As sequelas da explosão na usina nuclear de Tchernobil, na Ucrânia, em 26 de abril de 1986, podem ser sentidas, vistas e medidas mesmo 25 anos depois da catástrofe.
Uma equipe da organização ambientalista Greenpeace estava no local para avaliar as sequelas deixadas pela catástrofe, em março último, quando recebeu a notícia da explosão em Fukushima, no Japão.
"Não sabíamos exatamente o que estava acontecendo no Japão naquele momento, mas sabíamos que em 25 anos o cenário lá seria o mesmo", conta Aslihan Tumer, especialista do Greenpeace para assuntos de energia. Mesmo tanto tempo depois, as consequências na Ucrânia são visíveis por todos os lados.
População advertida 70 horas depois
Foto de maio de 1986 mostra a destruição na usina
Após a explosão, há 25 anos, a nuvem radioativa contaminou não só a região ao redor da usina, como atingiu, com menor intensidade, a América do Norte e a Europa Ocidental. O reator continuou queimando por dez dias e a população dos arredores só foi avisada do perigo 70 horas após o acidente. Hoje, o reator danificado está revestido por uma espécie de sarcófago de aço e concreto.
Quase um quarto do território de Belarus foi contaminado, mesmo a 300 quilômetros de Tchernobil a radioatividade foi levada pelas chuvas. Porém as partículas radioativas se distribuíram de forma desordenada.
Enquanto em Chausy a irradiação ultrapassou pouco o limite permitido, algumas cidades vizinhas foram contaminadas de tal forma que tiveram de ser evacuadas para sempre.
Os antigos moradores, como Oleg Pisarev, contam que ao lado das casas foram abertas enormes valas por gigantescos veículos militares. Em seguida, as casas inteiras eram empurradas para as valas e cobertas por terra.
Nuvens radioativas se disseminaram pela Europa
Contaminação pela cadeia alimentar
"Mesmo longe da área evacuada ainda é possível detectar altos níveis de radioatividade, sobretudo no leite e em outros alimentos", declara Tumer.
"Ainda hoje as pessoas estão expostas à radioatividade por meio da cadeia alimentar", afirma a especialista do Greenpeace. Segundo ela, é possível detectar os efeitos da catástrofe de Tchernobil numa distância de centenas de quilômetros do local da explosão.
"As pessoas ainda sofrem com o que aconteceu, sobretudo as crianças", diz Tumer. Ela cita mutações genéticas em bebês cujos pais foram expostos à radioatividade há 25 anos. Em alguns casos, as crianças nascem sem alguns órgãos internos ou desenvolvem problemas cardíacos. Também os casos de câncer e de doenças da tireoide aumentaram vertiginosamente nas regiões contaminadas.
Os especialistas ainda não sabem quantas gerações serão afetadas pela tragédia de Tchernobil. Tumer cita um estudo segundo o qual 11 gerações sofrerão as consequências da explosão.
Vestígios na Alemanha
Há também pesquisas que provam que a natureza nos arredores de Tchernobil se recuperou nos últimos 25 anos. Peter Jacob, diretor do Instituto de Proteção contra a Radioatividade do Centro Helmholtz, de Munique, diz que o meio ambiente na área próxima à usina está melhor agora do que antes do acidente, "também pelo fato de não haver mais seres humanos por ali".
Manto de concreto e aço reveste o reator danificado em Tchernobil
Jacob explica que não só algumas espécies se procriaram em maior quantidade, como também novas espécies se adaptaram à região, cuja radioatividade ainda é extremamente alta. Por isso, explica Tumer, tanto animais como frutos e cogumelos desta área também continuam contaminados.
O césio 137 liberado na explosão em Tchernobil ainda é detectado na Alemanha, em cogumelos e animais de caça. Também no mar ele continua presente, apesar da grande capacidade de dispersão no oceano.
O Instituto de Ecologia Pesqueira de Hamburgo, no norte da Alemanha, continua detectando no Mar Báltico césio 137 liberado em Tchernobil há 25 anos.
Autoras: Olga Kapustina/Irene Quaile (br)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,14950218,00.html