Na obra O século XXI. Reflexões sobre o futuro, resultante de uma entrevista concedida pelo historiador a António Polito, considera o primeiro relativamente à percepção de tendências e de caminhos para o futuro por parte do historiador:
"Todos nós prevemos ou tentamos prever o futuro. Faz parte da vida e dos negócios tentar perceber o caminho que o futuro vai percorrer, enquanto nos for possível. Mas o processo de previsão do futuro deve necessariamente apoiar-se no conhecimento do passado. O que irá acontecer tem de estar ligado com o que já aconteceu, e é neste ponto que o historiador entra em cena. Sem procurar ganhar nada com isso, pois o seu trabalho não é explorar o seu conhecimento para obter algum lucro. O que o historiador pode fazer é tentar analisar que partes do passado são importantes, quais são as tendências e os problemas. Devemos então, dentro de certos limites, fazer uma tentativa de previsão, mas com a consciência de poder cair na imitação do vidente. Isto é, temos de saber que grande parte do futuro, na prática e por princípio, é totalmente imprevisível. Parece no entanto que os factos realmente imprevisíveis são os acontecimentos individuais, específicos, e que o verdadeiro problema para os historiadores é perceber a importância que estes podem vir a ter. Por vezes, a análise poderá revelá-los significativos, outras vezes, não. (...) Vemos então que os acontecimentos por vezes não têm importância para a previsão do historiador, outras vezes assumem um significado fundamental. É aqui que está o limite do esforço de previsão. (...)"
(HOBSBAWM, Eric J. - O século XXI. Reflexos sobre o futuro. Lisboa: Editorial Presença, 2000, p. 11-12)