- A faculdade de apetecer (ética), também objetiva e universal e; - A faculdade de julgar (estética), essa subjetiva e universal. Em sua obra “Crítica da Razão Pura Kant faz a distinção entre noúmeno (coisa em si) e fenômeno (aparição). Esta distinção evidencia que ao homem só é possível conhecer as coisas como aparecem à mente, jamais em si mesmas (seja pelas ideias inatas cartesianas, seja pela ideia como cópia exata da sensação). O fenômeno é uma representação que o sujeito sofre quando algo o modifica. Não conheço o que me afeta, apenas sei que sou afetado por algo do qual posso criar uma imagem. Esta implica vários desdobramentos. Em primeiro lugar, o ânimo percebe algo das sensações porque temos formas próprias para isso. A nossa intuição, como Kant chama a sensação, é determinada a priori pelas formas da sensibilidade que são o espaço e o tempo. Observem: espaço e tempo não são mais qualidades inerentes aos objetos e sim condições anteriores à experiência que possibilitam que estas ocorram. A mente não é uma cera passiva, como queria Locke, ela organiza o material que recebe da sensação segundo as formas do espaço e do tempo. Mediante a intuição, os objetos nos são dados e a doutrina que estuda os dados da sensibilidade é a Estética Transcendental. Em segundo lugar, o ânimo ordena e classifica coisas segundo uma série de categorias que não são intuídas, mas deduzidas do intelecto. A ciência do intelecto em geral é a lógica. A Lógica Transcendental é a doutrina que estuda a origem dos conceitos e se ocupa especificamente dos conceitos a priori que se referem aos objetos que, nesse caso, não são mais meramente dados e sim pensados. Apenas a sensibilidade é intuitiva. O intelecto é discursivo e por isso seus conceitos são funções que unificam, ordenam, sintetizam o múltiplo dado em uma intuição, em uma representação comum: isso significa propriamente pensar, e pensar é julgar, sendo, pois, o intelecto, a faculdade de julgar (e não a razão). Ora, o êxito da Revolução Copernicana operada por Kant é que o fundamento do objeto está no sujeito, isto é, a unidade do objeto na experiência é constituído, na realidade, na unidade sintética do sujeito pensante, denominada de Apercepção Transcendental. O Eu penso é a unidade originária e suprema da autoconsciência comandada pelas 12 categorias, portanto, princípio de todo conhecimento humano. Além do mais, intuição e conceito são heterogêneos entre si (um dado, o outro pensado) exigindo um terceiro termo que seja homogêneo entre estes para possibilitar o conhecimento. Juízos feitos somente por intuição (sem conceito) são juízos cegos, vagos. Juízos feitos somente com conceito (portanto, sem intuição) levam-nos aos erros da imaginação (paralogismo). Logo, o juízo que pode ser feito para que conheçamos algo tem de aliar intuição em conceito, necessariamente. O fenômeno dado na intuição, aliado às categorias do intelecto, torna a coisa objeto para mim. Kant chama esse procedimento de Esquema Transcendental, produzido pela Imaginação Transcendental. Dessa forma, verifica-se a possibilidade da ciência como juízos universais e necessários realizados pelos esquemas a priori da razão humana. Porém, o conhecimento limita-se ao fenomênico, evidenciando que não podemos estender nossos juízos às coisas como são em si mesmas, mas somente ao modo como elas aparecem para nós. A coisa em si (noúmenon) nos escapa, não pode ser conhecida, somente pensada. Trata-se apenas da primeira divisão da Lógica Transcendental, chamada de Analítica Transcendental. Cumpre agora passar à segunda parte. Esta segunda divisão, chamada de Dialética Transcendental, constitui uma crítica ao uso hiperfísico do intelecto, tendo como finalidade desvelar as aparências, ilusões e enganos provocados pela pretensão de ir além dos fenômenos. A razão é o intelecto quando este se lança para além do físico, do condicionado, buscando o incondicionado, fugindo do horizonte da experiência. A Razão é a faculdade do incondicionado, isto é, é metafísica e é destinada a permanecer como pura exigência do absoluto e incapaz de atingi-lo pelo conhecimento. A Razão não conhece objetos. Portanto, o intelecto é a faculdade de julgar, a Razão é a faculdade de silogizar, isto é, de pensar em conceitos e juízos puros, deduzindo mediatamente conclusões particulares a partir de princípios supremos e não condicionados. Por João Francisco P. Cabral Fonte:
Kant - Realizo aquilo que chamou de revolução Copernicana em filosofia