A monarquia do xá foi derrubada e um estado islâmico foi instaurado.
Foto de 5 de fevereiro de 1979 mostra o aiatolá Ruhollah Khomeini acenando ao chegar Teerã após voltar dos 15 anos de exílio (Foto: AFP)
Nos primeiros dez dias deste fevereiro, o Irã comemora os 30 anos da revolução que derrubou o regime pró-ocidente do xá Reza Pahlevi e instalou no país uma república fundamentalista islâmica. Foi no dia 1º de fevereiro de 1979 que o Aiatolá Rouhollah Khomeini voltou ao país, após 15 anos de exílio e de oposição ao xá, e foi recebido por uma multidão fervorosa que gritava seu nome.
O país hoje é resultado de um governo muçulmano que praticamente eliminou a oposição e restringiu algumas liberdades em nome dos valores da revolução - "a mais popular do mundo moderno", segundo Charles Kurzman, professor da Universidade da Carolina do Norte e autor de "The Unthinkable Revolution in Iran" ("A impensável revolução do Irã", inédito em português).
A ira do povo com o xá vinha de longa data. Ele estava no poder desde 1941 e havia feito mudanças importantes no país.
Em 1963, ele lançou uma campanha de modernização e ocidentalização, a chamada 'revolução branca'. A prosperidade realmente chegou a muitos iranianos. Uma classe média surgiu. Mas eles reclamavam da liberdade que tinham os britânicos sobre seu petróleo e seu território.
Durante a Guerra Fria, o Irã impôs um regime de perseguição a comunistas e a opositores a suas reformas. A polícia secreta (Savak) manteve centenas de prisioneiros e matou outros tantos. Muitos deles eram clérigos radicais que, depois da queda do xá, subiram ao poder. Um desses religiosos era o Aiatolá Khomeini, que em 1964 foi pego em sua casa e obrigado a deixar o país.
A revolução por fita-cassete
No exílio em Bagdá, Khomeini continuou a criticar o xá e suas políticas pró-ocidente. Sua mensagem chegava às massas por meio de fitas-cassete gravadas durante conversas ao telefone. Ele se tornou o símbolo da oposição ao regime e à monarquia.
Iranianos fazem protesto em janeiro de 1979 (Foto: AFP)
Em agosto de 1978, o xá atacou abertamente Khomeini em um artigo publicado num jornal. Foi o estopim para greves e manifestações que uniram a oposição. As manifestações se intensificaram e levaram à imposição do estado de exceção no país.
Em 8 de setembro, uma manifestação acabou em matança nas ruas de Teerã. O dia ficou conhecido como a 'sexta-feira negra'.
Khomeini saiu do Iraque e foi para a França. Ainda que no exílio, as massas gritavam seu nome nas ruas. Em 15 de janeiro de 1979, o xá deixou o país para nunca mais voltar e depois de 15 dias, o aiatolá enfim voltou ao Irã.
A república islâmica
Vitoriosa, a revolução deu início a uma república muçulmana. Os apoiadores de Khomeini que estavam na prisão viraram membros do novo governo. Já os ex-partidários do xá foram executados. Os julgamentos eram muitas vezes secretos e as execuções foram noticiadas e aclamadas por muitos.
"As mudanças não foram totalmente impostas, no sentido de serem aplicadas contra a vontade da população, já que foi uma revolução popular", explica o professor Charles Kurzman. "Mas à medida que se tornou uma coerção, muitos iranianos votaram por mudanças significativas no sistema. Uma mudança importante que a revolução trouxe foi o sentimento de que eles merecem um sistema político que reflita seus valores - nesse sentido, a revolução aumentou muito a expectativa popular por representação política."
Fonte:G1