3.11.09

A abrangência histórica da revolução industrial

A abrangência histórica da revolução industrial e seus desdobramentos sociais, econômicos e ambientais: Uma análise contemporânea

por: Gilberto Barros Lima 1

O processo histórico decorrente da Revolução Industrial tem sido um influente instrumento no entendimento da complexidade econômica. A junção entre a História e a Economia também expressa a real necessidade da Estratégia para diagnosticar a amplitude do mercado internacional. O artigo tem por objetivo, através de pesquisa bibliográfica, considerar brevemente o fenômeno histórico da Revolução Industrial e sua relação com a economia mundial, bem como destacar os efeitos ou impactos sociais e ambientais que influenciaram de uma maneira notável a conjuntura econômica global. Na pesquisa realizada se encontra os fundamentos econômicos que estabeleceram uma nova ótica quanto ao comércio internacional.
Palavras-chave: Revolução Industrial. História. Economia. Comércio Internacional.


1 INTRODUÇÃO

No cotidiano transcorre comumente uma gama de acontecimentos que geram repentinas mudanças no tablado mundial. Por conseqüência desse cenário modificante, a sucessão de fatos oriundos desde a Revolução Industrial identificou a profunda relação socioeconômica entre a História e a Economia. Além desses fatos, a vívida configuração da realidade global consiste de outro fator determinante para possivelmente difundir a harmonia internacional, ou seja, a inteligível utilização da Estratégia também se engloba como ferramenta de planejamento na ordenança dos elementos que resultam na ascensão dos mercados competitivos.
Segundo a finalidade da História, a principal linha mestra de ação é conduzir o leme da realidade, seu caráter doutrinário é conjugar esforços para destacar os momentos mais importantes que de uma forma ou de outra revolucionaram as estruturas do mundo civilizado.

Por sua vez, o desdobramento do fenômeno histórico da Revolução Industrial preconizou a visão estratégica da Inglaterra dispondo inicialmente neste período de uma posição privilegiada perante o cenário internacional. Diante dos moldes estratégicos da citada revolução se obteve posteriormente a crescente compreensão que rege a atual conjuntura econômica mundial.


2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

De antemão, a palavra fenômeno é definida como “fato ou evento de interesse científico, que pode ser descrito e explicado cientificamente” e até mesmo “fato ou acontecimento raro e surpreendente, prodígio, maravilha.” (HOUAISS, 2007, p. 1327, grifo nosso). Assim como, se define a palavra revolução, por Mesquita Júnior (2006, p. 250, grifo nosso) que “Atualmente, os especialistas em Ciências Sociais preferem usar o termo para designar os períodos históricos que impliquem, mais do que uma troca de regime, uma reconstituição ou reconstrução de uma nova ordem política, social e econômica”.

Preliminarmente Arruda (1994, p. 89) menciona o fenômeno histórico da Revolução Industrial como o “[...] processo acelerado de transformação da estrutura produtiva realizado pela Inglaterra entre 1780 e 1800.” Em tais circunstâncias, o autor relata a ocorrência da “[...] separação definitiva dos trabalhadores de seus meios de produção, a sua transformação em proletários.” E por fim “Tal processo se caracteriza pela substituição das ferramentas pelas máquinas e da energia humana pela energia motriz. Em suma, a passagem do modo de produção doméstico ao fabril.”

Em plena atmosfera de implantação, Barbeiro (1976, p. 257) considera que o País inglês “[...] conseguiu reunir as condições necessárias para sediar o processo industrial, coletando, na Idade Média, os elementos geradores da industrialização.” Complementando a fenomenal gama de mudanças, segundo Arruda (1994, p. 7):

A industrialização da Inglaterra no final do século XVIII foi um fenômeno singular, unívoco. Trata-se de uma sociedade precocemente amadurecida para a assimilação do progresso técnico, processo este que se dá em condições capitalistas, plenamente realizado e isento de interferências por parte dos países previamente industrializados. (grifo do autor).

Nesse contexto, de acordo com Leite (1980, p. 84) o citado fenômeno histórico “[...] resultou da aplicação em grande escala de conversores de energia química em mecânica. A máquina a vapor é um conversor de energia química em energia mecânica”. Substancialmente a inovadora ferramenta da máquina a vapor simbolizou expressivas mudanças no setor industrial impondo um ritmo frenético para a Economia, também proporcionou substanciais ganhos para a recente industrialização.

A economia mundial está completamente transtornada, como o tinha sido, no decorrer da segunda metade do século XIX, pela segunda revolução industrial (invenção da estrada de ferro, do telégrafo, do barco a vapor, da máquina de ceifar, de costurar, etc.) quando a produtividade deu um salto gigantesco provocando a grande crise de 1893. (RAMONET, 1997, p. 20).

Em grande medida, a industrialização efetuada pela Inglaterra elevou acentuadamente os múltiplos mecanismos para dominação do comércio internacional, a ascensão meteórica do fenômeno histórico da Revolução Industrial constatou diversas condições favoráveis para o País inglês.

A Grã-Bretanha, desfrutando de uma incontestável preeminência financeira, comercial e técnica, criou o padrão característico e peculiar de relações internacionais. Foi ela, centrada em Londres com seus amplos ancoradouros cobertos, seus vastos armazéns e cais, seus ricos bancos metropolitanos, seus contatos mercantis de âmbito mundial, que chefiou a campanha em favor de um mercado unificado, através da divisão internacional do trabalho. Em outras palavras, transformação do mundo num conjunto de economias dependentes da inglesa e da complementares: cada uma delas trocaria os produtos primários correspondentes à sua situação geográfica pelas manufaturas da oficina do mundo. (CANÊDO, 1987, p. 73, grifo do autor).
Noutras palavras, Antunes (1977) destaca naquele momento histórico ocasionou-se um ciclo vicioso de desenvolvimento tecnológico na busca de mais tecnologia e aperfeiçoamento do maquinário. Leite (1980, p. 59) entende que “A inovação exige uma certa arrogância, uma atitude de desafio.” Propositadamente naquela oportunidade o mundo transformou-se e desatou as velhas amarras do atraso econômico, de acordo com Aron (2002, p. 328) “O comércio é uma guerra perpétua entre todas as nações movida com espírito e esforços pacíficos.” Na conjugação de várias medidas o mercado internacional ganhou sobremodo acelerado, outra dimensão histórica, a partir do notável fenômeno industrial foram ditadas novas ambições e neste quadro rigidamente modificado, Cardoso Jr (2005, p. 80) menciona:

A sociedade manufatureira surge, no século XIX, com a mecanização imposta pela Revolução Industrial; mediante a ampliação extraordinária da capacidade produtiva, deu-se um deslocamento de ênfase para o processo de produção em si, para a produção “sem começo e sem fim” de bens de consumo de reduzida durabilidade, não mais focada na utilidade do produto [...].

A condição irreversível do fenômeno histórico industrial também é comentada por Arruda (1994, p. 87).

A Revolução Industrial parece, então, constituir uma espécie de revolução histórica resultante da evolução do modo de produção capitalista. Pela primeira vez, o desenvolvimento das forças produtivas possibilita, em determinadas condições das relações de produção, que o desenvolvimento da indústria se manifeste e se ponha em marcha numa multiplicidade de frentes, sem interrupção, sem solução de continuidade.

Vale notar que no transcurso da mutação histórica e econômica, a estratégia inicial foi ampliar uma pluralidade de padrões dominantes e “[...] mostrar um dos mais importantes dados da nova era planetária: o profundo abismo tecnológico que separa os países ricos dos outros.” (RAMONET, 1997, p. 110). A tempestuosa realidade social ocasionada por esse fenômeno histórico representou, categoricamente, aspectos conflitantes no cenário mundial em relação a diversos países, de acordo com Deane (1973, p. 11).

A disparidade gritante entre os padrões da vida dos habitantes dos chamados países desenvolvidos ou avançados dos meados do século XX e os padrões predominantes dos países subdesenvolvidos ou atrasados de nossos dias se deve essencialmente ao fato de que os primeiros se industrializaram e estes últimos não.

Dentre os avanços de natureza tecnológica surgiram vários setores importantes como o transporte, comunicação e tantas outras invenções, categoricamente essa fase de avanços permitiu a aproximação hegemônica da Inglaterra com outros países e continentes. Barbeiro (1976, p. 262) exemplifica o fenômeno histórico inglês desta maneira:

A Inglaterra era conhecida como a oficina do mundo. A máquina estabeleceu-se em todos os setores, produzindo cada vez mais, em menos tempo. A produção industrial e agrícola multiplicou-se e não cessava de crescer. A máquina passou a fazer parte do dia a dia do homem contemporâneo. Já não podia viver sem ela.

Semelhantemente, outra observação sobre o início da industrialização é destacada por Sodré (1975, p. 45, grifo do autor) sobre que “A Inglaterra é a primeira que se converte em país capitalista e até meados do século XIX”. E ainda continua o autor a exemplificar que nessa mesma estratégia “[...] ao implantar o livre-câmbio, a potencialidade industrial inglesa pretendeu ser a oficina do mundo todo, a provedora de artigos manufaturados para todos os países, os quais deviam fornecer-lhes, em troca disso, matérias-primas”.

Nesse campo, em particular, a supremacia inglesa tinha como principal objetivo expandir cada vez mais seu férreo domínio se utilizando da inquestionável superioridade perante outros países. Desta forma, Reich (1983, p. 37-38) descreve a vantagem competitiva vivenciada pela Inglaterra:

A Revolução Industrial tivera por fundamento as invenções. O maior potencial para maiores aumentos da produtividade, no entanto residia menos na tecnologia isolada do que na organização da produção – através da aplicação das invenções à fabricação em grande escala.

O desdobramento imediato efetuado pela Revolução Industrial consolidou uma série de mudanças no seio da sociedade mundial, dentre tantas transformações difundidas desse processo histórico, notadamente a profunda relação com a conjuntura econômica tornou-se uma verdade elementar. Partindo dessa visão das significativas mudanças, que autentica a veracidade de todos os aspectos apresentados nesta fase histórica, Barbeiro (1976, p. 298) reforça o extraordinário acontecimento com a seguinte observação.

A conjuntura econômica mundial sofreu uma profunda perturbação após a Revolução Industrial. Novas necessidades, novas imposições, novos métodos de produzir e a mudança no modo de produção foram estudados por economistas e filósofos do Século XIX.

Em outras palavras, Myamoto, Vigevani e Veiga (1992, p. 35) reafirmam a continuidade das mudanças impostas pela Revolução Industrial quando “De fato, no atual cenário político internacional vão se configurando novos padrões de relacionamento global, diferenciados dos que moldaram o ambiente no período da Guerra Fria.” Como resultado predominante do fenômeno histórico e industrial, Cardoso Jr (2005, p. 108) assinala a seguinte observação:

O grande desenvolvimento da capacidade produtiva industrial gerou uma competitiva sociedade de consumidores, essencialmente marcada pelo desperdício, em que as coisas são rapidamente produzidas, consumidas e descartáveis sob o ritmo das máquinas.

Sob certos aspectos, quando se relaciona um aspecto histórico, em muitos casos, menciona-se um aspecto econômico, ao mesmo tempo, na abrangência da História com a Economia, subitamente surge à estreita vinculação de ambas as ciências com a Estratégia. Conforme Myamoto, Vigevani e Veiga (1992, p. 36) “A modificação das rivalidades estratégicas vem alterando profundamente o caráter e as condições da construção de uma hegemonia no plano internacional.”

De acordo com a mencionada relação dos efeitos históricos, políticos e sociais da Revolução Industrial, sobretudo a conjuntura econômica e a visão estratégica, todos os requisitos foram influenciados por determinados e relevantes fatos que trouxeram à tona uma nova ótica em relação ao âmbito do comércio internacional. As especificidades de cada um deles e suas reais dimensões, substancialmente, promoveram um intenso debate político; um abalo profundo nas relações de trabalho; assimetrias de poder e uma estreita observância para outras mudanças significativas. Notadamente Leite (1980, p. 131) considera essa mutação histórica e socioeconômica da seguinte forma:

A Revolução Industrial trouxe, sob muitos aspectos, grande processo social, a despeito da explosão demográfica que acarretou. Conseqüências inegáveis foram a maior equidade, um mais elevado nível de saúde e conforto individual e a redução do trabalho degradante. Não obstante, a revolução industrial trouxe também alguns malefícios. Dentre eles, possivelmente o de maior conseqüência social foi o recrudescimento de hábitos predatórios do homem, que quase dez milênios se deixavam apaziguar.
A industrialização exigia grandes quantidades de matéria-prima mineral e de recursos energéticos crescentes.

Conseqüentemente, com a continuidade da abrangência histórica resultante da Revolução Industrial, é imperativo ressaltar que a economia globalizada é capacitada para funcionar como uma unidade em tempo real e em escala universal, por isso muitos analistas consideram que no final do século 20, a economia mundial consolidou-se categoricamente como economia global, ou seja, baseada na inovação da infra-estrutura da tecnologia da informação. Deste modo, Barnet e Muller (1974, p. 323) enfatizam:

A racionalização da produção pela automação com vistas ao lucro, seja na fazenda seja na fábrica, deu origem à crescente obsolescência do trabalhador. O processo de globalização, por outro lado, acelerou espetacularmente essa tendência, previsível, das sociedades capitalistas avançadas.

A abrangência histórica da Revolução Industrial testemunhou a ocorrência de vários ciclos econômicos e manifestações de toda a espécie, de forma geral, o painel abrangente de todos os fatos ocorridos no início da revolução implicou numa crescente escalada de avanços industriais, gerando de um lado uma metamorfose social e de outro modo, um longo crescimento da economia mundial.

Apropriadamente Ramonet (1997, p. 29) revela que “Nos últimos anos, a aceleração tecnológica estimulou consideravelmente a produtividade e é assim que se pode produzir mais, em menos tempo e com menos assalariados.” Pela mesma razão, este aspecto de natureza relevante também é comentado para difundir certos elementos sociais em favor da sociedade.

É difícil negar que o progresso tecnológico traz uma certa libertação da humanidade e uma redução do grau com que o meio faz suas imposições às sociedades. A população capaz de viver num espaço determinado não é mais um dado rigorosamente fixo. Multiplicam-se as opções abertas aos grupos humanos, como se multiplicam as ocupações acessíveis aos indivíduos. Os meios de combater o frio e o calor permitem a ocupação de regiões até aqui desprezadas. Pressente-se a possibilidade de que os cientistas modifiquem os climas, sem investimentos excessivos. Mais do que nunca a Terra é o fruto do trabalho do homem, embora já existisse quando ele apareceu na sua superfície e deva continuar existindo depois que ele desaparecer. (ARON, 2002, p. 279).

Através dos conceitos históricos foi possível documentar todas as etapas desse processo revolucionário, destacando as variadas alterações políticas e sociais no cenário econômico global. Nesse cenário socioeconômico, substancialmente distinto, a Estratégia constantemente aplicou novos rumos para ampliar o crescimento econômico dos países em permanente industrialização. Noutro ponto de vista, Sodré (1975, p. 15) ressalta que “O ritmo em que a História está marchando, nos dias que estamos vivendo, é de tal ordem que, a curtos intervalos, as situações mudam profundamente.”

Outra questão considerável é que a complexidade desse fenômeno histórico industrial requer ainda outras considerações atuais, segundo Deane (1973, p. 9).

Nos últimos anos, os economistas e os políticos vêm-se preocupando cada vez mais com as questões do crescimento econômico, e em particular com o problema de identificar a rota pela qual os países pobres de hoje podem alcançar os altos padrões de vida atualmente usufruídos pelas sociedades industriais.
Os historiadores também têm sido impelidos pelo premente problema contemporâneo a analisar o seu material de uma nova maneira, a aplicar os conceitos dos teoristas do crescimento econômico e a procurar as explicações implícitas nos relativamente poucos casos de industrialização bem sucedida.

Para assegurar a importância da abrangência histórica em qualquer fenômeno pesquisado, Ferguson (2008) sabiamente declarou numa de suas entrevistas que pensar historicamente não é apenas estudar a distinta ciência, mas segundo seu ponto de vista, a História é verdadeiramente uma habilidade indispensável de negociação, o autor revela ainda que numa análise do desempenho anual de uma empresa, tal atitude pode ser também considerada um exercício histórico.


2.1 EVOLUÇÃO INDUSTRIAL E ECONÔMICA

A pujança do crescimento econômico consolidado pelos padrões modernizadores da Revolução Industrial se agigantou na aguerrida disputa por novos mercados, antes disso Arruda destaca que o “Progresso da técnica aplicada à indústria provocou na sociedade inglesa do século XVIII transformações tão profundas e radicais que elas foram consideradas revolucionárias.” Barnet e Muller (1976, p. 26) relata que “A indústria transcendeu a geografia.” Sobretudo, na arena internacional constantemente a economia dominante dos países industrializados implementou estratégias visando o franco desenvolvimento e a conquista de múltiplos interesses. De outro modo Reich (1983, p. 152) menciona que:

Em suma, o globo transforma-se rapidamente num único mercado. Bens estão sendo produzidos onde quer que possam ser fabricados mais barato, não importando as fronteiras nacionais. E os locais mais eficientes para grande parte da produção em massa de bens padronizados são os países do Terceiro Mundo.

Conseqüentemente a aplicabilidade de uma visão diferenciada pela Estratégia proporcionou para diversos países o interesse de novos horizontes e impeliu a imediata homogeneidade econômica no grupamento limitado das potências mundiais. Ainda nesta mesma linha de considerações, o fenomenal episódio manifestado pela abrangência histórica da Revolução Industrial exibe fartos exemplos e astuciosas manobras num emaranhado e complexo cenário econômico, no entrelaçamento de uma enormidade de fatos, a História juntamente com a Economia e a Estratégia aderiram aos mecanismos do mercado internacional. Noutro ponto de vista, Leite (1980, p. 38) aponta:

Sob um aspecto restrito, mas importante, podemos dividir o universo econômico em dois conjuntos. De um lado, os países industrializados que hoje se caracterizam por uma importação crescente de matérias-primas e pela exportação crescente de produtos cujo conteúdo tecnológico é elevado. De outro, em contraste os países não desenvolvidos que se distinguem pela exportação de matérias-primas e semi-acabados e pela importação de manufaturados de conteúdo tecnológico elevado.

Para exemplificar a natureza da complexidade econômica se requer, forçosamente, distinguir alguns aspectos, ou seja, a disponibilidade para incrementar uma orientação mestra para cristalizar linhas de pensamento; compreender a intricada rede de normas para confrontar os interesses contrastantes e diagnosticar os sentimentos nacionalistas antes que se possa mapear o emprego de novos rumos. Outro aspecto relevante foi levantado por Antunes (1997, p. 65-66) que coincide com a dualidade econômica mundial:

Com essa revolução industrial, A Europa Ocidental, e mais particularmente a Inglaterra, pela primeira vez na história passou a produzir bem mais que sua possibilidade de consumo. A superprodução deu origem à organização de certas sociedades internas, que se especificaram em descobrir em que lugar do mundo seria possível vender o excedente. Paralelamente à necessidade de abertura de novos mercados, esses países passaram a requisitar quantidades crescentes de matérias-primas para suas indústrias em expansão. A procura de matérias-primas a preços vantajosos e o excesso de produção vendido a baixo custo entusiasmaram os países não atingidos pela máquina e, assim, aos poucos, o mundo foi se dividindo em países industriais e países agrícolas.

De modo semelhante, Arruda (1975, p. 133) também relata a dualidade econômica mundial entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos.

O comércio internacional, por sua vez, provocou uma especialização mundial da produção: enquanto os países mais avançados se especializaram na produção industrial, os países mais atrasados da Europa, América e Ásia concentraram seus esforços no setor primário, fornecendo alimentos e matérias-primas para os países industrializados.

As amplitudes dos aspectos assinaladas são prováveis efeitos que, em meio à economia globalizada, se delinearam num profundo planejamento estratégico que em plena atmosfera do fenômeno histórico da Revolução Industrial traçaram, em grande medida, uma linha de assimetrias.


2.2 IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS

Ao longo do tempo ocorreram diversos impactos sociais e ambientais na industrialização mundial, o coroamento da Revolução Industrial não foi meramente concluído com total sucesso por causa dos sérios problemas durante sua fase expansionista. De acordo com Arruda (1975, p. 130) “As repercussões [...] foram intensas. Ao mesmo tempo que a Inglaterra se transformava no principal produtor e exportador de produtos manufaturados, a população dos centros urbanos cresceu consideravelmente.” De outro modo Antunes (1977, p. 147, grifo do autor) exemplifica as profundas alterações:

[..] há anos atrás, chaminés expelindo fumaça significavam progresso, atualmente significam perigo ou veneno. O desenvolvimento acelerado da industrialização, o crescimento vertiginoso de veículos automotores, o uso indiscriminado de inseticidas e pesticidas, o volume assustador de detritos lançados em esgotos e do lixo urbano, estão matando vegetais, animais e diminuindo a capacidade de resistência do próprio homem a inúmeras doenças.

Estas significantes alterações decorreram potencialmente pelas mudanças empreendidas pelos impactos sociais anteriormente mencionados, conforme sublinha Odell (1974, p. 144) “[..] a urbanização implica a retirada de homens e suas famílias do ambiente campesino, rural, e da força de trabalho.” De forma expressiva o ponto de vista de Ramonet (1997, p. 65) demonstra:

Um mundo fortemente sacudido por formidáveis mutações tecnológicas, pela persistência das desordens econômicas e pelo aumento dos perigos ecológicos. Esses três feixes de distúrbios traduzem-se, principalmente, pelo desassossego social, explosão das desigualdades, aparecimento de novas formas de pobreza e exclusão, crise do valor-trabalho, profundo mal-estar do poder, desemprego em massa, progressão do irracional, proliferação dos nacionalismos, dos integrismos, da xenofobia, e, simultaneamente, por uma demanda bastante forte de moral e um rápido desenvolvimento das preocupações éticas.

A industrialização também derivou em numerosas partes do mundo uma desordenada utilização dos recursos naturais, Rangel (1984, p. 164) comenta que “[...] as matérias-primas necessárias ao desenvolvimento da civilização capitalista se encontravam no solo ou no subsolo dos países protagonistas dessa civilização.” Deste modo, a grande parte desses elementos foi atingida com efeitos devastadores, Barnet e Muller (1974, p. 332) enumeram alguns desses impactos:

A deterioração da qualidade do ar e da água em todo mundo que se industrializa, o desequilíbrio ecológico causado por marcos na marcha do progresso como os fertilizantes e os inseticidas inorgânicos, e a crescente ameaça aos sistemas sustentadores da vida da ecosfera encontram-se tão bem documentados em centenas de ponderados relatórios, em tantos casos são tão facilmente percebidos pela língua e pelo nariz, que não constituem mais questão discutível.

Ao contrário disso, os países detentores do domínio industrial estabelecem uma cegueira universal quanto ao futuro industrial do planeta. Para justificar a deterioração do meio ambiente, a maioria desses países incrementa alguns mecanismos insuficientes para manter a sustentabilidade dos recursos naturais que ainda estão temporariamente disponíveis. A despeito disso, Barnet e Muller (1974, p. 340) identificam que:

Modificar tecnologias nas quais bilhões já foram investidos para conformá-las às necessidades ecológicas implicaria renunciar a lucros sobre fábricas e equipamentos já pagos e exigiria imensos investimentos em pesquisa e desenvolvimento sem finalidade previsível e sem a promessa de qualquer aumento nos lucros totais. A saúde, a segurança e o impacto sobre o meio ambiente não são artigos que vendam bem.

Hobsbawm (2003, p. 562) reforça que “As forças geradas pela economia tecnocientífica são agora suficientemente grandes para destruir o meio ambiente, ou seja, as fundações materiais da vida humana.” Continua ainda o historiador “As próprias estruturas das sociedades humanas [...] estão na mira de ser destruídas pela erosão do que herdamos do passado humano. Nosso mundo corre o risco de explosão e implosão”.

No curso desse cenário desfavorável provocado pela irreversível industrialização para com o meio ambiente, o cenário doutrinário da nova ótica industrial dispôs de mais aspectos conflitantes que foram detectados pela abrangência histórica da Revolução Industrial:

Em nome do progresso e do desenvolvimento, o homem empreendeu, desde a revolução industrial, a destruição sistemática dos meios ambientes naturais. Sucedem-se as depredações e pilhagens de toda espécie, infligidas ao solo, à água, à vegetação e à atmosfera da Terra. A poluição produz efeitos – aquecimentos do clima, empobrecimento da camada de ozônio, chuvas ácidas – que colocam em perigo o futuro de nosso planeta. O produtivismo exagerado é o primeiro responsável pela pilhagem, assim como a explosão demográfica do Sul e a poluição urbana. A extensão de desastres ecológicos, e dos problemas levantados por eles, preocupa todos os cidadãos do planeta. O desaparecimento de numerosas espécies da fauna e da flora cria inquietantes desequilíbrios. Proteger a variedade da vida torna-se um imperativo. Com efeito, a riqueza da natureza é, em primeiro lugar, sua diversidade (RAMONET, 1997, p. 9).

Em contrapartida aos problemas enunciados sobre a descabida degradação ambiental imposta severamente pelo progresso industrial, muitas análises revelaram constantemente a realidade prejudicial de tais mudanças.

Os acentuados contrastes de riqueza e pobreza do mundo moderno – e o fantasma da catástrofe ecológica – exigem planejamento global e regional, mas exigem também uma estrutura de cooperação econômica que estimule iniciativas e inovações responsáveis, por parte de uma infinidade de cidadãos. (BLACKBURN, 1982, p. 191).

Entretanto, o fenômeno da industrialização não modificou somente o cunho histórico, somam-se a esse fato outros elementos socioeconômicos envolvendo num mesmo quadro a sociedade mundial, Rangel (1984, p. 147) explica:

A evolução econômica (e, portanto, social) começa com as trocas e a escravidão e culmina no capitalismo com a industrialização, as instituições financeiras modernas e as liberdades políticas. [...] ela foi também à escala que permitiu à humanidade atingir progressivamente uma produtividade espantosa e, no mesmo processo, formas elevadas de pensamento racional e científico, e uma noção aguda da dignidade e dos direitos do homem.

Fundamentalmente Rangel (1984, p. 153) revela que “Foi a vitória do capitalismo sobre as doenças como a tuberculose, tifo e gastrenterite, ligada a uma produtividade agrícola em aumento considerável, que provocou o formidável crescimento urbano nos últimos 100 anos.” De outra forma Aron (2002, p. 839, grifo do autor) comenta:

A vantagem de fazer a revolução industrial depois dos países ocidentais tem, contudo um preço elevado. A população em certos casos triplicou ou quadruplicou antes de que se iniciasse o processo de industrialização. A eficiência dos investimentos em higiene e serviços médicos é tal que a taxa de mortalidade pode ser reduzida antes de que o progresso econômico aumente proporcionalmente os recursos disponíveis.

Nesse campo, em particular, Deane (1973, p. 14) afirma:

No decorrer do século seguinte ocorreu uma revolução na vida social e econômica da Inglaterra que modificou a aparência física da terra e estabeleceu um modo de viver e trabalhar totalmente diferente para o grosso do seu povo. Essa primeira revolução industrial é de especial interesse não apenas para os historiadores como também para os estudiosos do moderno desenvolvimento econômico. Pois representou o início espontâneo do processo que deu origem às sociedades afluentes de nossos dias, um modo de fugir ao pauperismo, processo que aproximadamente dois terços da população do mundo moderno, as populações dos países subdesenvolvidos, tentam desesperadamente descobrir para si próprios.

Finalizando a conjuntura social efetuada pela Revolução Industrial, Oliva e Giansanti (1995) concluem que o fenômeno histórico ocorrido no território inglês e posteriormente nos Estados Unidos, transferiu através da indústria uma parte fundamental da produção socioeconômica para o universo urbano. Sobretudo a industrialização requisitou mão-de-obra livre que formou o mercado de trabalho, ou seja, o fenômeno industrial separou o trabalho da vida familiar para ser efetuado exclusivamente e integralmente nas fábricas.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude do que foi mencionada no artigo, a abrangência histórica da Revolução Industrial pode ser considerada um dos fenômenos mais relevantes do cenário mundial. Numa análise contemporânea a pesquisa relatou os desdobramentos sociais, econômicos e ambientais, por conseqüência, também retratou os impactos sucessivos da industrialização adotada mundialmente e que de alguma maneira se reflete cotidianamente no avanço industrial e tecnológico.

A dimensão do fenômeno revolucionário industrial proporcionou o efeito imediato para que o comércio internacional assumisse o destino competitivo, ou seja, a obrigatoriedade de uma irreversível economia globalizada. Diante do fato histórico, a ocorrência de fatores positivos elevou acentuadamente o progresso industrial com o crescimento econômico de uma minoria de Países, porém de outra forma, sob certos aspectos negativos trouxe problemas sociais e ambientais no cenário econômico global.

No tocante a diversificação dos impactos oriundos do fenômeno revolucionário industrial, a economia global eclodiu seguidamente uma série de normas radicais resultante duma agressiva transição imposta pela implantação de outro modelo de trabalho. Ademais, o destino inovador impôs a sociedade mundial à intensificação de uma nova ordem trabalhista; as transformações inerentes pelo inédito advento industrial exigiram planejamentos estratégicos e na decorrência da expansão industrial surgiram os constantes processos da globalização.

Portanto, é inegável que a somatória das decisivas providências na esfera econômica ditadas pela Revolução Industrial fez com que o comércio internacional se concretizasse para a maioria dos países no monumental desafio para o crescimento econômico.

Para tanto, o efeito multiplicador da tríplice relação entre a História, a Economia e a Estratégia constituíram uma nova roupagem no âmbito do mercado internacional, a despeito disso surgiram assimetrias (socioeconômica estratégica) no curso da Revolução Industrial, como por exemplo, se deflagrou um leque de progressos e problemas; benefícios e dificuldades e de conquistas e confrontações. Em virtude disso, tais relevantes elementos assimétricos desencadearam um conjunto de transformações lastreadas atentamente pela História.
4 NOTAS
1. Especialista em Relações Internacionais. E-mail: gbarroslima@yahoo.com.br
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