A burguesia medieval começou a surgir após o século XI. Era composta por cambistas, comerciantes e artesãos urbanos que conseguiram, aos poucos, acumular riquezas. Embora os burgueses tivessem poder econômico, o poder político ainda pertencia à nobreza e ao clero, que eram os grandes proprietários de terras neste período.
Surgimento da burguesia
Durante os primeiros séculos da Idade Média, as atividades no campo tornaram-se mais importantes do que as atividades urbanas. Geralmente, as cidades medievais eram pequenas e tinham poucos moradores.
Com o desenvolvimento do comércio após o século XI, as cidades passaram a desempenhar novos papéis. Muitas delas foram formadas ou cresceram em razão da atração que exerciam sobre os camponeses livres, que se dirigiam para esses centros com o intuito de vender seus produtos (vinho, cereais, lã etc.), e também sobre os servos, que buscavam fugir das difíceis condições e da cobrança de altas taxas existentes nos senhorios.
O crescimento do comércio incentivou o surgimento de grandes feiras na Europa, que duravam vários dias – ou até mesmo semanas – e aconteciam, em média, uma ou duas vezes por ano. Essas feiras reuniam mercadores de várias regiões, que comercializavam os mais diversos produtos, como pimenta, lã, madeira, sedas, corantes, tapetes, porcelanas, essências, entre outros.
Nelas, surgiram também os primeiros cambistas, que exerciam suas atividades de troca e exame das moedas em bancos de madeira. Eles também ofereciam letras de câmbio para substituir o pagamento imediato de moedas.
O crescimento das cidades medievais ocorria sem quaisquer planejamentos, de maneira desordenada, com ruas estreitas e tortuosas, cercadas por casas de madeira de dois ou três andares. Os centros das cidades continham, na maioria das vezes, a catedral, o edifício da administração e a praça do mercado.Ilustração da praça de um mercado no século XV, que consta na obra O cavaleiro errante, do marquês Tommaso III, de Saluzzo, na Itália.
Cambistas e letras de câmbio
Para compreender o processo de surgimento da burguesia, é importante conhecer os conceitos relacionados a seguir, que, mesmo após muitos séculos, ainda são utilizados.
Cambistas: considerados os “primeiros banqueiros”, eram comerciantes especializados na troca de diferentes moedas. Muitas vezes, prestavam serviços aos mercadores, em viagem, que precisavam trocar moedas estrangeiras por moedas locais. Com o crescimento de suas atividades, passaram, também, a oferecer empréstimos.
Letra de câmbio: documento mercantil trocado entre banqueiros. O sistema funcionava da seguinte maneira: o banqueiro “A” recebia de algum mercador viajante um depósito em moedas. Em troca do depósito, o banqueiro “A” fornecia ao mercador viajante uma letra de câmbio, ou seja, uma carta direcionada ao banqueiro “B”, estabelecido no local para onde estava se dirigindo o mercador viajante. Na carta do banqueiro “A”, havia a indicação para que os valores equivalentes ao depósito fossem pagos ao mercador viajante, quando este apresentasse a letra de câmbio ao banqueiro “B”. Esses documentos surgiram em razão da diversidade de moedas existentes na Europa e, também, dos perigos de transportar grandes valores de uma região para outra.
Burgos e burgueses
As cidades fortificadas por grandes muralhas eram conhecidas como burgos, e seus habitantes, naquela época, eram chamados de burgueses.
A casa de um burguês medieval com boas condições econômicas poderia ter vários cômodos, o que já demonstrava um espírito incipiente de individualidade e privacidade nas cidades. Muitos deles eram destinados às atividades profissionais: funcionavam, por exemplo, como depósitos de matérias-primas, loja com abertura para a rua, salas de trabalho e acomodações para os artesãos etc.
Aos poucos, nobres e comerciantes burgueses passaram a dividir os mesmos espaços nas cidades e a desenvolver empreendimentos conjuntos: os burgueses casavam-se com os nobres em busca de prestígio e títulos nobiliários, e os nobres casavam-se com os burgueses em busca de riquezas materiais.
Cartas de franquia
As cidades medievais eram, em geral, localizadas em terras de nobres ou bispos, a quem os moradores deviam impostos e prestação de serviços. Os habitantes das cidades poderiam se libertar desses mecanismos de controle por meio da compra das cartas de franquia, documentos vendidos pelos nobres ou bispos, dando aos moradores o direito de administrar as cidades, eleger seus representantes – em geral, grandes comerciantes ou banqueiros –, além de se isentar dos antigos impostos.
Corporações de ofício
Nas cidades medievais, surgiram as corporações de ofício, isto é, associações que reuniam artesãos ligados a um mesmo ramo de atividades (sapateiros, marceneiros, ferreiros, tecelões etc.). Cada corporação definia as regras para ingressar nas profissões, bem como a quantidade, a qualidade e os preços praticados sobre os produtos. Essas medidas garantiam maior controle de qualidade e evitavam a concorrência entre os associados. Os membros das corporações de ofício eram auxiliados em casos de doença e também na velhice.
Essas corporações eram dirigidas por
mestres, proprietários da oficina, das ferramentas e das matérias-primas utilizadas.
Eles ensinavam, alimentavam e hospedavam os aprendizes. Depois de algum tempo e de muita prática, os aprendizes poderiam se tornar oficiais, ou seja, começavam
a receber pagamento em dinheiro pelos
seus serviços. Após alguns anos, os oficiais
poderiam se tornar mestres, desde que passassem por uma prova para comprovar suas habilidades e dispusessem de dinheiro para abrir a própria oficina.
Por: Wilson Teixeira Moutinho
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