Coluna De olho na história Historicamente a relação entre cinema e escola no Brasil tem sido objeto de estudos de educadores brasileiros desde a transição da República Velha para o Período Vargas. Já em 1927 criava-se a “Commissão de Cinema Educativo” que estava subordinada a “Sub-Diretoria Technica de Instrução Pública” com o intuito de estabelecer laços de maior proximidade entre os filmes e a educação. Os pioneiros da Escola Nova, liderados por Fernando Azevedo deram continuidade a esse projeto, dando-lhe, inclusive, reconhecimento legal através dos artigos 633 a 635 do decreto 2940, de novembro de 1928, que fazia parte da reforma do ensino do antigo Distrito Federal brasileiro, localizado na cidade do Rio de Janeiro. As escolas de ensino primário, normal, doméstico e profissional, quando funccionarem em edifícios próprios, terão salas destinadas à installação de aparelhos de projecção fixa e animada para fins meramente educativos. O cinema será utilizado exclusivamente como instrumento de educação e como auxiliar de ensino que facilite a acção do mestre sem substituí-lo. (FRANCO, 2004) A relação estabelecida tão precocemente em nossa história não se consolidou como era o desejo de alguns de nossos educadores e do próprio governo brasileiro do período de transição entre a “velha” e a “nova” república. Entretanto devemos considerar que o crescimento da produção cinematográfica ao longo das décadas seguintes fortaleceu a relação entre os brasileiros e o cinema. Fomentou-se, inclusive, o nascimento e a maturação da indústria cinematográfica nacional, apesar dos descaminhos e erros, falências e projetos engavetados temos, a partir dos anos 1930, no Brasil, o surgimento de uma escola cinematográfica que se tornou, aos poucos, respeitada e considerada mundialmente. Essa credibilidade foi atingida tanto pela retomada do sucesso (junto aos espectadores e também a crítica) de nossas produções, atingida recentemente numa feliz combinação de talento de nossos jovens cineastas e do interesse do público brasileiro, sequioso de histórias que falem de sua realidade; ou ainda no exame atual de obras produzidas em décadas passadas que criaram o nosso histórico no setor e que foram ganhando respeitabilidade em âmbito internacional (a partir de suas releituras e participações em mostras ou festivais de cinema) a ponto de forjar o surgimento de uma produção caracteristicamente brasileira. Já faz bastante tempo que Mário Peixoto filmou seu clássico Limite, no entanto as fronteiras que demarcam os territórios conquistados pelos filmes brasileiros não parecem fadadas a respeitar demarcações e tem, conseqüentemente, superado limites. A conquista de respeito internacional tem seu princípio ainda nos anos 1960 quando a Palma de Ouro do prestigiado Festival Internacional de Cinema de Cannes foi concedida ao Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte; ou ainda quando percebemos o respeito, impacto e a admiração causada por obras como Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe, do cultuado Glauber Rocha. Nosso Cinema Novo em franca evolução sofreu as limitações da censura governista ao longo dos anos 1970 e 1980. Parecia prestes a perecer em virtude da crise da Embrafilme no início dos anos 1990. Mas teve fôlego suficiente para se revigorar e entrar numa espiral de crescimento na segunda metade da década de 1990, como parecia nos dizer o diretor Cacá Diegues com o título de um de seus longas-metragens produzidos então, Dias Melhores Virão. Uma nova geração de cineastas capitaneada por Walter Salles Jr., Carla Camuratti e Fernando Meirelles, apoiada por nomes consagrados anteriormente como Sérgio Resende, Héctor Babenco, Bruno Barreto ou mesmo Cacá Diegues recolocou o cinema nacional nos trilhos do sucesso. A repercussão internacional se tornou ainda maior a partir da indicação de filmes como O Quatrilho (de Fábio Barreto), O que é isso, companheiro? (de Bruno Barreto), Central do Brasil (de Walter Salles Jr.) e de Cidade de Deus (de Fábio Meirelles) a diversos prêmios de respeito no cenário cinematográfico mundial. Além das premiações e indicações obtidas por esses e outros filmes brasileiros recentemente produzidos, também a crítica internacional especializada tem se rendido à criatividade das realizações cinematográficas “made in Brasil”. O reconhecimento levou os brasileiros de volta aos cinemas dispostos a aplaudir, rir, chorar, se assustar ou simplesmente se descontrair com os filmes nacionais. Ao se perceber como personagem das tramas, se identificando com as localidades, com os traços étnicos definidores dos personagens, com as situações assemelhadas a muitas com as quais convive, com as roupas e mesmo com os alimentos degustados em cena, o brasileiro declarou-se novamente apaixonado pelo cinema brasileiro. Isso não quer dizer que todos os nossos filmes estejam fazendo sucesso e tendo reconhecimento de público e de crítica. Há mazelas e problemas a serem solucionados. A produção nacional ainda é reduzida quando comparada a de outros países, mesmo em relação aos vizinhos latino-americanos que, como os brasileiros, têm vivido crises e dificuldades que emperram os financiamentos para a produção, casos da Argentina e do México. Entretanto os recortes que têm sido criados a partir das câmeras, roteiros, fotografias e edições realizadas pelos especialistas brasileiros têm nos trazido uma idéia muito clara da realidade de nosso país ao longo de toda a sua história. E isso não pode ser desprezado pela educação... Fonte:http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=866
O trabalho de uma nova geração de cineastas brasileiros, capitaneados pelo sucesso internacional de Walter Salles Jr. (acima) e Fernando Meirelles, está dando credibilidade e respaldo para o crescimento do cinema nacional.
“Limite”, de Mário Peixoto é considerado como a primeira
obra-prima do cinema nacional.
Glauber Rocha e o Cinema Novo colocaram o Brasil em destaque no cenário internacional da Sétima Arte na década de 1960.