21.11.09

Buda (563 aC - 483 aC)

Buda (563 aC - 483 aC)
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Buda - Índia - 563 a.C. 483 a.C.
Não era fácil viver na Índia do século V a.C. Os habitantes eram numerosos, o alimento escasso e a divisão de bens desigual – de modo que a fome e a miséria se integravam no dia a dia da maior parte dos hindus. Tão árdua era sua vida, que não tinham motivo algum para dela gostar: suportavam-na apenas, à espera de uma existência melhor, que viria – acreditavam – depois da morte.

E, para que essa vida futura fosse realmente rica e feliz, havia muita gente que se empenhava em tornar a
presente ainda mais pobre e desolada, praticando toda sorte de mortificações.

Foi nessa época que surgiu na Índia um homem chamado
Siddhartha Gautama, cuja bondade e sabedoria lhe valeram o nome de Buda, em, em hindu, que dizer “o iluminado”. O pai de Siddhartha era um aristocrata de fortuna e deu-lhe uma educação requintada e, como a inteligência do rapaz ajudasse, ele adquiriu, ainda jovem, tal cultura que ficou conhecido como Sáquia Múni, ou seja, o sábio de Sáquia.

Jovem, rico, bem casado e despreocupado, Gautama tinha tudo para sentir-se satisfeito.

De fato, era feliz. Pelo menos até que, num dos passeios, pela primeira vez tomou contato com a realidade do seu país: ficou conhecendo de perto um mendigo e um velho. Logo depois, teve oportunidade de observar um asceta que se mortificava, em jejum buda rigoroso. E por fim, com grande pasmo, viu também um homem que morrera de fome.

Velhice, doença, miséria e morte eram problemas nos quais Siddhartha jamais pensara em seus 29 anos de idade; descobri-los para ele foi um choque, principalmente em contraste com a beleza de sua esposa, com a alegria de seu filho, com o luxo que os cercava e a despreocupação em que viviam. Essa realidade passou a parecer-lhe descabida.

A perplexidade de Gautama diante dos males do mundo foi-se avolumando pouco a pouco. Certa noite chegou a uma conclusão definitiva: depois de raspar a cabeça em sinal de humildade, trocou as suas suntuosas roupas pelo despretensioso traje amarelo dos monges e afastou-se do palácio, abandonando família, bens e passado.

Naquele momento deixava de existir como aristocrata e, em seu lugar, surgia um mendigo itinerante, que se lançava ao mundo em busca de explicações para o enigma da vida. Novato em questões espirituais, o andarilho juntou-se a cinco ascetas conhecidos pelo buda iluminado caminho: queria aprender com eles qual o melhor meio de chegar às verdades superiores.

E, como os ascetas jejuassem, passou a jejuar também, curtindo fome obstinadamente, quase até a inanição. Mas, como o estômago vazio não lhe ensinasse nada de novo, perdeu a fé no sistema e voltou a comer outra vez. Esse espírito prático revoltou os cinco místicos: decepcionados, abandonaram Gautama, que durante os 6 anos seguintes passou o tempo meditando em total solidão. Para meditar, conta a lenda que Gautama escolheu a sombra de uma grande figueira, que os hindus chamam “bodhi” e veneram como árvore sagrada.

Sentado sob a árvore, o mendigo Siddhartha estabeleceu um sacrificado programa: enquanto não esclarecesse todas as dúvidas, dali não arredaria pé.

Seu plano foi cumprido à risca, apesar das visões que teve de Mara – o demônio da paixão -, que ora o atacava com chuva, raios e toda a sorte de armas, ora lhe oferecia vantagens extraordinárias no sentido de demovê-lo de seu valente propósito. Nos momentos que sentia fraquejar, Gautama estendia a mão para a terra e dela obtinha forças para repelir os poderes maléficos, demonstrando uma resistência tão inabalável que após 49 dias Mara teve de se conformar com a derrota, deixando Gautama em paz. Ocorreu então o despertar espiritual que tanto procurava. Sua confusão se desfez e tudo se tornou perfeitamente claro. Iluminado por um novo entendimento de todas as coisas da vida, Gautama rumou para a cidade a fim de transmitir também aos outros o que lhe acontecera.

A princípio, encontrou descrença e desconfiança. Mas, aos poucos, os que ouviam perceberam que ele descobrira verdades desconhecidas e muito profundas. E reverenciaram sua iluminação, passando a tratá-lo por Buda.

Os ensinamentos de Buda criticavam diversos aspectos do hinduismo tradicional, mas nem por isso deixavam de endossar muitos de seus seculares conceitos. Por exemplo, a idéia de que todos os seres vivos cumprem um ciclo infinito – nascimento, morte e reencarnação – era um dos elementos básicos da religião hindu e foi aceita e confirmada pelos seus seguidores.

O budismo encampou também a teoria do karma, uma espécie de lei cósmica, segundo a qual o comportamento virtuoso durante uma encarnação traria recompensa em encarnações futuras, enquanto uma conduta perversa implicaria em castigo.

Outro ponto em que a doutrina budista permaneceu fiel às instituições religiosas hindus foi a renúncia às coisas terrenas e às paixões materiais, como meio para atingir a sabedoria e a perfeição. Ainda hoje os monges que se consagram ao cumprimento integral das normas budistas pautam sua vida por um desprendimento total: possuem apenas roupa que vestem e um rosário para suas orações. Dependem de caridade alheia até para comer. Embora concordando com o hinduismo no tocante aos objetivos espirituais, o budismo discordava dele em relação aos métodos para atingir tais objetivos.

As experiências de mortificação levaram Gautama à descrença no valor do ascetismo rigoroso que os religiosos praticavam e que lhe parecia exagerado e inútil. Dessa forma, suas pregações recomendavam a adoção do meio-termo: nem muito ascetismo, nem auto-indulgência. Comedimento, em sua opinião, era o melhor caminho para quem quisesse levar uma vida realmente sábia e virtuosa. Vendo em todos os homens a mesma potencialidade espiritual, Buda divulgou ensinamentos que, levados à prática, criariam uma sociedade de homens iguais. No sermão que fez no parque da cidade de Benares – um discurso que para os budistas tem valor igual ao que os cristãos atribuem ao Sermão da Montanha – o “iluminado” definiu com minúcia os caminhos a seguir para chegar à sabedoria da moderação e da igualdade. estátua de buda

Antes de tudo, segundo ele, é necessário reconhecer que a dor é universal. E mais: que a causa reside no desejo de coisas que não podem satisfazer ao espírito. Mas a dor tem
remédio – é outra verdade. E o sofrimento extingue-se quando o homem renuncia a esses desejos; já que as raízes destes se originam da ignorância, a sabedoria é o melhor caminho para dominar a dor. Admitidas essas Quatro Verdades Nobres, o homem dispõe dos elementos básicos para enveredar pela Senda das Oito Trilhas, que dele exigirão pureza de fé, de vontade, de linguagem, de ação, de vida, de aplicação, de memória e de meditação.

Da terceira e quarta trilhas os seguidores de Buda mais tarde extraíram cinco preceitos muito parecidos com alguns mandamentos judaico-cristãos, pois também aconselham a não matar, não roubar, não cometer atos impuros e não mentir. E, além disso, não beber líquidos inebriantes. Nos 45 anos em que pregou sua doutrina, por todas as regiões da Índia, o Buda mencionou sempre as Quatro Verdades e as Oito Trilhas, acrescentando ainda uma sentença, resumo de todo o seu pensamento – a Regra de Ouro: “Tudo o que somos é resultado do que pensamos”.

Um detalhe que chama a atenção quando se analisa o comportamento dos seguidores de Buda é o fato de que, embora não vinculados às coisas deste mundo, eles observam um profundo respeito pelas criaturas que nele vivem. E consideram viver em paz com seus semelhantes uma obrigação fundamental de todos os indivíduos. Esse espírito pacifista, que leva os monges budistas ao extremo de poupar até aos insetos, tem origem num ensinamento do próprio Gautama, que dizia: “O ódio não termina com ódio, mas com amor”.

Ao contrário do que acontece com outras religiões, o budismo nada exige de seus seguidores. Não há cerimônias de conversão, nem rituais de submissão; basta reconhecer as Verdades e seguir as Trilhas. Efetivamente, mais que um culto religioso, o budismo é uma atitude perante o mundo, uma técnica de comportamento, pela qual o indivíduo aprende a desapegar-se de tudo que é transitório, o que resulta em uma espécie de auto-suficiência espiritual.

É esse desapego às coisas passageiras que faz com que os budistas vejam no Buda tão somente uma imagem encarnada do princípio da “iluminação”. Para eles, antes de Gautama, houve muitos Budas.

E muitos outros surgirão até o fim dos tempos. Assim, explica-se aquele aspecto distante e impessoal das imagens de Buda que se encontram nos templos asiáticos; não são representações realísticas de uma figura humana em particular, mas símbolos idealizados de uma entidade espiritual.