2.12.13

Batalha de Kadesh



Mal subiu ao trono em 1290 a.e.c., o irrequieto Ramsés II, de 25 anos, decide intervir militarmente na Siria-Palestina. Quer arrancar dos hititas os territórios de que se apoderaram, aproveitando-se da negligência de alguns de seus predecessores. Em toro de 1286, o rei retoma a região do deserto de Amurru, Estado situado na costa síria. De volta a Pi-Ramsés, sua capital, situada no norte do Egito, prepara uma segunda campanha visando, dessa vez, tomar a cidade de Kadesh. Essa fortaleza, banhada pelo rio Oronte, ocupa uma posição estratégica de primeira importância: ponto de passagem entre a Palestina e a Síria, de um lado, entre o rio Eufrates e o Mediterrâneo, de outro, ela assegura, com efeito, aquele que a possui, não somente o controle de Amurru, mas também de toda a Síria. Ramsés sabe que o rei dos hititas, Muwatalli, não se deixará privar dela sem reagir. Por isso, reúne um exército numeroso para enfrentar qualquer eventualidade.


A caminho de Kadesh

Na primavera de 1285, Ramsés II, confiante, deixa sua capital à frente de quatro divisões de 5 mil homens, colocadas sob a proteção dos deuses Amon, Rá, Ptah e Seth. Cada divisão compreende soldados de infantaria armados de lança e espada, protegidos por escudos, e soldados que combatem sobre carros, onde tomam lugar arqueiros. Essa formação é considerada como uma arma nobre, e seus oficiais recebem instruções precisas. A esses 20 mil homens acrescentam-se o corpo de elite dos soldados chamados Naarin e a guarda real, composta de guerreiros destacados e mercenários; entre estes, alguns pertencem aos "povos do mar" que, mais tarde, farão tremer o Oriente Próximo.

O exército avança de inicio ao longo da costa mediterrânea, depois se dirige para o leste ate alcançar o lago Tiberíades e o curso do rio Jordão. Continuando para o norte, através da planície de Bekaa, os egípcios chegam, após 30 dias de marcha continua, à ponta dessa planície e à vista de Kadesh. A vanguarda dos Naarin, a guarda real e a divisão de Anion - dirigida pessoalmente pelo rei - são as primeiras a chegar ao pé da cidadela. A divisão Rá está prestes a atravessar o Oronte para reunir-se ao soberano. As divisões Ptah e Seth estão longe ainda da cidade.





Um ataque supresa

Perto de Kadesh, dois beduínos vêm ao encontro do rei egípcio. São portadores de excelente notícia. Certamente, o rei Muwatalli se dirige contra o exército egípcio, mas está ainda a 200 quilômetros ao norte de Kadesh. Ramsés II fica entusiasmado. Ordena que suas tropas acampem a noroeste da fortaleza e decide sitiar a cidade no mesmo dia.

Esse projeto é logo abandonado. Dois espiões hititas, capturados perto do acampamento, confessam a verdade sob golpes de açoite. Muwatalli está ali, escondido atrás de Kadesh com 3.500 carros de combate e 37.500 soldados de infantaria segundo as fontes egípcias. Trata-se da mais importante coalizão jamais estabelecida até então no Oriente Próximo: 13 estados vassalos alinham suas tropas ao lado do hitita. Consternado, Ramses II constata que caiu na armadilha habilmente tramada por seu inimigo: Os beduínos que o enganaram estavam a soldo deste último. Constata também o completo fracasso de seus serviços de informações. Como a presença de uma força tão considerável pode escapar à vigilância de seus próprios espiões? Mas o momento não é de prestação de contas, Isso virá depois, se, todavia, sobreviver à batalha. O faraó não ignora que seu rival vai aproveitar do efeito surpresa e que o ataque é iminente; ora, a replica não está pronta. Seu exército está perigosamente disperso. Envia com urgência mensageiros para informar as divisões sobre a situação. É necessário que, de qualquer modo, acelerem sua marcha.

Um desastre evitado no último instante

Já é muito tarde para avisar a divisão Rá. Dois mil e quinhentos carros hititas se abateram sobre ela no momento em que, sem desconfiar, atravessava o Oronte. É uma verdadeira carnificina. Os soldados egípcios, que não tiveram tempo nem mesmo de pegar em armas, caem aos milhares. Alguns raros sobreviventes correm para o acampamento real. O relato aterrorizante que fazem a seus camaradas semeia o pânico nas fileiras da divisão Amon. Muitos só vêem salvação na fuga. É nesse estado de desorganização que os carros hititas, que retomaram sua corrida após terem destroçado uma divisão inteira, encontram o acampamento egípcio. Ramsés, que saltou sobre seu carro, bate-se com as últimas energias. Sua guarda, fiel resiste a seu lado. No acampamento, a pilhagem começa. Os hititas, certos da vitória, já dividem os despojos.

Mas é sua vez do serem surpreendidos. O corpo dos Naarin, que se reunia a alguma distância do acampamento, lança um contra-ataque heróico. Os soldados de Amon, galvanizados por seu exemplo e por aquele do rei, lançam-se também na batalha. Os hititas são repelidos para o Oronte. Muwatalli fica estupefato. Envia os mil carros restantes em reforço. Tarde demais. A vantagem está agora do lado egípcio. Ramsés II evitou a catástrofe, mas sofreu pesadas baixas.

No dia seguinte, a batalha recomeça rapidamente com o reforço da divisão Ptah. Mas o combate não se define. Por isso Muwatalli propõe a seu adversário encerrá-lo. Ramsés não está em condições de recusar. Renuncia a Kadesh e a Amurru. Ao permitir as duas grandes potências medir suas respectivas forças, a batalha de Kadesh abriu finalmente um longo período de paz e de equilíbrio no Egito e no Oriente Próximo. Sete anos mais tarde, em 1278, diante do novo perigo constituído pela Assíria, o primeiro tratado de paz da história, completado por uma aliança defensiva, concretiza a reconciliação dos dois impérios. Ramsés II lutou em Kadesh uma das mais brilhantes batalhas de seu tempo. Difundindo-a, fazendo com que fosse relatada nos muros de seus templos em Abydos, em Karnak e em Luxor.

Referências Bibliográficas


AUDOIN-RUZEAU, Stéphane. As grandes batalhas da história: São Paulo, Larousse, 2009.

Fonte: http://www.historia.templodeapolo.net/batalhas_ver.asp?cod_batalha=1&value=Batalha%20de%20Kadesh&civ=Civiliza%C3%A7%C3%A3o%20Eg%C3%ADpcia#topo