No interior do Brasil, a chamada cachaça de engenho atrai o gosto de grandes apreciadores deste tipo de bebida. A população deste produto destilado chegou, em 1994, a ser tombado como um dos patrimônios da cultura brasileira. No entanto, a presente reverência a esta iguaria já foi alvo de uma revolta que tomou a cidade do Rio de Janeiro no século XVII.
Durante o período colonial, o consumo de cachaça aliou-se ao desenvolvimento das primeiras plantações de cana-de-açúcar formadas pelos colonizadores portugueses. Sendo a bebida fruto de um processo manufatureiro, a cachaça brasileira logo se tornou alvo de oposição da administração colonial portuguesa. Isso tudo porque a Coroa queria garantir seus lucros com a venda de uma bebida portuguesa feita a partir do bagaço da uva chamada de bagaceira.
Com a crise do açúcar, ocorrida logo após a expulsão dos holandeses, os produtores de cana não obtinham os mesmos lucros com a produção de açúcar. Dessa maneira, os fazendeiros intensificaram a exploração econômica do produto no interior da colônia. Sentindo-se prejudicado, Portugal reafirmou a proibição no ano de 1659. Os que descumprissem a exigência eram ameaçados com a prisão e o degredo para a África.
Em meio às contradições do pacto colonial, o governador do Rio de Janeiro – um dos maiores centros de produção da cachaça – decidiu liberar a produção dos destilados sob a cobrança de impostos. Insatisfeitos com a cobiça do governo, um grupo de fazendeiros resolveu mobilizar a população contra a imposição governamental. Saindo de São Gonçalo e Niterói, os revoltosos chegaram à cidade para pressionar o governador Tomé Correia de Alvarenga.
Em posse de armas e apoiados pelos solados cariocas, os revoltosos começaram a saquear as residências das autoridades locais. Logo em seguida, escolheram Agostinho Barbalho como novo governador da cidade do Rio de Janeiro. Sem habilidade política suficiente este foi logo substituído por seu irmão, Jerônimo Barbalho. Assumindo o posto de governador, Jerônimo perseguiu os jesuítas e exerceu seu cargo autoritariamente.
Intolerante com o que ocorria em solo carioca, Salvador de Sá, sobrinho do antigo governador fluminense, mobilizou tropas que aniquilaram a revolta. Valendo-se de sua patente de capitão-general, Salvador pediu o envio de tropas vindas da Bahia. Atacando o governo dos revoltosos inesperadamente, as tropas de Salvador de Sá não sofreram nenhum tipo de grande resistência.
Logo depois de reassumir o controle da província do Rio de Janeiro, as tropas fiéis à Coroa Portuguesa instalaram um processo judicial contra os principais líderes da chamada Revolta da Cachaça. Condenado à morte, Jerônimo Barbalho foi enforcado e teve sua cabeça exposta na cidade. A Coroa Portuguesa repudiou o rigor excessivo dirigido contra Barbalho e, desta forma, resolveu censurar o governo de Salvador de Sá.
Em 1661, a Coroa Portuguesa resolveu perdoar todos os envolvidos na revolta e passou a considerar o protesto legítimo. Além disso, o governo lusitano liberou a fabricação da cachaça no país. Tal episódio mostrou a flexibilização da Coroa Portuguesa frente aos conflitos coloniais, o que pôs em xeque o conhecido autoritarismo dos representantes metropolitanos.
25.1.10
Revolta da Cachaça
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