EUA e Rússia devem renovar acordo de redução de armas nucleares.
Conflito entre potências levou às corridas armamentista e espacial.
Principais protagonistas da Guerra Fria, período histórico de conflitos indiretos que dividiu o mundo entre 1945 e 1991, Rússia e Estados Unidos estão próximos de chegar a um acordo sobre uma nova estratégia de redução de armas nucleares.
O último acordo, chamado de Tratado Estratégico de Redução de Armas (Start, na sigla em inglês), firmado em 1991, expira seu prazo de validade neste sábado (5). A Casa Branca espera que um novo acordo seja negociado antes do dia 10, a tempo de ser anunciado antes que o presidente Barack Obama receba o prêmio Nobel da Paz.
O presidente da Rússia, Dimitri Medvedev, e seu colega dos EUA, Barack Obama, durante encontro em 10 de julho na cúpula do G8 na Itália. (Foto: AFP)
Um acordo nuclear reduziria o impacto negativo de Obama receber o prêmio logo após ter anunciado o envio de mais 30 mil homens à Guerra do Afeganistão.
Duas principais potências nucleares do mundo, EUA e Rússia (então parte da União da Repúblicas Socialistas Soviética - URSS) disputaram influência política, econômica e ideológica e polarizaram boa parte do mundo em dois grandes blocos capitalista e socialista no período compreendido entre o fim da Segunda Guerra, em 1945, e a dissolução da União Soviética, em 1991.
O conflito é chamado de “Guerra Fria” porque as duas potências não travaram uma guerra direta, mas iniciaram a corrida pela construção de um grande arsenal de armas nucleares. Os dois países também se envolveram indiretamente numa série de conflitos regionais, apoiando os seus aliados nas guerras da Coreia (1950-1953), do Vietnã (1962-1975) e do Afeganistão (1979-1989), entre outras.
Divisão
Ao final da Segunda Guerra, a Alemanha derrotada foi dividida em quatro áreas de ocupação pelas potências vencedoras. Três anos depois, Estados Unidos, Reino Unido e França resolveram criar um Estado único provisório e fazem uma reforma monetária a fim de controlar a inflação galopante da Alemanha Ocidental e aumentando o isolamento da União Soviética, que controlava a quarta região.
Em julho de 1947, os EUA anunciaram o Plano Marshal, que ofereceu ajuda econômica para reconstruir os países aliados da Europa. Em resposta, a URSS lançou o Comecon, para garantir auxílio mútuo entre os países socialistas em 1949.
No mesmo ano, os soviéticos explodiram sua primeira bomba, dando início à chamada “corrida nuclear”. EUA, Canadá e os princiais países da Europa capitalista criam a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar que visava proteger os países membros em caso de ataque do leste europeu.
Apoio a guerras
Nos anos 50, os Estados Unidos endureceram a perseguição aos ideais soviéticos com a criação, pelo senador John McCarthy, de um comitê de investigação de atividades comunistas. Todo aquele que apoiasse ou cometesse atos considerados comunistas ficava sujeito a prisão ou extradição.
A política de contenção às atividades comunistas também levou os EUA a apoiar duas guerras: a da Coreia, que resultou na criação de duas nações, uma capitalista no sul, e outra comunista no norte, e a do Vietnã, que também tem participação direta da URSS, e da qual os EUA saem derrotados. Os dois países também testaram suas primeiras bombas de hidrogênio, e a União Soviética reuniu seus aliados na Europa Oriental no Pacto de Varsóvia, em 1955, uma espécie de resposta à Otan.
Corrida espacial
O desenvolvimento tecnológico na produção de mísseis e foguetes também levou as duas potências a uma corrida espacial. Em 1957, a URSS lançou o Sputinik I e o Sputinik II, primeiro artefatos humanos a orbitarem a Terra. O segundo levou a bordo a cadela Laika. No ano seguinte, os EUA entrariam na disputa com o lançamento do Explorer I.
Em 12 de abril de 1961, o russo Yuri Gagarin deu uma volta completa ao redor do planeta, tornando-se o primeiro homem a entrar em órbita. A resposta americana viria em 1969, com a transmissão, ao vivo por redes de televisão, da chegada do primeiro homem à lua.
Muro de Berlim
Em terra, a disputa endureceu ainda mais com a construção, em 1961, do Muro de Berlim, que dividiu a fisicamente a cidade (e boa parte do mundo) em zonas de influência capitalista e comunista. Em 1962, a tensão entre as duas potências chegou à beira do conflito aberto quando os EUA descobriram a construção de bases militares soviéticas em Cuba.
O episódio conhecido como crise dos mísseis terminou com um acordo, mediado pelas Nações Unidas, em que a URSS se compreteu a retirar da ilha todas as suas armas e os Estados Unidos a acabar com o embargo à Cuba – medida que não foi cumprida até hoje.
A fim de tentar conter a corrida armamentista, Estados Unidos, União Soviética e Grã-Bretanha assinaram em 1963 um tratado de não-proliferação de armas nucleares. O jogo político começou a ganhar novos contornos em 1968 e 1969 com ideias de abertura política na Tchecoslováquia e na Alemanha.
Distenção
Em 1973, as duas potências concordaram em desacelerar a corrida armamentista. O acordo é selado simbolicamente com um encontro no espaço entre as aeronaves Apollo 18 e Soyouz 1, na primeira missão conjunta entre os dois países, em 1975.
Quatro anos mais tarde, no entanto, os ânimos voltaram a se exaltar com a invasão soviética ao Afeganistão. Na batalha contra a ocupação soviética, os EUA apoiam a resistência, que mais tarde dariam origem ao Talibã.
Perestroika e Glasnost
Mikhail Gorbachev chegou ao poder em 1985 pregando a necessidade de reformar a URSS. Ficaram conhecidas as duas principais medidas lançadas pelo líder soviético: a Perestroika, plano de reforma econômica que previa a diminuição do orçamento militar -e a conseqüente retirada do Afeganistão- e a Glasnost, reforma política que garante liberdade religiosa e transparência.
Gorbachev também se encontraria com o então presidente americano Ronald Regan, em 1986. Os dois assinariam, no ano seguinte, um tratado para eliminação de armas e desativação de grande parte das ogivas nucleares.
O ano de 1989 foi marcado por uma série de revoltas populares pedindo o fim do regime socialista, que se espalham por Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia. O processo culmina com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro, que para muitos marcou o fim da Guerra Fria.
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A dissolução da União Soviética no fim dos anos 80 e início dos 90, no entanto, tornou sem sentido o mundo polarizado. Embora, 13 anos depois, Estados Unidos e Rússia ainda continuem a negociar acordos para garantir a redução das armas nucleares dos dois países.
Fonte:G1