A luta do povo português contra o fascismo e a guerra colonial tornou-se um poderoso movimento de massas, abrangendo praticamente todas as classes e setores da vida nacional.
Nos últimos meses de 1973 e nos primeiros de 1974, antecedendo imediatamente o 25 de Abril, o movimento popular de massas desenvolvia-se impetuosamente em todas as frentes:
A primeira grande frente de luta popular contra a ditadura foi o movimento operário. A classe operária intervinha como vanguarda em toda a luta antifascista, em todo o processo da luta popular.
A repressão caía violentamente sobre o movimento operário. Nunca, porém, o fascismo conseguiu liquidar e abafar a organização e a luta dos trabalhadores.
Grandes greves dos operários industriais, dos transportes, dos empregados, dos pescadores, dos trabalhadores agrícolas, exerceram profunda influência no processo revolucionário.
Antes de regressarem a Santarém, os homens da EPC realizam ainda algumas missões no meio de aplausos populares
De outubro de 1973 até o 25 de abril, além de muitas centenas de pequenas lutas nas empresas, mais de cem mil trabalhadores agrícolas do Alentejo e Ribatejo participaram numa vaga de greves que vibrou golpes repetidos, incessantes e vigorosos no abalado edifício do regime fascista.
A segunda frente de luta popular contra a ditadura foi o movimento democrático. As formas de organização e métodos de ação de massas do movimento democrático português são um exemplo brilhante da associação do trabalho legal e do trabalho clandestino nas condições duma ditadura fascista.
Mantendo sempre uma grande firmeza política e de objetivos, o movimento democrático nas mais pequenas condicionais possibilidades de atuação legal e semilegal, soube encontrar formas de organização e de ação que lhe permitiram esclarecer amplos setores e desencadear poderoso movimento de massas.
A terceira grande frente de luta popular contra a ditadura foi o movimento juvenil. A juventude teve um papel de extraordinário destaque na luta contra a ditadura fascista. Os jovens (trabalhadores e estudantes) estiveram sempre nas primeiras linhas em todas as frentes da luta política, econômica e cultural, na agitação clandestina, nas manifestações de rua, nas atividades de maior perigo.
Os revoltosos contêm como podem a multidão e deixam os jornalistas seguir de perto os acontecimentos
A quarta grande frente da luta popular foi a das classes e camadas médias. Os intelectuais, ao longo de quase meio século de opressão, constituíram sempre uma força de oposição, participando ativamente no movimento democrático e desenvolvendo toda uma ação cultural e de criação literária e artística contra o fascismo.
Nos últimos tempos da ditadura, as ações dos intelectuais haviam-se intensificado. A criação da Associação Portuguesa de Escritores e os grandes movimentos dos professores do ensino secundário e dos médicos, com grandes assembléias, concentrações e greves, mostraram bem a oposição tenaz ao regime.
Em todos os setores da vida social, o povo português passara à ofensiva contra a exploração e a opressão fascistas, pelas liberdades e pela solução dos seus problemas vitais.
Na situação portuguesa pesava de forma crescente a guerra colonial com todas as suas conseqüências. Os efeitos da guerra sentiam-se na vida econômica, social e política e na situação das próprias forças armadas. A situação foi-se agravando ainda mais na medida em que os movimentos de libertação da Guiné - Bissau, Moçambique e Angola alcançaram sérios êxitos na luta armada.
Por isso, nos últimos tempos do fascismo, o movimento contra a guerra colonial e as lutas nas forças armadas tornam-se um dos centros de polarização de descontentamento e de energias e adquirem uma importância cada vez maior.
Os revoltosos contêm como podem a multidão e deixam os jornalistas seguir de perto os acontecimentos
É a quinta grande frente da luta popular contra a ditadura que acabará por ser determinante para lhe pôr fim.
A luta contra a guerra colonial e pelo reconhecimento do direito dos povos submetidos ao colonialismo português à completa e imediata independência, tornou-se nos últimos anos do fascismo um vigoroso movimento nacional.
Das imagens que o 25 de abril produziu nenhuma é tão marcante quanto a do soldado e povo sempre lado a lado
Adquirindo crescente amplitude e tomando várias formas, essa luta travava-se em três frentes principais: a ação política, a resistência nas forças armadas e ações contra o aparelho militar colonialista.
Correspondendo à ação política, multiplicam-se as ações de resistência no seio das próprias forças armadas.
Nunca numa guerra colonial o número de desertores e refratários atingiu uma cifra comparável à registrada em Portugal. Segundo alguns cálculos, o número de refratários chegou a atingir quase um terço dos mancebos em idade militar. Na grande corrente emigratória um forte contingente era de jovens fugindo ao serviço militar e à guerra.
A par das deserções, as manifestações de resistência nas forças armadas adquiriram um caráter cada vez mais freqüente e maciço.
É nesta situação e neste ambiente que toma corpo o "movimento dos capitães" (Movimento da Forças Armadas - MFA).
O "movimento dos capitães" traduz, nas forças armadas, a tomada de consciência do povo português da necessidade do fim da guerra e da pronta liquidação do fascismo. As forças armadas, que haviam sido durante quase meio século o principal apoio do fascismo, tornam-se dia a dia o apoio cada vez mais condicional e incerto. Ganhas para a causa da revolução democrática, acabaram por vibrar o golpe mortal na ditadura.
Luís (no passeio, de joelhos no chão) e um companheiro de brincadeiras, ambos moradores de um bairro pobre de Lisboa falam com o soldado Amilcar
O agravamento das contradições e dificuldades do regime e o aprofundamento da crise interna, por um lado, e o vigoroso desenvolvimento da luta popular contra a ditadura e contra a guerra, por outro, indicavam que se aproximava a passos rápidos e seguros uma situação revolucionária.
E ao levantamento militar sucedeu-se imediatamente o levantamento popular. No próprio dia 25, as massas populares apareceram poderosas, rodeando, acarinhando, apoiando e estimulando os militares, tomando elas próprias iniciativas de ação, fundindo o povo e as forças armadas numa mesma aspiração e num mesmo combate.
Depois de quase meio século de fascismo iniciava-se a Revolução portuguesa que iria causar a surpresa e a admiração da Europa e do mundo.
Em 25 de Abril de 1974 terminava, derrotada pelo Movimento das Forças Armadas - MFA e pelo povo a longa ditadura fascista de 48 anos que Salazar impôs ao povo português, ditadura tão estruturada, tão repressiva, que sobreviveu à morte do ditador ocorrida em 1970.
Foi talvez a mais linda festa política dos oito séculos da história de Portugal: a multidão, milhares de pessoas em estado de júbilo, dançava, cantava, chorava, sorria. E se abraçava, e abraçava os jovens soldados sem medo dos fuzis. E ocorreu então um caso extraordinário, até hoje sem explicação. Não se sabe como nem porquê, havia cravos vermelhos nas mãos do povo. Homens, mulheres e crianças de cravos nas mãos. Milhares de cravos. E o povo enfeitou de cravos os fuzis militares. E do povo a revolução ganhou nome: Revolução dos Cravos!
Fonte: cc25a.utopia.com.br