29.6.11

Pragmatismo Ecumênico e Responsável

Por Emerson Santiago
Recebeu o nome de “Pragmatismo Ecumênico e Responsável” a política exterior brasileira realizada durante a administração do general Ernesto Geisel (1974-1979). Seguindo a tradição dos governos militares anteriores, o conjunto de orientações e atos dos representantes brasileiros no exterior recebia um “título”, que de certa forma guardava o conceito sob o qual iria se orientar a política externa brasileira naquele determinado período. Assim, através da leitura da expressão “Pragmatismo Ecumênico e Responsável” teremos uma visão panorâmica de como o Brasil se comportou no cenário internacional durante este período dentro do regime militar.

Para se obter uma ideia precisa do que foi a diplomacia do Pragmatismo Responsável faz-se necessário analisar a expressão em seu significado semântico puro e ao mesmo tempo colocá-la no contexto em que foi elaborada, no meio da década de 1970, com os desafios que o Brasil enfrentava à época. Da palavra “pragmatismo” extraímos a noção de que o Brasil conduziria sua política externa desvinculada de princípios ideológicos, em um momento ainda bastante marcado pela Guerra Fria; a expressão “ecumênico”, vinda de ecumenismo, é utilizada para descrever o processo de busca de unidade, externando a ênfase que o governo dava ao consenso de todos setores da sociedade em atingir um objetivo comum de desenvolvimento; tal pragmatismo seria ainda conduzido de modo responsável, buscando inserir o país internacionalmente, servindo sobretudo aos interesses nacionais.

O cenário internacional era bastante movimentado, com bastantes fatos novos. A República Popular da China fora recentemente admitida na ONU no lugar da República da China (Taiwan); a Guerra do Vietnã, já sem a participação direta dos EUA encaminhava-se para um final favorável aos comunistas de Ho Chi Minh; Portugal vivia uma revolução que acabara com 42 anos de regime facista, desmantelando seu império colonial e dando origem a vários novos países de língua portuguesa independentes na África; e, talvez o fato mais marcante para o país, em particular no setor econômico, a primeira crise do petróleo, que desequilibraria as contas internacionais brasileiras de modo drástico, forçando ainda mais o aumento da inflação.

A política do pragmatismo era ainda influenciada pela meta principal do governo, que era a abertura lenta e gradual a ser implementada. Com todos esses paradigmas apresentados, a velha divisão esquerda/direita, capitalismo/comunismo perdeu importância. Necessitando de capitais, o governo foi buscar novos mercados, entre eles o do bloco socialista, com o Brasil reestabelecendo laços com a União Soviética e o Leste Europeu. Além do Leste Europeu o Brasil buscava contato com a China Popular e Angola, naquele momento já sob o governo marxista do MPLA.

O Brasil ainda entraria em polêmica com os Estados Unidos acerca da questão dos Direitos Humanos. As mortes de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho em flagrante tortura realizada em dependências do Exército fizeram a má fama do Brasil internacionalmente. O governo reagiu de modo rancoroso, distanciando-se discretamente do governo americano.

Vale lembrar a destacada atuação do chanceler Antonio Francisco Azeredo da Silveira, responsável pela condução da política externa. É digno de menção a sua participação na aproximação com a Argentina e no reconhecimento imediato das independências de Angola e Guiné-Bissau, além do apoio à causa palestina.

Bibliografia:
SPEKTOR, Matias . Origens e direção do Pragmatismo Ecumênico e Responsável (1974-1979) . Disponível emhttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292004000200007. Acesso em 16/06/2011.

JULIÃO, Taís Sandrim . A atuação multilateral do Brasil sob o governo de Ernesto Geisel: as dinâmicas do Pragmatismo Ecumênico e Responsável (1974-1979) . Disponível emwww.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/rhs/article/view/163/244. Acesso em 16/06/2011.

Fonte: InfoEscola: Navegando e Aprendendo