13.7.11

A Inglaterra as vésperas das revoluções

Desde os tempos medievais, o Parlamento tinha o poder nominal na Inglaterra e nenhum rei poderia lançar impostos sem sua aprovação. Mas Elizabeth 1 era absolutista de fato. Lançava os impostos e fazia sua política sem consultar o Parlamento, confiando em que tudo seria aprovado. Seu absolutismo era consentido, pois a grande burguesia e a nobreza, que dominavam o Parlamento, eram favorecidas por sua política. Afinal, a Dinastia Tudor havia feito a Reforma Protestante na Inglaterra e os nobres e os grandes burgueses arremataram e enriqueceram-se com as terras expropriadas da Igreja Católica. A rainha havia derrotado a Espanha, e os mercadores ingleses obtinham lucros com o comércio e a pirataria no império espanhol. Elizabeth 1 vendia ou doava monopólios, isto é, o direito exclusivo de fabricar ou vender um determinado produto sem concorrentes.

Os principais beneficiários desses monopólios eram os grandes burgueses, que compravam títulos de nobreza, e os nobres favoritos da soberana, que viviam em sua corte. Com a venda ou a doação de monopólios, o Estado ganhava a lealdade dos beneficiados e conseguia aumentar suas rendas. Esse conjunto de medidas tornou a rainha Elizabeth 1 muito popular, pois conseguiu pôr um fim à anarquia política e manter as classes populares quietas. Essa estabilidade permitiu que os grupos dominantes se enriquecessem mais. Em 1603, morreu a rainha e com ela a Dinastia dos Tudor, que havia implantado o absolutismo inglês. Sem herdeiros, o trono ficou para seu primo, Jaime Stuart, rei da Escócia. Como a Inglaterra dominava o País de Gales e a Irlanda, esse monarca tomou-se mais poderoso do que fora qualquer rei Tudor.

Jaime 1, católico, era rei de um país pobre e atrasado se comparado à Inglaterra. Na Escócia, não havia Parlamento e o rei considerava a Igreja nacional presbiteriana como oposição a sua política. O novo monarca procurou teorizar seu poder, atribuindo-lhe uma origem divina, o que nenhum Tudor jamais ousara fazer. Talvez esse autoritarismo funcionasse na Escócia, mas não na Inglaterra, onde havia um Parlamento. Além disso, Jaime 1 era considerado estrangeiro, meio francês e meio escocês, o que contribuía para que não fosse aceito. Acreditando que os recursos ingleses fossem ilimitados, o rei Jaime 1 aumentou de forma exagerada as despesas. Como suas rendas logo minguaram, a Coroa quis impor novos impostos ao Parlamento, que não aceitou essa exigência, surgindo então a crise política que resultou nas revoluções.

Nessa época, a população inglesa era estimada entre 4 milhões e 6 milhões de habitantes. A maior parte era rural, embora as cidades estivessem crescendo. O aumento das populações urbanas devia-se ao desenvolvimento do comércio e das manufaturas e às transformações que ocorriam na agricultura. A nova nobreza inglesa promoveu os cerca mentos, isto é, expropriou as terras agrícolas e cercou-as para a criação de ovelhas, que fornecia lã para a nascente manufatura têxtil. A imensa massa de camponeses sem terra dirigiu-se para as cidades, onde vivia de esmolas ou de condutas ilegais. Foram esses elementos marginalizados que participaram dos movimentos religiosos radicais comuns na Inglaterra durante o século XVII. A mobilidade geográfica não existia durante o feudalismo. Quando uma pessoa perguntava a outra “és homem de quem?”, a resposta era: “Sou homem do senhor tal”. Não era concebível um homem ou uma terra sem senhor. Mas, no século XVII, os homens que vagavam pela Inglaterra não tinham senhores, porque os fidalgos, procurando economizar despesas, dispensavam os criados, e os nobres, interessados em produzir lã, expulsavam os camponeses que há muitas gerações ocupavam as terras. Essa O comércio e as manufaturas desenvolviam-se, mas nem todos lucravam com esse desenvolvimento. O Estado, necessitado de dinheiro, vendia monopólios a pessoas ou a companhias privilegiadas, transferindo a estas o direito exclusivo de produzir ou vender determinados produtos em cidades, regiões ou colônias previamente estabelecidas. Porém, muitos pequenos e médios comerciantes e manufatureiros, que não tinham recursos para comprar esses monopólios, ficavam à margem dos negócios. Por isso, exigiam o fim dos monopólios.mobilidade geográfica ajudou a difundir, por todo o país, as idéias religiosas radicais que exigiam a distribuição de terras.

Os monopólios atrapalhavam o surgimento de novos métodos de produção e de novas tecnologias, porque as Corporações de Ofício eram ciosas de seus privilégios e controlavam a qualidade, os procedimentos técnicos, a matéria-prima e os preços das mercadorias produzidas. A rotina era a mesma há séculos e os membros das corporações detinham os segredos da profissão. A inovação era proibida. Os inovadores, os inventores, os capitalistas mais dinâmicos estavam tolhidos em seus empreendimentos. Queriam liberdade para ousar, inovar, inventar e investir seus capitais. A pequena nobreza rural também estava descontente com o absolutismo. Quando um membro dessa classe morria, se o filho primogênito fosse menor de 21anos ficava tutelado pelo rei até atingir a maioridade, e o Conselho de Tutela real no meava alguém para administrar a herança. Além dos impostos e pagamentos cobrados por esse serviço, os tutores, geralmente parentes ou favoritos do rei, dissipavam a herança e muitos herdeiros empobreciam. A pequena nobreza queria o fim da tutela real e liberdade para os herdeiros menores gerirem seu patrimônio. Boa parte dessa pequena nobreza era calvinista puritana e queria independência em relação à Igreja oficial anglicana. Desejavam nomear livremente os pregadores de suas paróquias e não pagar o dízimo para sustentar os clérigos nomeados pela Igreja oficial do absolutismo.

Fonte:

http://www.clickescolar.com.br/a-inglaterra-as-vesperas-das-revolucoes.htm