28.7.11

História da Medicina Tradicional Chinesa

Visão geral da Medicina Tradicional Chinesa

A história da Medicina Tradicional Chinesa pode ser traçada através de escavações arqueológicas que se estendem por milhões de anos.

Os primitivos passavam a maior parte do tempo cuidando da sobrevivência básica: caçar, procurar e preparar plantas para comida, construir abrigos e defender-se. É fácil imaginar que, com o tempo, eles haviam experimentado a maioria das plantas locais em busca de comida. Com o tempo, um registro oral evoluiu e identificou as plantas que representavam boa comida, aquelas que eram úteis para construir, aquelas que tinham um efeito sobre doenças e aquelas que eram venenosas. Por meio de tentativa e erro, uma forma primitiva de medicina fitoterápica e terapia dietética estava se constituindo na China.


Visão geral da Medicina Tradicional Chinesa
Por meio de tentativa e erro, os chineses antigos
desenvolveram remédios a partir de plantas indígenas

O fogo também desempenhou um papel central em suas vidas como fonte de calor, combustível e luz. Como eles se reuniam ao redor de fogueiras, é natural que nossos ancestrais descobririam os poderes curativos do calor. Esses poderes seriam especialmente evidentes para males frios, úmidos como artrite (em inglês), para os quais o calor proporciona alívio imediato. Essa foi a origem da arte da moxabustão, a aplicação terapêutica do calor para tratar uma variedade de condições.
Esses antepassados devem ter experimentado uma variedade de ferimentos durante suas vidas duras. Uma reação natural à dor (em inglês) é esfregar ou pressionar a área afetada. Essa terapia manual evoluiu gradualmente para um sistema de manipulação terapêutica. As pessoas descobriram que pressionar certos pontos do corpo tinha efeitos abrangentes. Elas começaram a usar pedaços de ossos afiados para aumentar a sensação, dando início à acupuntura.

À medida que a sociedade chinesa desenvolveu uma história escrita, documentar os poderes da medicina passou de um sistema oral para um sistema escrito.

História escrita da Medicina Tradicional Chinesa
História escrita da Medicina Tradicional Chinesa - curandeiro chinês antigo
Curandeiros antigos compilaram seu
conhecimento em textos que formaram
a base da medicina chinesa

A história escrita da Medicina Tradicional Chinesa evoluiu principalmente nos últimos 3.000 anos. Escavações arqueológicas da Dinastia Shang (1.000 a.C.) revelaram escrituras médicas inscritas em ossos de divinação: os primeiros xamãs, principalmentemulheres, usavam ossos da escápula para realizar ritos de divinação; posteriormente esses ossos também foram usados para escrever.

A descoberta, em 1973, de 11 textos médicos escritos em seda revelou um pouco das práticas sofisticadas desse período inicial da história chinesa. Datados de 168 A.C., os textos discutem dieta (em inglês),exercício, moxabustão e fitoterapia.

Misturado com mágica xamanística, um extenso texto, Prescrições para cinqüenta e dois males, descreve os efeitos farmacológicos das ervas e alimentos.

Também datado da mesma época está a lenda de Shen Nong, o Imperador da Agricultura, que provava 100 ervas diariamente para avaliar suas qualidades. Dizem que ele se envenenou muitas vezes durante suas investigações.

O livro atribuído a ele é conhecido como o Clássico da matéria médica do imperador da agricultura. Ele lista 365 remédios, compreendendo 252 plantas, 67 animais e 46 minerais.

Tao Hong-Jing, o editor da versão da Matéria Médica de Shen Nong usada hoje em dia, dividiu as ervas em três classes. As ervas da classe superior são tônicos não-tóxicos que revitalizam e nutrem o corpo; as ervas de grau médio são tônicos com qualidades terapêuticas e o grau inferior consiste em ervas que tratam doenças ou possuem alguma toxicidade.

Esse sistema de classificação sugere um importante princípio da Medicina Tradicional Chinesa: é melhor fortalecer o corpo e prevenir doenças do que combatê-las após já terem se instalado.

Ignorar o cuidado com a saúde e esperar para tratar doenças era considerado tão ridículo quanto esperar ficar com sede para cavar um poço.

Por volta de 400 d.C., as fundações básicas da Medicina Tradicional Chinesa já tinham sido colocadas na forma escrita. Nessa época, a maioria dos aspectos mágicos da medicina já tinham sido deixados para trás; havia uma crescente crença nos poderes da natureza para curar doenças.

O livro mais importante compilado entre 300 a.C. e 400 d.C. é o Clássico interior do imperador amarelo (Huang Di Nei Jing). O trabalho é supostamente uma série de diálogos entre o Imperador Amarelo, Huang Di, e seu ministro, Qi Bo, apesar de muitos historiadores acreditarem ser uma compilação de todo o conhecimento médico daquele período. O trabalho é dividido em dois livros: Perguntas simples e Eixo espiritual.

O primeiro livro lida com princípios teóricos gerais, ao passo que o segundo descreve mais especificamente os princípios da acupuntura e o tratamento de doenças. Notavelmente, esse trabalho antigo ainda é válido; ele forma a base da prática contemporânea da Medicina Tradicional Chinesa. Por exemplo, o Nei Jing afirma que doenças frias deveriam ser tratadas com ervas quentes e doenças quentes deveriam ser tratadas com ervas frias. Esse princípio ainda é seguido hoje em dia na prática clínica.

Infecções quentes, inflamatórias são tratadas com ervas frias, como madressilvas ou raiz de Coptis; condições frias, debilitantes, como fadiga crônica, são tratadas com ervas mornas, estimulantes, como ginseng ou raízes de Astragalus.

A pesquisa moderna confirmou que essas plantas contêm ingredientes com fortes efeitos farmacológicos sobre essas condições específicas. Por volta do segundo século d.C., os médicos por toda a China estavam compilando escrituras sobre as últimas descobertas da acupuntura e medicina fitoterápica. Foi nessa época que o famoso médico Hua Tuo escreveu sobre anestesia herbal.

Apesar de sua fórmula para o anestésico ter-se perdido, seu exclusivo sistema de pontos de acupuntura ainda é usado. Ele também foi pioneiro na recomendação de exercícios como um método de manter o bem-estar. Ele é citado como tendo dito que "um rio que corre nunca fica mal", significando que o exercício move o qi e previne a estagnação que leva à doença.

Outro pioneiro da época foi Zhang Zhongjing, que escreveu o Tratado sobre doenças febris e diversas após ter testemunhado uma epidemia que assolou sua cidade e matou a maioria de seus parentes. Esse médico altamente considerado desenvolveu um sistema de diagnósticos tão sofisticado que ainda é usado por praticantes em hospitais modernos, 1.700 anos após sua morte.

A medicina chinesa demonstrou um progresso contínuo durante os séculos.

Progresso da medicina na China
O progresso da medicina na China corre em paralelo à história política da nação. Entre o segundo e o quinto séculos d.C., a China passou por um período marcado por guerra e agitação política.

Uma das ironias da guerra é que ela tende a trazer avanços na medicina. Não foram exceção os períodos de agitação na história chinesa como esses, pois a maior necessidade de remédios práticos, convenientes e eficazes levaram a novos desenvolvimentos no tratamento médico.

Durante esse período, Ge Hong escreveu Prescrições para emergênciaspara divulgar o conhecimento da acupuntura e moxabustão às massas.

Em torno do ano 650 d.C., Sun Simiao compilou Prescrições que valem mil ouros, que integrou as experiências clínicas das diferentes escolas de acupuntura da época.

Durante a Dinastia Tang (618-907 D.C.), o Birô Médico Imperial da China estabeleceu departamentos de Acupuntura, Farmacologia e Especialidades Médicas. Numerosos tratados e compilações adicionais de conhecimento e experiência médica foram preparados.


Progresso da medicina na China
Durante a Dinastia Ming, muitos especialistas médicos
compilaram os trabalhos de seus antepassados,
expandindo ainda mais a base do conhecimento médico
No período das Cinco Dinastias (907-1368 D.C.), avanços nas técnicas de impressão levaram a um aumento dramático na publicação de textos médicos.

Um dos importantes livros do período foi o Cânone sobre a origem da acupuntura e moxabustão, no qual Wang Zhizhong incorporou as experiências clínicas dos praticantes da medicina popular.

Durante a Dinastia Ming (1368-1644), muitos especialistas médicos compilaram os trabalhos de seus antepassados, expandindo ainda mais a extensa base de conhecimento médico.

O médico mais famoso do período foi Li Shi Zheng (1518-1593), um amável e generoso curandeiro que não aceitava pagamento pelos seus serviços. Após reanimar o filho de um príncipe do coma, ele foi nomeado médico da corte e serviu na Academia Imperial de Medicina.

Sua conquista mais incrível foi o seu esforço de 40 anos para escrever oBen Cao Gong Mu (Catálogo Geral de Ervas), um trabalho monumental publicado após sua morte. Consistindo em 52 volumes na época de sua impressão, o Ben Cao Gong Mu permanece como uma referência importante para herbalistas tradicionais chineses.

Avanços mais recentes na Medicina Tradicional Chinesa ainda são baseados em antigas práticas e teorias.

História recente da Medicina Chinesa
Na história recente da Medicina Tradicional Chinesa houve uma integração de novas técnicas com antigos conhecimentos. Esse processo de integração continuou até o século XIX, quando a Guerra do Ópio de 1840 transformou a China em uma sociedade semi-colonial. Poderes coloniais ocidentais consideravam a medicina tradicional como primitiva e desatualizada.

O partido comunista tomou o poder em meados do século 20, trazendo bastante agitação à China; no entanto, os comunistas viram a necessidade de promover a Medicina Tradicional Chinesa para evitar uma dependência do ocidente.

Surgiu uma grande necessidade de médicos (em inglês) tradicionais, pois havia bem menos médicos treinados no ocidente para atender à enorme população: apenas 10 mil médicos treinados no ocidente estavam disponíveis para atender a 400 milhões de pessoas.

A Medicina Tradicional Chinesa iniciou uma fase de revitalização que continua até hoje. Muitos médicos treinados no ocidente e cientistas na China começaram a conduzir pesquisas sobre acupuntura, moxabustão e medicina fitoterápica, iniciando uma integração gradual dos dois sistemas.

Em 1945, uma clínica de acupuntura foi aberta em um hospital ocidental na China pela primeira vez. Desde então, a Medicina Tradicional Chinesa e a medicina ocidental têm sido praticadas lado-a-lado em hospitais chineses, às vezes por um médico que foi treinado em ambos os campos.

Por exemplo, um paciente com câncer pode receber radiação para tratar umtumor (em inglês) e depois ser enviado ao departamento herbal para receber fórmulas para reforçar seu sistema imumológico e normalizar a sua contagem sangüínea.

Desde os anos 70, os hospitais chineses treinaram alunos de mais de 100 países sobre os princípios da medicina tradicional.

O interesse na Medicina Tradicional Chinesa foi estimulado nos Estados Unidos no início dos anos 70 quando o repórter do New York Times James Reston teve um ataque de apendicite (em inglês) aguda enquanto estava na China.

Seu relato de ter recebido acupuntura para aliviar sua dor abdominal pós-operatória trouxe uma conscientização sobre esse sistema de cura ao público em geral.

Desde então, a acupuntura e medicina fitoterápica têm se difundido gradualmente na América do Norte. Com mais de 10 mil praticantes e um número crescente de escolas de Medicina Tradicional Chinesa, esse antigo sistema tem ocupado seu merecido lugar no mundo ocidental.

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