6.4.11

A Importância da Educação de Jovens e Adultos na Auto-Estima de Trabalhadores Rurais

Maria Theresa Santos De Luna¹
A escola tem como objetivo basilar promover o desenvolvimento humano quando garante o acesso e a permanência das crianças e jovens. Entretanto não é esta a realidade que vemos no Brasil, pois a miséria está tão caracterizada que as pesquisas constantemente afirmam que a educação não é uma prioridade nos grupos sociais mais pobres. A prioridade para esses grupos é a sobrevivência. O escritor e economista César Benjamim refere-se a essa situação de miséria que corrompe principalmente a educação brasileira com o seguinte discurso:

“É um crime contra o Brasil. O maior patrimônio de um país é seu próprio povo, e o maior patrimônio de um povo é a sua cultura. A cultura lhe permite expressas melhor conceitos e sentimentos, conhecer bem a língua que fala, reconhecer sua identidade, ampliar seu horizonte de direitos, aumentar sua capacidade de organização, comunicar-se melhor consigo e com outros povos, aprender novas técnicas, ter acesso ao que de melhor a humanidade produziu na ciência e na arte”(Caros Amigos; Jan. 2005, p. 15)

A miséria no país é uma das principais causas do analfabetismo pois ela é a alavanca que impulsiona o desinteresse pelo aprender. Pela necessidade do trabalho as crianças são retiradas da escola para buscarem a sobrevivência não apenas sua mas, de toda a sua família, essa sobrevivência é alcançada por esses pequenos discentes forçando-os a emigrar das escolas para ficarem nas estradas mendigando, ou até mesmo trabalhando, e se submetendo aos rendimentos irrisórios que são destinados aos menores de idade. Na zona rural as crianças são destinadas desde bem pequenas ao trabalho na roça, aos afazeres domésticos e a criação de seus irmãos menores. Quando trabalhamos com estudantes da zona rural, não importa de qual região deste imenso país, constantemente nos deparamos com trabalhadores rurais já de certa idade que expressam seus anseios educacionais com citações como esta: - “Já são muitos anos de trabalho na roça... tantos que já perdi as contas, e agora já velho, já cansado me sinto sozinho! Gostaria de poder ter tido condições de conhecer outros mundos, outras culturas, outros ofícios... Na verdade eu gostaria de poder ter aprendido a ler um livro, coisa que hoje com a vista já gasta me vai ser mais difícil... Eu gostaria de saber como assinar o meu nome e não mais precisar sujar meu dedo com aquela bendita almofada de carimbo!”(Sr. José de Arimatéia,78 anos, Sítio Avencas – Gravatá-PE) Diante de situações de apelo educacional como esta devemos enquanto educadores, refletir sobre a motivação gerada pela educação de jovens e adultos na auto-estima de trabalhadores rurais de todo o Brasil, e lembrarmos que a motivação, bem como a afetividade, contribuem de forma efetiva para a construção do processo de ensino e aprendizado desde o início da vida educacional. A motivação atua de forma construtiva na aceleração do raciocínio e na necessidade do educando de expor seus conhecimentos e idéias.

A motivação age em efeito ambíguo a utilização da Pedagogia do Fracasso, levando o aluno a acreditar em seu potencial de execução e de construção do aprendizado. O educando que encontra em seu educador o mecanismo que impulsiona seu crescimento e o desenvolvimento de suas habilidades, despertando nele sua inteligência cognitiva, resulta efetivamente, e crescentemente dentro do processo de ensino-aprendizagem. O discente quando submetido ao menosprezo de parte do seu educador, tende a manifestar apatia e adotar um comportamento displicente e muitas vezes agressivo dentro de sala de aula, comportamento esse que se manifesta diante da falta de recursos motivacionais e sócio-afetivos por parte da equipe docente, e das relações dentro do âmbito escolar. É cogente no papel do educador a utilização de práticas que estabeleçam relações sócio-afetivas entre todos os elementos que compõem o processo educativo pedagógico.

A Educação de Jovens e Adultos de acordo com o Parecer CEB 11/2000, apresentam, em razão dos novos princípios básicos, as seguintes principais funções: a função reparadora( ao reconhecer a igualdade humana de direitos e o acesso aos direitos civis, pela restauração de um direito negado);a função equalizadora(ao objetivar propor igualdade de oportunidades de acesso e permanência na escola) e a função qualificadora(ao viabilizar a atualização permanente de conhecimentos e aprendizagens contínuas).

Consta no Parecer CEB 11/200 e Resolução CNE/CEB 1/200, nas questões pertinentes as Diretrizes Curriculares Nacionais, os princípios na educação de jovens e adultos no Brasil, definidos da seguinte forma:

1. A educação como direito público subjetivo, compreendido como aquele pelo qual o titular de um direito(de qualquer faixa etária que não tenha tido acesso à escolaridade obrigatória) pode exigir imediatamente o cumprimento de um dever e de uma obrigação. Direito que pode ser acionado por qualquer cidadão, associações, entidades de classe e o Ministério Público(Parecer CEB 11/2000 e Art.5º da LDB/96)

2. Educação como direito de todos, através da universalização do ensino fundamental e médio. A Constituição Federal de 1988 expressa ser dever do Estado a garantia do ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiverem acesso na idade própria(art.208) e a Lei 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelece a obrigatoriedade e gratuidade do ensino fundamental e a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio(Art.4º).

O acesso ao saber escolar é viabilizado pela oferta de cursos regulares presenciais e a distância e exames supletivos feita por instituições de ensino públicas ou privadas credenciadas. Exige-se dos jovens e adultos serem maiores de 15 anos para conclusão do ensino fundamental e maiores de 18 anos para conclusão do ensino médio. O direito à realização de exame supletivo é extensivo às comunidades indígenas. (Art.37 e 38 – LDB796)

3. Educação permanente, que considere as necessidades e incentive as potencialidades do educando; promova a autonomia dos jovens e adultos, para que sejam sujeitos da aprendizagem; educação vinculada ao mundo do trabalho e as práticas sociais; projeto pedagógico com flexibilidade curricular e conteúdos curriculares pautados em três princípios: contextualização, reconhecimento de identidades pessoais e das diversidades coletivas (Parecer CEB 11/2000).

O educador, ciente das principais funções ao qual se propõe esta modalidade de ensino deve estabelecer como alcança-las de forma efetiva e satisfatória, para isso ele deve ponderar seus objetivos educacionais e preparar-se para acatar este novo desafio. Educar jovens e adultos não é uma tarefa fácil, e trabalhadores rurais tornam essa tarefa ainda mais árdua. São alunos que encontram-se em idade avançada e que passam todo o dia trabalhando na lavoura, na roça ou na lida com animais. São homens e mulheres que a noite estão cansados, e não apresentam mais aquele entusiasmo, contudo eles anseiam pelo despertar do saber. Recheados de vícios de linguagem, críticos de seus conhecimentos prévios, criadores de hipótese e formuladores de opinião são um público no qual, nós educadores devemos estabelecer o resgate na esperança de desenvolvimento do aprendizado. É esta a meta a ser alcançada pelo educador de Jovens e Adultos.

Uma das tarefas do educador ou educadora progressista, através da análise política, séria e correta é desvelar as possibilidades não importam os obstáculos, para a esperança, sem qual pouco podemos fazer porque dificilmente lutamos e quando lutamos, enquanto desesperançados ou desesperados, a nossa é uma luta suicida, é um corpo-a-corpo puramente vingativo.(FREIRE, Paulo:Pedagogia da Esperança; 13º edição; Editora Paz e Terra, S.P.; 2006, p. 11)

O processo contínuo e construtivo de socialização do sujeito se dá também, em primeira instância, no máximo de interações sócio-afetivas interdependentes, deste com o outro e com o meio – fator característico da primeira infância – na busca pela satisfação orgânica e psicológica, seguindo progressivamente em direção ao limite da individualidade e, conseqüentemente, da autonomia. Desse modo, a manifesta correspondência entre os aspectos afetivo e cognitivo, no tocante às respectivas evoluções, compete tornar explícito o papel da afetividade nos períodos do transcurso do desenvolvimento humano.

“...não o eu enquanto diferente dos outros eus e refratário à socialização, mas é o indivíduo se submetendo voluntariamente às normas de reciprocidade e de universalidade. Como tal, longe de estar à margem da sociedade, a personalidade constitui o produto mais refinado da socialização. Com efeito, é na medida em que o eu renuncia a si mesmo para inserir seu ponto de vista próprio entre os outros e se curva assim às regras da reciprocidade, que o indivíduo torna-se personalidade(...). (...) a personalidade consiste em tomar consciência desta relatividade da perspectiva individual e a coloca-la em relação com o conjunto das outras perspectivas possíveis: a personalidade é, pois uma coordenação da individualidade com o universal” (PIAGET, 1967, p.245 apud LA TAILLE, 1992, p.17).

Ora, se à intensa atividade cognitiva concomitantemente se desenvolve a construção do si, ressalta Dantas,

“...cabe à educação, em cada um desses momentos, a satisfação das necessidades orgânicas e afetivas, a oportunidade para a manipulação da realidade e a estimulação da função simbólica, depois a construção de si mesmo. Esta exige espaço para todo tipo de manifestação expressiva: plástica, verbal, dramática, escrita, direta, ou indireta, através de personagens susceptíveis de provocar identificação.” (DANTAS,1992,p.95)

Visto o exposto podemos perceber a importância da motivação dentro do processo de aprendizado do discente e a relação estabelecida entre a inteligência e o desenvolvimento de capacidades e habilidades, além disto, podemos facilmente analisar o amparo legal na fomentação desta motivação. Então não trata-se apenas de ministrar aulas para pessoas fora da faixa etária regular. Trata-se de estabelecer a cidadania e garantir os direitos destes discentes que buscam a libertação da assinatura com digitais e vislubram a leitura, produção e a compreensão de um texto.


Autor: Maria Theresa Santos De Luna