4.12.13

Os cinco elementos do Poder na História

Pólvora, vapor, petróleo, energia nuclear, Internet... Acompanhe uma breve reflexão sobre os divisores de águas na trajetória do homem em busca de poderio e capacidade de dominação... e o que nos reserva o futuro.




Elemento número um: A PÓLVORA 



Constituiu, no fim do século 5, a primeira revolução em tecnologia militar. Em 1494, o Rei da França, Charles VIII, de só 24 anos, invadiu a Itália com uma força relativamente pequena, de 27.000 soldados profissionais. Mas eles compensavam seu pequeno número com a novidade do equipamento que transportavam: armas de fogo.

Em apenas seis meses a campanha militar superou a resistência oferecida por castelos italianos supostamente indestrutíveis. Da mesma forma, foram varridos dos campos de batalha os toscos exércitos de camponeses formados nas regiões de Gênova, Florença, Roma e Nápoles. Grossas paredes de pedra – algumas milenares – desabaram ante o olhar atônito dos defensores, depois de atingidas por projeteis pesados. Bêstas e armaduras e aperfeiçoadas durante décadas na Era Medieval, deixaram, instantâneamente, de representar a modernidade no enfrentamento humano.

A ferocidade e o treinamento do corpo expedicionário francês revelaram-se decisivos quando combinados à potência da artilharia rudimentar. Mas a chamada Idade da Pólvora não mudou somente as relações humanas no campo de batalha. Ela também alterou, e de maneira significativa, a forma de negociação entre diplomatas e governantes.

Elemento número dois: O VAPOR 



Entre o fim do século 18 e a primeira metade do século 19, a máquina a vapor passou por milhares de experimentos, antes que seu funcionamento pudesse ser considerado como verdadeiramente revolucionário. Ela produzia a transformação de energia térmica em energia mecânica, por meio da expansão do vapor de água. A pressão adquirida pelo vapor deslocava êmbolos que permitiam, por exemplo, o movimento das rodas de potentes locomotivas.

O desenvolvimento dessa pesquisa logo apontou para outras perspectivas: a transformação da energia térmica em energia cinética, ou energia de movimento, em imensas turbinas que impulsionavam geradores elétricos e gigantescos transatlânticos. No século 20, bombas, bate-estacas e muitas outras máquinas passaram a ser comandadas por máquinas a vapor.

A pesquisa acerca da aplicabilidade da máquina a vapor contribuiu decisivamente para a expansão da indústria moderna. Até então, muitas tarefas eram executadas na dependência exclusiva da potência dos músculos dos operários, da energia animal, ou das facilidades proporcionadas pelo vento e pela água.

Entretanto, uma única máquina a vapor realizava o trabalho de centenas de cavalos. E também fornecia a energia necessária para acionar todas as máquinas de uma fábrica. A locomotiva a vapor era capaz de deslocar cargas pesadas a grandes distância em um único dia.

Entre 1866 e 1905, a difusão dessa forma de se obter energia pelo vapor alterou, profundamente, o panorama mundial dos transportes, especialmente os que facilitavam a ligação entre os continentes. A utilidade dos mecanismos a vapor também foi logo aplicada a certas armas de guerra – como os grandes navios de batalha. Dessa maneira, a descoberta da função a vapor pode ser considerada como o elemento-chave da segunda revolução da tecnologia militar no planeta.

Mas a máquina a vapor será especialmente útil aos Estados dotados de certa elite intelectual. Ela servirá para dinamizar o comércio, as comunicações, e, em razão de sua extraordinária versatilidade, influenciará até mesmo os segmentos produtivos que nada têm a ver com a Política – mas são decisivos para o aquecimento da economia interna (e do emprego) –, como o do vestuário. O recurso do vapor criará uma nova faixa de status social. Algo que irá agudizar a diferença entre sociedades progressistas e arcaicas, entre potências de “primeira e de segunda classes”.

Elemento número três: O PETRÓLEO 


Nos anos de 1930, os aplicativos da indústria petroquímica permitiram a consolidação de uma importante mudança qualitativa nos sistemas de transporte – cuja eficiência pelo surgimento dos motores de combustão interna foi acentuada – e de armamentos, antes dependentes de mecanismos a vapor.

A mecanização dos exércitos europeus logo abriu um fosso em relação às forças militares das chamadas “potências de segunda ordem”. Carros protegidos por grossas chapas de metal – precursores dos modernos veículos blindados –, navios que navegavam sob as ondas, chamados inicialmente de submersíveis – e aviões de ataque, modificaram o panorama das manobras de guerra.

Ficaram para trás os problemas de mobilidade no campo de batalha. Em fins de 1939 torna-se evidente que a indústria bélica e as empresas petrolíferas tendem a seguir juntas, gerando empregos e novas plataformas de negócios, de alcance até então desconhecido – as chamadas operações “multinacionais”.

A raça humana torna-se, rapídamente, dependente dos produtos advindos do petróleo, e das atividades de um seleto grupo de 13 conglomerados gigantes do setor petroquímico, fortemente ligados a instituições financeiras de primeiro nível. Em pouco tempo esses grandes grupos estarão controlando os mercados internacionais e as políticas de trabalho de 90% da superfície habitada do planeta.

Elemento número quatro: A ENERGIA NUCLEAR 

O instrumento mais revolucionário e letal do poderio humano surge da violência brutal que desaba, em 1945, sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, na forma de duas “bombas atômicas”. Os relatos beiram a ficção: vítimas que, simplesmente, evaporaram, devido à virulência da explosão...

As detonações anunciaram, ademais, o fim de quase mil anos de supremacia militar europeia sobre o chamado mundo civilizado. Com a reação dos soviéticos, Moscou logo estabeleceu uma rivalidade com Washington no campo da disputa pela hegemonia mundial.

Sob a chamada Guerra Fria, a ciência estabeleceu outros usos para a energia nuclear, como a geração de energia (supostamente) “limpa”, e a propulsão de grandes navios cargueiros, destinados a agilizar o intercâmbio de mercadorias – um meio de transporte que revelou-se muito menos utilizável, por seus riscos operacionais, do que se imaginava.

Está claro: o controle da energia nuclear depende de procedimentos de manipulação extremamente exigentes – e esse grau de exigência nem sempre pode ser atentido pelo homem e suas corporações.

Nos últimos 50 anos, dezenas de incidentes e acidentes evidenciaram, por exemplo, os problemas de refrigeração dos reatores nucleares fincados em terra para a produção de energia elétrica.

Atualmente, até mesmo os submarinos nucleares vêm tendo o seu uso questionado pelos estrategistas navais. Estes especialistas asseguram: os submersíveis de propulsão diesel-elétrica, que podem desligar seus motores e adotar uma condição de silêncio completo no fundo dos oceanos, são rivais à altura dos mais avançados navios nucleares que singram as profundezas.

Elemento número cinco: A INTERNET 


A rede internacional de computadores foi aproveitada como instrumento do Poder Militar pela primeira vez em 1991, após a invasão relâmpago do Kuwait por forças iraquianas.

Os computadores agilizaram de maneira inacreditável tanto o processamento de informações captadas por satélites artificiais em órbita da Terra, como as comunicações que passavam pelos links que esses engenhos estabeleciam na estratosfera.

Mas a Internet também facilitou o surgimento das chamadas “ameaças assimétricas”, isto é, os ataques conduzidos por operadores solitários ou de pequeno porte, contra inimigos de muito maior poderio e estrutura, cujas atividades na web ainda parecem estar relativamente desprotegidas.

A rede mundial permite agora que um agressor detecte, alcance e destrua bens armazenados de forma virtual, de dia e à noite, o ano inteiro, a muitos milhares de quilômetros de distância. O condutor da ofensiva pode empreender a ação de uma situação muito confortável e segura. Bancos de dados de grandes conglomerados industriais, de instituições bancárias e até de organismos de alta segurança – como o Pentágono (edifício-sede do Departamento de Defesa dos EUA) e da CIA (a Agência Central de Inteligência americana) constituem, ainda hoje, alvos em potencial. Sistemas de armas e de segurança nacional precisam ser rapidamente reorientados para entrarem em sintonia com a nova doutrina de guerra do século 21...

A revolução proporcionada pelos chips de computador é tão ampla, que apenas um “míssil inteligente” – dirigido por satélite – pode fazer o trabalho de destruição que, há (somente) 10 anos, exigiria o empenho de 810 homens e 54 armas de artilharia, operando por três dias consecutivos.

Nos gabinetes de líderes das grandes potências mundiais, desde o mês de dezembro de 2002, o uso de armas robotizadas e a laser, além dos ataques a computadores em redes financeiras e sites governamentais da web vêm sendo considerados instrumentos de Poder de última geração.

Mas... e o futuro? 


O quadro das ameaças que aguarda o gênero humano reúne uma série de facilidades tecnológicas que tanto podem servir para o bem como para o mal. Nesse cenário, os exemplos mais evidentes parecem ser: (1) a nanotecnologia, miniaturização de sistemas que permite a criação de novas e poderosas capacidades de sobrevivência e destruição; (2) o custo muito baixo de sistemas de posicionamento global por GPS; e (3) os incríveis avanços nos sistemas de telefonia celular (capacidade voz, vídeo e dados em tempo real) – todos elementos potencializados pelo uso descontrolado da Internet.

Há, contudo, outros fatores que não dizem respeito a tecnologias, mas não devem ser desprezados. Ao contrário. Nesse momento, o mais surpreendente deles talvez seja o elevado nível de compreensão que os grupos terroristas do Fundamentalismo Islâmicos (e seus imitadores no mundo ocidental) parecem ter adquirido sobre o funcionamento dos mercados europeus, a exata localização das fontes de energia do Ocidente e a vulnerabilidade das suas reservas de água.
Fonte: Revista Leituras da História