21.1.09

Inversão colonial

Mãe e inimiga política de d. Pedro I, Carlota Joaquina o acusou de querer transformar Portugal em colônia brasileira após a morte de d. João VI
por José Chrispiniano
Retrato de d. Carlota Joaquina com medalhão de d. João na mão, óleo sobre tela, autor desconhecido, século XIX, Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa
A mãe dos dois pretendentes à coroa apoiou o caçula, d. Miguel
Quando d. João VI morreu, em 1826, teve início a disputa pelo trono português. O herdeiro natural era o primogênito d. Pedro, imperador do Brasil recém-independente. A Constituição dos dois países, contudo, impedia a unificação das coroas.

Começou aí a contenda dos Pedristas, aliados de Pedro, com os Miguelistas, os apoiadores do seu irmão Miguel, que culminou com uma guerra civil em Portugal. Pedro abdicou da coroa brasileira, em 1831, e foi para a Europa, lutar contra o exército do irmão. Venceu e, em 1834, sua filha Maria da Glória tornou-se rainha.

Em 1826, Carlota Joaquina (1775-1830), mãe dos dois postulantes ao trono, apoiava Miguel. E acusou Pedro de querer transformar Portugal em colônia, subordinada ao Rio de Janeiro. O registro da denúncia está em carta enviada para sua filha Isabel Maria.

Segundo a historiadora Francisca Lucia Nogueira de Azevedo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a acusação da rainha não era desprovida de fundamento. “A indicação de d. Pedro como sucessor à coroa de Bragança por d. João VI gerou uma crise sucessória. Na conjuntura da crise, se ressuscita a idéia de tornar o Brasil sede do império português, com capital no Rio. Considero possível o medo de d. Carlota de que Pedro pretendesse novamente unir o Brasil a Portugal.”

A infanta Isabel era regente do reino em Lisboa. Havia sido indicada por d. João VI para ocupar o cargo até que Pedro retornasse do Brasil. Isabel exerceu a regência até 1828, quando Miguel foi aclamado rei de Portugal. A disputa entre os irmãos e suas facções se acirrou, e a infanta Isabel se afastou do conflito político-familiar.

A mensagem de Carlota Joaquina está publicada no livro 
Cartas da Biblioteca Guita e José Mindlin(Editora Terceiro Nome), que reúne relíquias históricas e literárias recolhidas pelo bibliófilo José Mindlin.
TRECHO
“Quellus, 29 de outubro de 1826,

Minha querida filha do meu coração, recebi a tua carta de 15 d´este mez, vejo o que neça me dizes, parece que o demonico anda assoprando aos ouvidos de seus fiéis servos tudo que há de peór para nos acabar de arruinar; mais o maldito não pode mais que Deus, e como a cauza he sua, tenho toda a confiança que há de ter mezericórdia comnosco, que havemos de triumfar; mas He preciso pôr da nossa parte todos que estejão ao nosso alcance.

Ante-ontem chegou hum Navio do Rio de Janeiro e corre a noticia que o Pedro quer fazer d´este Reyno collonia mandando para aqui hum Vice Rey e que manda huma deputação para vir buscar suas Irmãas; em sabendo as cousas miudam te mandarei dizer tudo. (...)”
Fonte:História Viva