13.3.19

Revolução dos Cravos




Revolução dos Cravos

O levantamento militar do dia 25 de Abril de 1974 derrubou, num só dia, o regime político que vigorava em Portugal desde 1926, sem grande resistência das forças leais ao governo, que cederam perante o movimento popular que rapidamente apoiou os militares.

Este levantamento é conhecido por 25 de Abril ou Revolução dos Cravos.

O levantamento foi conduzido pelos oficiais intermédios da hierarquia militar (o MFA), na sua maior parte capitães que tinham participado na Guerra Colonial. Considera-se, em termos gerais, que esta revolução devolveu a liberdade ao povo português (denominando-se “Dia da Liberdade” o feriado instituído em Portugal para comemorar a revolução).

Na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, foi implementado em Portugal um regime autoritário de inspiração fascista. Em 1933 o regime é remodelado, auto-denominado-se Estado Novo e Oliveira Salazar passou a controlar o país, não mais abandonando o poder até 1968, quando este lhe foi retirado por incapacidade, na sequência de uma queda em que sofreu lesões cerebrais. Foi substituído por Marcello Caetano que dirigiu o país até ser deposto no 25 de Abril de 1974.

Sob o governo do Estado Novo, Portugal foi sempre considerado uma ditadura, quer pela oposição, quer pelos observadores estrangeiros quer mesmo pelos próprios dirigentes do regime. Formalmente, existiam eleições, mas estas foram sempre contestadas pela oposição, que sempre acusaram o governo de fraude eleitoral e de desrepeito pelo dever de imparcialidade.


O Estado Novo possuía uma polícia política, a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), mais tarde DGS (Direção-Geral de Segurança) e, no início, PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), que perseguia os opositores do regime. De acordo com a visão da história dos ideólogos do regime, o país manteve uma política baseada na manutenção das colónias do “Ultramar”, ao contrário da maior parte dos países europeus que então desfaziam os seus impérios coloniais. Apesar da contestação nos fórums mundiais, como na ONU, Portugal manteve uma política de força, tendo sido obrigado, a partir do início dos anos 60, a defender militarmente as colónias contra os grupos independentistas em Angola, Guiné e Moçambique.

Economicamente, o regime manteve uma política de condicionamento industrial que resultava no monopólio do mercado português por parte de alguns grupos industriais e financeiros (a acusação de plutocracia é frequente). O país permaneceu pobre até à década de 1960, o que estimulou a emigração. Nota-se, contudo, um certo desenvolvimento económico a partir desta década.
Preparação

Monumento em GrândolaA primeira reunião clandestina de capitães foi realizada em Bissau, em 21 de Agosto de 1973. Uma nova reunião, em 9 de Setembro de 1973 no Monte Sobral (Alcáçovas) dá origem ao Movimento das Forças Armadas.

No dia 5 de Março de 1974 é aprovado o primeiro documento do movimento:“Os Militares, as Forças Armadas e a Nação”. Este documento é posto a circular clandestinamente. No dia 14 de Março o governo demite os generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Vice-Chefe e Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, alegadamente, por estes se terem recusado a participar numa cerimónia de apoio ao regime. No entanto, a verdadeira causa da expulsão dos dois Generais foi o fato do primeiro ter escrito, com a cobertura do segundo, um livro, “Portugal e o Futuro”, no qual, pela primeira vez uma alta patente advogava a necessidade de uma solução política para as revoltas separatistas nas colónias e não uma solução militar. No dia 24 de Março a última reunião clandestina decide o derrube do regime pela força.
Movimentações militares durante a Revolução

No dia 24 de Abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa.

Às 22h 55m é transmitida a canção ”E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por Luís Filipe Costa. Este foi um dos sinais previamente combinados pelos golpistas e que espoletava a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado.

O segundo sinal foi dado às 0h 20 m, quando foi transmitida a canção ”Grândola Vila Morena“ de José Afonso, pelo programa Limite da Rádio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início da operações. O locutor de serviço nessa emissão foi Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano.


O golpe militar do dia 25 de Abril teve a colaboração de vários regimentos militares que desenvolveram uma ação concertada.

No Norte, uma força do CICA 1 liderada pelo Tenente-Coronel Carlos Azeredo toma o Quartel-General da Região Militar do Porto. Estas forças são reforçadas por forças vindas de Lamego. Forças do BC9 de Viana do Castelo tomam o Aeroporto de Pedras Rubras. E forças do CIOE tomam a RTP e o RCP no Porto. O regime reagiu, e o ministro da Defesa ordenou a forças sedeadas em Braga para avançarem sobre o Porto, no que não foi obedecido, já que estas já tinham aderido ao golpe.

À Escola Prática de Cavalaria, que partiu de Santarém, coube o papel mais importante: a ocupação do Terreiro do Paço. As forças da Escola Prática de Cavalaria eram comandadas pelo então comandante Salgueiro Maia. O Terreiro do Paço foi ocupado à primeiras horas da manhã. Salgueiro Maia moveu, mais tarde, parte das suas forças para o Quartel do Carmo onde se encontrava o chefe do governo, Marcello Caetano, que ao final do dia se rendeu, fazendo, contudo, a exigência de entregar o poder ao General António de Spínola, que não fazia parte do MFA, para que o “poder não caísse na rua”. Marcello Caetano partiu, depois, para a Madeira, rumo ao exílio no Brasil.

A revolução, apesar de ser frequentemente qualificada como “pacífica”, resultou, contudo, na morte de 4 pessoas, quando elementos da polícia política dispararam sobre um grupo que se manifestava à porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.
Cravo

O cravo tornou-se no símbolo da Revolução de Abril de 1974; Com o amanhecer as pessoas começaram a juntar-se nas ruas, apoiando os soldados revoltosos; alguém (existem várias versões, sobre quem terá sido, mas uma delas é que uma florista contratada para levar cravos para a abertura de um hotel, foi vista por um soldado que pôs um cravo na espingarda, e em seguida todos o fizeram), começou a distribuir cravos vermelhos pelos soldados que depressa os colocaram nos canos das espingardas.
Consequências

Mural em Portugal com uma dedicatória ao 25 de AbrilNo dia seguinte, forma-se a Junta de Salvação Nacional, constituída por militares, e que procederá a um governo de transição.

O essencial do programa do MFA é, amiúde, resumido no programa dos três D: Democratizar, Descolonizar, Desenvolver.

Entre as medidas imediatas da revolução contam-se a extinção da polícia política (PIDE/DGS) e da Censura. Os sindicatos livres e os partidos foram legalizados. Só a 26 foram libertados os presos políticos, da Prisão de Caxias e de Peniche. Os líderes políticos da oposição no exílio voltaram ao país nos dias seguintes. Passada uma semana, o 1º de Maio foi celebrado legalmente nas ruas pela primeira vez em muitos anos. Em Lisboa reuniram-se cerca de um milhão de pessoas.

Portugal passou por um período conturbado que durou cerca de 2 anos, comummente referido como PREC (Processo Revolucionário Em Curso), marcado pela luta entre a esquerda e a direita. Foram nacionalizadas as grandes empresas. Foram igualmente “saneadas” e muitas vezes forçadas ao exílio personalidades que se identificavam com o Estado Novo. No dia 25 de Abril de 1975 realizaram-se as primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte, que foram ganhas pelo PS. Na sequência dos trabalhos desta assembleia foi elaborada uma nova Constituição, de forte pendor socialista, e estabelecida uma democracia parlamentar de tipo ocidental. A constituição foi aprovada em 1976 pela maioria dos deputados, abstendo-se apenas o CDS.


A guerra colonial acabou e, durante o PREC, as colónias africanas e Timor-Leste tornaram-se independentes.
O 25 de Abril visto 30 anos depois

O 25 de Abril de 1974 continua a dividir a sociedade portuguesa, embora as divisões estejam limitadas aos estratos mais velhos da população que viveram os acontecimentos, às facções políticas dos extremos do espectro político e às pessoas politicamente mais empenhadas. A análise que se segue refere-se apenas às divisões entre estes estratos sociais. Em geral, os jovens não se dividem sobre o 25 de Abril.

Existem atualmente dois pontos de vista dominantes na sociedade portuguesa em relação ao 25 de Abril.

Quase todos, com muito poucas excepções, consideram que o 25 de Abril valeu a pena. Mas as pessoas mais à esquerda do espectro político tendem a pensar que o espírito inicial da revolução se perdeu. O PCP lamenta que a revolução não tenha ido mais longe e que muitas das conquistas da revolução se foram perdendo. As pessoas mais à direita lamentam a forma como a descolonização foi feita e lamentam as nacionalizações.
Cronologia da Revolução dos Cravos

Para entender a revolução que mudou o destinos dos países latinos e terminou com o último império ultramarino europeu é necessário analisar os anos anteriores e posteriores a Revolução de 25 de abril de 1974.

Confira nesta breve cronologia os principais acontecimentos do antes, durante e depois da Revolução dos Cravos:


1926: Golpe militar em Portugal, chefiado por Gomes da Costa
1928: Salazar se torna Ministro das Finanças
1933: Com a nova constituição tem início o Estado Novo.
1939: Portugal mantém-se neutro na II Guerra Mundial, apesar das boas relações com os governos fascistas.
1945: Com o fim da II Guerra, as ditaduras ibéricas são apoiadas pelos países ocidentais para manter as “democracias” de Portugal e Espanha distantes do perigo comunista.
1949: Portugal adere à OTAN.
1955: Admissão de Portugal na ONU.

1961


04/02 – Início da Guerra Colonial com o revide de ações repressoras da polícia em Angola.
13/04 – Tentativa mal-sucedida de golpe de estado liderado pelo ministro da defesa, o general Botelho Moniz. 18/12 – A Índia anexa as possessões portuguesas de Damão, Diu e Goa.
19/12 – Assassinato do escultor e militante comunista José Dias Coelho pela PIDE, polícia do governo ditadorial.

1962


01/01 – Um grupo de militares tenta ocupar, sem sucesso, o Quartel de Beja. O acontecimento ficou conhecido como a Revolta de Beja. Os militares envolvidos são detidos e alguns exilados.
12/03 – Início das transmissões da Rádio Portugal Livre, emissora clandestina situada em Argel com o propósito de derrubar a ditadura.

1963
04 – Início da luta armada na Guiné.

1964


25/09 – Início da luta armada em Moçambique.

1965


13/02 – O general Humberto Delgado que apoiou a Revlta de Beja é assassinado pela PIDE na Espanha.

1966


12 – Publicação do Manifesto dos 118 pedindo a renúncia de Salazar.

1968


06/09 – Marcelo Caetano sucede Salazar, afastado do governo por motivos de saúde. A repressão continuaria fote com prisões, cassações e fechamento de escolas e universidades.

1969


25/10 – Eleições vencidas pela ANP, partido do governo, resultado típico de ditaduras disfarçadas de democracia. Cria-se a “Ala Liberal” dentro da ANP, funcionando como uma oposição moderada no próprio partido.
17/11 – A PIDE é transformada em DGS. Medida comum em ditaduras que mudam o nome de seus órgão de repressão à medida que seu nome passa a ser motivo de raiva perante a maioria da população.

1970


27/07 – Salazar morre em Lisboa.
01/10 – Criação da Intersindical, primeira central sindical portuguesa.

1971


16/08 – Alteração na Constituição para dar mais autonomia às colônias. Medida elaborada sobre pressão da ONU em conceder aos países africanos suas independências.

1971


12/10 – Grandes manifestações estudantis geradas pelo assassinato do estudante Ribeiro dos Santos pela polícia.
02/11 – A Assembléia Geral da ONU legitima a luta armada das colônias africanas contra Portugal.
16/12 – Massacre de Wiriyamu. Operação militar do Exército Português nas aldeias de Moçambique.

1973


20/01 – Assassinato de Amílcar Cabral, líder do PAIGC.
09/09 – No ano marcado pelo fundamento de diversas alas e partidos, nasce o MFA, Movimento das Forças Armadas.
24/09 – O Guiné-Bissau torna-se independente de Portugal.

1974


05/03 – Publicação do manifesto “Os Militares, as Forças Armadas e a Nação”. Primeiro documento do Movimento contra o regime e a Guerra Colonial.
14/03 – Demissão dos generais Spínola e Costa Gomes, chefe e vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, devido ao não comparecimento dos mesmos na cerimônia de solidariedade com a ditadura. Este ato foi fundamental para acelerar o fim do regime salazarista.
16/03 – Tentativa de golpe militar das Caldas da Rainha. Cerca de 200 militares são presos.
24/03 – Reunião do MFA que decide iniciar o processo de derrubar o regime por um golpe militar.
24/04 – Publicada uma nota no jornal República divulgando para a noite a transmissão do programa Limite na Rádio Renascença . A Rádio Emissores Associados de Lisboa transmite a canção ” E depois do Adeus “, código para o ínicio das operações militares contra o regime.
25/04 – Nos primeiros minutos do dia 25, outra canção “Grândola, Vila Morena” transmitida no programa Limite da Rádio Renancença é a senha para a confirmação de que o golpe era irreversível. Até as 16h todos os pontos estratégicos são ocupados. Emissoras de rádio, tv, aeroportos, quartéis, bancos e palácios. Enquanto as forças leais ao regime se rendem, o povo começa a sair as ruas em comemoração. Marcelo Caetano é cercado no Quartel do Carmo e horas depos se remde pacificamente, o que não acontece na sede da GDS (ex-PIDE). Quatro manifestantes são mortos por disparos dos policiais.
26/04 – A GDS se rende enquanto é apresentada a Junta de Salvação Nacional, a presidência da república fica a cargo do general Spínola. Enquanto os presos políticos são libertados, o MFA decide enviar para Madeira, Marcelo Caetano, Américo Tomás, César Moreira Baptista, entre outros.
29 e 30/04 – Regresso do exílio de Mário Soares e Álvaro Cunhal, líderes do Partido Socialista e do Partido Comunista Português, respectivamente.
01/05 – Meio milhão de portugueses vão às ruas para comemorar o 1º de maio em Lisboa. As comemorações seguem em todas as cidades do país.
16/05 – Posse do 1º Governo Provisório, presidido por Adelino da Palma Carlos e participações de Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro.
20/05 – Américo Tomás e Marcelo Caetano partem para o exílio no Brasil.
26/05 – Criação do Salário Mínimo Nacional.
06/06 – Início da negociação para a independência de Moçambique. Enquanto isso Portugal vivia o clima de ocupação de sem-teto e greves.
12/06 – Spínola indica Vasco Gonçalves para o cargo de Primeiro Ministro.
18/06 – Posse do 2º Governo Provisório, presidido pelo general Vasco Gonçalves, membro do MFA.
08/08 – Motim dos agentes da GDS encarcerados na Penitenciária de Lisboa.
09/09 – Reconhecimento do governo português da independência de Guiné-Bissau.
30/09 – Demissão do general António de Spínola e nomeação do General Costa Gomes para o cargo de presidente. Toma posse do 3º Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.
06/10 – Criação do 13º Salário aos pensionistas do Estado.
13/12 – O governo estadunidense concede um empréstimo a Portugal para a recuperação econômica do país.

1975


22/02 – MFA amplia seus poderes ao criar o veto às decisões políticas fundamentais.
11/03 – Tentativa de golpe de estado pelos spinolistas. Com o fracasso, o general Spínola foge para a Espanha 12/03 – A Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado são extintos. É criado o Conselho de Revolução justamente no início das grandes nacionalizações de serviços (transportes, bancos, etc.).
26/03 – Posse do 4º Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.
11/04 – Reconhecimento dos partidos em manter o período de transição de três a cinco anos. O acordo era manter o MFA no poder até a revisão da constituição.
25/04 – O Partido Socialista consegue a maioria das cadeiras na Assembléia Constituinte em votação popular no primeiro aniversário da Revolução dos Cravos.
25/06 – Independência de Moçambique.
05/07 – Independência de Cabo-Verde.
12/07 – Independência de S. Tomé e Príncipe.
13/07 – O assalto à sede do Partido Comunista dá inicío às ações violentas contra a esquerda, o período ficou conhecido como Verão Quente.
30/07 – Criado o Triunvirato de Vasco Gonçalves, Costa Gomes e Otelo para chefiar o Conselho da Revolução.
08/09 – Posse do 5º Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.
30/08 – Demissão do primeiro ministro Vasco Gonçalves.
19/09 – Posse do 6º Governo Provisório, chefiado por Pinheiro de Azevedo.
11/11 – Independência de Angola.
25/11 – Oficiais de extrema esquerda tentam, sem sucesso, um novo golpe ao ocupar a Base de Monsanto. 28/11 – Retorno das funções do 6º Governo Provisório.
07/12 – Ocupação do Timor pela Indonésia.

1976


03/01 – Segundo a imprensa francesa 60 mil timorenses morrem em menos de um mês devido à ocupação da Indonésia.
22/01 – Devolução aos antigos proprietários do jornal República. A rádio Renascença já havia sido devolvida a Igreja.
25/04 – Nas eleições legislativas, o PS consegue 35% das cadeiras.
27/07 – António Ramalho Eanes é eleito presidente, democraticamente, com 61,5% dos votos.
23/09 – Posse do 1º Governo Constitucional, chefiado por Mário Soares.

1978 – Posse do 2º Governo Contitucional (Aliança do PS com o CDS).

1980 – Eanes é reeleito presidente com 56,4% dos votos.

1983 – O PS vence as eleições legislativas.

1985


Junho – Demissão do governo de Mário Soares
Outubro – Cavaco Silva vence eleições legislativas.

1986


Janeiro – Portugal e a Espanha entram para a CEE
Mário Soares vence as eleições presidenciais.

1991 – Massacre de Dili no Timor Leste

1999 – Quase 80% dos timorenses aprovam a independência por referendo popular.

Fonte: www.colegiosaofrancisco.com.br
Revolução dos Cravos



A decadência econômica de Portugal e o desgaste com a guerra colonial provocam descontentamento no interior das Forças Armadas.

Em 25/4/1974 eclode a Revolução dos Cravos: oficiais de média patente se rebelam e derrubam o governo de Caetano, que se asila no Brasil; o general António de Spínola assume a Presidência. A população festeja o fim da ditadura distribuindo cravos – a flor nacional – aos soldados rebeldes. Os partidos políticos, inclusive o Comunista, são legalizados e é extinta a Pide, polícia política do salazarismo.

O novo regime mergulha Portugal numa agitação revolucionária: Spínola fracassa em sua tentativa de controlar a força política e militar da esquerda e renuncia em setembro de 1974; o governo passa a ser dominado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), fortemente influenciado pelo Partido Comunista. Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau obtêm a independência.

Em março de 1975, após uma fracassada tentativa de golpe de Spínola, o governo passa a ser dominado por um triunvirato formado pelos generais Costa Gomes, Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Gonçalves.

Tem início uma política de estatização de indústrias e bancos, seguida por ocupações de terras. O moderado Partido Socialista, de Mário Soares, vence as eleições para a Assembléia Constituinte em abril de 1975. Em novembro do mesmo ano, o fracasso de uma tentativa de golpe de oficiais de extrema esquerda põe fim ao período revolucionário. Apesar disso, a Constituição de 1976, ainda influenciada pelo MFA, proclama a irreversibilidade das nacionalizações e da reforma agrária.

Em 1976 o general António Ramalho Eanes, comandante das forças que esmagaram a rebelião de oficiais esquerdistas, é eleito presidente da República; os socialistas conquistam 35% dos votos e Mário Soares forma um governo minoritário. Enfrentando uma grave crise econômica, Soares renuncia em 1978. Entre 1979 e 1980 o país vive um período de instabilidade política, com cinco primeiros-ministros, entre eles Maria Pintassilgo, a primeira mulher a ocupar o cargo, e Francisco Sá Carneiro, morto em acidente aéreo.

As leis revolucionárias são revertidas: o Conselho da Revolução, que permitia uma tutela do MFA sobre as instituições, é abolido em 1982 e o governo elimina restrições ao capital privado. Em 1985, o Partido Social Democrata, de centro-direita, vence as eleições antecipadas; Aníbal Cavaco Silva torna-se primeiro-ministro.

Fonte: www.geocities.com
Revolução dos Cravos

A luta do povo português contra o fascismo e a guerra colonial tornou-se um poderoso movimento de massas, abrangendo praticamente todas as classes e setores da vida nacional.

Nos últimos meses de 1973 e nos primeiros de 1974, antecedendo imediatamente o 25 de Abril, o movimento popular de massas desenvolvia-se impetuosamente em todas as frentes:

A primeira grande frente de luta popular contra a ditadura foi o movimento operário. A classe operária intervinha como vanguarda em toda a luta antifascista, em todo o processo da luta popular.

A repressão caía violentamente sobre o movimento operário. Nunca, porém, o fascismo conseguiu liquidar e abafar a organização e a luta dos trabalhadores.

Grandes greves dos operários industriais, dos transportes, dos empregados, dos pescadores, dos trabalhadores agrícolas, exerceram profunda influência no processo revolucionário.


Antes de regressarem a Santarém, os homens da EPC realizam ainda algumas missões no meio de aplausos populares

De outubro de 1973 até o 25 de abril, além de muitas centenas de pequenas lutas nas empresas, mais de cem mil trabalhadores agrícolas do Alentejo e Ribatejo participaram numa vaga de greves que vibrou golpes repetidos, incessantes e vigorosos no abalado edifício do regime fascista.

A segunda frente de luta popular contra a ditadura foi o movimento democrático. As formas de organização e métodos de ação de massas do movimento democrático português são um exemplo brilhante da associação do trabalho legal e do trabalho clandestino nas condições duma ditadura fascista.

Mantendo sempre uma grande firmeza política e de objetivos, o movimento democrático nas mais pequenas condicionais possibilidades de atuação legal e semilegal, soube encontrar formas de organização e de ação que lhe permitiram esclarecer amplos setores e desencadear poderoso movimento de massas.

A terceira grande frente de luta popular contra a ditadura foi o movimento juvenil. A juventude teve um papel de extraordinário destaque na luta contra a ditadura fascista. Os jovens (trabalhadores e estudantes) estiveram sempre nas primeiras linhas em todas as frentes da luta política, econômica e cultural, na agitação clandestina, nas manifestações de rua, nas atividades de maior perigo.


Os revoltosos contêm como podem a multidão e deixam os jornalistas seguir de perto os acontecimentos

A quarta grande frente da luta popular foi a das classes e camadas médias. Os intelectuais, ao longo de quase meio século de opressão, constituíram sempre uma força de oposição, participando ativamente no movimento democrático e desenvolvendo toda uma ação cultural e de criação literária e artística contra o fascismo.

Nos últimos tempos da ditadura, as ações dos intelectuais haviam-se intensificado. A criação da Associação Portuguesa de Escritores e os grandes movimentos dos professores do ensino secundário e dos médicos, com grandes assembléias, concentrações e greves, mostraram bem a oposição tenaz ao regime.

Em todos os setores da vida social, o povo português passara à ofensiva contra a exploração e a opressão fascistas, pelas liberdades e pela solução dos seus problemas vitais.

Na situação portuguesa pesava de forma crescente a guerra colonial com todas as suas conseqüências. Os efeitos da guerra sentiam-se na vida econômica, social e política e na situação das próprias forças armadas. A situação foi-se agravando ainda mais na medida em que os movimentos de libertação da Guiné – Bissau, Moçambique e Angola alcançaram sérios êxitos na luta armada.

Por isso, nos últimos tempos do fascismo, o movimento contra a guerra colonial e as lutas nas forças armadas tornam-se um dos centros de polarização de descontentamento e de energias e adquirem uma importância cada vez maior.

Os revoltosos contêm como podem a multidão e deixam os jornalistas seguir de perto os acontecimentos

É a quinta grande frente da luta popular contra a ditadura que acabará por ser determinante para lhe pôr fim.

A luta contra a guerra colonial e pelo reconhecimento do direito dos povos submetidos ao colonialismo português à completa e imediata independência, tornou-se nos últimos anos do fascismo um vigoroso movimento nacional.


Das imagens que o 25 de abril produziu nenhuma é tão marcante quanto a do soldado e povo sempre lado a lado

Adquirindo crescente amplitude e tomando várias formas, essa luta travava-se em três frentes principais: a ação política, a resistência nas forças armadas e ações contra o aparelho militar colonialista.

Correspondendo à ação política, multiplicam-se as ações de resistência no seio das próprias forças armadas.

Nunca numa guerra colonial o número de desertores e refratários atingiu uma cifra comparável à registrada em Portugal. Segundo alguns cálculos, o número de refratários chegou a atingir quase um terço dos mancebos em idade militar. Na grande corrente emigratória um forte contingente era de jovens fugindo ao serviço militar e à guerra.

A par das deserções, as manifestações de resistência nas forças armadas adquiriram um caráter cada vez mais freqüente e maciço.

É nesta situação e neste ambiente que toma corpo o “movimento dos capitães” (Movimento da Forças Armadas – MFA).

O “movimento dos capitães” traduz, nas forças armadas, a tomada de consciência do povo português da necessidade do fim da guerra e da pronta liquidação do fascismo. As forças armadas, que haviam sido durante quase meio século o principal apoio do fascismo, tornam-se dia a dia o apoio cada vez mais condicional e incerto. Ganhas para a causa da revolução democrática, acabaram por vibrar o golpe mortal na ditadura.


Luís (no passeio, de joelhos no chão) e um companheiro de brincadeiras, ambos moradores de um bairro pobre de Lisboa falam com o soldado Amilcar

O agravamento das contradições e dificuldades do regime e o aprofundamento da crise interna, por um lado, e o vigoroso desenvolvimento da luta popular contra a ditadura e contra a guerra, por outro, indicavam que se aproximava a passos rápidos e seguros uma situação revolucionária.

E ao levantamento militar sucedeu-se imediatamente o levantamento popular. No próprio dia 25, as massas populares apareceram poderosas, rodeando, acarinhando, apoiando e estimulando os militares, tomando elas próprias iniciativas de ação, fundindo o povo e as forças armadas numa mesma aspiração e num mesmo combate.

Depois de quase meio século de fascismo iniciava-se a Revolução portuguesa que iria causar a surpresa e a admiração da Europa e do mundo.

Em 25 de Abril de 1974 terminava, derrotada pelo Movimento das Forças Armadas – MFA e pelo povo a longa ditadura fascista de 48 anos que Salazar impôs ao povo português, ditadura tão estruturada, tão repressiva, que sobreviveu à morte do ditador ocorrida em 1970.

Foi talvez a mais linda festa política dos oito séculos da história de Portugal: a multidão, milhares de pessoas em estado de júbilo, dançava, cantava, chorava, sorria. E se abraçava, e abraçava os jovens soldados sem medo dos fuzis. E ocorreu então um caso extraordinário, até hoje sem explicação. Não se sabe como nem porquê, havia cravos vermelhos nas mãos do povo. Homens, mulheres e crianças de cravos nas mãos. Milhares de cravos. E o povo enfeitou de cravos os fuzis militares. E do povo a revolução ganhou nome: Revolução dos Cravos!

Fonte: cc25a.utopia.com.br