2.5.11

Imperialismo

Política que tem por fim a formação e a manutenção de impérios. Foi um dos fatores decisivos na história antiga e moderna. Representa, politicamente, uma tentativa de unir diferentes nacionalidades ou grupos étnicos sob a direção de um governo que, pela extensão do seu território e riqueza dos seus recursos, forma um grande poder. Ideologicamente significa uma tentativa de justificar. a expansão imperial. A origem dos impérios deve ser procurada geralmente na conquista; sua manutenção, no exercício de um poder dominador; e sua justificativa, na capacidade real ou alegada do grupo conquistador ou imperial sobre os grupos conquistados ou colônias. Deste modo, a essência do imperialismo é o domínio de uma nação sobre outra ou outras.

O termo tem, várias acepções e o conceito é muito controvertido. Desde a publicação, em 1902, do livro de J. A. Hobson, Imperialism (imperialismo), sobre os seus aspectos políticos e econômicos, o assunto tem sido discutido, principalmente pelos teóricos do marxismo, como Rosa Luxemburgo e Lenin, e pelos seus críticos modernos.

Tudo isso tem facilitado o uso ideológico da palavra, tanto mais que a natureza da política imperialista é, muita vezes, difícil de descobrir-se. As múltiplas atividades políticas, financeiras, econômicas, técnicas e culturais de um Estado em outro, algumas vezes sutis ou ocultas, visam à criação de um ambiente de simpatia, amizade ou influência, mas podem, também, visar apenas a uma posição de controle político e econômico. O número das tentativas imperialistas que tiveram êxito é suficiente para mostrar que embora o termo, como foi aqui definido, date da última parte do séc. XIX, o fenômeno escrito é tão velho quanto a civilização, e que o imperialismo antigo e moderno têm em comum não apenas os meios, mas também muitos de seus fins. A palavra é usada, ainda, ocasionalmente, para denotar um sistema de governo baseado na coerção, no qual o imperador governa por uma espécie de direito divino, hereditário ou de sucessão pessoal. Proclamado O Brasil como Império e seu chefe real imperador, o que, implicitamente, envolvia a idéia de superioridade, foi a política brasileira no Uruguai censurada como intervencionista e imperialista por ensaístas do Rio da Prata. Nessa censura se incluía também o temor pelo expansionismo territorial e, recentemente, pelo predomínio econômico, o que não se verificou.

O processo de criar o império através de uma federação é chamado também de imperialismo, se o ato voluntário de consolidação foi precedido do uso de métodos agressivos. A reorganização de um império existente por ajustamento federativo é, no entanto, muito diferente do imperialismo como método de ampliação de um Estado nacional em um império supernacional. Embora este último resulte especialmente da conquista e da anexação, é preciso deixar claro que expansão e conquista territorial não são idênticas a imperialismo. A conquista normanda, as anexações de Frederico o Grande, a expansão territorial dos pioneiros norte-americanos pelas planícies ocidentais ou a dos bandeirantes, no Brasil, não podem ser chamadas de imperialismo. A essência do imperialismo é a anexação de um Estado por outro, com a conseqüente modificação da estrutura do Estado original.


História

Existem referências a vários impérios chineses e à sucessão de impérios na Ásia e no Mediterrâneo, especialmente o sumeriano, o babilônico e o dos assírios. Mas o primeiro império digno desse nome - e modelo para muitos dos seus sucessores - de duração breve na sua realidade política, mas de permanente importância pela sua idéia, foi o que Alexandre o Grande criou depois da unificação da Grécia por seu pai, subjugando a Ásia e unindo-a com a Grécia num reino que, praticamente, incluía todo o mundo habitado conhecido e acessível na época. o imperialismo romano firmou-se quando derrotou os seus grandes competidores, os cartagineses, no Mediterrâneo ocidental, e os gregos, no Mediterrâneo oriental. Dominou da Bretanha ao Egito e baseou-se em idéias de domínio e também de irmandade dos homens. Depois da queda de Roma, o império, como força unificadora, não mais se concretizou. As nações surgidas das cinzas do império romano na Europa e na Ásia, sobre a base da civilização cristã ou islâmica, seguiram seus próprios imperialismos. o imperialismo tornou-se, então, uma força divisória entre os povos do mundo. os fatores que concorreram para o fim do império romano foram: sua divisão em duas metades, ocidental e oriental; a luta, dentro do império ocidental, entre o imperador e o papa; o surgimento do Islam, que pretendeu um domínio universal semelhante ao do cristianismo; e as aspirações paroquiais que desafiaram a supremacia do império e exigiram a sua independência tanto das autoridades seculares como das autoridades espirituais do império.

O moderno imperialismo europeu vai nascer com a quebra e a desintegração do Sacro Império Romano Germânico.

Entre os séc. XV e XVIII, algumas nações concorrentes criaram vários impérios, especialmente de caráter colonial. o maior império da época moderna é o de Filipe II, da Espanha. Portugal, Inglaterra, França e Holanda construíram também, nas Américas, na Índia e nas Índias Orientais, grandes impérios. No séc. XIX, a Grã-Bretanha tornou-se o protótipo de império, e imperialismo significou, acima de tudo, o britânico. Depois mesmo da independência das colônias americanas, a Inglaterra ampliou as suas conquistas na América do Norte, na Àfrica e na Ásia. Já no fim do séc. XIX muitos países formavam entre os Estados imperialistas, como os EUA, o Japão, a Rússia e, mais tarde, a Itália e a Alemanha. A febre imperialista, incentivada pelo dinamismo do crescimento industrial, expansão financeira e pela crescente necessidade de matérias-primas e de mercados, deu ao imperialismo do fim do séc. XIX um novo caráter. Ele procurou apoio espiritual em todas as teorias que glorificavam o poder e o sucesso e nas doutrinas da superioridade racial, dominantes nesse período. Todos procuram justificar seu domínio de diversas maneiras. A vitória dos aliados na I Guerra Mundial e a destruição do império nisso representaram o abandono de muitas das prerrogativas imperialistas em países coloniais.

Na primeira década seguinte à I Guerra Mundial, o imperialismo parecia em declínio, com os impérios se dissolvendo, povos nativos ganhando sua independência ou, pelo menos, status igual, e com o desaparecimento político de certos privilégios financeiros e comerciais estabelecidos pela conquista ou pela penetração econômica. A segunda década trouxe, porém, completa modificação daquela tendência. A nova filosofia do imperialismo fascista glorificou o destino das nações corajosas e procurou, pela guerra e pela conquista, impor o seu domínio sobre os povos fracos. Especialmente representado pelos governos da Itália, do Japão e da Alemanha, esse novo imperialismo fazia voltar os conceitos universais do antigo, desejando não a coexistência de impérios concorrentes debaixo do sistema da balança de poder, como aquele que esteve sob a direção da Grã-Bretanha, mas o domínio mundial que unisse todos os países. A Alemanha, o Japão e a Itália cooperaram intimamente para a realização de uma nova ordem mundial, enquanto as suas vítimas em perspectiva se recusavam a colaborar com essa ameaça, que oferecia a possibilidade de reduzir ao estado colonial alguns países independentes. Derrotada essa nova forma imperialista, o processo de declínio continuou e a grande maioria dos povos coloniais foi-se libertando do sistema de tutela da ONU.

O imperialismo, na sua forma de expansão territorial, ainda não está inteiramente liquidado, pois alguns territórios, especialmente na África, continuam com o seu status colonial. Também subsiste na sua forma comercial e financeira, quando se usa da coerção e não da concorrência para obter de outros povos privilégios e vantagens de caráter especial.


Teorias

Desde que o imperialismo existiu, muitos pensadores procuraram explicar seus motivos, para criticá-lo ou desculpá-lo. Deixando de lado as teorias antigas sobre os motivos e o valor do imperialismo, vários grupos de autores modernos podem ser apontados como estudiosos do assunto. No primeiro grupo podem reunir-se desde os moralistas ingleses até os totalitários alemães, italianos e japoneses do séc. XX, que advogaram políticas imperialistas, porque achavam que os problemas dos recursos humanos e materiais, dos mercados, de investimento de capitais e do excesso de população, seriam resolvidos pela criação de um império. Um segundo grupo seria formado pelos seus oponentes, entre os quais estão os fisiocratas da França, Adam Smith e David Ricardo. Admitem que o imperialismo pode beneficiar um pequeno grupo, mas nunca a nação, como um todo. Num terceiro grupo figurariam os teóricos marxistas, que estudaram todos os aspectos econômicos do imperialismo, entrando em grandes pormenores, e o interpretaram como a última etapa do capitalismo, etapa na qual o excesso de capital resultante do sistema de produção é obrigado a procurar, no estrangeiro, novos campos de investimento, em face da diminuição dos lucros no país de origem. o quarto grupo é formado pelos que argumentam que a história não apóia essas teses, porque elas não explicam o imperialismo pré-capitalista. Entre estes estão principalmente Jacob Viner e William L. Langer e analistas teóricos como Joseph A. Schumpeter, para os quais o imperialismo resulta de um complexo de causas em que atuam, em diferentes graus, as pressões econômicas, a agressividade humana, a busca de segurança, a ambição de poder e prestígio, emoções nacionalistas, o humanitarismo e outros fatores. Daí resulta a dificuldade de eliminar o imperialismo. Segundo Lenin, o imperialismo se caracterizava por cinco princípios essenciais: 1º a concentração da produção e do capital levada a um grau tão alto de desenvolvimento que resulta em monopólio, o qual desempenha um papel decisivo na vida econômica; 2º a fusão do capital bancário com o industrial e a criação, sobre a base desse “capital financeiro”, da oligarquia financeira; 3º a exportação do capital, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância particular; 4º a formação de associações internacionais monopolistas de capitais, as quais repartem entre si o mundo; 5º fim da divisão territorial do mundo entre as potências imperialistas mais importantes. W. L. Langer, num estudo sobre o imperialismo, afirma que do ponto de vista da teoria econômica é difícil negar a lógica da teoria da acumulação, e que os postulados da teoria socialista são válidos. Mas, para ele, a história refutava a tese, porque na fase de maior expansão imperialista houve uma queda marcante no fluxo do investimento estrangeiro; não houve exportação de capital norte-americano na época da doutrina de Monroe; e não há relação direta entre exportação de capital e expansão territorial, pois os EUA inverteram mais capital no Canadá do que o fez a própria Inglaterra, e mais na América Latina que nas suas próprias colônias. Durante a II Guerra Mundial, quando os EUA se tornaram a maior nação credora, 43% do seu investimento estavam na América Latina, 27% no Canadá, na Terra Nova, e 22% nos países europeus. Do mesmo modo, a Alemanha, em 1914, tinha cerca de 25 bilhões de marcos colocados no estrangeiro, e desse total apenas 3% haviam sido aplicados na África e na Ásia, e somente uma pequena parte desses 3% fora invertida em suas próprias colônias. Deve-se notar, entretanto, que o investimento norte-americano na América Latina se concentrou na América Central, onde se exerceu o intervencionismo político e o imperialismo econômico que caracterizaram a diplomacia do dólar e do big stick. o caráter espoliativo dos investimentos e a pressão política servindo a interesses de grandes companhias singularizavam o imperialismo antes da I Guerra Mundial. Várias tentativas foram feitas na Sociedade das Nações e nas Nações Unidas para satisfazer, por meios pacíficos, as apirações legítimas das nações e conter as ilegítimas. Entre as medidas tomadas para esse fim estão o sistema de tutela para as áreas dependentes, o estímulo das relações culturais entre as nações, o auxílio aos países subdesenvolvidos e a melhoria da saúde e do bem-estar em todo o mundo.