado e procurar no lugar certo a resposta para cada questão.
Vejamos:
Normalmente, a tese é explicitada na primeira frase do primeiro parágrafo, coincidindo com o que chamamos de “tópico frasal”, aquela sentença que usamos para chamar a atenção em um texto e apresentá-lo de forma clara. Mas ela pode aparecer também na última frase do primeiro parágrafo.
Disso decorre que sempre que precisar encontrar a tese do texto para responder a questões sobre o que o autor pensa, por exemplo, deve-se procurá-la no primeiro parágrafo.
Todavia, se a banca quiser saber em que o autor se fundamentou para fazer tal afirmação, basta procurar a resposta nos parágrafos em que forem apresentados os argumentos.
Por exemplo, na última prova do MPU, cargo Analista Processual, da banca Fundação Carlos Chagas, foi perguntado aos candidatos o que revelava a argumentação do autor. Dentre as alternativas apresentadas, bastava saber qual era fundamentalmente um argumento utilizado pelo autor e o que ele demonstrava.
É, portanto, muito importante conhecer a estrutura de um texto para saber trabalhá-lo de forma a fazer com que ele seja um aliado na conquista de um cargo público.
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