13.6.11

Grozny

Introdução


Grozny, a capital da Chechênia, uma ex-república autônoma da federação Russa, tem aparecido constantemente no noticiário internacional desde que o governo local rebelou-se contra Moscou em 1994 e, mais recentemente, com a operação de guerra desencadeada pelo governo russo que culminou em fevereiro de 2000 com a sua completa destruição, para evitar que ela seja novamente a sede de um movimento separatista que ameaçava transbordar para as republicas caucasianas vizinhas. Grozny, poucos sabem, foi inicialmente um acampamento militar que os russos fundaram naquela região turbulenta em 1818, e o seu nome deve-se a uma homenagem ao czar Ivan IV, conquistador dos tártaros e dos mongóis, conhecido como Ivan Grozny (o Terrível),um dos maiores tiranos registrados pela história, morto em 1584. Saiba o porquê dele ter sido assim cognominado.

"Não sabes então que meu povo só deseja devorar-me? Há gente perto de mim preparando-se para destruir-me! - Ivan o terrível ao Metropolita Kolitchev, 1566


Ivan Grozny, o Terrível (1530-1584)

Eisenstein, o cineasta soviético, fez do acontecimento histórico uma cena notável. Vê-se na tela do seu "Ivan, o Terrível", o perfil de ave de rapina do czar (interpretado pelo ator Nikolai Cherkassov), enquanto que ao fundo, serpenteando pela neve, estendia-se a multidão dos requerentes que vinham ao encontro do czar. Neste episódio da história da Rússia, ocorrido em janeiro de 1565, o autocrata, na verdade, só recebeu em audiência um pequeno número de súditos. Aquele gente toda, que ficara acampada ao longe, sacrificara-se numa viagem de penitência de 120 quilômetros, em pleno inverno russo - de Moscou até Alexandra Sloboda (um antigo pavilhão de caça transformado em fortaleza), para vir implorar pelo retorno do czar ao Kremlin. Um mês antes da cena, Ivan retirara-se da capital, insatisfeito com quase todo o mundo: dos sacerdotes da Igreja Ortodoxa aos boiardos (**), a nobreza russa que, segundo ele, não o deixavam governar o país a sua vontade. Quanto ao povo, ele não tinha queixas.

Um pouco antes da súbita partida, em dezembro de 1564, o czar reunira os altos dignitários na Catedral de Uspênski no Kremlin de Moscou e, amargurado, despedira-se deles. Que fossem todos para o inferno! Ele não agüentava mais os cerceamentos que os grandes lhe faziam. Não renunciara ao trono porém, nem abdicaria. Simplesmente ele mandou juntar os inumeráveis ícones, espalhados pelas igrejas da capital, e mais umas placas de ouro do tesouro real, e abandonou a cidade. Acompanharam-no a czarina Ana e alguns dos seus favoritos, numa viagem em que ninguém sabia onde iriam parar, talvez, nem o próprio czar. Supõe-se que foi pelo caminho, em meio ao gelo e à incessante neve, que lhe veio a idéia de separar a Rússia em duas áreas administrativas. Uma só para ele e a outra para os nobres.

(*) a Iª Parte do filme estreou em 1942, e a IIª Parte em 1946

(**) Os boiardos eram integrantes de uma espécie de senado da grande nobreza russa, escolhidos entre a mais alta linhagem. A Rússia originalmente era uma confederação de boiardos espalhados pela região de Moscou que gradativamente, com o crescimento da autocracia, foram perdendo seus privilégios e sua autonomia, terminando como servidores do czar.

Ivan, os primeiros anos: filho de Vassili III, Ivan Vassiliévitch nasceu no Kremlin de Moscou, em 18 de março de 1530, ascendendo ao trono ainda criança, tendo a sua mãe, uma princesa bizantina, como regente. A princípio seu título era de Grão-Príncipe de toda a Rússia, tornado-se czar em 1547, com apenas 17 anos. Governou a princípio amparado pela Rada (o conselho dos boiardos), mas o sucesso das suas campanhas militares contra os tártaros e contra os mongóis (conquista de Kazan em 1552, e do Astracã em 1556) fizeram com que ele considerasse as instituições existentes como um sério embaraço ao seu poder autocrático. Uma série de assassinatos executados por seus sicários levaram à crise com os poderosos, e ao seu subsequente abandono da capital.

Um país em pânico: quando a população de Moscou deu-se conta do ocorrido, estalou o pânico. Com a ausência do czar quem iria agora proteger a Rússia? A quais autoridades deveriam doravante a obediência? Onde estava o czar? As portas do clero e dos templos ortodoxos retumbavam pela barulheira feita pelas mãos da gente do povo que, em palma ou fechadas, não cessavam de bater desesperadas. O vazio que sentiram com a súbita ausência do czar e dos seus mais chegados deixou-os com a sensação de completo desamparo. Os boiardos que se arriscavam a transitar pelas ruas de Moscou sentiam pesar sobre eles os olhares acusadores do homem comum. Pedaços de gelo e bolas de neve voavam sobre suas cabeças. Eles, aqueles pomposos arrogantes, é que eram os culpados. Eles é que infernizaram a vida do pobre czar ao ponto de fazê-lo sair do Kremlin.


O Kremlin e a Moscou do século 16

Os inimigos da Rússia: a Rússia de Ivan o Terrível, a Rússia do século 16, não tinha fronteiras seguras. Na verdade nem tinha fronteiras. Para o lado que um súdito russo olhasse havia tênues linhas flutuantes e inimigos ameaçadores. Para as bandas ocidentais eram os suecos, os poloneses e os alemães quem dominavam as passagens do Mar Báltico, dificultando o contato da Rússia com o grande comércio; ao sul, espalhavam-se os tártaros e o Império turco-otomano que reinavam sobre a estepe e o Mar Negro; ao Oriente, não muito distante de Moscou, numa indefinível linha norte-sul de mais de 5 mil quilômetros de extensão, ficavam os mongóis, os descendentes da Horda Dourada de Gengis Kã, que devastara a Rússia no século 13, e que até então os separavam das riquezas naturais da Sibéria. Esta situação de fragilidade permanente, de constante insegurança de um país geograficamente devassável, é que sempre foi a base de sustentação psicológica da autocracia. Um povo que se sentia sitiado e odiado pelos vizinhos era propenso a apoiar um regime despótico. O que o governo russo da época dominava eram as nascentes do Rio Volga e do Rio Don, o que lhe permitia fortificar-se no Kremlin em Moscou e efetuar campanhas de surpresa contra seus inimigos descendo pelos grande rios.

A simbologia do poder: provavelmente a conversão do povo russo ao cristianismo ortodoxo promovida por São Cirilo, um monge bizantino que introduziu a Bíblia e o alfabeto grego (acrescido de mais 12 letras adicionais para contemplar os sons eslavos), no século 9, fez com que as instituições e a simbologia bizantina, tanto a sacra como a profana, fossem também importadas pelos russos. Vê-se esta presença com mais evidência na arquitetura com seus templos com cúpulas aceboladas e na profusão de pinturas em ícones ilustrando a decoração geral das igrejas. Mas os russos também adotaram o princípio cesaropapista, isto é, o chefe do estado também é o chefe da igreja. O seu governante supremo era o czar (de César, imperador), o governante autocrata(pantocrata em grego, e samoderzhets em russo). O exemplo arquitetônico máximo dessa unidade de poderes, o secular e o religioso enfeixado numa só mão, é o Kremlin (fortaleza), que encerra em seus muros altos, tanto os edifícios administrativos (o poder temporal) como as igrejas (o poder espiritual). Os russos adaptaram, pois, a nomenclatura bizantina às suas necessidades de um estado fortíssimo e implacável, bem como viram na águia negra bicéfala, símbolo do basileu grego, um ícone adequado para expressar o poder imperial russo.


Catedral de São Basílio (Catedral Pokrovsky), mandada erigir por Ivan em 1555-7

A estrutura do poder do Czarado e a divisão tributária: as três regiões distintas que formavam a Rússia de então, o norte-nordeste, o centro-leste e o sul (a taiga gelada, a fértil planície ao redor de Moscou e as estepes), compunham-se de setores sociais distintos que se uniram para proteger-se, dando plenos poderes ao autocrata no Kremlin.

O Czarado

O czar (autocrata)

Região SulRegião centro-lesteRegião norte-nordeste
Cossacos do DonGrandes proprietários (Boiardos)Comunas rurais (mir)
Cidade: RostovCidade: MoscouCidade: Novgorod

Quanto ao sistema tributário russo, ele separava em geral os habitantes que pagavam impostos, isto é, a massa dos camponeses "negros" que viviam ao redor da comuna rural (mir), obrigados ao obrock (taxa anual entregue ao proprietário ou ao estado), e as corporações mercantis (gostinaia), dos outros, dos privilegiados, isto é, os membros do clero, os monges dos mosteiros, os gosti, uma pequena elite de mercadores favorecidos pelo czar, e os barines, os senhores de terra.

A sociedade russa


situada entre a Europa e a Ásia, a Rússia do século 16, apesar de cristianizada desde 862 era vista como um país habitado por bárbaros. Tanto o povo comum, aquele mar de camponeses que a povoava, como os proprietários e os integrantes da corte, usavam longas barbas que se derramavam pelo peito abaixo, dando a eles um ar selvático, primitivo. A Igreja Ortodoxa proibia expressamente que as cortassem pois não admitiam profanar o que Deus determinara aos homens. As mulheres em geral era criadas dentro do espírito asiático de total obediência aos seus pais e maridos. Sua obrigação era sempre manter seus cabelos longe da vistas dos homens, cobrindo-os com lenços.

Os camponeses moravam em habitações paupérrimas, em casebres de madeira com telhado de palha, sempre enfumaçados pela presença constante de um fogo aceso. Os nobres e os proprietários, quando não viviam em fortes ou fortins, possuíam dachas, casas de campo bem maiores e bem mais confortáveis. Se a miséria era espantosa, isso não era impedimento para que a corte, dentro da tradição dos costumes orientais, ostentasse um luxo escandaloso, fazendo com que o contraste social na Rússia fosse espantoso. Quanto ao russo comum, a imagem dele que tinham os europeus era a de um tipo semi-selvagem, rude, analfabeto, extremamente supersticioso, condenado a viver sob a ameaça do knute, o chicote, sempre posto de joelhos perante o seu senhor.


Os carregadores de barco do Volga, quadro símbolo do sofrimento do russo comum

O tumulto na corte e a teoria da doença: muitos historiadores atribuem o sanguinarismo de Ivan, o Terrível, à infância atormentada que passou na corte de Moscou, onde, desde que nascera, presenciou o assassinato de grande parte dos seus parentes e o encarceramento de tantos outros. A surpreendente morte da sua esposa, a czarina Anastácia em 1560, provavelmente envenenada, também teria contribuído para o excessos posteriores cometidos por Ivan. Porém isso parece falso. Nada indica que a corte russa fosse muito diferente de qualquer outra corte asiática, ou mesmo dos governos tirânicos das cidades-estados italianas daquela época, onde o veneno e o punhal traiçoeiro eram moeda corrente, se bem que evidentemente em outra escala. O que parece que predominou e que levou Ivan a executar a grande matança foi a insuportável tensão nascida do choque entre a crescente importância da autocracia, desejada por ele, e os direitos adquiridos da Igreja Ortodoxa e dos boiardos. Analistas como O.V.Kliuchevskii e S.B.Veselosvskii insistem, porém, em diagnosticar no czar uma evidente paranóia, enquanto Edward L. Keenan apontou para uma grave doença na espinha que o acometera em 1560 deixando-o exasperado e doido.


Ícone do Deus-menino

A divisão administrativa e a servidão: aproveitando-se da comoção provocada pelo seu exílio em Alexandra Sloboda, assistindo ao embaraço do clero e dos boiardos em sentirem-se responsáveis pelo sentimento de orfandade em que o povo se encontrava, Ivan, a cavaleiro da situação, exigiu duas condições para o seu retorno a Moscou: 1) o direito de exterminar com os traidores sem os formalismo legais e 2) que concordassem no czar ter um Reino Separado, reservada apenas para si, a Oprichnina ("separado"), enquanto o restante, a Zemshchina, ficaria sob administração dos boiardos (mas aceitando interferências dele). Como compensação para o encolhimento do poder da nobreza, Ivan permitiu a adoção da servidão da gleba por parte dos grandes proprietários. Os kristiani, os camponeses russos, doravante não poderiam mais abandonar as terras em que estavam sem licença dos patrões.

A divisão administrativa, entretanto, não era estranha ao mundo imperial; Otávio Augusto, o imperador romano, também separara no século I a.C. as províncias imperiais, das províncias senatoriais (supervisionadas pelo senado ). Até na França do século 16 existia opays d'état (onde as ordens negociavam com o rei as leis e os assuntos financeiros) e o pays d'élection (administrado pelos funcionários do rei). Assim, num primeiro momento, as exigência de Ivan para retornar a Moscou não pareceram estapafúrdias nem danosas a ninguém. Mas logo todos se arrependeriam amargamente.

OPRICHNINAZEMSHCHINA
O Reino Separado: controle direito do Czar

Sede: Alexandrova Sloboda e o Kremlin em Moscou

Governo: Conselho dos Quatro: (Basmanov, chefe dos oprichniki, Viazênski, Zaitsev e o próprio czar Ivan)

Área: compreendia quase todo o norte, as cidades comerciais voltadas para o Báltico e o Mar Branco, e algumas grandes cidades do país

O Domínio: controle do Conselho dos boiardos

Sede: Moscou

Área: tudo o que ficou fora da Oprichnina

Obrigações: manter com seus recursos os dispêndios do czar na manutenção do seu Reino Separado

O Reino do terror: para executar seu grande plano de vingança contra os boiardos e todos os que ousaram desafiá-lo no passado, Ivan concebeu uma organização paramilitar: os oprichniki. Formavam eles uma irmandade criminosa, disfarçada de ordem religiosa, tendo em Ivan uma espécie de abade-chefe. Os alistados, em sua maioria, originavam-se da pequena nobreza provinciana que, servindo caninamente ao czar, viam um modo de ganhar terras e fazer prosperar suas famílias. Vestiam-se todos de negro como numa ordem monacal, inclusive o czar, e tinham amarrados nas selas dos seus cavalos, pendentes, cabeças de cães decepadas para mostrar a todos a sua determinação assassina. Eram uma tropa de elite, o equivalente russo-tártaro da guarda pretoriana dos imperadores romanos.

O próprio Ivan preparava as listas das pessoas a serem presas, torturadas e executadas. Jogou os oprichniki com furor implacável sobre suas vítimas, não poupando os anciãos, as mulheres, nem as crianças. Prisões em massa era intercaladas com assassinatos seletivos dos membros da alta nobre e do alto clero. Muitas deles eram conduzidos para Alexandra Sloboda, onde eram supliciados nos porões da fortaleza. Ivan, muitas vezes, supervisionava as flagelações e as mutilações, não se importando quando o sangue dos atormentados respingava no seu rosto.

As execuções em massa: durante os dez anos seguintes, de 1565 até 1575, a Rússia viveu sob sistemático terror desencadeado pelo seu próprio governante. Intercalando com as guerras contra os inimigos externos, Ivan nunca deixou de atormentar os que imaginava serem potencialmente seus inimigos.

AnoAs vítimas de Ivan
1563Primeiro período de execuções em massa: parentes de Alexei Adashev, um favorito caído em desgraça
15652º período: Príncipe Gorbati-Chuiski e outros nobres
15663º período: os nobres que pediram a Ivan o fim da Oprichnina
15684º período: execuções que se estenderam pelo ano todo, considerado o pior período. O metropolita Philipp, o chefe da Igreja ortodoxa confronta-se com Ivan (o padre será julgado, deposto e preso). Ele será assassinado um ano depois pelo chefe oprichniki Maliuta Skuratov
1569/nov.dez.5º período: execução de Vladimir de Staritsa, sua mulher e filha, sua mãe, os nobres da corte dele e várias pessoas comuns ligadas a ele. Queda dos chefes oprichniki Basmanov e Viazênski, ascensão de Maliuta Skuratov e V. Griaznoi
1569/ dez.-março6º período: expedição punitiva a Novgorod, Pskov, Tver e outras cidades; estima-se em 30 mil as vitimas do pogrom de Novgorod
15707º período: mais de 300 executados na Praça Vermelha em Moscou, entre eles o ministro das relações exteriores Ivan Viskováti que teve a coragem de pedir a Ivan que parasse com a matança.
15718º período: executados vários chefes oprichniki por covardia perante a invasão tártara do Cã da Criméia ocorrida em maio e que provocou o incêndio de Moscou
15759º período: apesar da oprichina ter sido abolida em 1572, deu-se ainda uma execução de 40 nobres e sacerdotes em Moscou.

As contradições de Ivan: o czar era um homem muito religioso, apegado as coisas da igreja, aos relicários, aos ícones, e às pinturas sagradas. Cada vez que mandava executar uma sentença de morte, enviava quase que de imediato a um dos seus mosteiros preferidos, uma generosa quantia para que rezassem pela alma dos mortos. Por vezes, remetia listas inteiras feitas de próprio punho de todos os que exterminara. Como isso resultasse em insônia, ele ordenava que leitores o embalassem ao leito com histórias da vida dos santos.

Este permanente sentimento de culpa jamais o impediu do que quer que fosse. Em algumas salas da sua fortaleza-mosteiro de Alexandra Sloboda ele mandara pintar nas paredes cenas imaginárias do inferno, onde até hoje pode-se ver os desgraçados se contorcendo, sofrendo torturas atrozes. Quando ele desejava que alguém fosse submetido a uma daquelas aflições ali desenhadas, ele a apontava para o carrasco. Num dos murais, vê-se um grupo de vítimas sendo tirados do gelo e, em seguida, postas no fogo. Esse era um dos tormentos favoritos de Ivan. Na concepção cristã-ortodoxa do inferno, frio e calor extremo, os opostos, andavam juntos. Foi o mesmo pesadelo que ele determinou que a população de Novgorod sofresse, no pogrom do inverno de 1569-70. As vítimas tinham primeiro suas roupas queimadas e, em seguida, eram jogadas em chamas nas águas geladas do Rio Volkhov e do Lago Ilmen.


Após ter assistido a missa na Catedral de S.Sofia em Novgorod, no dia 7 de janeiro de 1570, Ivan ordenou o massacre de 500 monges e da população da cidade.

Entre o inferno e a boa mesa


ao contrário dos demais príncipes europeus ocidentais, seus contemporâneos, fascinados pelos relatos sobre o Paraíso, Ivan era obcecado pelas imagens pelo Inferno, pela danação das almas, pelos horrores que as aguardavam no Reino de Lúcifer. A leitura mais aprofundada dele era a da Bíblia, de onde extraiu a convicção do poder resultar da vontade divina, a qual ninguém poderia opor obstáculos sem arcar com punições severíssimas. O czar sentia-se bem em meio à liturgia bárbara da igreja ortodoxa, com seus altares coalhados de velas acesas e incensos enfumaçados expelidos das caçoulas. Mas também não desprezava a boa mesa, ao contrário, era um hedonista. Os banquetes que Ivan oferecia, tanto no Kremlin como em Alexandra Sloboda, eram apreciadíssimos. Os convidados estrangeiros espantavam-se com o luxo asiático da corte, com o esbanjamento da comida servida em enormes travessas de ouro maciço, e com as taças com jóias incrustadas, servidas por um exército de incansáveis fâmulos. O próprio Ivan, em faustosos trajes orientais, bordados com fios de ouro, tendo rubis, esmeraldas e diamantes como botões, costumava trocar ainda assim três vezes a sua coroa durante essas recepções à mesa.

Um monstro gótico: nem o gosto pela missa, nem o prazer pela mesa, evitavam que, depois de despachados os hóspedes e demais convidados, Ivan descesse às masmorras (geralmente embriagado), para extasiar-se com o sofrimento infligido aos presos nas câmaras de tortura.

Ele estava longe de ser um príncipe renascentista. Nem o humanismo nem o passado clássico da cultura grega o interessavam. Pode-se dizer que seu universo mental circulava ao redor da Bíblia, dos Evangelhos, quase sempre envolto em seus temores ao sobrenatural, acreditando em magos e feiticeiros, e limitado pelos muros da fortalezas em que se abrigava, dos mosteiros que visitava, e das igrejas que freqüentava. De certo modo ele pode ser classificado como um monstro gótico, medieval, uma gárgula num corpo humano aplacando com sangue seus medos mais profundos.


Ícone de Ivan, o Terrível

Um empecilho ao renascimento e à reforma: pode até cogitar-se que o longo reinado de Ivan, o Terrível, de 1547 a 1584, apesar dele ter mandado construir a catedral de São Basílio (tida como um dos mais belos edifícios religiosos da arquitetura ortodoxa que se conhece, para celebrar a vitória russa sobre os canatos de Astracã e Kazan), foi um entrave a que a Rússia conhecesse, ainda que à distância, as conquistas do Renascimento. Simbólico da sua repressão ao que poderia vir a representar o renascimento russo, foi o exílio forçado do Príncipe Kúrbski que refugiou-se na Lituânia em 1564, de onde enviou algumas cartas ferinas repreendendo Ivan pelo regime de terror que implantara no país. O fato de Kúrbski, um homem culto, tradutor do grego e estudiosos do latim ciceroniano, não poder viver mais em segurança na Rússia é demonstrativo do obstáculo imposto pelo regime do czar totalitário ao avanço do humanismo e do estudo dos clássicos.

A mão de ferro de Ivan também não permitiu qualquer dissidência no campo religioso, fazendo com que a Reforma religiosa, que sacudia o Ocidente quando ele ascendeu ao poder, não tivesse a mínima influência sobre a Igreja Russa Ortodoxa, mantendo-a atrasada em relação às suas congêneres européias. Um manso braço do estado autocrático que naufragou com ele quando ele foi posto a pique em 1917.

O fim de Ivan, o Terrível: : a violência que cercava o mundo de Ivan não podia deixar de fazer vítimas entre a sua própria família e pela própria mão do czar. Em novembro de 1581, diz-se que num acidente, quanto estava em pleno acesso de fúria, Ivan matou um dos seus filhos com um golpe de atiçador na cabeça do jovem, também chamado de Ivan. Quando o czar morreu em 18 de março de 1584, com 53 anos, ouve um suspiro geral de alívio no país inteiro. Os súditos do czar pelo menos podiam voltar a dormir sem ter que preocupar-se em serem despertados no meio da noite pelos mensageiros da morte de Ivan, ou terem que suportar o nauseante cheiro dos cadáveres putrefatos, trazido pelo vento que vinha do Rio Moskva, pois o czar impedia que enterrassem depois das execuções coletivas ordenadas por ele. Mas em outros setores o vazio da sua morte provocou temores e sensação de desamparo, como neste canto entoado pelo metropolita e seu séquito no leito de morte do czar:

Onde está a cidade de Jerusalém?
Onde está a madeira da Cruz doadora da vida?
Onde está nosso Senhor Czar, o Grão-Príncipe Ivan Vassilevitch de toda a Rússia?
Por que deixaste teu Czarado Russo e teus nobres filhos e nos deixastes órfãos a todos nós?


O único filho de que restou dos sete casamentos do czar, o czarevitch Dmitri não durou muito, aparecendo morto em 1591, aos 9 anos de idade. As suspeita-se recaíram sobre o genro de Ivan, Boris Godunov, que entronou-se como czar em 1598. Com a morte do menino herdeiro encerrou-se a linhagem dos Riurikid. Porém a desconfiança lançada sobre a legitimidade do Czarado de Boris Godunov fez com que vários pretendentes se alçassem com ambições ao trono, fazendo com que a Rússia passasse pelo chamado Tempo dos Tumultos (smutnoe vremia), que estendeu-se por quinze anos, de 1598 até a ascensão do primeiro Romanov, o príncipe Miguel Fedorovitch, em 1613.


Ivan matou seu próprio filho, e como sempre fazia, chorou profundamente arrependido

A projeção de Ivan, o Terrível na história: tecnicamente foi ele quem implantou a autocracia na Rússia, fixando as bases de um regime que só seria derrubado pela revolução de 1917. Durante os 370 anos seguintes o princípio do absolutismo extremado perdurou na história russa com poucas alterações. A comparação mais evidente que se faz é entre o reinado de terror de Ivan o Terrível - o decênio negro de 1565-1575 -, e o Grande Terror desencadeado por Stalin entre 1936-38 na URSS. Enquanto o primeiro esmagou os boiardos, o segundo voltou-se contra a velha guarda bolchevique e a elite militar soviética. Se Ivan contou com Andrei Basmanov e com Maliuta Skuratov, os comandantes oprichniki, para suas execuções e prisões em massas, Stalin tinham para o mesmo fim a N.I. Yezhov e, depois, Lavrenti Beria, os chefes dos chequistas (a polícia secreta soviética).

O filósofo Hegel disse certa vez que uma das funções mais nobres do estado é servir como um instrumento pedagógico dos seus cidadãos, procurando educá-los no respeito às regras da vida civilizada. Um estado assassino como o que "a consciência leprosa" (*) de Ivan, o Terrível implantou na Rússia do século 16, introjetou nos súditos e seus descendentes a triste idéia de que o chefe de governo, em certas condições, pode colocar-se acima de tudo o mais na Terra, e que não assiste ao povo, ou qualquer instituição, seja a duma (o parlamento) ou o zemstvo (assembléias provinciais), direito algum em se lhe opor.

(*) expressão do príncipe Kúrbski, em carta a Ivan.

Ivan o Terrível e Stalin: a similitude entre ambos os governos e personalidades foi feita aliás pelo próprio Stalin que, como Ivan, estava convicto de que as matanças e os expurgos eram necessários para consolidar o poder e assim fazer um bem para a Rússia. O fascínio de Stalin pelo tirano que o antecedeu foi tal que chegou a orientar o grande cineasta soviético Sergei Eisenstein, que filmava um longo épico sobre Ivan o Terrível, num sentido positivo. Eisenstein, a princípio, inclinara-se a abordar a vida de Ivan mostrando-o como um terrorista doido e paranóico. Para Stalin, ao contrário, o czar fora um grande governante que dera segurança ao pais ameaçado de todos os lados. Elogiou-o, sem hesitar, pela utilização dos oprichniki, a policia política, no extermínio dos seus inimigos. O único senão, observou Stalin, foi "seu fracasso em liquidar as cinco grandes famílias feudais restantes". Pois bem, justificou-se ele, se Ivan, o Terrível, defendera o Cristianismo Ortodoxo eslavo (ameaçado pelo catolicismo polonês, pelo islamismo dos turcos, e também pelo animismo dos mongóis), Stalin defendia o Comunismo russo (tanto do nacional-socialismo alemão, como do liberalismo capitalista dos norte-americano).

Internamente, Ivan viu seus inimigos agindo entre os altos escalões nobreza e do clero; Stalin os enxergou mais embaixo, entre os kulaks, a classe média rural da União Soviética, que impedia a coletivização da agricultura. Mas as comparações param por ai. Stalin era um revolucionário. Através da centralização total do poder ele realizou uma radical transformação na sociedade russa. A partir do Iº Plano Qüinqüenal (1929-1934), adotando os princípios da economia planificada, proveu o pais de um poderio industrial e bélico que até então inexistia. O seu projeto de desenvolvimento era uma soma das idéias de Marx, com a teoria da vanguarda revolucionária herdada de Lenin, de quem sempre se confessou discípulo. Se por um lado impediu que o povo russo tivesse acesso à liberdade, confinando em massa os opositores e os dissidentes em uma vasta rede de campos de trabalho (GULAG), ele estimulou a juventude russa a interessar-se pelas ciências e pela pesquisa em geral, o que teve efeitos significativos no desempenho futuro do país.

A autocracia de Stalin, porém, não sobreviveu a ele. Morto em março de 1953, o poder na União Soviética foi assumido por um colegiado do Comitê Central do PC soviético. Se bem que sempre tivessem um líder mais saliente (Krushov, Brejnev ou Gorbachov), jamais algum deles chegou a arrebatar o poder, nos 36 anos seguintes a morte de Stalin, da forma absoluta e totalitária como secretário-geral do PC o fizera. Hoje, tanto Ivan, o Terrível, como Joseph Stalin são vistos pela atual geração como manchas escuras, de sangue bolorento, marcando como uma nódoa difícil de ser removida a consciência do povo russo.


Tolstoi na Chechênia


"Que energia e que força vital!, disse para comigo, pensando naquilo que me custara a arrancar o cardo. Como vendem cara a sua vida! Como lutou para defendê-la!" - Leon Tolstoi - Hadji Murat, 1896


Tolstoi alistado no Cáucaso, em 1856
Retornando para a Iasnaia Poliana, a sua tão famosa propriedade, Leon Tolstoi deparou-se, à beira do atalho que tomara, com um exuberante cardo tártaro. Atraído pela beleza da sua flor, cismou em querer arrancá-lo por inteiro. Puxou, puxou, até que, num gesto mais vigoroso, extraiu-o com raíz e tudo. Ufa! Que obra! A teimosia da planta em desgrudar-se do chão fez com que, aos poucos, ele recordasse da gente do Cáucaso. Quando jovem, ele servira lá como artilheiro, entre 1851 -54, enfrentando a resistência do líder checheno Chamil, que se estendeu até 1859. Como o cardo tártaro que o desafiara, aqueles montanheses - os chechenos, os inguches, os circassianos, os bats, os ossetianos, os azires e mais 50 outros tantos grupos étnicos -, tradicionalmente, batiam-se até o fim contra qualquer tentativa de remoção.

Entrando em casa, Tolstoi sentou-se na sua escrivaninha e, tomando a pena, deu-se a narrar a fascinante história de Hadji Murat (um lendário personagem, um naib, um misto de chefe clãnico e valentão foragido da lei, daquele canto perdido do sul da Rússia).

Áspera, e com altíssimos picos pedregosos, cercados por incríveis despenhadeiros, a cordilheira do Cáucaso (que liga os dois mares da Ásia Menor, o Cáspio e o Negro), é uma das esquinas do mundo. Logo, uma torre de Babel. A confusão das falas que lá impera é tamanha que os historiadores árabes chamaram-na de Jabal al-Alsine, a "Montanha das línguas". Desde 1723 aquela exótica região começou a cair no controle do Império Russo, quando Pedro, o Grande, venceu uma curta guerra contra o xá da Pérsia. Uns anos antes desta vitória, o czar enviara para lá a missão do Príncipe Volynsky, imaginando que dali, do Mar Cáspio (que a envolve pelo leste), partia um rio em direção à Índia, o que lhe abriria as portas do rico comércio com o Oriente.


Tolstoi em trajes de camponês quando decidiu-se a ser escritor e viver na sua propriedade
Morto logo em seguida à conquista, Pedro não viu nada dessa riqueza. Porém, no século 19, os russo sentiram-se compensados. Ao redor de Baku, no atual Azerbaijão, desde 1872, passaram a explorar um dos mais prodigiosos lençóis petrolíferos até então descobertos. Foi a riqueza desse produto estratégico para a vida moderna, que atraiu para lá, durante a invasão da URSS pelos nazistas, o Iº Exército Panzer do General von Kleist, que ocupou a Chechênia em julho de 1942, chegando, com a entusiasmada adesão dos habitantes locais, a erguer a bandeira nazista no Monte Elbrus, o pico mais elevado do Cáucaso. Atitude que, como não poderia deixar de ser, os soviéticos não perdoaram depois que conseguiram expulsar os nazistas da URSS.

A longa duração do domínio que os russos exerceram, e provavelmente ainda exercerão sobre o Cáucaso, encontra sua explicação na própria leitura do "Hadji Murad" de Tolstoi. As intensas rivalidades tribais, a existência de religiões adversárias (cristã e muçulmana, sunita e xiita), e a proximidade de duas poderosas nações islâmicas (a Turquia e o Irã) fez com que o fortim russo, com sentinela de plantão, fosse visto por muitos caucasianos, particularmente os cristãos, como um mal menor, senão como o único capaz de garantir uma certa ordem e uma relativa paz no caos histórico em que quase sempre viveram.


Coluna do exército russo em marcha nas Montanhas do Cáucaso em 1845

Mesmo assim, que se precavessem os russos! O czar Pedro, nas suas instruções ao príncipe Boris Kurkhistanov, o representante imperial no Cáucaso, recomendou que lidassem bem com a tribos locais, não lhes causando "constrangimento nem rudeza". Caso, porém, isso não funcionasse com aqueles povos orgulhosos, que fosse severo com eles, porque, afinal das contas, como ele disse, oni ne takoi narod, kak v Evrope!, eles, os chechenos, "não pertenciam às nações européias".

Com a flor do cardo despedaçada na palma da mão, Tolstoi lamentou-se. Esganara a pobre planta para nada. Contemplando o estrago, vendo-a esmaecida, moribunda, deu-se conta de que seu esforço só a desgraçou. De certa forma, esta é a situação do exército russo que, em fevereiro de 2000, se adonou de Grozny e de quase toda a Chechênia, repetindo com as armas o que o grande escritor, num equívoco, fizera, há bem mais de um século atrás, com as mãos.


A bandeira russa em meio as ruínas de Grozny

O Lobo Beria


"Como surgiu essa raça de lobos em meio do nosso povo? É a nossa raiz? É do nosso sangue?" - A .Soljenítsin - Arquipélago Gulag,1973


Lavrenti Beria (1899-1953)
Investigando os inícios, as pistas mais remotas do tão lamentado "culto à personalidade" dos tempos de Joseph Stalin, Robert Turcker, um prestigiado historiador da Rússia soviética, chegou a uma data e a uma carta. Era uma reprimenda que Stalin passara num pesquisador chamado A .G. Sluski, publicada num jornal em outubro de 1931. O infeliz ousara sustentar, anteriormente num artigo, que Lenin cometera certos equívocos na avaliação das ações dos sociais-democratas alemães em 1914. Stalin, altercado, deu-lhe um puxão de orelhas por duvidar da percepção do genial líder da revolução de 1917. Vladmir Ilitch não se enganava nunca!

Este foi o sinal enviado aos pesquisadores, cientistas e escritores russos, para que entendessem que se Lenin foi infalível, Stalin, seu herdeiro na dinastia ideológica, também o era. A partir dali a história soviética, e tudo o mais, tornou-se um ramo da ficção. Ai de quem deixasse de citar uma frase ou parágrafo extraído dos iluminados comandantes bolcheviques, em qualquer manual, ensaio ou relatório cientifico que fosse. Na história ou na mineralogia, na geografia ou na astronomia, a sabedoria deles era ilimitada.

Aproveitando-se da institucionalização da bajulação - segundo alguns psicólogos uma necessidade patológica de Stalin, por ser um inseguro filho de um sapateiro, um ex-servo, que agora ocupava o trono dos czares -, Lavrenti Beria, até então um inexpressivo chefe da GPU (polícia política) da Geórgia, terra natal de Stalin, pôs-se a organizar um livro. Homem de limitadas letras (sua formação era técnica), nascido no lugarejo de Merkheuli em 29 de março de 1899, Beria encomendou-o a um historiador com um nome muito próximo ao dele: E. Bediia. Editaram-na em 1935 com uma tiragem fantástica. Beria, após os devidos "reparos", colocou o seu nome como autor exclusivo e, depois de um tempo, na época do Grande Terror de 1936-8, fuzilou Bediia. O titulo era "Sobre a história das organizações bolcheviques na Transcaucásia", onde esculpiu o mito de Stalin como "o Lenin do Cáucaso".

Stalin, complexado por ter sido uma figura totalmente obscura nos acontecimentos de 1917, deliciou-se. O livro de Beria atingira o alvo. Em 1938, o Secretário-Geral trouxe-o para Moscou e entregou-lhe a NKVD (polícia política interna).A ascensão dele, curiosamente, provocou uma sensação de alivio nos moscovitas, porque aquela altura, apesar do GULAG ainda abrigar 3,5 milhões de presos, "o povo zek" como os chamou Soljenítsin, o Grande Terror amainara.


Beria e seu mentor, Stalin
Ao verem-no de pincenês imaginaram-no um professor provinciano, um acomodado homem de letras, e não o que ele era, o barqueiro Caronte que levava os caídos do regime ao inferno do arquipélago dos campos de concentração. Beria logo aclimatou-se no Kremlin,. privando com Stalin diariamente. Como um cão farejava-lhe os mínimos desejos, alimentado a paranóia do ditador. Enquanto existissem conspirações, sabotadores, espiões reais ou imaginários, Beria continuaria íntimo da casa. Ao pobre povo russo, desprovido dos seus deuses, aterrorizado, só restou celebrar celerados como ele. Na curta e surda luta pelo poder que deu-se após o falecimento de Stalin, em março de 1953, Krushev e o Marechal Zukhov, o Partido e o Exército, prenderam e fuzilaram Beria em 23 de dezembro do mesmo ano. Foi tarde. Stalin e Beria haviam dizimado o país. Praticaram de certo modo um darwinismo ao contrário: a eliminação seletiva do melhor. Não houve pessoa decente, talentosa ou criativa, que não submeteram aos rigores do artigo 58 do código de 1926: quer dizer presa, torturada, deportada ou fuzilada. Sobraram os descendentes dos medíocres, dos covardes e dos patifes. A Rússia de hoje, enfim!.


Bibliografia

Deutcher, Isaac - Stalin, história de uma tirania - Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2 vols.

Freeze, Gregory - Russia, a History Oxford University Press, Nova Iorque, 1997

Malia, Martin - Russia under western eyes, Harvard University press, Cambridge. Mass. 1999

Romanoff, Nikita - Payne, Robert - Ivan, o Terrível, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro,

Fonte: