26.5.11

Fuga dos padrões do nazismo influência educação moderna

Para garantir a aprovação no vestibular, piscóloga diz que os jovens precisam manter o foco nos estudos. Foto: Getty Images

A moderna educação e seu aparato pedagógico buscam eliminar tudo o que possa lembrar a rigidez belicosa do nazismo
Foto: Getty Images

Os educadores estão assustados. E não é para menos. Uma simples visita a uma sala de aula hoje provoca um espanto. Jogados pelas cadeiras ou com os pés em cima delas, aos trambolhões, encontram-se os alunos. Seus trajes variam pouco. Em geral vestem brim, de preferência desbotados e estrategicamente rasgados ou com calças pelo meio da canela. Camisetões com slogans ou escudo do time favorito são comuns. Cabeças metidas em bonés de jogadores de beisebol completam sua indumentária do escolar.

Seus cabelos oscilam entre jubas leoninas presas em rabos-de-cavalo a crânios quase inteiramente rapados. Um e outro ostenta um brinco de pirata, sendo comum encontrar neles uma chamativa tatuagem. Um caos estético enfim ao som de um hip hop enlouquecedor.

Conseguir com que se mobilizem para o estudo, tenham atenção e façam o mínimo de silêncio para entender os conteúdos, é uma façanha que cada professor se estafa diariamente em conseguir. Como se chegou a isto? Sob o ponto de vista conservador esse quadro desolador é resultado da (ir) responsabilidade da sociedade liberal-consumista que perdeu a noção das coisas, somada à dissolução familiar e ao desaparecimento da estrutura patriarcal e religiosa que dava solidez e noções de respeito a seus filhos.

Culpam mais longinquamente a Jean-Jacques Rousseau, o profeta da permissividade que, no seu 'Emílio' (Émile), já em 1762, recomendava que se banisse para sempre do vocabulário pedagógico palavras como "ordenar", "obedecer", "mandar", ou "dever", depositando suas esperanças num autodesenvolvimento, motivado pela "evolução criadora" de que cada criança era dotada.

Possivelmente a resposta esteja historicamente mais próxima. É de se preferir para entender o fenômeno, se aproximar de décadas mais recentes, recorrendo aos intelectuais dos anos trinta e quarenta, particularmente aos pensadores alemães que escaparam do nazismo. O que os intrigou, principalmente os que militavam na Escola de Frankfurt, era a espantosa capitulação do povo alemão perante aquela barbárie.

Perguntavam-se como um país civilizado e culto como a Alemanha rendera-se tão facilmente a um regime tão primitivo, a ponto de apoiar a queima de livros nas praças públicas?

Dois dos seus mais expressivos integrantes, Theodor Adorno e Max Horkheimer, tentaram resolver o enigma por meio de uma obra multidisciplinar, os Estudos sobre Autoridade e Família (Studen über Autorität und Familie), de 1936, atribuindo a calamidade à tradição autoritária alemã, entranhada em toda a estrutura social.

Outro membro da Escola, Erich Fromm, no exílio, publicou em 1941 um clássico sobre o assunto, O medo à liberdade(Escape from Freedom), recuando até a Reforma Luterana na busca das raízes do desastre.

A importância de Wilhelm Reich
Inclino-me a acreditar que, entre eles, foi Wilhelm Reich quem mais influenciou, ainda que diagonalmente, a educação atual, especialmente depois de ter-se asilado nos Estados Unidos.

No seu famoso Psicologia de Massas do Fascismo (Die Massenpsychologie des faschismus), de 1933, ele não definia o fascismo como apenas um movimento político, igual a tantos outros que pululavam na Europa de então, não sendo também um defeito congênito de determinados povos.

Via-o como "a expressão da estrutura irracional do caráter do homem médio", do homem-massa reprimido há milênios, encontrado em qualquer sociedade. E as convicções autoritárias que demonstrava, idolatrando ditadores, resultavam da influência que sobre ele exerciam a Igreja e a Família.

Como bom discípulo de Freud, Reich acreditava que a repressão era a responsável pela perversão e pelas inclinações sadomasoquistas. Especialmente às exercidas sobre a vida sexual dos jovens, que terminavam canalizado sua energia libidinal de uma forma maligna, participando dos bandos nazistas e fascistas.

Para ele estava claro que a família patriarcal, sua severidade e rigidez, com a ascendência incontestável do pai e a submissão completa do filho, era, em pequena escala, a reprodução da relação de dominação e servilismo que o tirano estabelecia com seus seguidores: "o líder e o seu povo".

Albert Speer, o arquiteto favorito de Hitler, nas suas memórias (Por dentro do III Reich, 2v.), concorda que a formação autoritária da família alemã muito contribuiu para que ele e seus contemporâneos rapidamente aceitassem a tirania do Führer e o seguissem docilmente.

Disseminou-se então, no mundo do após-guerra, a convicção de que para evitar uma nova ascensão fascista era também preciso alterar substancialmente a relação pai-filho e mestre-aluno, governante-governado. Cada chefe de família ficou temeroso de criar dentro da sua casa um pequeno Hitler e cada professor amedrontou-se em gerar um mini-Mussolini. Menos ainda um cordeiro obediente disposto a se deixar matar por um aventureiro fanático e gritão. O mesmo deu-se com os aparatos do Estado que deram para encolher.

Por isto, a moderna educação e seu aparato pedagógico trataram de eliminar tudo aquilo que pudesse lembrar a rigidez belicosa daqueles tempos, tal como o uniforme escolar, a calça frisada, a disciplina e as punições mais severas. Atenuou-se a relação hierárquica até então existente e desfez-se do cabelo engomado e a traje padrão. Desde então, mergulhou-se fundo na licença, na liberalidade e no pansexualismo atual. Consolemo-nos, pois, é preferível conviver com essa turba grunge de hoje do com as hordas nazi-fascistas

Fonte:

http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/noticias/0,,OI5147250-EI16739,00-Fuga+dos+padroes+do+nazismo+influencia+educacao+moderna.html