28.4.10

Movimentos sindicais e transformação no mundo do trabalho

INTRODUÇÃO

As profundas mudanças que temos vivenciado, especialmente nas últimas décadas, a partir de uma acumulação intensa do capital financeiro e especulativo, favorecendo a introdução de novas tecnologias, provocaram uma crise profunda na classe trabalhadora, criando formas inovadoras de exploração. Se de um lado, num primeiro momento, a máquina contribuiu com o operário brasileiro, por outro vemos a substituição do trabalho humano por máquinas, na maioria dos processos produtivos, conseqüentemente gerando o fechamento de diversos postos de trabalho.

Hoje, sabe-se que o que está em jogo, é a capacidade da classe trabalhadora se manter atuante dentro de organizações sindicais. Ao analisar toda a luta reivindicatória do operariado brasileiro, percebemos que muitas conquistas foram obtidas, mas hoje, é necessária uma luta ainda maior para que o trabalhador possa se manter no trabalho.

Ao analisarmos o período do pós Segunda Guerra, verificamos um rápido crescimento econômico, mas percebemos que esse crescimento não refletiu de forma proporcional na melhoria das condições de vida da maioria da população brasileira, pelo contrário, o resultado dessa política tem sido o aumento do desemprego em nosso país.

DESENVOLVIMENTO

MUNDOS DO OPERARIADO NO BRASIL (1889-1930)

No final do século XIX, muitos imigrantes transformavam-se em grandes industriais em todo o país. Os Irmãos Hering, artesãos têxteis, alemães emigrados em 1878, montaram sua tecelagem em Blumenau, em 1914, e criaram também uma fiação ampliando o número de operários e a produção do grupo. Em Joinville, Karl Doehler inaugurava a primeira indústria de tecidos de Santa Catarina; a empresa têxtil União Fabril, fundada por Rheingantz em 1874, já possuía, em 1896, três fábricas no Rio Grande do Sul, empregando um total de 900 operários. Em São Paulo, os italianos Nicolau Scarpa, Rodolfo Crespi e Francisco Matarazzo lideravam o setor de tecelagens, sendo que esse último, construiu um verdadeiro império industrial, as Indústrias Matarazzo, com fábricas de fósforos, óleo, sabão, moinho de trigo e massas alimentícias. No Rio de Janeiro, despontavam o português Domingos Alves Bibiano, ligado à Cia. América Fabril, de tecidos e o inglês Walter Clarkson, da Cia. Henry Rogers, fabricante de tecidos e máquinas têxteis.

O número de indústrias foi crescendo rapidamente. Em 1919, já havia, 13.336 indústrias, com 275.512 operários. Junto com as fábricas, cada vez mais mecanizadas, surgiam inúmeras máquinas que prometiam transformar o mundo do trabalho. Os automóveis, os telefones, o telégrafo elétrico, a fotografia e o cinema foram algumas das novidades mecânicas do século XX, as quais encurtavam distâncias, reproduziam a realidade e alteravam o ritmo do tempo. Alguns ficaram seduzidos por esses novos tempos conforme abaixo:

A era da máquina traz no seu bojo (...) a única liberdade a que o homem seriamente aspira, a de se libertar da natureza pela técnica, a de se tornar senhor e não escravo da máquina (Oswald de Andrade. Ponta de Lança).

A partir de toda a sedução em torno das máquinas, girava em torno do operariado uma triste realidade, pois trabalhavam muitas horas por dia, inclusive aos sábados e quando havia muitas encomendas, também aos domingos. O ambiente era o pior possível, insalubre, com calores intensos dentro dos barracões sem janelas e sem ventilação. Juntamente com os operários, havia também a exploração do trabalho infantil, onde crianças perdiam completamente sua infância, conforme relato de Jacob Penteado, um imigrante italiano e operário da indústria vidreira, no início do século. “Os meninos sempre foram indispensáveis, nas fábricas de vidro. Muitas tarefas auxiliares só eles podiam executar, sem contar que representavam mão-de-obra a preços dos mais vis”. Nas fábricas também trabalhavam muitas mulheres, as quais sob péssimas condições de higiene e segurança viviam doentes ou se acidentavam constantemente no trabalho.

É importante ressaltar que os salários praticados aos trabalhadores eram os mais baixos possíveis. Dentro das fábricas havia um controle muito grande, não sendo possível ao trabalhador conversar com colegas, fumar, ou estar fora do posto de trabalho. Para ir ao banheiro, o operário tinha que pedir permissão ao encarregado, devendo pedir licença e explicar o que ia fazer.

A introdução de máquinas nos processos produtivos serviram para aliviar a carga imposta ao operário, pois não era mais preciso ter muita força física, já que a força mecânica fazia o trabalho mais pesado.

Vivendo em péssimas condições, alimentando-se mal e pouco e trabalhando muitas horas seguidas, era de se esperar que as condições de higiene e saúde dos trabalhadores fossem muito precárias. Eram comuns doenças como a tuberculose, a desinteria, o tifo, o sarampo e a lepra, nos bairros operários. Isso sem falar da mortalidade infantil. Muitas epidemias começavam nos bairros operários, que não tinham água encanada e onde o lixo ficava amontoado pelas ruas, atraindo ratos e mosquitos.

OS OPERÁRIOS SE ORGANIZAM

As péssimas condições de vida e trabalho dos operários, motivaram as organizações de trabalhadores no início do século XIX.

Uma das principais características do movimento operário brasileiro do início do século era seu internacionalismo, isto é, a crença em ideais comuns a todos os operários, a união dos trabalhadores no mundo todo em torno de lutas e interesses coletivos.

Uma das reivindicações comuns aos operários em todo o mundo era a jornada de oito horas de trabalho, como foi o caso do manifesto da Federação Operária que realizou uma greve geral que paralisou várias fábricas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Santos entre outras.

Esse movimento durou mais de um mês e envolveu operários de todos os ramos da indústria, como metalúrgicos, pedreiros, sapateiros, marmoristas e canteiros, gráficos, tecelões, chapeleiros, costureiras, trabalhadores em madeira.

É importante destacar que os salários não eram pagos durante as greves, sendo assim, muitas vezes os operários acabavam voltando ao trabalho sem nada conseguir. As conquistas obtidas com as greves nunca eram definitivas. Por isso, de tempos em tempos, os operários entravam em greve; em 1906, os ferroviários de São Paulo pararam por melhores condições de trabalho e salários; em 1912-1913, operários de várias categorias fizeram greves contra a carestia da vida e por melhores salários.

O primeiro grande movimento grevista da história sindical no Brasil que paralisou a cidade de São Paulo em 1917, iniciou-se com greves localizadas em fábricas têxteis, nos bairros da Moóca e do Ipiranga. Os líderes grevistas reivindicavam melhores salários e melhores condições de trabalho, além da exigência de supressão da contribuição "pró-pátria" (campanha de apoio financeiro à Itália, desenvolvida pela burguesia imigrante de São Paulo, chegando até a fazer descontos dos salários dos trabalhadores, como foi o caso do Cotonifício Crespi).

As manifestações de rua foram duramente reprimidas pela polícia, culminando com o assassinato do sapateiro anarquista Antonio Martínez. Durante um mês a cidade de São Paulo viveu a agitação dos comitês de greves, que apesar de mostrar uma considerável capacidade de mobilização do operariado, não serviam para sensibilizar o estado.

Ao longo de toda República Velha (1889-1930) os governos oligárquicos tratavam a questão social como "caso de polícia", preferindo assim, adotar medidas arbitrárias, como espancamento e prisão das lideranças grevistas e expulsão dos estrangeiros do país.

Apesar da forte repressão, o movimento grevista liderado pelo sindicalismo de inspiração anarquista e com a participação maciça de imigrantes italianos e espanhóis, estendeu-se praticamente até 1919 para várias regiões do território brasileiro.

Se por um lado as greves não alcançaram seus objetivos mais imediatos, certamente contribuíram para promover debates no meio operário sobre os rumos do movimento sindical.

A fundação da Confederação Operaria Brasileira (COB) em 1906, por iniciativa de sindicatos do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco foi um dos mais importantes marcos no processo de mobilização do operariado brasileiro.

Na esfera ideológica, desde 1892, verificava-se a presença de princípios socialistas entre elementos da classe operária, que até a década de 1920 era mais influenciado pela ideologia anarquista e anarco-sindicalista, inspirada nas doutrinas dos russos Bakunin e Kropotkin e no francês Proudhon.

Para o anarquismo, o operariado deve ter como objetivo final a implantação de uma sociedade igualitária, antecedida da destruição do Estado capitalista. O anarquismo, contrário a toda forma de governo, entende o Estado e a política como invenções burguesas, negando qualquer forma de poder institucionalizado.

Apesar de os anarquistas terem dominado o movimento operário em todo o Brasil até pelo menos os anos 20, existiam outras idéias e divergência quanto às formas de luta e organização operárias. Junto com esses movimentos pela organização dos operários, difundia-se a idéia de que eram os trabalhadores que sustentavam toda a sociedade, no mundo inteiro. Eram os operários que trabalhavam e produziam toda a riqueza e, por isso, o mundo deveria ser controlado pelos trabalhadores. Assim, a terra, as fábricas e as máquinas, as matérias-primas, não deveriam ser propriedades de algumas pessoas, os capitalistas, mas de todos os trabalhadores. E o resultado do trabalho de todos deveria ser não apenas de algumas pessoas, mas sim distribuído entre todos. Dessa forma, não haveria mais nem ricos nem pobres, nem dominadores nem dominados. Esse tipo de sociedade, em que todos seriam iguais.

A IMPRENSA OPERÁRIA

Além de sua intensa militância sindical e política, os operários brasileiros do início do século produziram diversos jornais, editados em diferentes línguas, voltados para a discussão dos problemas do operariado. Os jornais eram uma das formas de divulgar as propostas políticas dos trabalhadores e lutar contra a exploração e a opressão capitalista. Dentre os jornais operários destaca-se: A Terra Livre; o Trabalhador Gráfico; O Trabalhador Vidreiro; Avanti!; Nossa Voz; A Plebe; A Voz do Trabalhador entre outros.

O TEATRO OPERÁRIO

O Teatro Operário foi outra ferramenta de luta para o operariado. Militantes anarquistas fizeram do teatro uma força de apoio às suas lutas e à construção de uma nova sociedade quase tão grande quanto a imprensa. Vários foram os grupos amadores de teatro, vinculados diretamente a associações operárias, surgidos no início do século XIX em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Santos, entre outras. Eles propunham um teatro social de conteúdo crítico e voltado para os interesses do proletariado, sendo as peças, às vezes representadas pelos próprios operários em salões dos bairros operários e nas sedes dos sindicatos.

Foram várias as experiências e iniciativa de dirigentes do operariado, sempre ligadas à política cultural dos anarquistas. Em 1904, no Rio de Janeiro, foi fundada a Universidade Popular de Ensino Livre, sob a iniciativa de líderes sindicalistas locais, tendo em seu corpo docente intelectuais famosos, bem como dirigentes operários.

A educação era pensada e termos de instrução imediata. Através de palestras, debates e conferências, levantavam-se questões relacionadas com o cotidiano operário.

Uma instrução de caráter classista, que enfatizasse os interesses opostos da classe dominante e trabalhadora, era proposta dentro dos sindicatos e fora deles pelos diferentes grupos. Os estatutos dos sindicatos traziam, na época, como pauta central, a fundação de escolas, bibliotecas, cursos de alfabetização para os sindicalizados.

O dia 1º de maio passou a ser comemorados pelos trabalhadores em todo o mundo a partir de 1890, quando foi realizada a primeira paralisação simultânea, em vários países, como símbolo da memória de luta dos trabalhadores. Desde 1890, o 1º de maio tornou-se uma data dos trabalhadores. Não era um dia de feriado, ao contrário, era um dia de falta coletiva ao trabalho, um dia de paralisação definido e defendido pelos operários em todo o mundo. Era um dia para lembrar as lutas passadas, para protestar, para reafirmar a disposição de continuar lutando, para levantar bandeiras e reivindicações e expressar a vontade de mudar o mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O período de 1889-1930, foi um período de um vigoroso aumento da produção industrial que trouxe consigo o crescimento da massa de trabalhadores urbanos. Mas, é importante ressaltar que o desenvolvimento industrial não produziu a distribuição da riqueza nem melhorias na vida do proletariado industrial formado por migrantes que partiam do campo para as cidades. Pelo contrário, as condições de existência nos centros urbanos eram extremamente degradadas para a classe operária, com os trabalhadores cumprindo uma carga horária excessiva, em indústrias insalubres. Tal situação não poderia provocar outra coisa senão a organização de sindicatos e associações e a realização de inúmeras greves pelo país.

Ao longo do trabalho percebemos que as lutas foram intensas, à fim de assegurar melhorias à classe trabalhadora. Muitas pessoas foram presas, torturadas, mortas em torno de uma bandeira de luta.

Atualmente, o Movimento Sindical tem o papel de representar e defender os trabalhadores no conjunto dos seus interesses, tanto aqueles que se colocam na fábrica como os que estão ligados à sua vida cotidiana e que se referem à moradia, saúde, educação, lazer, entre outras necessidades da classe trabalhadora.

REFERÊNCIA:

MACIEL, Laura A. Fábrica, vida urbana, a trajetória do movimento operário. In: CNM/CUT, Caderno de matemática. Programa Integrar, 1998.

PINHEIRO, Paulo Sérgio. “O proletariado industrial na Primeira República”. In: FAUSTO, Boris. História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo, Difel, Tomo III, v. 2, 1977.

FONTE:
http://www.webartigos.com/articles/36598/1/MUNDO-DO-OPERARIADO-NO-BRASIL-/pagina1.html.