24.5.09

Seis décadas depois da Segunda Guerra, nazistas ainda enfrentam tribunais

Acusado de agir na morte de 29 mil foi deportado à Alemanha esta semana.
Conheça alguns dos júris de acusados de crimes na Segunda Guerra.



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John Demjanjuk, acusado de crimes durante o nazismo, é retirado de sua casa em Ohio, em 14 de abril, na primeira tentativa de deportá-lo. (Foto: AFP)

Nesta semana, a Justiça norte-americana liberou a extradição de John Demjanjuk, suspeito de envolvimento na morte de 29 mil judeus no campo de concentração de Sobibor durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi levado à Alemanha, onde será julgado 

Nascido na Ucrânia em 1920, Demjanjuk sempre alegou que foi obrigado a trabalhar para os nazistas e que os sobreviventes dos campos de extermínio o confundiram com outros guardas. Em 1948, ele se fez passar por vítima de guerra e recebeu ajuda como refugiado.

Para o diretor do Centro Simon Wiesenthal, que busca nazistas responsáveis por atrocidades durante a guerra, a extradição de Demjanjuk é uma conquista histórica. "Foi uma ótima notícia. Ele não poderia ser julgado nos Estados Unidos porque não cometeu crimes contra americanos e nem dentro do país. Mas na Alemanha ele poderá enfrentar um Júri legítimo", explicou Efraim Zuroff ao 
G1.

 

Apesar dos mais de 60 anos já passados do fim da Segunda Guerra Mundial, ainda acontecem julgamentos de responsáveis pelas atrocidades nazistas. Quando começaram, logo após o fim do conflito, eles confrontaram vítimas e criminosos e renderam os mais precisos relatos de histórias do Holocausto existentes.

 

Nuremberg

O primeiro e mais famoso julgamento ocorreu em 1945, na cidade de Nuremberg, Alemanha, quando as potências aliadas (ex-URSS, EUA, França e Inglaterra) organizaram a Corte. O Tribunal Militar Internacional montado indiciou os réus por crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. 

 

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Tribunal de Nuremberg puniu 20 dos 23 acusados por crimes nazistas (Foto: AFP)

Os nazistas julgados foram peças chaves dos massacres, mas a maioria deles não foi aos tribunais, afirma Zuroff. "O número de pessoas que foi para Nuremberg foi apenas a ponta do iceberg. Lá só os grandes líderes foram julgados, mas os líderes têm milhares de seguidores."

 

Ao todo, 23 acusados foram julgados - dos quais 13 foram condenados à morte e enforcados (um deles se matou antes de cumprir a pena), três foram condenados à prisão perpétua e quatro pegaram penas de 10 a 20 anos. Os outros três foram absolvidos. Entre os condenados estavam Martin Bormann, secretário de Hitler, Rudolf Hess, líder do partido nazista e amigo pessoal de Hitler, e Ernst Kaltenbrunner, chefe da polícia secreta e arquiteto da 'solução final' (massacre de judeus).  

 

Além de Nuremberg, outros julgamentos pós-guerra ocorreram naquele ano envolvendo guardas de campos de concentração, policiais, médicos e membros das 'forças-tarefa' nazistas. Segundo o Museu do Holocausto dos EUA, entre dezembro de 1946 e abril de 1949, a Promotoria dos EUA julgou 177 pessoas e condenou 97.

 

Wiesenthal e o julgamento de Eichmann

Simon Wiesenthal foi um sobrevivente do Holocausto que decidiu dedicar a sua vida a procurar os responsáveis pela tragédia nazista. Logo após a guerra, ele montou o Centro Histórico de Documentação Judaica na Áustria e começou sua busca. Entre os muitos casos de pessoas encontradas e julgadas, o mais famoso é o do alemão Adolf Eichmann, político e membro da organização militar SS.

 

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Adolf Eichmann em julgamento (Foto: AFP)

Em maio de 1960, o serviço secreto de Israel o capturou na Argentina e o levou a Jerusalém para ser julgado por uma corte israelense. As acusações contra ele eram muitas, entre elas crime contra a humanidade (por ser responsável pela deportação de milhares de judeus e ciganos para campos de concentração) e participação em organização criminosa. Ele foi condenado e morto em 1962. 

 

A busca continua

Ao longo dos anos, pistas novas levaram à captura de mais suspeitos - e mais julgamentos ocorreram. Em 1998, por exemplo, a França julgou e condenou a 10 anos de prisão Maurice Papon, por seu papel na organização do transporte de 1.560 judeus a um campo de concentração.

 

Outro exemplo é do croata Dinko Sakic, um dos líderes do Exército e comandante de campos de concentração durante a guerra, que, após o conflito, foi para Argentina e viveu por meio século sem tentar se esconder - ele até deu entrevistas dizendo que se orgulhava do que tinha feito e que faria tudo de novo.

 

Perseguido e encontrado, em 1999 ele foi declarado culpado pela morte de mais

de 2 mil judeus, ciganos e sérvios no campo de Jasenovac. Diante da decisão do júri, Sakic bateu palmas e riu.

 

Simon Wiesenthal morreu em 2005, mas seu nome foi levado no centro (veja o site, em inglês) que hoje continua com a busca por nazistas. Segundo o diretor Zuroff, a maior dificuldade de julgar os suspeitos hoje é a falta de vontade política dos países. "Por incrível que pareça, é isso. Os governos não se mobilizam."  

 

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Fonte:G1