A "Cortina de Ferro", uma fronteira de milhares de quilômetros fortificada com muros de concreto, arame farpado, fossas e equipamentos de ativação de armas automáticas, começou a ser desmantelada em 1956, com a insurreição húngara, e chegou ao fim com a queda do Muro de Berlim, há 20 anos. A Cortina simboliza a "Guerra Fria", iniciada com o embate político-ideológico entre a zona de influência soviética e comunista no Leste Europeu e os países ocidentais após o final da Segunda Guerra Mundial.
A metáfora "Cortina de Ferro" para designar a fronteira dos países da esfera da URSS comunista foi utilizada pela primeira vez por Winston Churchill, em um discurso pronunciado nos Estados Unidos, no Westminster College de Fulton (Missouri), no dia 5 de março de 1946.
Foi entre as duas Alemanhas, com "o Muro de Berlim", que a "Cortina de Ferro" mostrou seu lado mais cruel com a morte de várias centenas de alemães que tentaram cruzar a fronteira.
Na Hungria será lembrado no dia 2 de maio o 20º aniversário do primeiro golpe na "Cortina de Ferro", início de um processo em cadeia que duraria até a queda do Muro, no dia 9 de novembro de 1989, depois do desmoronamento do bloco soviético. Edificada em 1949, pouco depois do golpe de Estado comunista na Hungria em 1948, e depois reforçada várias vezes, a "Cortina de Ferro" era constituída neste país de 2.500 kg de arame farpado para cada quilômetro e reforçada com 1.124.900 minas.
Contudo, "a Hungria era a parte fraca da Cortina de Ferro e foi inexoravelmente lá que ela cedeu", segundo o historiador húngaro Géza Szebeni, entrevistado pela AFP, que lembrou principalmente o episódio da Insurreição Húngara de 1956 contra o regime soviético, que foi esmagada por uma repressão sangrenta das tropas de Moscou.
E para que momentos como esse não fossem revividos que Janos Kadar, secretário-geral do Partido Comunista de 1956 a 1988, decidiu ir mais longe na liberalização.
A Hungria estava muito integrada a organizações internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que deixava Moscou furioso, segundo o historiador. "Mas, por ironia da história, os soviéticos estavam de mãos atadas, porque não queriam mais se arriscar a ter um novo 1956", explicou.
Com a chegada ao Kremlin de Mikhail Gorbatchev, novos ventos sopraram.
Em fevereiro de 1989, a cúpula do Partido Comunista húngaro, o Partido Socialista Operário MSZMP, tomou a decisão de iniciar o desmantelamento da "Cortina de Ferro", sobretudo porque sua manutenção custava caro demais.
Na Alemanha Oriental vizinha, Erich Honecker afirmara: o "Muro de Berlim será mantido por mais 100 anos".
Mas no dia 2 de maio do mesmo ano, os guardas húngaros começaram a cortar os arames. Eles haviam recebido ordens de não atirar em eventuais fugitivos. Moscou manteve-se inerte. Era o começo do fim.
Fonte: EFE