7.4.10

Chico Xavie, Médium brasileiro ajudou a projetar espiritismo internacionalmente

Face mais conhecida da espiritismo no país, Chico Xavier faria 100 anos.
Publicação do francês Allan Kardec, em 1857, marca início da doutrina.



Há exatos 100 anos, Francisco de Paula Cândido Xavier nascia no município mineiro de Pedro Leopoldo. Um dos médiuns mais conhecidos do mundo, Chico Xavier se tornaria a face mais conhecida do espiritismo no Brasil e, por meio de sua obra – 451 livros publicados até hoje, muitos de forma póstuma – dobraria o número de centros espíritas no país.

( Reveja no vídeo ao lado reportagens da Rede Globo sobre Chico Xavier )


“Chico Xavier consegue uma popularidade que nenhum outro médium na história havia alcançado. Ele se torna muito conhecido, conquista uma liderança como espírita brasileiro e também consegue conciliar diferentes correntes do espiritismo”, afirma Alexandre Caroli Rocha, doutor em teoria literária pela Unicamp que estuda a obra de Chico Xavier.

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Transformado em uma espécie de mito pelo adeptos do espiritismo, o médium brasileiro fortaleceu e deu maior visibilidade a uma história iniciada um século e meio antes. A publicação, em 1857, de “O Livro dos Espíritos” por Allan Kardec, nome adotado pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), é tomado pelos espíritas como o marco inicial da doutrina, a sistematização de uma série de experimentos que vinham se desenvolvendo na Europa.


“A obra de Kardec é fundamental na doutrina espírita. Ela contém a filosofia, os enunciados e os princípios básicos. Muitos destes princípios já eram conhecidos de pensadores e filósofos, mas ele coordenou e codificou a filosofia espírita. Por meio de contatos com o mundo espiritual, formulou perguntas, obteve respostas e as revelações doutrinárias”, diz o professor de ciências sociais José Antônio Luiz Balieiro, que preside a União das Sociedades Espíritas de São Paulo.

Foto: Arquivo / AE

O médium Chico Xavier durante entrevista em São Paulo na década de 70 e em 2002, durante a comemoração do 92º aniversário (Foto: Arquivo / AE)


As primeiras publicações do professor de aritmética e pesquisador francês ajudaram a jogar luz e tornar conhecidas experiências que ocorriam nos salões franceses, como as chamadas “mesas girantes”, que estabeleceriam contatos com espíritos. Nos anos seguintes, os livros também ajudaram a difundir o espiritismo por Espanha, Itália, Alemanha e outros países europeus.


“O espiritismo teve seu auge na segunda metade do século XIX na Europa. Difundido entre intelectuais, o tema influenciou escritores como Victor Hugo e vários poetas franceses também escreveram a respeito. Conforme os livros começaram a chegar à América, intelectuais brasileiros também se interessaram”, afirma Alexandre Caroli.

Expansão

No início da Primeira Guerra, a doutrina, que já vinha sofrendo abalos desde a morte do seu principal representante, perde força. “Com a morte de Kardec em 1869 seus discípulos não conseguiram manter por muito tempo a difusão na França”, diz o pesquisador. É também nesta época que começa a florescer o movimento espírita brasileiro, hoje o país com o maior número de espíritas do mundo.

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Túmulo de Allan Kardec, considerado o fundador do espiritismo, em Paris (Foto: Arquivo / AFP)

O último censo que tratou do tema, em 2000, contabilizou mais de 2,3 milhões de seguidores da doutrina. Mas a Federação Espírita Brasileira (FEB) calcula hoje em 20 milhões o número de espíritas ou “simpatizantes” da doutrina nos 14 mil centros filiados à entidade. No mundo, segundo o Conselho Internacional Espírita, sediado em Brasília, há representações em quase 40 países, mas nenhum à altura do Brasil em número de adeptos.

Para o pesquisador Alexandre Caroli, entre as razões para a expansão do espiritismo no Brasil está a adaptação dos ensinamentos de Allan Kardec a outras práticas religiosas. “Na Europa, os seguidores dividiram-se entre os que tinham mais interesse científico no tema e os que seguiam os ensinamentos religiosos. Ao passo que, no Brasil, a doutrina conseguiu se popularizar pela relação muito forte com a religiosidade. O país já tinha religiões mediúnicas africanas que conseguiram se combinar com o espiritismo”, explica Caroli.

Médicos de cura

Ele aponta ainda a grande popularidade dos médicos de cura, entre os quais está um dos precursores da doutrina no país, o médico Bezerra de Menezes (1831-1900). Menezes tomou conhecimento sobre o espiritismo por meio da publicação do “Livro dos Espíritos” em português, em 1875. Entusiasta do movimento, passou a difundir a doutrina por meio de artigos publicados no periódico “O Reformador”, publicado até hoje pela FEB, que presidiu por dois mandatos.


No Brasil, os primeiros seguidores do espiritismo também sofreriam uma divisão, com o grupo dos chamados “místicos”, liderados por Bezerra de Menezes, e os “científicos”, mais interessados na relação entre religião e ciência. A cisão seria superada definitivamente com a projeção alcançada por Chico Xavier.


“Ele consegue conciliar os diferentes grupos. Ao mesmo tempo, tem uma penetração social no Brasil que vai além dos adeptos do espiritismo. Tanto por conta do tipo de vida que levou, quanto dos livros que publicou. De certa forma, ele consegue nacionalizar o espiritismo”, diz o pesquisador da Unicamp.

O médium brasileiro teria começado a ouvir vozes de mortos ainda criança. De família católica, se tornou espírita aos 17 anos e psicografou a primeira das mais de 10 mil cartas que deixou aos 21. Seus livros venderam mais de 50 milhões de exemplares. Morreu em 30 de junho de 2002, aos 92 anos.


Fontes: G1