Acessório era usado em Exércitos como sudário.
Em épocas de crise, os modelos ficam mais largos.
Rei francês Luis XIV usa 'cravate' em 1667 (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons)
O homem enrola e amarra pedaços de pano ao redor do pescoço há centenas de anos, mas a gravata, na forma fina e comprida com que a conhecemos hoje, só foi popularizada no século XX.
Usada de diversas formas, tamanhos e cores, ela sempre simbolizou o poder masculino e representa, ainda hoje, respeito e formalidade.
Roupa de guerra
Segundo Miti Shitara, professora de história da moda da faculdade Santa Marcelina, há registros de uso de lenços no pescoço por soldados chineses, no século III A.C. e também entre o Exército da Roma Antiga, como sudário. "O lenço protegia não só do calor, mas também servia para estancar sangue e limpar a boca, por exemplo."
No Ocidente, a história mais conhecida sobre a origem da gravata data de 1618, quando um regimento croata passou por Paris durante a Guerra dos Trinta Anos usando um lenço no pescoço. Segundo Shitara, em entrevista ao G1 por telefone, o adereço, usado com renda e depois chamado de 'cravate' (derivado da palavra 'croata'), virou moda na França, e passou a ser usado pela nobreza e pela realeza - Luis XIV foi um dos adeptos do novo estilo.
Dandies parisienses de 1830 (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons)
"Toda a corte do rei sol usava a peça, que era feita de tiras de tecido (geralmente linho branco muito bem engomado) enroladas no pescoço formando uma cascata na frente. A extremidade era enfeitada com rendas e pregas."
Dândis engravatados
Após a Revolução Francesa, a moda masculina ficou mais sóbria e vários elementos caíram. Mas a gravata continuou forte. Na começo do século XIX, o inglês Bryan Brummel ('O Belo Brummel') criou um novo estilo que reforçou o símbolo de poder das 'cravates': o dândi.
Marcadas pela sobriedade, as roupas dândis não levavam acessórios, jóias ou bordados. Além de calça comprida, colete e casaco, os dândis usavam uma gola alta com um lenço com nós sofisticados. "Brummel fazia vários tipos de nós elaborados e até o rei da Inglaterra na época visitava sua casa para aprender os tipos de amarrações", explica Shitara.
Segundo uma reportagem da revista americana "Forbes", nos anos 1800, se um homem tocasse o lenço no pescoço de outro a ofensa era tanta que poderia acabar em duelo. Ainda de acordo com a "Forbes", a gravata moderna surgiu em 1860, quando se começou a amarrar o lenço como os nós das rédeas de carruagens de quatro cavalos - o hoje chamado 'nó simples'.
O poder masculino
Na Inglaterra do século XIX, as 'cravates' já eram usadas por universitários e em regimentos militares, escolas e clubes. Nessa época eram do tipo borboleta. "No final do século, se começou a usar uma fita mais fina com um anel, que deu origem ao formato atual", conta Shitara.
Embora as variações no estilo tenham mudado ao longo do tempo, a gravata sempre foi símbolo de poder e de respeito. "Os Exércitos do século XVII eram compostos de nobres. O lenço no pescoço sempre simbolizou status e formalidade. Até hoje ela é usada em ocasiões formais."
Representante da masculinidade, a gravata mudou de formas algumas vezes durante o século XX. "Na década de 1930, na época de recessão econômica, as gravatas ficaram largas, os ombros cresceram, e as lapelas também. Pode-se interpretar como um contraponto de uma fragilidade em que o homem precisa se tornar forte. Na década de 1970 aconteceu algo parecido. Não me surpreenderei se agora, em meio a essa crise, uma gravata mais larga voltar a aparecer", explica a professora Shitara.