18.5.20

MIDWAY: Choque de Titãs!



As vitórias americanas sobre o Japão em Port Moresby e em Midway inverteram os rumos da guerra no Pacífico.

No início de maio de 1942, os japoneses podiam se orgulhar de haver alcançado todos os objetivos, estabelecidos em dezembro de 1941, para o leste da Ásia. Em seis agitados meses, conquistaram a Tailândia, Malaísia, Birmânia, Bornéu, Java, as Célebes e as Filipinas. Suas forças capturaram 340 mil soldados Aliados, afundaram seis encouraçados, um porta-aviões, sete cruzadores, muitos navios mercantes e anunciaram a destruição de 3.500 aviões — contra a perda de apenas 596. A máquina de guerra japonesa encontrava-se no máximo de sua eficiência.

Diante desse quadro amplamente favorável, o Daihonei (quartel-general imperial) decidiu ampliar a dominação japonesa para além dos limites fixados em dezembro, chegando até Midway e às ilhas Aleutas e, para o sul, à Austrália, através de uma cabeça-de-ponte em Port Moresby, Papua. Para ocupar Tulagi (ilhas Salomão) e Port Moresby, foi projetada a Mo-Sakusen (Operação Mo), comandada pelo vice-almirante Inouye, do 4º Kantai, sediado em Rabaul. Ele contro-lava importantes grupos de transportes, a Força Móvel (com o 5.° Kokusentai do contra-almirante T. Hara, que tinha o Zuikaku e o Shokaku), o Grupo de Apoio (o Kamikawa Maru, com hidroaviões mais os aviões Aichi E13A1 do Kiyokawa Maru), e o Grupo de Cobertura — que contava com o porta-aviões Shoho, de 11.300 t, levando doze A6M2 Zero e nove B5N2, e os cruzadores pesados Kako, Aoba, Kinugasa e Furutaka.

Encontro no mar de Coral

Os grupos de transporte, apoio e cobertura seguiriam para as ilhas Salomão, atravessando o arquipélago Louisiade pela passagem Jomard e avançando até Port Moresby. O Zuikaku e o Shokaku, com 125 aviões, deveriam conter os americanos e rumar para o leste, de Santa Isabel e San Cristobal, nas ilhas Salomão. A 25ª Flotilha Aérea de Yamada tinha 41 G4M1, dezoito Mitsubishi A6M2 e doze H6K4 e Nakajima A6M2-N, aguardando para 4 de maio a chegada a Rabaul de mais 45 caças Zero e 45 G4M1, que viriam de Truk.Torpedeiros TBD-1 Devastator a bordo do Enterprise são preparados para a Batalha de Midway. Apenas quatro deles regressaram ao porta-aviões.

Um grande avanço no sentido de decifrar o código japonês permitiu que os Aliados tivessem conhecimento da operação e se prevenissem. Em 1° de maio, em Nouméa, o contra-almirante Frank Fletcher assumiu o comando da 17ª Força-Tarefa, formada às pressas. Essa frota contava com os navios dos grupos-tarefa 17.2 e 17.3 (americanos e australianos) e os porta-aviões americanos Yorktown e Lexington, com 143 aviões Grumman F4F-3, TBD-1 e SBD-3.

O primeiro estágio da Operação Mo começou em 3 de maio, com desembarques em Tulagi. Às 11 horas, o contra-almirante Aritomo Goto determinou que o Shoho se unisse aos grupos que invadiriam Port Moresby. Na manhã do dia 4, Fletcher contra-atacou em Tulagi com o grupo aéreo do Yorktown, reunindo-se ao Lexington no dia seguinte.

A Batalha do Mar de Coral começou de verdade em 7 de maio de 1942, quando os japoneses realizaram um ataque aéreo a partir dos porta-aviões Zuikaku e Shokaku e afundaram o petroleiro Neosho e o Sims. Mas o primeiro round coube à força de Fletcher: os aviões do Yorktown atingiram o Shoho com bombas de 454 kg. E, com o costado aberto pelos torpedos lançados dos aparelhos do comandante Joe Taylor, o porta-aviões japonês afundou às 11 horas e 35 minutos. Em 8 de maio, o Yorktown e o Lexington lançaram ataques contra o Shokaku, forçando o vice-almirante Takeo Takagi a deixá-lo fora da ação e rumar de volta a Truk. Enquanto isso, os B5N2 e D3A1 dos porta-aviões japoneses atacaram o grupo de Fletcher atingindo, às 11 horas e 20 minutos, o Lexington com um torpedo. Ele ainda recolheu seus aviões, mas uma explosão interna espalhou o fogo, e a tripulação da embarcação teve de ser retirada ao anoitecer; os contratorpedeiros foram acionados para liquidar o porta-aviões. Os dois lados sofreram pesadas perdas no ar: oitenta aparelhos japoneses contra 66 dos Estados Unidos, na primeira grande batalha de porta-aviões no Pacífico.

Segredos do Zero

A estratégia da vitoriosa Marinha japonesa continuou voltada à proteção dos territórios recém-conquistados. A partir de maio, o alto-comando deu início às operações navais que estenderiam para mais longe o domínio nipônico no Pacífico: Aleutas, Midway, Port Moresby e daí para a Nova Caledônia, Samoa e Fiji. Idealizada pelo almirante Isoroku Yamamoto, comandante-em-chefe da Frota Combinada (Rengo Kantai), a Operação Midway seria a mais importante do verão, devendo atrair os navios americanos da Frota do Pacífico para uma batalha decisiva. A operação ganhou maior importância diante do fracasso japonês na tentativa de tomar Port Moresby, em decorrência do “empate” na Batalha do Mar de Coral.

A ocupação de Midway seria precedida de um ataque contra as bases americanas nas Aleutas. Em 5 de junho, os japoneses desembarcariam em Kiska e Attu, naquele arquipélago, para estabelecer bases defensivas. Paralelamente, intensos ataques aéreos precederiam a investida contra Midway.

A força setentrional (Aleutas), comandada pelo vice-almirante Hosogaya, consistia em mais de trinta navios de guerra, transporte e apoio, auxiliados pela 2ª Força de Ataque (4.° Kokusentai). O porta-aviões leve Ryujo levava dezesseis Mitsubishi A6M2 e 21 Nakajima B5N2, e o novo Junyo, de 27.500 t, transportava 24 Zero e 21 bombardeiros de mergulho Aichi D3A1. Mais distantes, como força de apoio, estavam o porta-aviões leve Zuiho (com 24 aviões), quatro encouraçados, três cruzadores leves e três contratorpedeiros.

A poderosa frota zarpou de Ominato entre 25 e 28 de maio. Ao amanhecer do dia 3 de junho, o Ryujo e o Junyo lançaram 36 aviões num ataque a Dutch Harbor que danificou os reservatórios e instalações de óleo e destruíram dois PBY-5. Um segundo ataque fracassou devido ao mau tempo. Nessa missão, um Zero foi atingido por uma bala perdida, que cortou um tubo de combustível. O piloto pousou na ilha Akutan, mas quebrou o pescoço quando o caça capotou ao tocar num terreno pantanoso. O avião ficou de barriga para cima, sendo encontrado semanas depois por soldados americanos. Levado para San Diego (Califórnia), o Zero foi literalmente dissecado, na tentativa de se descobrirem seus segredos, tornando-se assim o primeiro “troféu” da espionagem aérea na guerra do Pacífico.

A batalha decisiva

As forças japonesas lançadas contra Midway superavam qualquer outra já vista, em termos de efetivos e complexidade. Encouraçados e cruzadores formavam a vanguarda do ataque, juntamente com o 1° Koku-Kantai (a frota sob o comando do vice-almirante Nagumo). Sem contar com o Shokaku, recém danificado, o contingente aéreo de Nagumo era formado por 227 aeronaves, entre A6M, D3A1, B5N2 e Yokosuka D4Y1-C Suisei, embarcados nos porta-aviões Kaga, Akagi, Hiryu e Soryu. Seus pilotos eram ho-mens experientes, veteranos das batalhas de Pearl Harbor, Wake e Ceilão, todos eles ases de muitas vitórias. Até mesmo o velho porta-aviões leve Hosho foi incorporado à operação, levando oito B5N2. Mas os americanos não estavam inativos.Bombardeiro-torpedeiro Nakajima B5N, o aparelho que deu o golpe fatal no porta-aviões americano Lexington. Depois, mesmo já obsoleto, ainda afundaria o Yorktown e o Hornet.

Em Midway, tal como havia acontecido na Batalha do Mar de Coral, os decifradores de códigos revelaram dados vitais que alertaram o almirante Chester Nimitz para os planos japoneses. Nas docas, num incrível esforço, as equipes de reparos de Pearl Harbor recuperaram o Yorktown (danificado no mar de Coral e que os japoneses contavam como destruído), a tempo de incluí-lo na batalha iminente. Na Força-Tarefa 17, do contra-almirante Fletcher, o grupo aéreo, que dispunha de aviões Douglas TBD-1, SBD-3 e dos novos Grumrnan F4F-4 Wildcat da 3ª Esquadrilha, era liderado pelo comandante Oscar Pederson. Os porta-aviões Enterprise e Hornet formavam a Força-Tarefa 16, sob as ordens de Raymond Spruance, que tinha os grupos aéreos sob a liderança dos comandantes C. W. McClusky e Stanhope Ring. No total, os porta-aviões americanos abrigavam 232 aeronaves. Além disso, as bases costeiras de Midway contavam com outros 119 aparelhos de vários tipos, entre eles os vitais PBY-5 Catalina de reconhecimento, seis novos Grumman TBF-1 Avenger, vinte Brewster F2A-3 Buffalo e sete F4F-3 do 22° Grupo Aéreo (dos Fuzileiros Navais) e mais onze Vought SB2U-3 Vindicator e dezesseis SBD-2. Também com base em Midway, a 7ª Força Aérea contribuiu com dezenove B-17E e quatro Martin B-26A Marauder.

As 9 horas do dia 3 de junho (hora de Midway), os PBY-5 localizaram a frota japonesa a cerca de 1.125 km a oeste da ilha. À tarde, os B-17E atacaram os navios, mas sem sucesso. O contato foi mantido durante toda a noite; antes das 6 horas, os Catalina de patrulha informaram a aproximação da primeira onda de ataque: 108 aviões, comandados pelo tenente Joichi Tomonaga, causaram danos graves às instalações de Sand e Midway. Os caças americanos levantaram voo para enfrentá-los, enquanto os B-17, B-26A, TBF-1 e os lentos Vindicator lançavam-se em busca dos porta-aviões japoneses.Midway

Os primeiros combates favoreceram os atacantes. A força do major Floyd Parks foi dizimada, perdendo doze F2A-3 e três F4F em combate. Também caíram treze SBD-2 e SB2U-3 do major Lofton Henderson. No entanto, quando preparavam um segundo ataque, os japoneses foram informados da presença não-prevista da poderosa força-tarefa americana. A perda de tempo em retirar as bombas dos aviões destinados a Midway e rearmá-los com torpedos (para ataque aos porta-aviões) revelou-se fatal.

Às 9 horas e 25 minutos, os primeiros TBD-1 atacaram a frota japonesa com torpedos. Defrontando-se com vários Zero, que já haviam provocado muitas mortes pela manhã, dos 41 TBD-1 americanos 35 tombaram, o mesmo acontecendo aos três F4F-4 de escolta. Três esquadrilhas (3ª, 6ª e 8ª) praticamente desapareceram. Mas a retaliação viria logo.

Depois de muita busca, os bombardeiros de mergulho do Yorktown e do Enterprise localizaram a frota de Nagumo, ainda aguardando o retorno de seus A6M2 Zero, portanto sem proteção. Às 10 horas e 25 minutos, os SBD-3 mergulharam a 80° contra os navios, com suas bombas de 454 kg. O grupo do tenente R. H. Best escolheu o Akagi, os aviões do tenente McClusky caíram sobre o Kaga, e os do tenente Maxwell Leslie atacaram o Soryu. Em três minutos os navios japoneses ardiam em chamas. Mas o Hiryu ainda estava intacto e com aviões suficientes para atingir o Yorktown com torpedos. O porta-aviões americano adernou a 25° e teve de ser abandonado pela tripulação, afundando mais tarde. Em contrapartida, o Hiryu foi localizado e afundado pelos SBD-3 do Hornet e do Enterprise, às 17 horas. Era o último lance da grande batalha.Em geral, o Grumman F4F Wildcat era o caça de cobertura da frota dos EUA. Embora robusto e muito resistente, não superava os ágeis A6M Zero.

As perdas da Marinha japonesa foram catastróficas: quatro porta-aviões, o cruzador Mikuma e 332 aviões (em combate ou com os porta-aviões), além da morte de 216 pilotos de grande experiência, insubstituíveis. O prejuízo americano somou um porta-aviões, o destróier Hamman e 150 de seus 307 aviões.

Guerra nas Aleutas

Os japoneses ocuparam as ilhas de Kiska e Attu, nas Aleutas, em 6 e 7 de junho de 1942. Isso abriu uma nova frente de guerra, numa área caracterizada por um dos mais imprevisíveis climas do mundo. Para as operações aéreas, hidroaviões Aichi E13A2, Nakajima E8N2 e Mitsubishi F1M2 foram transportados pelos navios Chitose, Chiyoda e Kamikawa-Maru. Os americanos tinham a 11ª Força Aérea, do general William Butler, com três esquadrilhas de caças (Curtiss P-40F e Bell P-39D), uma de bombardeiros (Consolidated B-24D), duas de bombardeiros médios (North American B-25B e Martin B-26A) e uma de transporte. Desde o início, os B-24 partiram em freqüentes incursões de Unmak e Cold Bay até Kiska, enquanto os P-40, P-39 e Lockheed P-38 F-1LO Lightning patrulhavam sobre as bases americanas. Em 4 de agosto, os P-38 abateram dois hidroaviões Kawanishi H6K4, iniciando uma longa e morosa guerra entre as duas pequenas forças aéreas nas Aleutas.

De 3 de junho a 31 de outubro, a 11ª Força Aérea, reforçada por mais duas esquadrilhas de bombardeiros e várias unidades da Marinha dos Estados Unidos (com PBY-5 Catalina e Lockheed PV-1 Ventura), anunciou ter abatido 32 aviões japoneses em combate e outros treze no mar. Mas as próprias baixas americanas refletiam a dificuldade dos pilotos em operar naquele clima péssimo: dos 72 aviões destruídos, apenas nove foram derrubados pelos caças A6M2-N ou pelo fogo antiaéreo. Além de bombardear Attu e Kiska, a 11ª Força Aérea deu cobertura a numerosas operações destinadas a recuperar ilhas do arquipélago das Alentas. Adak foi tomada sem resistência em agosto e Amchitka em 12 de janeiro de 1943. A posse dessas ilhas deixou Kiska ao alcance dos P-40N e P-38. Como se previa, a oposição mais forte dos japoneses só começou em Attu, em 11 de maio, com a utilização de bombardeiros baseados em terra. Em 30 de maio, Attu caiu.

O primeiro ataque da 11ª Força Aérea às bases das Kurilas ocorreu em 10 de julho de 1943: oito B-25C investiram contra navios em Paramushir e Shimushir. Daí em diante, os japoneses foram obrigados a manter fortes grupos de caças Zero e Nakajima Ki-43 nas Kurilas setentrionais, para enfrentar os Liberator e B-25 da 11ª Força Aérea e as esquadrilhas da Marinha. Com a retirada japonesa de Kiska, em agosto de 1943, a região das Aleutas voltou a ter importância secundária na guerra.

Ilhas Salomão

Em 1942 e parte de 1943, bem mais importante era a vasta área salpicada de ilhas englobando o arquipélago das Bismarck, as ilhas Salomão e a Nova Guiné. Sob o forte Sol tropical e castigado pelas chuvas de monções, o setor correspondia à área do Pacífico sob o comando do general Douglas McArthur. Em março de 1942, os japoneses já haviam estabelecido bases na costa norte de Papua, em Lae, Salamaua e Finschhafen. Com a cobertura dos Zero, bombardeiros G4M1 baseados em Rabaul faziam incursões diárias contra a principal base aliada de Port Moresby. Enquanto isso, uma força conjunta dos EUA e da Austrália defendia o porto, executava missões de interceptação contra bases japonesas de Papua e atacava comboios de suprimentos. Em certa ocasião, bombardeou os aeroportos de Vunakanau e Lakunai, em Rabaul.

O 9° Grupo da Força Aérea australiana tinha quatro esquadrilhas baseadas em Moresby, com aviões Lockheed Hudson Mk III, Douglas Boston Mk III e Bristol Beaufighter Mk IC e Beaufort TB.Mk II. Em julho de 1942, o brigadeiro George Kenney comandava a 5ª Força Aérea americana com os grupos de bombardeiros 3° (leve, com Douglas A-20B e A-24), 22° e 38° (médios, com B-26B e B-25C) e o 43° (pesado, com Boeing B-17F); havia ainda os Bell P-39D e Curtiss P-40 e P-40F do 8°, do 35° e do 49° Grupos de Caças.

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Em novembro, Kenney recebeu o 90° Grupo de Bombardeiros (B-24D Liberator) e o 35° foi equipado com os esperados caças bimotor Lockheed P-38F Lightning. Porém, a falta de motores e peças sobressalentes reduzia a força disponível a não mais que dez B-17, quarenta bombardeiros médios e 55 caças. No noroeste da Austrália, duas esquadrilhas defendiam Darwin (com Curtiss P-40E) e outras quatro realizavam missões ofensivas contra Timor e o mar de Arafura. Nesse setor, o principal objetivo Aliado estava em Kendari (ilhas Célebes): a 23ª Flotilha Aérea do Japão, que executava freqüentes ataques a Darwin.

FONTE: Guerra Nos Céus #40