A Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, foi palco de cenas de terror nesta quinta-feira, 7 de abril. Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da instituição, entrou armado no colégio, matou 12 crianças, foi alvejado por um policial e em seguida cometeu suicídio. O episódio ganhou destaque nos noticiários nacionais e internacionais e provocou muita comoção e grande sensação de medo e insegurança entre pais e professores. Como lidar com a tragédia Trabalhar em grupo é uma boa medida. Para ajudar os alunos, o ideal é escolher pessoas que tenham bons vínculos com as crianças para conversar com elas - um professor ou um coordenador mais próximo das turmas, por exemplo. Os pais também devem ser estimulados a estar dentro da escola. Ana Aragão lembra que "o que menos deve ser conversado nesse momento é sobre como aparelhar a escola ou impedir o acesso da comunidade ao espaço. É importante não centrar as discussões na busca por culpados nem criar explicações generalistas". "No caso da Escola Municipal Tasso da Silveira, a equipe certamente será beneficiada se houver ajuda de psicólogos para lidar com o trauma", acrescenta Miriam Abramovay, coordenadora da área de Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO). Mostrar que o medo é real e dar tempo para que equipe escolar, alunos e comunidade lidem com o trauma são atitudes fundamentais. Nesse momento, deve-se acolher os sentimentos de todos para fazer com que a escola volte a funcionar. Para o sociólogo, outro equívoco é fazer comparações com episódios violentos ocorridos em escolas estrangeiras. "São todos casos excepcionais, com características e contextos particulares", afirma. Como explica Bodê, "é preciso criar condições de segurança não só na escola, mas em toda sociedade. E essa responsabilidade, ainda que o Estado tenha um papel importante, é da própria sociedade". Fonte: O fortalecimento da equipe gestora, a criação de espaços para a reflexão e o debate aberto sobre o fato são os caminhos para se criar condições de a escola voltar à rotina.
NOVA ESCOLA ouviu especialistas das áreas da psicologia, da sociologia e da segurança pública e traz nesta reportagem alternativas para lidar com o drama do luto e orientações para que, em um momento tão difícil como esse, a escola se prepare para seguir adiante.
"O primeiro passo é fazer com que toda a comunidade entenda que esta é uma situação de exceção", explica a pesquisadora Ana Maria Aragão, do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem) da Universidade de Campinas. Gestores, pais, professores, alunos e funcionários precisam enfrentar o medo. À escola cabe o papel de organizar espaços legítimos para debater o assunto. Todas as perguntas colocadas em jogo têm de ser devidamente respondidas. Não se pode negar a situação ou estereotipar os fatos. É importante que todos entendam o que esse drama significa. "As crianças precisam falar como se sentem, expressar-se, seja por cartas, desenhos ou conversas", observa Ana. "É discutindo o trauma abertamente que se criam condições para que todos acreditem que isso não vai acontecer todo dia", complementa a pesquisadora.
Para reestruturar emocionalmente a comunidade escolar após o drama, uma alternativa é pensar em ações coletivas, que envolvam professores e equipe gestora. "O diretor da escola tem um papel fundamental e precisa agir rápido, convocar a equipe - professores e funcionários - para uma conversa aberta sobre o fato. A equipe tem de se sentir fortalecida porque, depois, é ela que vai trabalhar com os alunos", afirma Catarina Iavelberg, assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação.
Como fazer da escola um espaço seguro
Além de lidar com a comunidade escolar quando acontecem episódios como o do Rio de Janeiro, é importante o trabalho cotidiano que garanta um ambiente de segurança e de acolhimento. Para tanto, há que se colocar em xeque a ideia recorrente de que violência na escola se combate com mais policiamento e com a instalação de grades, catracas e outros dispositivos semelhantes. "No calor do momento, o trauma gerado por eventos como o do Rio leva a uma reação mais irracional e produz o efeito inverso ao necessário: a escola se fecha, se isola e investe em vigilância", explica o sociólogo Pedro Bodê, especialista em segurança pública da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Esse não é, no entanto, o melhor caminho. "Afastar a escola do mundo exterior vai contra a função dela, que é integrar", complementa.
O investimento em segurança se faz necessário em alguns casos - como o combate aos furtos e a outros delitos - mas não pode ser pautado por um evento excepcional. É preciso tomar cuidado para que um fato isolado não gere pânico nem precipite a tomada de medidas emergenciais. "Apesar do choque causado, é necessário racionalidade para evitar excessos", diz ele.
Mais do que fechar as portas e isolar os alunos, é importante trazer a comunidade para perto e tê-la como aliada. Isso se faz organizando uma espécie de "rede de proteção" que aproxime a escola de famílias, de lideranças comunitárias, de associações de bairro, de associações comerciais etc. Manter esta interação diminui a incidência de casos de violência e aumenta a capacidade de resposta a eventos imprevisíveis.