(Paris, França, 1768 - 1848)
Jean-Baptiste Debret começou seus estudos de arte acompanhando o chefe da escola neoclássica francesa, o pintor Jacques-Louis David, seu primo, em uma viagem a Roma, na época em que este último pintava a sua célebre tela O Juramento dos Horácios. Retornando da Itália, freqüentou a École des Beaux-Arts de Paris, mas, em decorrência da Revolução Francesa, afastou-se da pintura durante cinco anos. Voltou à ativa, conquistando em 1798 um prêmio no Salon de Paris, no qual mais tarde exporia por diversas vezes. Em 1816, foi convidado por Joaquim Lebreton para integrar a chamada Missão Artística Francesa, que aportou no Rio de Janeiro, então sede da corte portuguesa, aqui instalada em 1808 com a vinda de Dom João VI e da família real.
No tempo em que morou no Brasil, Debret participou da fundação da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), realizou retratos da família Imperial, instalou uma escola particular de pintura e foi o responsável pelo primeiro salão de arte brasileiro, realizado em 1829. Com toda essa atividade, não é de se admirar que tenha se exposto à hostilidade dos artistas portugueses que então disputavam com os franceses o controle do sistema de ensino artístico no Rio de Janeiro.
Debret acabou por retornar à França em 1831 e lá empreendeu a publicação de sua "Voyage pittoresque et historique au Brésil", edição em três volumes que vieram a lume, respectivamente, em 1834, 1835 e 1839. A respeito desse trabalho, escreveu Oliveira Lima, no seu clássico livro sobre Dom João VI: “percorrendo-se a formosa obra de Debret e encontrando relembradas nas suas curiosas litografias as grandes cerimônias da Corte do Rio de Janeiro, no primeiro quartel do século XIX, aclamações, funerais, casamentos, vê-se graficamente onde e como se constituiu o sentimento nacional da terra”. No Brasil, a obra de Debret integra importantes acervos, como os da Biblioteca Nacional, do Museu Nacional de Belas Artes, do Museu da Chácara do Céu e do Instituto Moreira Salles, que possui hoje o Highcliffe Album, organizado por Charles Landseer.
Fonte: www.dezenovevinte.net
1768 - 1848
Jean Baptiste Debret(Paris, 18 de Abril de 1768 — Paris, 28 de Junho de 1848) foi um artista francês que produziu muitas litografias valiosas que descrevem os povos do Brasil, tendo a maioria delas sido reunidas em sua obra, finalizada apenas quando Debret voltou a França, intitulada Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Era pintor, desenhista e professor, veio para o Brasil como membro da Missão Artística Francesa, criada para fundar, no Rio de Janeiro, uma academia de artes e ofícios, que se tornaria a Academia Imperial de Belas Artes.
Em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Debret retratou todos os costumes sociais e relações de classe da corte brasileira no período de 1816 a 1831 e os usos e costumes das tribos indígenas.
Algumas de suas obras como a bandeira do Brasil serviu de estrutura para definir as cores e as formas geométricas da atual bandeira republicana apresentada aos brasileiros em 19 de novembro de 1889.
INÍCIO DA VIDA
Filho de Jacques Debret, funcionário do parlamento francês e estudioso de história natural e arte, e irmão de François Debret (nascido em 1777), arquiteto, membro do Instituto de França. Era parente (primo) de Jacques-Louis David (1748-1825), líder da escola neoclássica francesa. Estudou no Lycée Louis-le-Grand. Foi aluno da Escola de Belas Artes de Paris, na classe de Jacques-Louis David. Também chegaria, como seu irmão François, ao Instituto de França. Obteve em 1791 o segundo prêmio de Roma, com a tela Régulus voltando a Cartago.
A Revolução Francesa necessitava de engenheiros que entendessem de fortificações; foram, então, escolhidos alguns dos alunos mais brilhantes para o curso de Engenharia. Debret foi um dos escolhidos, tendo estudado engenharia por cinco anos. Contudo, apesar da carreira de engenheiro, Debret voltaria à pintura. Expôs no salon de 1798 um quadro com figuras de tamanho natural – Le général méssénien Aristomène delivré par une jeune fille, com o qual ganhou um segundo prêmio. Expõe em 1804, no salon, o quadro O médico Esístrato descobrindo a causa da moléstia do jovem Antíoco.
Em 1805 muda a temática de suas pinturas, expondo - novamente no salon - Napoleão presta homenagem à coragem infeliz, que recebeu menção honrosa do Instituto de França. Debret finalmente encontrara-se com o que seria o tema principal de suas obras enquanto na França: Napoleão. Expôs no salon em 1808 o quadro Napoleão em Tilsitt condecorando com a Legião de Honra um soldado russo. Em 1810, um novo “tributo” à Napoleão fora criado – Napoleão falando às tropas; seguido por A primeira distribuição de cruzes da Legião de Honra na Igreja dos Inválidos, de 1812. Não por acaso, Napoleão era um verdadeiro mecenas para artistas como Debret e David, apoiando – inclusive financiando – a disseminação da arte neoclássica.
A VINDA PARA O BRASIL: A MISSÃO FRANCESA DE 1816
A derrota de Napoleão, em 1815, foi um golpe duro aos artistas neoclássicos, que perderam o principal pilar que sustentava – financeira e ideologicamente - a arte neoclássica. Isto, somado com a perda do filho único, de apenas dezenove anos, abalara muito Debret. No mesmo período, ele e o arquiteto Grandjean de Montigny foram convidados à participar da missão de artistas franceses que rumava para a Rússia a pedido do Czar Alexandre I da Rússia. Mas, paralelamente, se aprontava em Paris a missão ao Brasil, por solicitação de Dom João VI. Debret - assim como Grandjean de Montigny - escolheu o Brasil. Embarcou no Havre a 22 de janeiro de 1816. Calpe, o veleiro norte-americano que trazia a Missão, aportou em território brasileiro em 26 de março de 1816. A missão foi planejada pelo Conde da Barca, que escrevera ao Marquês de Marialva, embaixador de Portugal em Paris, pedindo-lhe que cuidasse da vinda de uma missão artística, missão que, entre outros objetivos, idealizaria e organizaria a criação de uma Academia de Belas Artes.
Em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Debret revela sua profunda relação pessoal e emocional com o Brasil, adquirida nos 15 anos em que viveu no país. Em 1831 o pintor volta à França alegando problemas de saúde. Diferente do que Debret alegara, acredita-se em outras duas hipóteses para a sua volta: Debret talvez queria voltar para reencontrar-se com seus familiares, além de organizar o primeiro volume de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Já outra hipótese sugere que, como em 1831 Debret já contava com 63 anos, e a obra seria uma espécie de "trabalho para aposentadoria", visto que a produção desse tipo de obra (almanaques de viajantes - livros com textos acompanhando imagens) fazia bastante sucesso no início do séc. XIX - quando Debret partiu para o Brasil - e poderia render a Debret uma boa aposentadoria (o que de qualquer forma não foi o que acabou acontecendo: quando da volta de Debret à França, esse tipo de publicação já não fazia o mesmo sucesso que anteriormente, tendo a Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil causado pouco impacto na França).
Debret tenta mostrar aos leitores - em especial os europeus - um panorama que extrapolasse a simples visão de um país exótico e interessante apenas do ponto de vista da história natural. Mais do que isso, ele tentou criar uma obra histórica; tentou mostrar com minuciosos detalhes e cuidados a formação - especialmente no sentido cultural - do povo e da nação brasileira; procurou resgatar particularidades do país e do povo brasileiro, na tentativa de representar e preservar o passado do povo, não se limitando apenas a questões políticas, mas também a religião, cultura e costumes dos homens no Brasil. Por estas razões, a obra de Debret é considerada atualmente como uma grande contribuição para o Brasil, e é freqüentemente analisada por historiadores como uma representação (um tanto quanto realista, apesar de não ser perfeita) do cotidiano e sociedade do Brasil – em especial, da vida no Rio de Janeiro – de meados do século XIX.
Publicada em Paris, entre 1834 e 1839, sob o título Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, ou séjour d´un artiste française au Brésil, depuis 1816 jusqu´en en 1831 inclusivement, a obra é composta de 153 pranchas, acompanhadas de textos que elucidam cada retrato. Tal estilo de obra (textos descritivos acompanhando as imagens) não era muito comum entre os artistas que vinham ao Brasil para retratar o país, o que aumenta ainda mais o destaque e importância de Debret: a obra não é considerada tão importante apenas por aspectos artísticos, mas justamente pela combinação de interesse em retratar o cotidiano, com a presença de textos descrevendo as litografias. Preocupando-se com o sentido dos textos, Debret os compara com as ilustrações contidas em seus trabalhos, e é por isso que o aspecto historiográfico é colocado em primeiro plano em relação ao aspecto propriamente artístico.
O próprio título da obra de Debret apresenta este certo compromisso que ele tentou adquirir nas representações e descrições do Brasil. O uso da palavra “pitoresca” no titulo Viagem Pitoresca a Histórica ao Brasil denota uma certa precisão, habilidade e talento; características que buscou em suas representações. Viagem Pitoresca a Histórica ao Brasil pode ser considerada uma obra em estilo europeu, feita para europeus, visto que o estilo de livro (almanaque) fazia um certo sucesso na Europa na época.
O livro é dividido em 3 tomos: O primeiro é de 1834, e estão representados índios, aspectos da mata brasileira e da vegetação nativa em geral. O segundo tomo é de 1835, e concentra-se na representação dos escravos negros, no pequeno trabalho urbano, nos trabalhadores e nas práticas agrícolas da época. Já o tomo terceiro, de 1839, trata-se de cenas do cotidiano, das manifestações culturais, como as festas e as tradições populares.
NEOCLASSICISMO, ROMANTISMO E A OBRA DE DEBRET
Apesar de ser um artista de formação neoclássica – seu tutor foi o mestre do neoclassicismo, Jacques-Louis David – Debret (ao menos ao se analisar sua produção em Viagem Pitoresca a Histórica ao Brasil), em alguns aspectos, pode ser considerado um artista de transição entre o neoclassicismo e o romantismo.
As representações dos índios – totalmente idealizados; fortes, com traços bem definidos e em cenas heróicas – são aspectos claros do neoclassicismo. Contudo, ao se analisar os textos que acompanham as imagens, são notados aspectos não neoclássicos, mas românticos. O romantismo tem como características a oposição ao racionalismo e ao rigor neoclássico. Caracteriza-se por defender a liberdade de criação e privilegiar a emoção. As obras românticas valorizam o individualismo, o sofrimento amoroso, a religiosidade cristã, a natureza, os temas nacionais e o passado. Além disso, uma característica essencial do romantismo – que o diferencia do neoclassicismo -, característica esta, notada nos textos de Debret, é a relação que o artista estabelece com as cenas que representa: o neoclássico é apenas um espelho do que observa, tentando fazer uma representação exata, daquilo que vê. já o romântico, tenta "jogar uma luz" no que observa – o romântico faz uma interpretação daquilo que observa, e é justamente isto que Debret faz nos textos que acompanham as aquarelas: interpretações. Nas aquarelas, Debret era o “espelho” do que observava: este é o Debret com princípios neoclássicos. Nos textos, ele jogava uma luz e interpretava o que via: este é o Debret com princípios românticos.
Suas aquarelas pitorescas possuem o caráter típico das representações feitas por viajantes em busca de paisagens e de exotismo, mas sua arte oficial conserva o caráter solene do neoclassicismo próprio do grupo de artistas da França napoleônica.
Diz um crítico de arte francês: « L’importance majeure de l’oeuvre de Debret, outre la valeur d’un enseignement qui allait bientôt porter ses fruits, résida paradoxalement dans sa capacité d’enregistrer cela même qui était sur le point de disparaître. Ce qui n’a pas empêché le peintre d’histoire de mettre en scène deux couronnements et de représenter dans ses aquarelles la première cour d’une dynastie américaine. » Ou seja: «A maior importância de sua obra, além do valor de um ensino que logo daria frutos, residiu paradoxalmente em sua capacidade de registrar o que estava prestes a desaparecer. O que não impediu o pintor de História de pôr em cena duas coroações e de representar em suas aquarelas a primeira corte de uma dinastia americana.»
DEBRET, DIDEROT E O ILUMINISMO
Na obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pode ser observada uma forte influência do iluminismo francês, principalmente da Enciclopédia de Denis Diderot, pois Debret não se prende apenas à representação de batalhas, cenas importantes e feitos grandiosos do país. Debret, como já dito anteriormente, representa cenas e características do cotidiano e da sociedade brasileira, como casas, ocas de índios, rostos de pessoas (para tentar mostrar as características do povo brasileiro). Ele procura representar o caráter do povo; seus costumes, festas populares (e da corte), relações de trabalho e utensílios e ferramentas utilizadas pelo povo. Essa proposta de certa forma enciclopédica, de conseguir acumular em livros o máximo de informação e conhecimento acerca de determinado assunto, faz parte dos ideais de diversos iluministas da França do final do século XVIII e início do século XIX – entre eles, o caso mais famoso talvez seja o de Diderot e sua Enciclopédia (l'Encyclopédie, no original), obra que com certeza inspirou Debret acerca de suas representações do Brasil em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
DEBRET: PLAGIADOR?
Joueur d'Uruncungo.No tomo I de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, dentre as inúmeras representações de indígenas. Algumas chamam a atenção: eles são representados com pintura corporais muito semelhantes (para não dizer idênticas) às de uma imagem de índios de uma tribo de índios norte-americanos, presente em uma publicação sob o título de Voyages and travels en various parts of the world: during the years 1803, 1804, 1805, 1806, and 1807, feita décadas antes de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pelo naturalista da antiga Prússia, Georg Heinrich von Langsdorff.
A semelhança da pintura de Debret, intitulada Dança de Selvagens da Missão de São José, com a de Langsdorff, intitulada Uma Dança Indígena na Missão de São José em Nova Califórnia é tal que chega a levantar a dúvida entre alguns historiadores: Debret realmente viajou pelo Brasil, como é comumente afirmado, ou teria permanecido apenas nas imediações da cidade de Rio de Janeiro? alguns pesquisadores afirmam que tal hipótese seria verdadeira, e as representações de índios feitas por Debret – como supostamente a citada neste caso comparado com Langsdorff – seriam cópias de representações de outros europeus que participaram de expedições naturalistas. Para reforçar ainda mais esta hipótese, deve-se levar em consideração que muitos utensílios e ferramentas representadas por Debret, já se encontravam em museus de História Natural da época; locais que ele poderia ter visitado sem problema algum.
ENCONTRO EM PARIS
Diz um livro francês: «Après son abdication, D. Pedro 1er et Debret se rencontrèrent par hasard au coin d’une rue de Paris. L’ancien empereur et son peintre d’histoire, le protagoniste et le metteur en scène de l’Empire du Brésil, y auraient fait échange de politesses. Le premier aurait civilement offert sa maison de Paris à l’artiste qu’il avait naguère décoré de l’Ordre du Christ en le traitant d’homme vertueux.» O que se traduz - «Depois da abdicação, D. Pedro I e Debret se encontaram por acaso numa esquina em Paris. O antigo imperador e seu pintor de História, o protagonista e o ´decorador´ do Império do Brasil, trocaram gentilezas. O primeiro, civilmente, ofereceu sua casa em Paris ao artista que antigamente condecorara com a Ordem de Cristo e a quem chamara homem virtuoso.»
Fonte: pt.wikipedia.org