Mãe e inimiga política de d. Pedro I, Carlota Joaquina o acusou de querer transformar Portugal em colônia brasileira após a morte de d. João VI
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por José Chrispiniano |
| Retrato de d. Carlota Joaquina com medalhão de d. João na mão, óleo sobre tela, autor desconhecido, século XIX, Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa | | A mãe dos dois pretendentes à coroa apoiou o caçula, d. Miguel | | Quando d. João VI morreu, em 1826, teve início a disputa pelo trono português. O herdeiro natural era o primogênito d. Pedro, imperador do Brasil recém-independente. A Constituição dos dois países, contudo, impedia a unificação das coroas.
Começou aí a contenda dos Pedristas, aliados de Pedro, com os Miguelistas, os apoiadores do seu irmão Miguel, que culminou com uma guerra civil em Portugal. Pedro abdicou da coroa brasileira, em 1831, e foi para a Europa, lutar contra o exército do irmão. Venceu e, em 1834, sua filha Maria da Glória tornou-se rainha.
Em 1826, Carlota Joaquina (1775-1830), mãe dos dois postulantes ao trono, apoiava Miguel. E acusou Pedro de querer transformar Portugal em colônia, subordinada ao Rio de Janeiro. O registro da denúncia está em carta enviada para sua filha Isabel Maria.
Segundo a historiadora Francisca Lucia Nogueira de Azevedo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a acusação da rainha não era desprovida de fundamento. “A indicação de d. Pedro como sucessor à coroa de Bragança por d. João VI gerou uma crise sucessória. Na conjuntura da crise, se ressuscita a idéia de tornar o Brasil sede do império português, com capital no Rio. Considero possível o medo de d. Carlota de que Pedro pretendesse novamente unir o Brasil a Portugal.”
A infanta Isabel era regente do reino em Lisboa. Havia sido indicada por d. João VI para ocupar o cargo até que Pedro retornasse do Brasil. Isabel exerceu a regência até 1828, quando Miguel foi aclamado rei de Portugal. A disputa entre os irmãos e suas facções se acirrou, e a infanta Isabel se afastou do conflito político-familiar.
A mensagem de Carlota Joaquina está publicada no livro Cartas da Biblioteca Guita e José Mindlin(Editora Terceiro Nome), que reúne relíquias históricas e literárias recolhidas pelo bibliófilo José Mindlin.
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TRECHO |
“Quellus, 29 de outubro de 1826,
Minha querida filha do meu coração, recebi a tua carta de 15 d´este mez, vejo o que neça me dizes, parece que o demonico anda assoprando aos ouvidos de seus fiéis servos tudo que há de peór para nos acabar de arruinar; mais o maldito não pode mais que Deus, e como a cauza he sua, tenho toda a confiança que há de ter mezericórdia comnosco, que havemos de triumfar; mas He preciso pôr da nossa parte todos que estejão ao nosso alcance.
Ante-ontem chegou hum Navio do Rio de Janeiro e corre a noticia que o Pedro quer fazer d´este Reyno collonia mandando para aqui hum Vice Rey e que manda huma deputação para vir buscar suas Irmãas; em sabendo as cousas miudam te mandarei dizer tudo. (...)” |
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Fonte:História Viva