2.12.13

A Queda de Judá







Quando o poderoso Império Assírio ruiu em 612 a.e.c., os governantes dos pequenos Estados que se esparramavam pelo Oriente Medio devem ter dado um grande suspiro de alivio, na esperança de que o fim da superpotência permitisse que seus próprios Estados recuperassem a independência. Entretanto, o sonho revelou-se uma ilusão. Quase imediatamente, a Babilônia reivindicou para si o papel de nova superpotência do mundo pós-Assíria. Assim, os pequenos Estados como Judá viram-se mais uma vez objetos de competição entre a principal potência da Mesopotâmia e o Egito, visto que Judá se situava na faixa de terra entre os impérios egípcio e babilônico.

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Uma Província Rebelde

O rei babilônio Nabucodonosor II era o segundo monarca do recem-ascendente Estado Neo-Babilônico (ou Caldeu). Ele gastou grande parte de seu reinado brigando com o Egito em uma luta incansável pelo controle do Oriente Medio. À medida que sua capacidade para enfrentar a Egito oscilava, os Estados que tinham passado diretamente do controle assírio para o da Babilônia esperavam recuperar novamente sua independência. A esperança foi estimulada de modo particular pela tentativa de Nabucodonosor de invasão da terra do Nilo em 6O1 a.e.c.; quando a invasão fracassou, isso encorajou a rebelião dos Estados vassalos relutantes, incluindo Judá.

Embora Nabucodonosor não pudesse derrotar o Egito, certamente possuía força armada suficiente às suas ordens para destruir um Estado vassalo insignificante como Judá - e era necessário ensinar uma lição a Judá, ou ele poderia perder o controle da Palestina, aquela faixa de terra vital que leva ao Egito. Então, em 597 a.e.c., Nabucodonosor conduziu pessoalmente um imenso exercito babilônico contra o rebelde rei Joaquim de Judá, que deve ter esperado que o Egito derrotasse a Babilônia de forma tão decisiva que o rei não teria condições de se recuperar. Nabucodonosor pôde, provavelmente, alinhar um exército combinado de 4O.OOO a 5O.OOO homens, uma poderosa força profissional apoiada por milícias.

É muito improvável que o exercito de Judá tivesse, alguma vez, mais de 1O.OOO homens. Visto que Judá não podia esperar alinhar um exército que pudesse lutar contra a Babilônia com seus imensos recursos, a única resposta possível de Joaquim era refugiar-se por trás das fortes muralhas de Jerusalém. Por conseguinte, Nabucodonosor marchou contra Jerusalém e colocou a cidade sob sitio. Entretanto, sua ira foi satisfeita quando Joaquim se entregou e pagou um enorme tributo (incluindo o ouro e a prata do tesouro do Templo). Joaquim foi enviado para o exílio, longe de terra natal, juntamente com 1O.OOO cidadãos proeminentes e artífices úteis. De qualquer modo, Judá pelo menos continuou a existir como um Estado.

Nabucodonosor substituiu Joaquim no trono judaico por Zedequias, um vassalo supostamente mais subserviente, o qual, todavia, continuou a sonhar em escapar do domínio babilônico. O faraó egípcio Psametico II (595-589 a.e.c.) parece ter encorajado Zedequias em pensamentos de rebelião, sem dúvida na expectativa de enfraquecer o Estado da Babilônia sem desgastar suas próprias tropas. Zedequias parece ter começado a planejar uma segunda revolta tão cedo quanto 593 a.e.c. Ele negociou com os Estados sírios que estavam sob a hegemonia babilônica (Edom, Moabe e Amom), bem como com as principais cidades-Estado da Fenícia, Tiro e Sidom. Em 588 a.e.c., os planos de Zedequias estavam prontos e ele declarou sua independência da Babilônia.

Nabucodonosor não voltou sua atenção imediatamente para seu vassalo rebelde. Quando assim o fez, em 588 a.e.c., deixou claro, por suas ações, acreditar que o tempo se esgotara para tratar com brandura. Mais uma vez, marchou para Judá com um imenso exército, novamente uma força altamente profissional que pode ter atingido a casa dos 5O.OOO homens.

Com certeza, Zedequias nem sequer tentou encontrar-se com o irado monarca babilônio no campo. Em vez disso, confiou nas fortes muralhas de suas cidades, e na promessa de ajuda militar por parte do faraó Apries (Hofra, na Bíblia) do Egito (589-57O a.e.c.).

Nabucodonosor invadiu a Palestina pelo norte na primavera de 588 a.e.c., uma rota circular, na entanto mais fácil que procurar atravessar pela fenda do vale do Jordão ou por sabre as montanhas da Judéia. Suas tropas marcharam pela planície costeira, apossando-se das cidades da Fenícia antes de se dirigirem para as províncias que, anteriormente, tinham constituído o Estado de Israel. Muitas cidades nem sequer esboçaram resistência contra força tão esmagadora.

Kadesh, Meggido e Afeca tentaram resistir aos babilônios, porem sofreram rápida destruição como pagamento por sua resistência, embora tivessem resistido corajosamente. O exército de Nabucodonosor possuía uma força tão irresistível que podia atacar muitos pontos de uma fortificação ao mesmo tempo, tomando cidades por escalada ao invés de precisar esperar um prolongado cerco. Evidência do horror suscitado pela aproximação de Nabucodonosor tem sido encontrada nas escavações da cidade judaica de Laquis, na forma de uma carta de um comandante posto avançado, relatando que ele não mais podia ver sinais luminosos vindo do norte. Em fins de 588 a.e.c., Nabucodonosor conseguiu mover-se para o seu principal objetivo, Jerusalém.

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Jerusalém

Jerusalém era a capital de Judá e o maior centro cosmopolita da região, com uma população regional de 2O.OOO pessoas. Esse número teria sido aumentado, em 588 a.e.c., por refugiados que tinham escapado do caminha do exército em marcha de Nabucodonosor, talvez chegando até a duplicar a população de Jerusalém durante o cerco e, assim, ocasionando enorme pressão sobre estoques de comida da cidade. Embora Nabucodonosor já tivesse anteriormente intimidado a cidade com vista à rendição, o rei Zedequias determinou a resistência dessa vez, provavelmente ciente de que poderia esperar pouca misericórdia, visto que Judá tinha se rebelado pela segunda vez. Ele deve ter esperado que Jerusalém conseguisse resistir ao cerco babilônico até a chegada de socorro do Egito.

Tal expectativa era razoável. Jerusalém, abrigada nas terras altas da Judéia, estava situada em um cenário quase inexpugnável. Um século antes, o rei Ezequias (726-697 a.e.c.) tinha restaurado as muralhas da cidade, acrescentando torres para ajudar na defesa. Ele também construiu um segundo muro no lado externo do primeiro, uma defesa maciça de 6m de largura, construída com grandes blocos de pedra, a qual seria improvável que cedesse facilmente aos arietes babilônicos. Ezequias, que naquela época esperava o ataque da Assíria, tinha também suprida Jerusalém ao garantir o fornecimento de água para a cidade com um sólida projeto de engenharia que existe até hoje. Ele fez cavar um túnel do interior da cidade até a fonte de Giom, fora dos muros da cidade, uma distância de 533m e, então, tapau completamente a fonte, tornando-a inacessível por outros meios.

Assim, em um cerco, os habitantes de Jerusalém podiam conotar com um suprimento continuo de água pura. As fortificações de Ezequias tinham mostrada seu valor em 7O1 a.e.c., quando o assírio Sennakerib cercara a cidade e desistira de tomá-la. Nesse ano, Sennakerib interrompera rapidamente o cerco, provavelmente porque recebera noticias de uma rebelião na Babilônia. No ambiente político em rápida mutação do antigo Oriente Próximo, o rei Zedequias deve ter tido expectativas razoáveis de que Nabucodonosor não teria condições de estabelecer um cerco prolongado.

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O Cerco

O cerco teve inicio no meio da estação chuvosa, em 1O de Janeiro de 587 a.e.c. Nabucodonosor começou tentando uma circunvalação, certamente na expectativa de, pela fome, trazer os habitantes recalcitrantes à submissão. Tal decisão também sugere que ele e seus engenheiros babilônios de cerco reconheciam que seria difícil penetrar as defesas de Jerusalém.

A principio, a postura audaciosa de Zedequias parecia estar funcionando. Nabucodonosor foi forçado a interromper o cerco quando o faraó Apries, de fato, cruzou a fronteira egípcia com uma grande força expedicionária para socorrer seu aliada sitiado. Nabucodonosor retirou seu exército e, junta com ele, marchou em direção ao sul para encontrar Apries, em vez de se deixar encurralar contra as muralhas de Jerusalém. Os dois exercitas entraram em conflito a norte de Gaza. Para a infelicidade de Zedequias, o exercito Babilônico saiu vitorioso. Nabucodonosor logo retornou a Jerusalém para retomar o cerco. Dessa vez, Judá não mais podia esperar salvação de fora de suas fronteiras.

Nossa melhor fonte para o cerco é o profeta Jeremias que, durante o sitio, esteve encarcerado em Jerusalém por ter profetizado a queda iminente da cidade. O quadro que ele descreve do cerco, nos livros bíblicos de Jeremias e Lamentações, é horroroso. Jeremias conta que o exército babilônico construiu rampas de cerco - ladeiras longas, levemente inclinadas, construídas de pedra e madeira, sobre as quais os sitiadores puderam fazer rolar suas máquinas de cerco. Embora nenhum relato os mencione especificamente, o arsenal babilônico teria incluída torres de cerco, projetadas para atingir a altura das muralhas da cidade e, assim, permitir que os agressores atirassem flechas e arremessassem pedras contra os defensores - se foi esse o caso, eles puderam livrar-se de muitos defensores da muralha para permitir que os operadores dos arietes trabalhassem incólumes.

A principal arma de cerco, contudo, era o próprio ariete. Este era um tronco maciço de árvore todo cintado de bronze ou ferro e com uma pontiaguda cabeça de ferro. Ele era suspenso por uma estrutura para que pudesse balançar e atingir repetidamente um ponto fraca na muralha. Nabucodonosor haveria de ter muitas máquinas desse tipo à sua disposição. A tarefa dos que estavam cercados era, evidentemente, impedir o trabalho do ariete de todos os modos possíveis, quer matando os seus operadores, quer queimando o própria ariete ou cortando as cordas com as quais a ariete ficava suspenso, usando facas presas a varas compridas.

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O fim

Atribui-se a duração do cerco de 18 meses tanto à impressionante serie de defesas de Jerusalém quanto a habilidade de seus defensores. Por fim, todavia, os defensores se enfraqueceram à medida que a fome e a doença se espalharam pela cidade. Ambas os livros de Jeremias e de Lamentações mencionam a fome, em particular Lamentações 4:1O, que descreve mães famintas cozendo e comenda seus próprios filhos. As doenças teriam se espalhado mais rapidamente por estar a cidade apinhada de refugiados, muitos dos quais viviam provavelmente em cabanas nas ruas e nos átrios do Templo.

Finalmente, a 9 de julho de 586 a.e.c., os babilônios conseguiram abrir uma brecha no lado norte da muralha. Mesmo depois de penetrarem as muralhas e de lutarem de rua em rua, alguns defensores de Jerusalém conseguiram refugiar-se no Templo de Salomão, um complexo solidamente fortificado.

Ali resistiram por outras três semanas, até 4 de Agosto. Três dias depois, em 7 de Agosto (o nono dia do mês judaico de Av), Nabucodonosor ordenou a completa destruição do Templo, juntamente com o resto de Jerusalém.

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Resultado

Quando as tropas de Nabucodonosor romperam a muralha, o rei Zedequias e sua comitiva tentaram fugir. Eles seguiram para o leste, rumo às montanhas da Judéia, aparentemente um esforço para escapar da perseguição. Entretanto, uma patrulha babilônica os prendeu antes que alcançassem o rio Jordão, levando-os de Volta a Nabucodonosor na cidade de Ribla, mais a norte, onde ele estabelecera seu quartel-general.

Nabucodonosor infligiu uma horrível vingança ao homem que considerou ser um vassalo desleal e perjuro. Primeiramente, mandou matar os filhos de Zedequias diante dos olhos do pal. Então, o próprio Zedequias teve seus olhos furados e, depois disso, foram-lhe postas correntes e ele foi enviado ao cativeiro na Babilônia.

Nabucodonosor também agiu no sentido de dissolver o Estado judaico, assegurando, dessa forma, que não haveria mais rebeliões. Seguindo a prática padrão dos babilônios e assírios, ordenou a deportação dos judeus para a Babilônia. Não há consenso a respeito de quantos judeus foram levados para esse cativeiro babilônico porém o fato de 4O.OOO de seus descendentes retornarem 7O anos depois sugere um grande número inicial.

Contudo, Nabucodonosor não era incompassível. Ele parece ter deixado o povo da lavoura, que deveria compor, evidentemente, a grande maioria da população, na posse tranqüila de sua terra. Os que foram deportados eram os homens importantes (com suas famílias) que poderiam incitar novas resistências ao domínio babilônico, bem como artífices habilidosos e guerreiros de uso imediato ao rei da Babilônia. Um governador babilônio recebeu autoridade sobre a região e, por enquanto, o Estado judaico independente deixou de existir.


Referências Bibliográficas


BRIGHT, John. A History of Israel: London, SCM Press Ltd, 1960;

CARMEM, John. Ancient Warfare: London, Sutton Publishing, 2004;

EDERSHEIM, Alfred. Bible History - Old Testament: Peabody, Massachusetts, Hendrickson Publishers;

GABRIEL, Richard A. The Military History of Ancient Israel: Westport, Connecticut, Praeger, 2003.

Fonte: http://www.historia.templodeapolo.net/batalhas_ver.asp?cod_batalha=29&value=A%20Queda%20de%20Jud%C3%A1&civ=Civiliza%C3%A7%C3%A3o%20Babil%C3%B4nica#topo