Por Lázaro Curvêlo Chaves
São ideologias que nortearam movimentos diversos que, com o passar das décadas, tiveram seus conceitos tão torturados pela propaganda que chegam a ser utilizados com frequência em sentido oposto daquele que de fato significam ou significaram.
Sem a menor pretensão de esgotar em breves observações temáticas tão enciclopedicamente vastas, apresenta-se aqui, numa primeira aproximação, uma tentativa de esclarecimento acerca do significado original, histórico daqueles termos.
Imagine um grupo belicoso de nativos de algum lugar do Planeta Terra que houvesse travado contato com o cristianismo de maneira muito breve e superficial, precisamente em dias particularmente ativos da Santa Inquisição e, sem tempo ou paciência para se debruçar no significado profundo do que ali se fazia, ao voltarem para a sua aldeia se decidem a “adotar algumas práticas cristãs” passando a torturar e a seguir incinerar seus adversários vivos em fogueiras com o cuidado de criar réplicas de cruzes e mesmo de vestimentas sacerdotais típicas do cristianismo. Um teólogo, ou mesmo um jovem recém-formado em escolas de catecismo teria grande dificuldade em reconhecer um “cristianismo” sem Moisés, Iawhe, Jesus ou os Apóstolos, sem 10 Mandamentos, sem milagres, livros sagrados ou santos: somente a Santa Inquisição a que são acrescentadas ainda mais formas de tortura que eventualmente aquele grupo cultural humano já viesse praticando. Avancemos: décadas depois, um dos nativos, quiçá sequioso por aferir seu cristianismo, comparece a um debate sobre o tema, durante o qual se critica vigorosamente a Santa Inquisição e somente consegue acompanhar a parte em que são descritas em detalhes algumas das mais notórias torturas e práticas da Santa Inquisição, dando-se por satisfeito e voltando para sua aldeia com um reforço à forma de “cristianismo” que pratica...
Quem se aproxime do marxismo somente visualizando o autoritarismo de Stalin e suas atrocidades, sem oportunidade de verificar de que ideologia aquele tipo de encaminhamento se originou apresenta uma forma similar de simplificação, tendendo a considerar uma deformação surgida no seio do marxismo como se fosse sua última ou única forma de expressão. O fato de nativos de outras partes do planeta haverem adotado, de fato, precisamente aquelas formas autoritárias como expressão do marxismo confunde ainda mais. Há ainda consideráveis argumentos apresentando a tese de que tanto o cristianismo quanto o marxismo têm um potencial autoritário marcante, mas não se buscará aqui navegar naquelas águas. Aqui se buscará, num recorte histórico tão vasto e profundo quanto o permite um ensaio curto, esboçar o significado do marxismo, assim como das ideologias que se criaram precisamente para combatê-lo.
Lutas Históricas Contra a Injustiça
Com o desenvolvimento da mecanização nas fábricas entre os séculos XVIII e XIX na Europa, berço e centro irradiador cultural e tecnológico da nossa civilização, a produção artesanal de bens de consumo como alimentos e móveis domésticos foi-se extinguindo. Nas grandes fábricas e fazendas cada vez mais mecanizadas a produção foi-se ampliando e mesmo se tornando menos onerosa; a ponto de os pequenos camponeses e artesãos se virem na contingência de abandonar a propriedade privada de seus restritos meios de produção, passando a trabalhar para aquelas grandes fazendas e unidades fabris num processo consideravelmente lento e doloroso como ocorre sempre que se muda a forma como os seres humanos encaminham suas experiências existenciais.
A mão de obra assim conquistada pelos donos das grandes fábricas e fazendas ainda era insuficiente para dar conta de toda a produtividade por eles almejada, tornando necessário o afluxo de mais trabalhadores e, naquele contexto, buscou-se incorporar também o trabalho de mulheres e crianças. Desde os primórdios da nossa civilização, aos homens cabia trabalhar e prover o necessário à família, as mulheres estavam restritas a atividades domésticas como a criação de seus filhos, manutenção da limpeza e asseio da casa e vestimentas além da elaboração dos alimentos. Quanto às crianças, eram consideradas em processo de formação, portanto ficavam fora dos processos produtivos assim como de vários outros processos sociais; na Idade Média, crianças de famílias abastadas recebiam o ensino através da tutela de professores itinerantes contratados por seus pais, enquanto as crianças de classes sociais subalternas eram orientadas nas artes e ofícios que seus pais dominavam, deles herdando seus conhecimentos específicos.
Cabem, sempre, exceções, lembrando que as exceções são muito úteis para confirmar a regra, como o caso das mulheres na cidade-estado de Esparta, que gozavam de maior liberdade que as mulheres de outras comunidades da Antiguidade Clássica, o mesmo acontecendo, mais como exceção do que como regra, em outros momentos da história europeia.
Uma onda ideológica voltada à “libertação da mulher” começou a tomar conta da Europa nos primórdios da industrialização, pois sua força de trabalho era necessária nas fábricas. Aos poucos, as mulheres foram incorporadas aos processos fabris e, em seus primórdios, mesmo crianças a partir de 6 anos de idade já passavam a participar da produção, conforme análise detalhada feita, entre outros, por Friedrich Engels, por exemplo, na principal obra estatística para compreender aquele momento histórico “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra”. Trabalhava-se da madrugada até alta noite, durante todos os dias da semana, e os salários eram calculados em termos do suficiente para que o trabalhador se mantivesse alimentado e pudesse se reproduzir gerando mais mãos para as fábricas em crescimento constante. Se alguém se machucasse gravemente, era simplesmente afastado da produção e se tornava inteiramente dependente da caridade para sobreviver pelo resto de seus dias.
De forma um tanto ambígua, a Igreja tentou restabelecer o “dia do Senhor” no qual tradicionalmente os trabalhadores exerciam atividades laborais para a Igreja, mas somente conseguiu, no início, momentos de prece, dentro das fábricas, aos domingos.
Alguns donos de fábricas e nobres, sensibilizados para com a situação dos trabalhadores, propuseram formas distintas de encaminhamento da produção e se tornaram fundadores de uma nova ciência, que hoje chamamos de Sociologia. Dentre estes, destaco Claude-Henri de Rouvroy, Conde de Saint-Simon (1760 — 1825), filósofo e economista que primeiro cunhou a expressão “socialismo”, de maneira idealista buscando formas de se conquistar justiça social; além deste, François Marie Charles Fourier (1772 – 1837), filósofo e crítico do capitalismo, propôs a criação de cooperativas, também visando conquistar justiça social; da teoria cooperativista de Fourier chegou-se aos sindicatos de trabalhadores, sempre criticados e combatidos – frequentemente com o uso da violência – por parte daqueles que, concentrando as riquezas, não partilhavam daqueles ideais de justiça.
Com o passar dos anos, a busca de justiça social, propugnada pelos socialistas – muitos dos quais também membros do clero – conquistou, a alto preço em lutas, greves e sacrifícios, pequenas conquistas como o descanso semanal remunerado, a limitação nas horas de trabalho diárias e uma liberdade para a mulher que incluía ainda a sua participação em processos decisórios.
Em “Tudo o que é Sólido Desmancha no Ar” o filósofo estadunidense Marshall Berman analisa as transformações da modernidade a partir, entre outras, da obra “Fausto”, de Goethe. Brevemente, Fausto, à meia-idade, pensa em cometer suicídio quando ouve o sino de uma igreja próxima e sente o cheiro de sabonete das pessoas que para ela se dirigiam como uma recordação infantil de um tempo feliz, arroja à lareira o frasco de veneno que estava prestes a tomar, pensando: “como esses sons e odores me chamam de volta à vida...” Alquimista, conjura Mefistófeles e assina com ele um pacto, Mefisto o servirá na Terra e ele, ao morrer passará a servir a Mefisto no Hades. Inicialmente pede juventude e vigor, o que lhe é concedido e Fausto deseja Gretchen, bela e jovem moça que acaba seduzida pelas artimanhas de um Fausto rejuvenescido em aliança com o poderoso Mefisto; Gretchen engravida e Fausto se recorda das condições de seu contrato com Mefisto: “No momento em que disseres para, ao instante que passa, ali tomarei sua alma”. Fausto não pode se acomodar a um casamento ou a qualquer coisa, tem de permanecer mergulhado na vertigem da modernidade. Abandona Gretchen, que morre de desgosto – infelizmente, aponta Berman, a maioria dos leitores abandona o texto nessa altura também L – Fausto é levado ao alto de uma montanha e, com sentidos ampliados, vê o carvão, o ferro e o ouro no interior da pedra; vê estradas vazias que imagina cortadas por ferrovias construídas com os metais retirados das montanhas, vê camponeses expulsos de suas terras e os vislumbra a todos trabalhando para ele, etc. O empreendedor fáustico do tempo burguês não pode parar; como se uma maldição pairasse sobre ele, precisa de cada vez mais: mais terras, mais gente a trabalhar para ele, mais riquezas, maior poder sobre coisas e pessoas e, acima de tudo, jamais parar. Muito citada ainda a metáfora do tubarão: diferentemente de outros peixes, o tubarão não tem guelras móveis, as suas são presas ao corpo, assim, para fazer passar a água do mar, dela retirando o oxigênio de que precisa, o tubarão precisa estar sempre em movimento. Não dorme. Nunca para. “Se o tubarão parar de nadar ele morre” e assim, shark, tubarão em Inglês, é o nome mais aplicado ao empreendedor capitalista voraz.
Somente para concluir esta parte, cabe mencionar a partilha dos continentes americano, africano e asiático entre as grandes potências, pois seus reflexos ainda se fazem sentir por toda a parte. Depois de duas guerras mundiais vem a globalização e o alinhamento ideológico das colônias à nova metrópole.
A produção fabril cresce abundantemente na Europa durante os primórdios da industrialização e chega a um esgotamento tanto da matéria prima empregada na produção quanto na capacidade de consumo dos bens produzidos. Os empreendedores fáusticos da Europa encontram uma solução para seus problemas: “levar a civilização à África e à Ásia”. Os EUA, já se industrializando também, protestam “A América (todo o continente) para os Americanos (dos EUA)”. Começa o que entrou para a história como corrida neocolonialista, com a partilha da África e da Ásia entre as potências europeias. “Levar a civilização” era o eufemismo para a busca de novas fontes de matéria prima (tomadas manu militari aos povos que moravam onde estas ficavam) e força de trabalho barata para as fábricas que passaram a se instalar nos países incorporados às potências europeias – o Continente Americano começa ali a ficar e segue até os dias atuais sob o controle da grande potência do Norte.
Últimos a se industrializar, mas também sequiosos pelas novas fontes de matéria prima e mão de obra barata, os Impérios do Centro (Alemanha e Império Austro-Húngaro) entram em confronto bélico contra as potências europeias que se anteciparam na corrida neocolonialista. O poeta francês Romain Rolland, com precisão, resumiu um dos maiores conflitos da história europeia, a I Guerra Mundial, como “uma guerra para tomar colônias tomadas de seus próprios donos”.
Socialismo e Comunismo
A luta por melhores condições de trabalho na Europa e na América do Norte norteou a formação de correntes ideológicas novas e distintas. Nos sindicatos, trabalhadores almejavam ampliar sua participação nos volumosos lucros das empresas em que trabalhavam, não estavam satisfeitos vivendo miseravelmente na condição que Leonardo Da Vinci chamava de “enchedores de latrinas, condutos de comida que, após sua passagem pelo mundo nada mais fica senão latrina cheias”.
A criação de bancos e a formação de trustes, cartéis e holdings evidenciou o sofisticado grau de organização dos proprietários dos grandes meios de produção. A única resposta possível constava em organizar também a classe operária. Era preciso ir além do que gente idealista e bem intencionada como Saint-Simon e Fourier pensou ou projetou.
Desde os primórdios da civilização ocidental, um grande número de pensadores ao longo de todas as eras se debruçou sobre a questão da melhor sociedade, da sociedade ideal. Utopia, título de uma Obra publicada em 1516 por Thomas More, significa “lugar que não existe”. Do grego u = não e topos = lugar. Ressalte-se que não significa “lugar impossível de existir”. Enquanto construção ou projeto humano, a Utopia foi sonhada, imaginada e projetada por Autores distintos como Platão (“A República” – circa 380 Antes da Nossa Era), Tomaso Campanella (“A Cidade do Sol” circa 1630 da Nossa Era), o já citado Thomas More (“Utopia” – 1516) ou mesmo mais recentemente o behaviorista Burrhus Frederic (B. F.) Skinner (“Walden II – Uma Sociedade do Futuro“ – 1948). Com todas as dificuldades implícitas na própria concepção de se fazer uma ciência do social, Karl Marx e Friedrich Engels se debruçaram longamente sobre esta questão trazendo à reflexão os mais recentes avanços e descobertas das ciências naturais, da filosofia clássica alemã, da economia política inglesa e do socialismo francês. Concluindo que cabe ao filósofo não mais limitar-se a interpretar o mundo de maneiras diversas – frequentemente mesmo sem aferir a realidade de suas teses diante do mundo concreto – Karl Marx propõe que o filósofo saia de sua torre de marfim e vá às ruas, que vá enfim ao povo e que acompanhe o povo na realização da filosofia.
Testando sempre suas teses frente a outros filósofos, economistas e antropólogos de seu tempo, Marx argumentava com precisão em defesa dos trabalhadores. Vejamos alguns exemplos:
. Os empresários poderiam dizer algo como “mas sou eu quem entra com o dinheiro e corre todos os riscos”, a estes Marx dedica um capítulo inteiro de sua Obra mais comentada e menos lida, O Capital, o “processo de acumulação primitiva do capital”. Em síntese, o acúmulo de capital é um misto de expropriações de povos em outros tempos e terras, extração do fruto de uma quantidade extra de trabalho que não é paga a quem o produz e assim por diante. Contesta Proudhon, para quem “A Propriedade é o Roubo”, não por discordar de suas conclusões, mas apontando para a forma ingênua, bem intencionada, contudo, através da qual o Anarquista Francês chegava àquelas conclusões.
. Seus adversários poderiam ainda argumentar que “os trabalhadores tenderiam a uma preguiça generalizada e a produção seria paralisada caso todos os bens fossem socializados” ao que Marx retrucava simplesmente ser este um argumento vazio: “se fosse verdade, a sociedade capitalista estaria paralisada há muito tempo pois nela, os que mais trabalham, menos bens possuem e os que mais bens possuem não trabalham”.
Adam Smith em “A Riqueza das Nações” contesta os fisiocratas da Idade Média e os mercantilistas da Era das Grandes Navegações. Para os primeiros era a terra a fonte primária da riqueza das nações; aquela teoria foi substituída pela tese de que as trocas comerciais vantajosas seriam o principal fruto da riqueza das nações. Smith, com precisão, argumenta que a terra não produz sem que nela se trabalhe e mesmo o comércio, para se realizar, depende da atuação humana, concluindo que a principal fonte da riqueza das nações está no Trabalho Humano. Marx dá um passo adiante e constata o que hoje é consenso: o fruto da riqueza das nações é o trabalho humano; contudo, aquela riqueza é apropriada de maneira desigual. Desenvolve o importante conceito de mais-valia que cabe conferir em detalhes em “O Capital”. Apresentamos a seguir uma aproximação genérica ao conceito.
Mais-valia: a cada hora trabalhada, o operário gera 100% de valor e, a cada hora, seu patrão paga menos de 10% do valor gerado pelo trabalhador; do restante, descontemos, a cada hora, cerca de 10% em manutenção de equipamento, mais 10% em valor da matéria prima, outros 10% para administração geral e a diferença, em torno de 60% do valor gerado pelo operário a cada hora é expropriado pelo dono em lucros líquidos cada vez mais astronômicos à medida que os outros fatores tendem a ser reduzidos, como o valor dos salários ou mesmo da matéria prima. A sensação vaga de injustiça que norteia os socialistas franceses que o precederam, dirá Marx, advém do fato de o lucro do dono dos meios de produção crescer cada vez mais, enquanto a participação destes lucros por parte de quem os gera se vai tornando cada vez menor.
A injustiça é motivo de protestos nas mais diversas espécies animais de nosso planeta. Estudiosos como Jared Diamond e Frans De Waal detectam este traço em caninos, elefantes, girafas, primatas e mesmo roedores. Há várias experiências em que se busca colocar dois animais da mesma espécie realizando tarefas similares; para cada um se dá uma recompensa diferente e o animal se agita, claramente deixando clara a sua insatisfação para com a injustiça.
Reproduzo abaixo trecho de uma apresentação de Frans De Waal demonstrando, em macacos-prego não treinados, como o sentido de injustiça está enraizado nos primatas desde antes da especiação se diversificar. Dois macacos-prego colocados lado a lado, recebem, pela mesma tarefa (devolver uma pedrinha a uma treinadora) recompensas diferentes. O da esquerda recebe lascas de pepino (satisfatório como recompensa para o macaco-prego, mas não tão saboroso); o da direita, sob o olhar cada vez mais insatisfeito do situado à esquerda, recebe uvas (um acepipe mais saboroso que o companheiro da esquerda percebe pela cor e odor com clareza) como recompensa.
Já no início do século XIX surgiu um “movimento dos quebradores de máquinas”, idealizado pelo britânico Ned Ludd, conhecido ainda como “movimento ludita”. Na França surgiram os sabotadores; literalmente tiravam seus sapatos (sabot em francês) e os metiam entre as engrenagens das máquinas, quebrando-as. Ingenuamente se levantavam contra as máquinas, contra os avanços tecnológicos não vislumbrando neles o potencial de avanço em tempo de lazer que se poderia ter caso se optasse por um encaminhamento Racional e Humanista, justo, em síntese, da produção. Como tradicionalmente ocorre, a classe dominante apodava apelidos infamantes naqueles que assim protestavam e a quebra de uma máquina passou a ser punível com a morte do sabotador. Com o passar dos anos ficou claro que seus inimigos não eram as máquinas, mas os donos das máquinas!
Movida pela sede de justiça, nasceu na Alemanha entre 1846 e 1847 uma organização operária chamada “Liga dos Justos”. Contando com sofrível organização, faltava-lhes ideias norteadoras mais sólidas que o vago clamor contra a injustiça; Marx dirá que “os trabalhadores jamais esperaram pelos intelectuais para se organizar e expressar seu protesto” e sempre vêem o intelectual – que o Húngaro Georg Lukács chamará de “operário das letras” – com compreensível desconfiança. Marx adere ao movimento, aos poucos fica claro aos “justos” que ali estava alguém que partilhava dos mesmos ideais e metas. Marx chega à liderança organizacional e muda o nome da organização para “Partido Comunista”. Com vistas a tornar suas ideias mais acessíveis a um público maior e menos informado acerca da temática filosófica ou social, publica um panfleto em que simplifica as ideias do movimento recém-nascido e o intitula Manifesto do Partido Comunista em 1848, em parceria com Friedrich Engels.
Abro aqui mais um parêntese para ressaltar o quão difícil é aos trabalhadores que se dedicam a atividades fundamentalmente braçais de antes do nascer até depois do por do Sol se conscientizarem de sua própria situação – a consciência de classe, tema que o filósofo húngaro Georg Lukács aprofundará em “História e Consciência de Classe”. Quando os Nazistas invadiram e conquistaram a Hungria, um oficial das SS encarregado de levar Lukács preso exigiu: “Dê-me neste instante qualquer arma que você tenha!”. O professor universitário comunista, consciente do perigosíssimo potencial da única arma que portava, leva a mão cautelosamente ao bolso e, entre lágrimas, entrega sua caneta ao brutamontes nazista...
Desde o início, ciente do potencial igualitário do movimento operário nascente e se organizando cada vez mais, os donos dos meios de produção engenham uma violenta campanha de difamação e propagandas voltadas a confundir a opinião pública. Apesar disso, muito se consegue. Em 1871, quando a Prússia invadiu a França durante o processo de Unificação da Alemanha, os operários de Paris declararam a cidade livre e instalaram o primeiro regime de economia planificada do mundo. Foi uma experiência em grande parte frutuosa, com dificuldades compreensíveis a quem tenta um novo projeto e o ataque furioso dos que perdiam o controle; decretou-se a abolição do trabalho noturno, a igualdade salarial entre os sexos, o cargo de juiz se tornou eletivo, os sindicatos foram legalizados, estabeleceu-se a educação gratuita e várias outros genuínos avanços. Após uma guerra em que a França havia perdido territórios e muitas vidas para os prussianos, o Sr. Louis Adolphe Thiers, chanceler francês conduzido ao poder pelos poderosos de França chama os prussianos para massacrar os parisienses numa vergonha nacional de que a própria França até hoje não se recompôs.
Nas idas e vindas das lutas dos trabalhadores muito se conquistou em termos de melhoria nas condições de trabalho, como o estabelecimento de um valor mínimo para a remuneração, a limitação nas horas de trabalho diárias, descanso semanal e férias remuneradas. No século XX alguns outros direitos foram conquistados como a aposentadoria, pensão a órfãos e viúvas, serviços de educação e saúde públicos, etc. Chega-se ao século XXI com um retrocesso vigoroso nestas áreas: o colapso da experiência soviética (de que trato adiante) traz consigo um cortejo de “liberalizações” para o Capital encurralando mais e mais o ser humano que vive e trabalha.
No contexto da I Guerra Mundial os camponeses, operários e soldados da Rússia, sob a liderança de Vladimir Lênin (“o homem mais influente do século XX” segundo Eric Hobsbawm) e Leon Trotski, tomam o poder naquele país e celebram uma paz em separado com os beligerantes. Dedicam-se a “arrumar a casa”. Toda a atividade bancária é nacionalizada, efetiva-se a Reforma Agrária mais completa de toda a história humana, fábricas passam ao controle dos comitês de operários (em russo, sovietes), fazendas passam ao controle dos camponeses (kolkhozes e sovkhozes, parcialmente sob controle do aparelho estatal) e toda a atividade econômica é racionalizada a fim de privilegiar o ser humano que trabalha e produz.
Aquela OUSADIA não poderia ficar sem resposta e todas as potências do mundo declaram guerra àqueles operários, soldados e camponeses que ousaram interromper o fluxo da lucratividade para os capitalistas. Foi levantado um “cordão sanitário” em torno da Rússia. Leon Trotski criou liderou o Exército Vermelho no combate a tropas estadunidenses, alemãs, francesas, chinesas, japonesas, suecas, etc. em todas as fronteiras...
A Rússia é um país multicultural. O comissário para as nacionalidades designado pelo Soviete de Petrogrado foi Josip Djugashvili Stalin que, durante a guerra levantada para esmagar o país dos sovietes criou a GRU, sigla de Diretório Central de Inteligência ou Glavnoye Razvedyvatel'noye Upravleniye (Главное разведывательное управление) com vistas a combater o adversário infiltrado na nova Nação. No auge da Guerra Fria aquela organização foi incorporada pela nova KGB, Comitê de Segurança Estatal ou Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti (Комитет Государственной Bезопасности). Enquanto Trotski enfrentava o adversário lealmente, frontalmente, arriscando cotidianamente a própria vida no combate ao inimigo dos trabalhadores, Stalin colecionava dossiês, o que se provará nefasto em grau superlativo tanto para o futuro da Rússia quanto mesmo do Socialismo no mundo.
Ao final da guerra que as potências estrangeiras levantaram contra a Rússia dentro e fora de seu território, a nação finalmente vitoriosa na frente externa e interna, se volta em definitivo à sua própria organização. A campanha difamatória contra os operários se multiplica e cresce cada vez mais. Quando da morte de Lênin em 1924 o cerne da disputa sucessória centrava-se entre Stalin, que propunha um monstrengo contrário a tudo o que a ciência social operária havia levantado até aquele instante, o “socialismo num só país”, coisa absolutamente incompatível com as descobertas da ciência social operária e Trotski, do outro lado, que insistia na tese racional e radical da “Revolução Permanente” (aprofundaremos esta questão oportunamente, mas não há acordo possível entre algozes e vítimas, seja do Capital seja do for, em síntese) foi voto vencido no Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética. Stalin o expulsa e parte para um encaminhamento autoritário do socialismo; até certo ponto e sem buscar justificar ações monstruosas amplamente conhecidas, a conjuntura de forças externas contra as quais tinha de se bater pareciam forçar este encaminhamento. Muito poder concentrado é exageradamente perigoso e o que foi se sucedendo na URSS depois de 1924 convida-nos a uma grande cautela quando outro povo em outro lugar do mundo se decidir a ousar novamente.
O Fascismo Italiano
A I Guerra Mundial foi um total fracasso. Ao seu cabo, as potências vencedoras se encontravam em situação social e financeira geral pior do que estavam antes da Guerra em oposição às derrotadas, que estavam muito pior. No campo capitalista, a nação com maiores vitórias acumuladas foi a que menos participou do conflito, os EUA, que herdaram títulos bancários dos britânicos, compensação pela sua participação na Guerra, e começaram a se projetar como a maior potência mundial.
Na Itália do período entre guerras os movimentos operários crescem e o partido mais influente na nação era o comunista. A Itália entra na I Guerra Mundial do lado dos Impérios do Centro (Alemanha e Império Austro-Húngaro) mas troca de lado em meio ao conflito e alia-se à Inglaterra e à França na esperança de conquistar maiores compensações, que jamais chegam: todas as nações européias saem da Guerra quebradas. Diante da agitação operária e com grande medo de o encaminhamento por ali seguir o mesmo adotado pela Rússia os grandes empresários e banqueiros internacionais subvencionam a ascensão meteórica do Fascismo sob o comando do ex-socialista Benito Mussolini que toma o poder através de um golpe em 31 de outubro de 1922. O fascismo se caracteriza principalmente por utilizar cores e slogans similares às dos comunistas para manter o encaminhamento capitalista tendo por meta principal combater o comunismo. Se os trabalhadores protestam contra a injustiça – fenômeno comum a todas as culturas humanas e mesmo a outras espécies animais, a luta contra a injustiça é universal.
Saudado como grande salvador e redentor pelas nações do ocidente europeu assim como América do Norte, Mussolini recebe vastos aportes em recursos e investimentos de bancos e empresas estadunidenses, britânicas e francesas. Com todo um aparato ideológico e de propaganda mantinha-se o povo italiano mobilizado em torno do Duce, pregando e praticando o que diziam suas músicas reacionárias como: “Sono fascisti, Il terrore di Comunisti” (“sou fascista, o terror dos comunistas...”). Milhares de líderes operários foram executados por brigadas paramilitares, muitos deles presos e o partido comunista foi colocado na ilegalidade. Ao ensejo, baniu-se também o liberalismo; a Itália adotava, sob a batuta do Capital, o que ufanisticamente chamava de “Terceira Via”. Muitas conquistas dos trabalhadores em anos de luta foram revogados e, as que restaram, foram sistematizadas numa “Carta Del Lavoro” em que se exaltava o “Duce” por “haver conquistado tantas coisas para os trabalhadores”... Vários países do mundo imitaram a Itália cortando algumas das conquistas dos trabalhadores e, preservando outras, as atribuíam ao líder de turno. Expansionistas, os italianos se atrapalham na Etiópia e na Eritréia, ficando por aí. Durante o processo de Unificação Italiana (1871) o rei Vitor Emanuel II tomou os territórios da Igreja e ofereceu como compensação a soberania sobre a cidade do Vaticano (que passaria a ser um Estado Independente) e ainda uma larga soma em dinheiro. A Igreja, que havia recusado aquela proposta, se vê constrangida a aceitá-la dos fascistas quando na chefia do Governo italiano (a chefia do Estado, nominalmente, segue a cargo do rei como figura cada vez mais diminuta). A 11 de fevereiro de 1929 assina-se o Tratado Latrão; Benito Mussolini pelo Governo Italiano e Ambrogio Damiano Achille Ratti dito “Papa Pio XI” pelo Vaticano aceitando as mesmas condições que recusara em 1871. A propaganda fascista enfatiza a magnanimidade do Duce, o quanto ele é católico, etc... Com a morte de Ambrogio Damiano Achille Ratti em 1939, assume a chefia do Estado do Vaticano o Sr. Eugenio Pacelli, dito “Papa Pio XII”, que entrará para a história como “o papa de Hitler”. Com o apoio do Grande Capital e da Igreja, o Fascismo cresce e se manterá na Itália até julho de 1943.
Avança célere a propaganda fascista em Igrejas e escolas; a imprensa é rigorosamente censurada; comícios se multiplicam enfatizando a “grandeza” do Duce que, contando com generoso apoio do Capital internacional de fato consegue trazer relativas melhoras à situação existencial do povo italiano. Temia-se mesmo que, caso assim não fosse, mesmo com toda a repressão e ideologia, o povo de novo se levantaria (o que começou a acontecer logo ao término da II Guerra e foi rapidamente sufocado pelos EUA).
No fascismo, em suma, não há propriamente um encaminhamento alternativo (como a propaganda insistia tanto). As opções apresentadas eram “capitalismo” ou “socialismo” e a Itália Fascista, com todas as bravatas contra uma e outra forma de encaminhamento da economia, se instala firme e claramente na esfera do capitalismo. Não é tão simples nem tão incorreto afirmar que se a democracia liberal é a face menos antipática do capitalismo, o fascismo é sua face mais raivosa, enfurecida.
Enquanto ideologia rudimentarmente costurada, contudo eficazmente encaminhada, o fascismo não busca tomar o partido dos oprimidos para suprimir a injustiça, como o fazem os socialistas, mas antes silenciar os que protestam a fim de manter a ordem vigente. Vivenciamos a forma brasileira de fascismo durante a Ditadura Militar de 1964 a 1989: muita repressão, tortura e assassinatos a que esteve subjacente ampla propaganda anticomunista (esta, aliás, jamais se deteve) com os resultados brutais que conhecemos.
O Fascismo Alemão: Nazismo
Diferentemente da Itália, a Alemanha foi derrotada na I Guerra Mundial e, o que é mais grave, muitos praças que estavam em território inimigo já vislumbrando a vitória, foram chamadas de volta a seus países pois seus generais haviam assinado a capitulação aos aliados. Com a saída da Rússia e a entrada dos EUA a Guerra está decidida a favor dos aliados ocidentais e, de fato, os generais prussianos e austríacos são forçados a aceitar a capitulação, o que estava distante da possibilidade de visão de um cabo ou soldado em meio à guerra.
Caso de Hitler, o cabo austríaco que, na I Guerra Mundial já se imaginava vitorioso a caminhar pelas ruas de Paris quando o fim da guerra o surpreende se recuperando de um ferimento.
O anti-semitismo era mais violento nos países centrais da Europa do que, por exemplo, na Península Itálica, onde se manifestava também, mas de outras formas e com outra intensidade. Hitler cresceu numa Áustria amargurada, por um lado em relação aos prussianos que não a anexaram ao Império Alemão em 1871, optando estrategicamente por um tratado com o Império Austro-Húngaro e, por outro, com os delírios medievais impregnados no inconsciente coletivo: “a culpa é dos judeus”.
Admirador de Mussolini – a quem chamava, quando bem-humorado, de “professor” – Hitler se alia a outros que, como ele, ansiavam por um “salvador da pátria” e funda o NSDAP - Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães ou “Nazi”. Na propaganda, Joseph Goebbels se destaca utilizando cores e slogans similares aos dos soviéticos e toda a ideologia fascista alemã se diferencia daquela fascista italiana no grau de violência e virulência contra os judeus e num militarismo ainda mais acentuado. Chega ao poder, PELO VOTO POPULAR , em 1933 e nomeia Rudolf Hess como lugar-tenente e seu primeiro sucessor em caso de impedimento. Também contou com largo apoio e simpatia do empresariado estadunidense, britânico e francês e só o perde gradualmente, à medida que não se demonstra capaz de conter o avanço do comunismo na Europa (para isso recebeu tanto apoio dos EUA e Inglaterra que, no início, faziam vistas grossas ao rearmamento alemão e mesmo às anexações da Áustria e dos Sudetos). Amigo pessoal de Henry Ford, Hitler conseguiu com ele a tecnologia necessária a fabricar o carro popular “Volkswagen” alemão e contou ainda com a tecnologia da IBM para o controle dos prisioneiros nos campos de concentração. De Stalin, Hitler obteve um “pacto de não agressão” através do qual os dois ditadores dividiam a Polônia entre eles, na altura do Rio Vístula.
Já conhecemos os perigos destas teorias, de vez em quando reeditadas em novos formatos mas sempre perigosas. Cabe cuidado. Apenas para relembrar, apresento aqui um trecho do premiado documentário "Fascismo Ordinário" - Обыкновенный фашизм - Obyknovennyy fashizm - 1965 dirigido, produzido e narrado por Mikhail Romm
Abaixo um breve trecho do documentário premiado de Mark Achbar, "The Corporation" demonstrando como as Grandes Corporações contribuiram para a edificação do fascismo na Itália e do Nazismo na Alemanha
Através do "Pacto Ribbentrop/Molotov" os Ministros das Relações Exteriores da Alemanha Nazista e da URSS assinavam um acordo de não agressão e efetivavam a infame partilha da Polônia
Stalin se deixou manipular por Hitler de maneira vexatória. A partir de uma análise superficial, parecia considerar que o ditador fascista alemão, pelo menos num primeiro momento, manteria suas ambições expansionistas circunscritas ao território das nações capitalistas do ocidente europeu e preferia não se envolver num conflito que em nada dizia respeito aos trabalhadores. A Stalin parecia sensato omitir-se de uma luta que aparentava circunscrever-se a formas de encaminhamento do capitalismo: encaminhamento liberal, como ocorre na França, Itália, Países Baixos e Escandinávia versus encaminhamento autoritário do capitalismo, como ocorre na Itália, na Alemanha, na Espanha e em Portugal naquele período histórico. Antes do ataque à URSS, em vôo solitário, Rudolf Hess, o lugar-tenente de Hitler vai à Inglaterra, pousando no aeródromo de um simpatizante nazista na Grã Bretanha, Oficialmente o episódio segue “inexplicado”. Encontramos pistas e fazemos suposições, como a proposta de uma aliança entre os liberais e os fascistas contra os comunistas (o que modificaria todo o quadro da Guerra). Reforça esta tese o fato de Hitler somente declarar Rudolf Hess “louco” – o que lhe servirá de defesa no Tribunal de Nuremberg, por sinal – quando fica evidente que os Britânicos não aceitariam aquela aliança com os nazistas. Apesar de todo o empenho dos simpatizantes nazistas na Inglaterra, Hess jamais consegue uma audiência com o Primeiro Ministro britânico.
Ficou claro que Stalin subestimava o anticomunismo dos fascistas alemães quando Hitler, em célebre a declaração pragmática precedendo a “Operação Barbarossa” de invasão da URSS: “palavras o vento leva, papel a gente rasga” e o pacto de não agressão é rompido menos de 2 anos depois de assinado, a URSS é invadida e amarga anos de morticínios, estupros de mulheres e crianças e destruição sistemática de suas conquistas até então. Coletivamente os russos transformam fábricas de canos hidráulicos e tratores em fábricas de fuzis e canhões, o Exército Vermelho recebe novos contingentes das 15 Repúblicas Soviéticas (a Rússia ainda é a nação mais numerosa da Europa) e os preparativos demonstram seus primeiros resultados na Batalha de Stalingrado, que vira a maré da Guerra a favor dos Soviéticos e cacifa Stalin a conclamar uma aliança antifascista com estadunidenses e britânicos. Várias cúpulas se realizam entre Stalin, Churchill e Roosevelt em Teerã, Potsdam e Yalta. Stalin insiste na abertura de uma frente ocidental europeia para dividir as forças nazistas. Roosevelt, preocupado com o crescimento das forças comunistas de resistência na Iugoslávia, lideradas pelo Capitão Josip Tito, propõe que o desembarque de aliados se dê ao sul. Stalin insiste num desembarque ao Norte da França ou Holanda e Churchill informa que os esforços de Guerra estadunidenses estão por demais concentrados no Pacífico, pois o Japão também havia atacado interesses estadunidenses do outro lado do mundo. Diante do impasse, chega-se a um consenso com tropas ocidentais enviadas para a região desértica da África com vistas a, pelo menos, conter o envio de grãos do Egito e outros pontos para o Reich. Os Russos seguirão expulsando os nazistas de seu território e em marcha para Berlim a fim de libertar o mundo da abominação nazista.
Menos de 2 meses após a assinatura do "Pacto Ribbentrop/Molotov", Rudolf Hess viaja em vôo solitário para a Inglaterra e, dias depois, Hitler determina a invasão da URSS na "Operação Barbarossa"
Além dos erros de avaliação de Stalin – hoje percebidos com clareza, durante a Guerra muito estava além da possibilidade de análise de qualquer dos envolvidos – o dirigente soviético se tornava paranoico e havia realizado uma série de expurgos e execuções após os vergonhosos “julgamentos de Moscou” entre os heróis da Guerra Patriótica do início da formação do Estado Soviético, privando o Exército Vermelho de importantes e experientes líderes. Sem aqueles expurgos possivelmente a Guerra contra o fascismo teria sido menos complexa e demorada...
Apesar dos erros de Stalin – apresentados ao Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética de 1956 por Nikita Krushov – o avanço soviético sobre os fascistas alemães ocorre celeremente e os países outrora dominados pela Alemanha Nazista agora caem sob a órbita de influência da União Soviética, passando a constituir o “bloco socialista” da Europa continental, notadamente a Polônia, a Bulgária, a Hungria, a (então) Tchecoslováquia e o Leste da Alemanha divida no pós-guerra, a Alemanha Oriental. Além destes, aliados menos alinhados como a Iugoslávia sob a liderança do Marechal Tito e a Albânia constituem o “bloco socialista”.
Percebendo que as tropas Nazi-Fascistas capitulariam aos soviéticas, os aliados ocidentais se decidem finalmente a abrir uma frente na Europa continental com o Desembarque de tropas estadunidenses e britânicas na Normandia em 1944, com isso evitando que a França, a Holanda, a Bélgica e os Países Escandinavos também passassem à órbita de influência soviética.
Abaixo breve trecho do excelente documentário em 7 horas chamado "Osvobojdienie", "Libertação" em Russo, dirigido por Yuri Ozerov. Aqui se vê Stalin denunciando aos aliados ocidentais a tentativa de paz em separado com a Alemanha Nazista tentado por Allan Dulles e os "homens fortes" do III Reich
Com os aliados em território europeu, Hitler, Himler, Goebbels e Goering enviam agentes alemães para um encontro com agentes da CIA chefiados por Allan Dulles, com vistas a negociar um acordo em separado com os EUA, no afã de garantir a segurança de toda a cúpula nazista. A Agência de Segurança Estatal Soviética (GRU), na Suíça, intercepta aquelas negociações, provocando a antecipação do avanço do Exército Vermelho, que cerca e toma a cidade fortificadíssima de Berlim semanas antes dos aliados ocidentais, forçando uma capitulação incondicional dos nazistas ao Exército Vermelho. Com exceção de um Goering combalido e gordíssimo, viciado em morfina, que consegue escapar de Berlim e se render aos aliados ocidentais, todo o resto da cúpula nazista comete suicídio evitando que caiam prisioneiros dos soviéticos.
Momentos finais da II Guerra Mundial no Documentário Premiado de Yuri Ozerov, Osvobojdienie. No trecho abaixo a alegria de Partisans e Soldados com a conquista de Berlim e a Capitulação Incondicional dos nazistas ao Exército Vermelhho
Após a guerra, cientistas alemães destacados em campos da física e da balística são convidados a participar dos programas tecnológicos da URSS e dos EUA. Agentes anticomunistas da Gestapo e das SS nazistas são incorporados à CIA e ao FBI através da hoje conhecida “operação paperclip”; os soviéticos não tinham utilidade para agentes anticomunistas, naturalmente.....