12.8.19

Povo bantu Nação de candomblé angola

A vinda do povo bantu e como se prevaleceu a cultura dos nkise (naçao angola de candomblé)

Povo Bantu Texto retirado do Livro “Sincretismos Religiosos Brasileiros” de Renato Henrique Guimarães Dias.
A partir do século XV inicia-se uma das maiores migrações forçadas da história da humanidade, na qual milhões de africanos que haviam sido capturados em seus territórios ancestrais, na maioria das vezes por outros africanos de tribos rivais, foram levados para o litoral e vendidos como escravos para os europeus e brasileiros em portos específicos na África e trazidos nessas condições para o Brasil. Durante o final do século XVI e final do século XVIII, a principal etnia trazida para o Brasil foi a dos bantos, povo que durante o período de colonial brasileiro ocupava a maior parte do continente africano situado ao sul do Equador, na região onde hoje estão localizados o Congo, a República Democrática do Congo, Angola e Moçambique, entre outros.
Apesar de os bantos dominarem praticamente toda a África Subsaariana nos séculos citados acima, pesquisas arqueológicas recentes indicam que a provável área de origem ancestral desta etnia é o sudeste da atual Nigéria, ao longo do vale do Cross River, e que por volta de 2.000 a.C. eles teriam iniciado uma grande migração para o sul, através da qual difundiram suas tradições.

Provável área de origem e rotas de migração da etnia banto. Parece que a grande maioria dos bantos que foram trazidos para o Brasil cultuavam um deus supremo chamado de Nzambi , Nzambi Mpungu ou Anganga Nzambi e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Inquices.
Entre as línguas faladas por esta etnia estão o quicongo (Congos e Norte de Angola), o quimbundo (centro de Angola) e o umbundo (sul de Angola). Durante o período colonial brasileiro, os africanos vendidos no litoral eram classificados em nações, as quais estavam relacionadas ao porto ou região em que era realizado o comércio de escravos com os europeus.






Assim, com base nesse sistema, a etnia banto foi dividida em “nações”, sendo algumas delas:
Angola, para os embarcados em Luanda.
Benguela, para os embarcados em Benguela.
Cabinda, para os embarcados em Cabinda.
Congo, para os embarcados em Loango e Malemba.e Moçambique,
Maputo para os embarcados em Moçambique .
Assim que chegavam ao Brasil, os africanos escravizados eram logo submetidos a aculturação portuguesa, traduzida principalmente na catequese católica: eram batizados e recebiam um nome “cristão”, pelo qual seriam conhecidos a partir daquele momento. OUTROS SINCRETISMOS SURGIDOS NO PERÍODO COLONIAL CALUNDU Assim como os tupis, os bantos também tentaram preservar suas tradições religiosas no Brasil, adaptando suas crenças às condições de escravidão a que estavam submetidos. A principal forma encontrada por eles (a semelhança do que foi feito pelos tupis décadas antes) foi associar os santos católicos aos seus deuses, no caso os Inquices, de acordo com as características que ambos (santos e Inquices) possuíam em comum.
Foi a partir deste sincretismo, ocorrido no interior das senzalas a partir do final do século XVI, que nasceu a primeira manifestação sincrética da religiosidade banto-católica no Brasil: o Calundu. Seu nome foi originado da palavra banto calundu, que até o século XVIII foi utilizada para designar genericamente a manifestação de práticas africanas relacionadas a danças e cantos coletivos, acompanhadas por instrumentos de percussão, nas quais ocorria a invocação e incorporação de espíritos e a adivinhação e curas por meio de rituais de magia.
Como manifestação sincrética banto-católica, o Calundu era organizado basicamente em torno de seu chefe de culto e englobava uma grande variedade de cerimônias que associavam elementos bantos (atabaques, transe mediúnico, banhos de ervas, trajes rituais, sacrifícios de animais), católicos (cruzes, crucifixos, hóstias, anjos e santos) e crenças espiritualistas européias (adivinhação por espelhos, espíritos que transmitem mensagens através de objetos).
Por causa disso é possível afirmar que cada unidade de culto do Calundu era único, diferindo dos demais por um ou mais elementos ritualísticos.
O Calundu foi uma manifestação sincrética nacional, existindo relatos dessa prática na Bahia, em Pernambuco e em Minas Gerais, inclusive em várias cidades coloniais da região mineradora, tais como Arraial de São Sebastião, Itapecerica, Campanha e Mariana. Um dos relatos escritos mais antigos sobre o Calundu é o Compêndio narrativo do peregrino da América, obra de Nuno Marques Pereira publicada em 1728, no qual esse viajante português ao indagar o dono da fazenda onde encontrava- se hospedado o que seriam calundus, obteve a seguinte resposta: “São uns folguedos ou adivinhações que dizem estes pretos que costumam fazer nas suas terras, e quando se acham juntos também usam deles cá, para saberem várias cousas, como as doenças de que sofrem, e para adivinharem algumas cousas perdidas, e também para terem ventura em suas caçadas e lavouras, e para outras cousas.” Pelo texto dos parágrafos acima, chama atenção a aparente tolerância ao Calundu manifestada pelos proprietários de escravo. Muito provavelmente essa atitude devia-se a crença deles de que com essa prática os africanos manteriam vivas, dentro da senzala, as rivalidades tribais existentes na África, o que dificultaria a formação de rebeliões ou fugas. É importante ressaltar que, apesar dessa tolerância, os aspectos ritualísticos do Calundu ligados à magia e à incorporação de espíritos eram freqüentemente combatidos por serem consideradas coisas malignas, surgindo daí a expressão magia negra para designar a magia voltada para o mal, que na mentalidade da época era “coisa de negro”.





CASAS DE CANDOMBLÉ


Ao longo dos séculos XVII e XVIII, cresce o número de cidades em todo o país, particularmente na região mineradora, em parte devido as características dessa atividade econômica. Devido a esse fato, surge uma situação completamente nova em todo o território colonial: o aumento do número de negros e mulatos alforriados (livres) e de escravos circulando com relativa liberdade nessas áreas urbanas. É a partir das residências desses negros e mulatos livres, localizadas em sua grande maioria em casebres e cortiços, que as manifestações religiosas de origem africana encontraram condições mínimas para se desenvolverem, locais onde os afro-descendentes poderiam realizar suas festas com certa frequência e construírem e preservarem os altares com os recipientes consagrados aos seus deuses. E são nessas residências que surge, em fins do século XVIII e início do século XIX, uma nova manifestação sincrética brasileira, que ficou conhecida na Bahia como Casas de Candomblé. O Candomblé surge com base no fortalecimento das tradições religiosas bantos preservadas no sincretismo do Calundu e a assimilação de algumas poucas práticas indígenas que sobreviviam nos quilombos e nas aldeias indígenas dos arredores deles. É interessante notar a importante relação de ajuda mútua que existia entre as Casas de Candomblé e os quilombos que se localizavam mais próximo das zonas urbanas. Devido a servirem como moradia e também como local de culto, as Casas de Candomblé se estruturam com base nas famílias-de-santo, que estabeleceu entre seus adeptos uma espécie de parentesco religioso, característica que foi um importante legado a outras religiões sincréticas que se originaram a partir dele. Assim como outras manifestações sincréticas, nestas não existia uma doutrina formal de culto, um padrão. Além dos fundamentos básicos dessas manifestações, que são comuns a todos os locais de culto, existem pequenas variações ritualísticas nesses lugares, as quais estão intrinsecamente relacionados aos seus dirigentes, o que fez de cada um deles único em seu formato ritualístico.




OS SUDANESES
A partir da década de 1840 intensifica-se o tráfico de escravos da etnia sudanesa através da Rota da Mina, que tinha como origem os portos africanos de Lagos, Calabar e, principalmente, São Jorge da Mina, superando no período todas as demais em termos de escravos trazidos ao Brasil. A etnia sudanesa era originada principalmente da África Ocidental, na região onde hoje estão localizados Nigéria, Benin, Togo e Gana e é formada pelos povos iorubá, ewe, fon e mahin, entre outros.
À semelhança do que ocorreu com a etnia banto, muitos escravos da etnia sudanesa ficaram conhecidos como mina no Brasil, em virtude do porto em que embarcavam na África: São Jorge da Mina. Apesar de inicialmente muitos terem ficados conhecidos apenas como mina, ao longo do século XIX os escravos da etnia sudanesa passaram a ser conhecidos sobre outra nomenclatura, devido a rivalidade e a diferença cultural existente entre os povos iorubá e ewe/fon, que foi transportada da África para o Brasil junto com eles. Dessa forma, o povo iorubá passou a ser conhecido no Brasil como mina-nagô ou nagô, enquanto os povos ewe, fon e mahin ficaram conhecidos como mina-jeje ou jeje, termo este que advém do iorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro e era usada de forma pejorativa pelos iorubás para designar as pessoas que habitavam a leste de seu território. Os nagôs que foram trazidos para o Brasil tinham como idioma a língua iorubá e cultuavam um deus supremo chamado de Olorun ou Olodumaré e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Orixás. Apesar de na África existirem cerca de 400 Orixás, a grande maioria deles era cultuada em apenas uma cidade, aldeia ou tribo, sendo poucos os que possuíam um culto em várias localidades. Os jejes que foram trazidos para o Brasil cultuavam uma divindade suprema chamada de Mawu e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Voduns. Apesar de na África existirem cerca de 450 Voduns, e a exemplo do que ocorreu com os Orixás, a grande maioria deles era cultuada em apenas uma cidade, aldeia ou tribo, sendo poucos os que possuíam um culto em várias localidades. Assim como ocorreu com os bantos, os escravos sudaneses trouxeram para o Brasil parte de sua cultura e de suas crenças religiosas, que foram pouco a pouco levadas para dentro de algumas manifestações sincréticas aqui existente, devido aos negros alforriados e aos escravos fugidos que buscavam refúgio nos quilombos, levando ao aparecimento de diversas religiões sincréticas em solo brasileiro no século XIX, muitas delas com base nas Casas de Candomblé.




OS SINCRETISMOS SURGIDOS NA BAHIA DURANTE O PERÍODO IMPERIAL CANDOMBLÉ DE NAÇÃO




Com a intensificação da adição de elementos sudaneses às Casas de Candomblé no séc. XIX, estas acabaram por dar origem a uma nova religião sincrética brasileira conhecida como Candomblé de Nação(58), a qual encerra dentro de si três modelos de culto relacionados as principais etnias e povos trazidos como escravos para o Brasil: a banto, a sudanesa nagô e a sudanesa jeje. O modelo de culto banto é o mais difundido em todo o Brasil, podendo ser encontrado principalmente nos estados da Bahia, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Pernambuco, de Minhas Gerais, de Goiás e do Rio Grande do Sul. Ele é formado pelas nações Angola, Congo e Muxicongo, cuja principal diferença reside na língua de origem banto utilizada nos rituais. Apesar dessa diferença na língua, existe uma grande semelhança entre os rituais, o que faz com que atualmente alguns pesquisadores considerem todas as nações fundidas na Nação Angola. O modelo de culto sudanês nagô é formado pelas nações Ketu (ou Queto), Efã e Ijexá. O Candomblé de Nação Ketu é praticado em quase todo o Brasil, principalmente na Bahia, sendo o que apresenta atualmente a maior divulgação nacional entre todos os Candomblés de Nação, devido ao grande número de escritores e cantores baianos que passaram a divulgá-lo. O Candomblé de Nação Efã é praticado principalmente nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. O Candomblé de Nação Ijexá é praticado principalmente na Bahia.(59) O modelo de culto sudanês jeje é formado pelas nações Jeje-Fon e Jeje-Mahin. Tanto o Candomblé de Nação Jeje-Fon quanto o Candomblé de Nação Jeje-Mahin são praticados principalmente na Bahia, podendo ser encontrados também no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e em São Paulo.(60) Contando com a relativa liberdade religiosa dos séculos XX e XXI, os adeptos dos Candomblés de Nação procuram reproduzir em solo brasileiro a forma como suas divindades eram cultuadas por seus ancestrais africanos, o que levou alguns deles a realizarem pesquisas in loco em aldeias e templos na África para aprenderem os rituais que foram perdidos nas brumas do tempo da escravidão. Os Candomblés de Nação Angola, Congo e Muxicongo cultuam um deus supremo chamado Nzambi ou Zambi (também conhecido como Nzambi Mpungu ou Zambiapongo) e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Inquices. Os atabaques são tocados com as mãos e as cantigas possuem muitos termos em português. Os fundamentos dos Candomblés de Nação do modelo de culto banto, muitos dos quais incluem ou são baseados nas histórias, lendas e mitos acerca dos Inquices, são passados oralmente pelos sacerdotes da religião, chamados de Tata Nkisi (masculino) ou Mametu Nkisi (feminino). Para se atingir o grau de sacerdote na nação Angola é necessário passar por sete rituais, os quatro últimos ligados ao tempo de iniciação na religião (1 ano, 3 anos, 5 anos e 7 anos), nos quais são ensinadas as tradições religiosas, as danças, as cantigas, o preparo das comidas sagradas, a cuidar de espaços sagrados e os votos de segredo e obediência. Completada esta etapa, o novo sacerdote deve renovar as obrigações maiores de 7 em 7 anos para conservar-se forte.

Além do jogo de búzios, os Candomblés de Nação Angola, Congo e Muxicongo utilizam um outro sistema divinatório chamado de Ngombo, cujo responsável pela prática é conhecido como Kambuna.




















O termo nação associado ao nome da religião foi adotado pelos seus adeptos com o objetivo de distinguir a forma de culto das divindades, associado a etnia africana da qual descenderiam.


. O Princípio do Candomblé no Brasil



- O Povo Bantu Os Bantu, no Brasil, têm um papel preponderante na formação da nacionalidade brasileira, e, nesse sentido, muitos estudos têm sido elaborados, tocantes, principalmente, à linguagem, às contribuições linguísticas ao português brasileiro, sobretudo as advindas do Kimbundo e do Kikongo. Quanto aos estudos sobre as contribuições na área da cultura popular, caso das congadas, dos reisados e da capoeira de Angola, observa-se que, além das pesquisas já concluídas, há vários estudiosos empenhados em desenvolvê-las. No entanto, na área das religiões de matriz bantu no Brasil, existe uma enorme carência de estudos, pois muito pouco ou quase nada tem sido feito desde que nossos pioneiros na pesquisa do africano e nas suas manifestações simbólicas afirmaram não encontrar elementos de peso da cultura bantu no Brasil. Desde tal acontecimento, a atenção dos estudiosos passou a ser voltada para os sudaneses, criando, com isso, a temática do nagocentrismo que muito prejuízo tem causado, já que reforça a idéia lançada por Nina Rodrigues e acalentada por Edison Carneiro e Arthur Ramos de que os bantu eram possuidores de uma mítica paupérrima, com ausência total de mitos cosmogônicos e fundadores, razão por que teriam se apoderado da mítica e dos rituais nagô. Em decorrência da falta de estudos mais aprofundados sobre o tema, a tarefa de compreender a mítica bantu no Brasil, infelizmente, tornou-se quase impossível. Outra conseqüência, ainda que indireta, dessa atitude de nossos primeiros pesquisadores, é o fato de que as religiões de matriz bantu, principalmente a Umbanda e o Candomblé Congo/Angola, têm assimilado de forma acentuada os elementos de matriz yorubana, uma vez que estes foram legitimados pela academia e disseminados pela mídia. A Umbanda, fenômeno verificado nas regiões sul e sudeste do Brasil, assim como uma sua variante, o Omolocô, sincretizou-se, violentamente, a partir dos anos 60, na intenção de se tornar conhecida e legitimada pelo grande público, pelos orixás nagôs e pela prática litúrgica dos descendentes do povo yorubano.