Introdução: As Invasões Bárbaras
Em azul, o deslocamento dos Vândalos, dentre os povos que fugiam do avanço dos Hunos
O nome “Bárbaro” foi primeiro empregado na Grécia Clássica para referir-se a povos que não dominavam seu idioma nem manifestavam os mesmos traços culturais gregos. Diziam os Gregos que os outros povos pareciam falar coisas como “bar-bar-bar...” sem significado compreensível. Portanto, povos com características culturais e idiomas diferentes do grego, “civilizado”, eram chamados de “bárbaros”. Os Romanos empregavam o termo em sentido similar e, embora buscassem conquistar os territórios de outros povos, aculturá-los à semelhança de Roma (como todo o Império o faz desde que existem Impérios no mundo até os dias de hoje), quando a empreitada se mostrava economicamente inviável ou simplesmente não o conseguiam, formalizavam tratados e alianças com outros povos, notadamente os Hunos, os Godos, os Francos e os Saxões. Excepcionalmente a coalizão de povos que entrou para a história com o nome de Vândalos e era composta por vários grupos em fuga desabrida dos constantes e imprevisíveis ataques dos Hunos. Não há registro histórico de tratados ou alianças com os Vikings ou os Normandos – recentemente descobriu-se que os Normandos eram de fato descendentes de Vikings e optaram por instalar seus assentamentos (com uma cultura e civilização peculiarmente diferente da Romana) onde hoje fica a Normandia, ao Norte da França.
No Século IV da Nossa Era o Império Romano estava em sua máxima expansão histórica, conforme se pode observar no mapa abaixo.
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Chegava também ao ponto mais frágil de sua existência e, segundo Edward Gibon em “Declínio e Queda do Império Romano”, ao início de sua decadência... O Imperador Romano Teodósio I (379 – 395) foi o último a governar por toda a extensão máxima do Império; com a sua morte o Império Romano é dividido entre seus dois filhos, ficando Arcádio como Imperador Romano do Ocidente e seu irmão Honório, o primeiro Imperador Romano do Oriente (que durará mais mil anos entrando para a história com o nome original da cidade “modestamente” rebatizada pelo Imperador Constantino como Constantinopla, Bizâncio; O “Império Bizantino” persistirá até que os canhões de Maomé III conseguem finalmente destruir as até então inexpugnáveis muralhas de Constantinopla no ano de 1453, que “fecha” as rotas de passagem da Europa Ocidental para as Índias obrigando a uma busca de um Caminho Marítimo para as imprescindíveis especiarias, tema aprofundado em outro ponto).
"Partitio imperii" - 395. O Império Romano é dividido entre os filhos do Imperador Teodósio, ficando Arcádio como Imperador Romano do Ocidente e seu irmão Honório, o primeiro Imperador Romano do Oriente - Clique sobre o mapa para vê-lo ampliado
Como vimos, no Império Romano do Ocidente, já principiando a entrar em decadência, faziam-se pactos com os Bárbaros que viviam fora das fronteiras do Império como os Godos, os Saxões, os Francos e mesmo os Hunos. Através daqueles pactos, Roma concedia aos outros povos parcelas de seu território em troca principalmente de braços para o Exército. Aqueles pactos eram bastante frágeis e frequentemente os Bárbaros recentemente aliados a Roma se voltavam contra o Império, pois suas demandas não eram satisfeitas a contento.
O Império Romano do Oriente sofreu menos com as Invasões Bárbaras devido ao fato de controlar mais riquezas materiais, o que possibilitava manter um Exército fundamentalmente composto por cidadãos romanos, além de pagar um tributo periódico (usualmente anual) a outros povos para que se mantivessem fora de suas fronteiras.
Entre os séculos IV e V da Nossa Era, um grupo de seres humanos organizado nas Estepes Eurasiáticas, conhecido como Hunos, iniciou incursões constantes tanto contra os Bárbaros que viviam para além das fronteiras do Império Romano como contra ambas as divisões do Império em si, tomando territórios e conquistando alianças. No Império Romano do Oriente, que entrará para a história como “Império Bizantino” e durará até meados do século XVI da Nossa Era, utiliza-se principalmente do suborno para manter o invasor Huno sob controle.
Os Hunos, um parêntese necessário
Não há certeza histórica sobre a região exata de onde os Hunos se originaram. Algumas teorias levam suas origens tão longe quanto a Mongólia enquanto estudos mais recentes os situam na região das Estepes Russas como ponto de origem de seus ataques devastadores. Exímios montadores, cronistas da época os retratam vivendo dias e noites a fio em seus cavalos; diz-se que se vestiam somente com peles de animais e chegavam ao requinte de mutilar suas faces, extraindo os lábios, por exemplo, para exibir sempre os dentes num rosto furioso; para se alimentar mantinham a carne de sua caça entre a sela e o lombo de sua montaria e, após assim “preparada” era consumida a caminho do próximo ataque. O arco recurvado que desenvolveram tinha a maior capacidade de alcance e penetração conhecido na época e jamais se poderia questionar o quanto a superioridade bélica e de propaganda é eficaz em assuntos de guerra. Chegavam de repente em aldeias pacatas, matavam todos os homens adultos, saqueavam o lugar e levavam mulheres e crianças cativas. O pavor que causavam entre os Bárbaros era inquestionável e muito dos ataques Bárbaros ao Império Romano deve ser atribuído à pressão exercida pelos hunos. Aprofundamos o estudo dos Hunos em outro ensaio.
Batalha de Adrianópolis, 9 de agosto de 378. A Vergonha Romana
Mapa da Batalha de Adrianópolis
Apenas para localização, Adrianópolis, cidade que já foi Búlgara e hoje é parte da Turquia
O ano 376 foi emblemático, pois um gigantesco grupo de Bárbaros conhecidos como Godos, pressionados pelos ataques repentinos e devastadores dos Hunos, atravessou o rio Danúbio (tradicional fronteira natural entre o Império Romano do Ocidente e os domínios Bárbaros) em busca de aliar-se se possível ou conquistar assentamento em territórios situados dentro dos domínios de Roma. Várias batalhas aconteceram, sendo a mais famosa a “Batalha de Adrianópolis”, ocorrida no dia 9 de agosto de 378 e que trouxe grandes perdas humanas a ambas as partes envolvidas no conflito tendo como resultado uma derrota vergonhosa para os Romanos do Oriente – mais de 20.000 legionários comandados pelo Imperador Valente em pessoa foram mortos num único dia – nas mãos dos Godos liderados por Fritigerno.
Os Vândalos
Pressionados a Leste pelos constantes, ferozes e imprevisíveis ataques dos Hunos, perdendo a vida e suas posses para os invasores do Leste, os Vândalos montam acampamento às margens do Rio Reno em fins do século V à espera de um convite do Império Romano para assentá-los em troca de seus serviços. Esperam em vão por um tempo muito longo em acampamento precário, já perdendo familiares para a fome quando, numa noite muito fria do Ano Novo de 406 o rio Reno (longa e larga fronteira natural do Império Romano) congela permitindo a travessia do vasto contingente de refugiados famintos em busca de assentamento.
Embora enfraquecidos pela fome e ainda desorganizados, conseguem atravessar todo o território da Gália (hoje França) perseguidos de perto pelos Godos, então aliados aos Romanos chegando até a Hispânia (Espanha) finalmente montando acampamento finalmente ao Sul da Península Ibérica.
Genserico (389 – 477), filho de um chefe tribal entre os Vândalos cresce em fama e realizações a favor de seu povo e se torna Rei dos cerca de 80.000 Vândalos (dados de Procópio em “História das Guerras Vandálicas”) em 428. Em seu assentamento precário – sempre acossados pelos Godos e Romanos – os Vândalos, sob a liderança segura de Genserico, se tornam hábeis navegadores em áreas do Mar Mediterrâneo adjacentes ao pedaço de terra que ocupam. Aos poucos, com sua força e organização crescente, conquistam algum equilíbrio – precário embora – vivendo da pesca e atividade agropastoril ao Sul da Península Ibérica.
Como estudamos nos aspectos atinentes às chamadas “heresias” medievais, a partir do século IV o Império Romano e os povos Bárbaros já se encontram convertidos ao cristianismo. Contudo há divergências entre suas formas de crença e isso sempre gera encrenca... Os Vândalos professam uma forma de cristianismo distinta daquela professada pela nascente Igreja Católica Romana. Enquanto os romanos acreditavam que Deus Pai, Filho e Espírito Santo são um único e o mesmo, os Vândalos seguem os ensinamentos do bispo Arius de Alexandria (250–336): crêem na natureza humana de Jesus (o Filho), com base no Testamento de João, capítulo 14, versículo 28, onde se lê: “Ouvistes que eu vos disse: vou; e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis por ter dito: Vou para o Pai; porque o Pai é maior do que eu.” Seguidores dos ensinamentos de Arius ficam conhecidos como “Arianos” e essa crença estará presente, subjazendo todos os embates entre Vândalos e Romanos.
Do complô de Flavio Aécio ao Saque de Roma em 455
Gala Placídia, filha do Imperador Teodósio I, exerceu a Regência do Império Romano do Ocidente dos anos 425 a 437. Somente um homem poderia exercer o cargo de Imperador; hereditariamente o título era de seu filho, Valentiniano que era muito jovem para assumir o trono quando da morte de seu avô.
Placídia precisaria ainda de aliados no Exército, para legitimar sua regência e seu mais influente conselheiro era Flavio Aécio (391–454), general romano sediado em Ravenna. Devido aos costumes da época, Aécio passou boa parte da infância e juventude vivendo entre os Hunos como um refém de confiança, ali aprendendo muito sobre os costumes daquele povo nômade e formando alianças esporádicas com eles, por exemplo, quando os Godos, insatisfeitos com os tratados formalizados com os romanos, atacam a “cidade eterna”, chegando mesmo a saqueá-la no em 410.
Como medida de segurança, a capital do Império Romano do Ocidente havia sido transferida para a mais segura e fortificada cidade de Ravenna em 402, mantendo o status até a queda final do Império em 476.
Outro homem de confiança de Gala Placídia era o Governador Bonifácio, da África Peninsular, com sede em Cartago. Olhando para a África nos dias de hoje é difícil imaginar, mas no século V Cartago constituía a principal fonte de grãos – principalmente trigo – para o Império e o poder de Bonifácio era inquestionável. Buscando abater o poder de Bonifácio, Flavio Aécio arquiteta um complô. Inicialmente planta desconfiança em Gala Placídia, sugerindo que Bonifácio planeja destroná-la e recomenda a ela que o convoque a Ravenna para esclarecer sua posição em apoio à Regente. Ato contínuo, Aécio envia uma carta a Bonifácio dizendo que se recuse a vir a Ravenna a convite de Placídia “pois ela planeja matá-lo”... Aécio se revela um trapaceiro manipulador como raros na política humana.
Recebendo as duas mensagens, a de Gala Placídia convidando-o a Ravenna e a de Aécio recomendando que ele não aceite o convite, fica assustadíssimo. Bonifácio, então, dá início a uma cascata de problemas. Na virada do ano 428 para o 429, envia um mensageiro ao rei Vândalo Genserico convidando-o a Cartago a fim de auxiliar na defesa contra os planos de Gala Placídia a ele “revelados” por Flavio Aécio. Genserico mal pode acreditar na oferta, que aceita imediatamente! 80.000 Vândalos, dentre eles, cerca de 20.000 homens em armas, abandonam em definitivo sua posição no Sul da Península Ibérica em seus navios e migram para o Norte da África. No entretempo Gala Placídia descobre a falsidade do complô de Aécio, que é rebaixado de posto e aprisionado; ato contínuo, envia um emissário a Bonifácio explicando a situação. Entendendo o complô de Aécio, Bonifácio despacha um emissário cancelando o convite aos Vândalos quando estes mal desembarcavam em massa na África...
Não havia mais retorno para os Vândalos e estes avançam como um vagalhão enfurecido conquistando cidade a cidade a caminho de Cartago sendo mesmo recebidos com entusiasmo por parte dos romanos residentes na África que ocorria serem também Arianos, ou seja, partilhavam da mesma fé que os Vândalos. Era um tempo em que o cristianismo ainda buscava sua feição final...
Em sua passagem, fecham bordéis e se casam com ex-prostitutas num movimento moralizante saudado por muitos. Aos romanos que – como Agostinho de Hipona (na atual Argélia), o “Santo Agostinho” – acontecia não professarem o cristianismo em sua forma Ariana, os Vândalos reservam um cortejo de violência, pilhagem e tortura. O vagalhão de Vândalos a caminho de Hipona (Hippo Regius) e Cartago – as duas maiores cidades romanas no Norte da África, composta por uma maioria de cristãos não Arianos –, assim como a intensa propaganda contra os Vândalos liderada por Agostinho é responsável pela adjetivação do que tantos Bárbaros fizeram contra os romanos em tantos tempos e lugares. Jamais dizemos que um grupo “gotizou” ou “hunizou” alguma cidade ou monumento; dizemos que “Vandalizou”!
Com excepcional velocidade, ainda em 429 os Vândalos controlam praticamente todas as províncias romanas no Norte da África, estando às portas e sitiando Hipona e Cartago por meses a fio. Agostinho morre em meio ao sítio, sem jamais se confrontar pessoalmente com os Vândalos que entram triunfantes em Hipona no ano seguinte. Na sequência, Cartago cai sob o controle de Genserico e a 11 de fevereiro de 435 o Imperador Valentino III formaliza um tratado de paz com os Vândalos reconhecendo o Reino de Vandália, que durará até 533, décadas após a morte de Genserico.
Em mais uma manobra palaciana típica do período decadente do Império Romano, o já adulto Imperador Valentino III é assassinado em 455 e sua esposa Licínia Eudóxia obrigada a se casar com o arquiteto do crime palaciano, Petrônio Máximo que, com esta manobra, toma o trono do Império. Tomada de repulsa, Licínia (viúva de Valentino III recém casada com seu assassino e usurpador) pede ajuda a Genserico prometendo a mão de sua filha Eudóxia em casamento a Hunerico, filho de Genserico, o que levaria “sangue imperial romano” aos Vândalos, fortalecendo ainda mais sua posição. A notícia da aproximação de uma largo contingente de Vândalos em direção a Roma deixa a população alarmadíssima e o reinado de Petrônio Máximo é cortado após míseros 78 dias. Tentando fugir disfarçado, Petrônio Máximo foi apedrejado até a morte por uma turba romana enfurecida e seu filho Paládio (que já havia recebido o título de “César”) também foi executado.
No dia 2 de junho de 455 os Vândalos chegam a Roma. Atendendo a pedidos de Leão I, Bispo de Roma (atenção, o título de “papa” ainda não existia, mas a Igreja Católica Romana o conta entre os papas e, em muitos tratados, seu nome é grafado como “Papa Leão I”) os incêndios, as torturas e os assassinatos são limitados em Roma. Mas o saque dura duas longas semanas e a pilhagem é riquíssima. Em 456 Eudóxia se casa com Hunerico, conforme estava prometido e Genserico leva a ela, sua mãe e sua irmã como reféns a Cartago, agora capital do Reino de Vandália.
Batalha de Cabo Bon (468) e consolidação do Reino Vândalo
Aquele ultraje não poderia ser deixado sem punição. O Imperador Antêmio do Ocidente se alia ao Imperador Leão do Oriente, convocam seus generais Marcelino (do Ocidente) e Basilisco (do Oriente) e organizam a última ação militar conjunta das duas partes do Império Romano.
Os gastos com a operação militar destinada a derrotar de vez os Vândalos, sobem ao equivalente a mais de 30 toneladas de ouro, envolvendo pelo menos 100.000 navios e centenas de milhares de homens em armas de ambas as partes do Império Romano, além de aliados Bárbaros.
Temperados por anos de vida dura ao longo dos anos, os Vândalos chegam a dominar tão bem as artes militares que as conflagrações têm dimensões épicas! Ao final de muitas conflagrações por terra e por mar, Cartago é sitiada pela gigantesca frota Bizantina que envia um ultimatum a Genserico. Este pede 5 dias “para organizar a rendição”, o que lhe é concedido. Mas ele tem outros planos. Ordena a equipagem de milhares de seus navios com frascos de petróleo e envia aquelas embarcações embebidas em petróleo e com uma carga incendiária mortal, não tripuladas, na direção da frota bizantina com homens armados encarregados de acender a chama à proximidade da frota Bizantina que, de tão colossal, tem os navios praticamente encostados uns nos outros. Quando a frota incendiária de Genserico os atinge o caos é total e a derrota tão definitiva quanto vergonhosa. O general Basilisco, em fuga, foi assassinado pelos seus próprios legionários, frustrados com a derrota. Ao final, metade da frota Bizantina foi incendiada e milhares de legionários romanos feitos escravos dos Vândalos.
Ilustração da manobra de Genserico contra o ataque dos Bizantinos
A morte de Basilisco, irmão da Imperatriz Verina, portanto cunhado de Leo I, e pelas mãos de seus próprios soldados traz uma carga de desmoralização ainda maior ao Império Bizantino por um lado e reforça a posição dos Vândalos por outra, tornando-os ainda mais ousados. Em ataques constantes às costas da Península Itálica e da Península Balcânica acumulam vastas riquezas, fruto de seus saques, espalhando terror e destruição por onde passam, reforçando a adjetivação que receberam e até hoje é usada: Vandalismo.
Em 474 Genserico formaliza a paz com o Império Romano do Oriente, em 476 o Império Romano do Ocidente deixa finalmente de existir e em 477 Genserico morre aos 88 anos de idade após uma vida de meteóricos sucessos, deixando como sucessor seu filho Hunerico.
Hunerico, rei Vândalo (477-484) e seus sucessores até 534
Sem o carisma ou a competência do pai, Hunerico se vê em face de muitas dissidências entre seus aliados e a questão das chamadas heresias sobe novamente à ordem do dia com constantes conflitos entre os crentes Arianos, os cristãos Romanos e mesmo os Maniqueus. Surgido na antiga Pérsia, o maniqueísmo pregava a existência de um mundo espiritual “bom” e este mundo material “mau”, segundo os gnósticos antigos, “criado por uma divindade malévola”.
Ainda aliado ao Império Bizantino, o rei Vândalo aquiesce com a nomeação de um bispo Católico Tradicional (não Ariano) para Cartago. O bispo Eugênio se prova popular e eficiente, alarmando e enfraquecendo cada vez mais a posição de Hunerico, que morre a 484 ficando com seu sucessor, Guntamund, que governa os Vândalos de 484 a 496. Notabilizou-se apenas por fortalecer ainda mais o cristianismo tradicional católico não ariano. Com sua morte em 496 assume o trono Vândalo seu irmão Trasamundo que decide reforçar o arianismo, deportando 120 bispos católicos do Reino Vândalo e restaurando a prática da tortura como forma de conversão ao cristianismo em sua versão ariana (que rejeita a natureza divina de Jesus). Trasamundo é sucedido por Hilderico em 523, que reforça a unificação do cristianismo em torno da ortodoxia bizantina e seu maior desafio é a constante mas jamais levada a cabo ameaça de invasão dos Ostrogodos, que então controlavam a Península Itálica. Galimer depõe, mata e sucede Hilderico em 530, governando até 534 quando desafia o Imperador Bizantino buscando restaurar o Arianismo e declarando que o monarca de Constantinopla deveria “cuidar de seus próprios assuntos”, erros fatais, que conduziram ao fim do reinado Vândalo.
Galimer, o último Rei e o fim do reinado Vândalo
Ao tempo, o Império Romano do Oriente era governado por um de seus mais notáveis e famosos governantes, Justiniano I (527-565) que, com o apoio do não menos formidável General Romano Belisário, realiza uma série de campanhas militares com vistas à Reconquista dos territórios do falecido Império Romano do Ocidente.
Justiniano I - Imperador do Oriente (527-565)
General Belisário (500-565)
A deposição e assassinato de seu aliado Hilderico dá a Justiniano o pretexto ao início das Campanhas Militares contra os Vândalos, lideradas com sucesso pelo exímio general Belisário.
Batalha de Ad Decimum: Armadilha Planejada pelos Bizantinos
Batalha de Ad Decimum: Forcas Avancadas derrotam os flancos dos Vandalos
Batalha de Ad Decimum: Galimer agrupa seus federados
Batalha final entre Belisário e Galimer
Na Batalha de Ad Decimum, após longos combates e grande estratégia, o general Belisário lidera tropas que derrotam os Vândalos liderados por Galimer em 14 de setembro de 533. Finalmente, na Batalha de Tricamarum, as tropas de Belisário impõem a derrota definitiva dos Vândalos concluída no dia 15 de dezembro de 533.
Temendo que Belisário, diante de tão grande vitória e conquista de espólios de guerra acalentasse a ideia de se proclamar “Rei da África”, Justiniano organiza um desfile dos Vândalos no Hipódromo de Constantinopla (o equivalente Bizantino do Coliseu Romano). Galimer, sua família e os mais altos e melhor apessoados entre os Vândalos são exibidos à multidão exultante; carruagens carregadas com os espólios de guerra também fazem parte do desfile. Consta que Galimer teria murmurado eclesiasticamente “vaidade das vaidades, é tudo vaidade debaixo do Sol...”
Justiniano oferece a Galimer a oportunidade de renegar a heresia Ariana, aceitando o título de Patrício Romano. Galimer se recusa e é exilado na Galácia (região central da atual Turquia) com sua família, onde ficaria livre para praticar sua fé como bem entendesse. Cerca de 2 mil prisioneiros Vândalos receberam a comissão de compor 5 Regimentos Imperiais que ficaram conhecidos como Vandali Justiniani. Foram despachados para o perigosíssimo front de guerra contra a Pérsia e poucos sobreviveram. Parte dos Vândalos sobreviventes seguiu vivendo no Norte da África sob o domínio Romano Oriental, parte escapou para a Espanha.
Belisário à direita do Imperador Justiniano I no mosaico situado na Igreja de San Vitale, em Ravenna, que celebra a reconquista da Itália pelo Exército Bizantino - Clique para ampliar
De acordo com Philip Stanhope em "Vida de Belisário" o Imperador Justiniano, com inveja da popularidade e do sucesso do General Belisário, mandou cegá-lo e o tornou um pedinte à Porta Pinciana em Roma - Aqui representado em tela de Jacques-Louis David - 1781
Lázaro Curvêlo Chaves