Desde o final do século XII, os imperadores japoneses, considerados deuses, reinavam, mas não governavam. O poder estava nas mãos das grandes famílias de proprietários rurais, lideradas pelo xogum, chefe militar e governador, que acabou esvaziando o poder imperial. As numerosas famílias de proprietários rurais que se hostilizavam e lutavam pelo poder costumavam, quando venciam, trocar o xogum anterior por um membro da família vencedora. Porém, o xogunato mantinha o domínio dessas famílias rurais sobre o resto da população, que era dividida em castas: comerciantes, artesãos, camponeses e miseráveis.
No final do século XVI, a família dos Tokugawa ocupou o xogunato e isolou o Japão do resto do mundo. A partir de então, só entravam no Japão barcos da China e da Holanda, únicos autorizados a exportar e a importar determinados produtos. O Japão praticamente passou a viver de seus próprios recursos. Essa medida drástica foi tomada, em primeiro lugar, pelo medo que os japoneses tinham dos ocidentais. Os portugueses, com suas enormes caravelas, canhões e arcabuzes, haviam chegado ao Japão em 1543 e convertido milhares de pessoas ao cristianismo. Essa conversão originou inúmeras revoltas de camponeses e de outros grupos sociais, que não aceitavam mais a divindade do imperador. Para combater o perigo ocidental e manter suas instituições tradicionais intactas, as autoridades japonesas resolveram se isolar do mundo.
Os japoneses também tinham escassez de moedas de ouro e gêneros alimentícios. Assim sendo, o Japão proibiu o comércio com o estrangeiro p01- que, sendo um país carente, temia que seus gêneros alimentícios e sua rara moeda saíssem do país. Esse isolamento japonês durou mais de dois séculos. Mas, apesar disso, o Japão fez progressos significativos. A produção de arroz e a população cresceram, o comércio interno desenvolveu-se e a vida urbana intensificou-se. No século XVIII, Yedo, a capital japonesa, possuía mais de 1 milhão de habitantes. A vida luxuosa em Yedo arruinou a maiori2 dos grandes proprietários, que se viu obrigada vender suas colheitas, e mesmo suas propriedades, para os comerciantes que enriqueciam. Muitos desses comerciantes casavam seus filhos filhas com os das grandes famílias da nobreza rompendo a rígida sociedade de castas. Os senhores que perdiam as terras não podiam ma alimentar seus guerreiros, os chamados samurais, que lhes deviam fidelidade. Na primeira metade do século XIX, premidos pela fome, os samurais participaram de uma série de agitações contra os comerciantes ricos.
Os americanos estavam interessados nos mercados asiáticos, particularmente no merca do japonês. Enviaram a esquadra do com odoro Perry, em 1854, para bombardear os portos japoneses, exigindo e conseguindo que o Japão os abrisse ao comércio com navios estrangeiros. As concessões aos estrangeiros alimentaram o nacionalismo japonês, sua xenofobia e agravaram a crise econômica no país. As importações provocaram evasão de moedas e falência do artesanato e das manufaturas locais. As exportações de trigo, algodão e seda aumentaram o preço desses produtos no mercado interno, elevando o custo de vida. Em meio a essa crise, os samurais, antes respeitados por sua fidelidade, transformaram-se em grupos de bandidos que percorriam o país fazendo pilhagens. Nessa época, os europeus dividiam entre si a África e a Ásia. Os japoneses temiam ser dominados e perder sua independência. Então, para resistir aos estrangeiros e manter sua liberdade, os partidários de um império forte passaram a exigir que o imperador deixasse de ser apenas figurativo, que abolisse o xogunato, ocupasse o poder e modernizasse o Japão. Eles aboliram o xogunato e chamaram o jovem imperador Mutsuhito, que saiu de Quinto para governar em Yedo, agora chamada Tóquio. Era a Revolução Meire, que ocorreu em 1868.
O Japão da era Meire era ao mesmo tempo moderno e tradicional. A industrialização japonesa não provocou, como em outros países, mu Danças sociais. A sociedade continuava disciplinada, obediente,respeitadora da hierarquia social tradicional. Os trabalhadores, dóceis e habilidosos, aceitavam sem protestar os baixos salários que lhes eram pagos, as longas jornadas de trabalho e a disciplina férrea, e ao mesmo tempo paternal, das empresas às quais estavam ligados.A era Meire foi a “era das luzes” japonesa. Não podendo romper com os estrangeiros, o Japão desenvolveu-se em colaboração com eles, sendo o primeiro país asiático a trilhar o caminho da ocidentalização.Durante esse período, duas forças exerceram o poder: os nobres favoráveis à nova ordem e os grandes capitalistas enriquecidos. O outro elemento que ajudou na construção do Japão moderno foi o sacrifício do povo. Toda essa transformação foi gerada sob a mística do poder imperial divinizado. Na organização institucional da era Meire, o imperador era assistido pelo genro pequeno grupo de conselheiros, com muito poder.
Esse grupo formulava a política e o piano de reorganização japonês, além de enviar missões à Europa e aos Estados Unidos para inteirar-se dos assuntos estrangeiros, principalmente dos tecnoindustriais. A velha nobreza, ultrapassada, foi modernizada e agora tirava seu sustento do exercício da função pública. Os camponeses arrendatários tornaram-se proprietários e as rendas que antes pagavam aos senhores transformaram-se em impostos pagos ao Estado. A modernização atingiu todos os setores: no lugar dos grandes domínios rurais, surgiram as prefeituras; os exércitos particulares transformaram-se em exército nacional; as escolas foram reformuladas para criar técnicos industriais competentes. A era Meire foi o período do grande capital, dos grandes grupos que ajudaram a restaurar o poder imperial. Mesmo ingressando tardiamente no capitalismo, o Japão atingiu o estágio do capitalismo monopolista ao mesmo tempo que os países industrializados do Ocidente.
A concentração industrial e comercial os zaibatsu, apoiada nos grandes bancos, desenvolvia-se aceleradamente. O capital estrangeiro, contratado pelo governo japonês para financiar o desenvolvimento industrial, ia para esses conglomerados, controlados por algumas poucas famílias. Grandes bancos foram criados e investiram em mineração, ferrovias, indústrias em geral e em companhias de navegação. Mas nem tudo eram rosas no Japão de Meire. A agricultura passava por maus momentos: os lotes eram pequenos, os camponeses não tinham dinheiro para a mecanização e os impostos eram maiores que as rendas antes entregues aos grandes proprietários de terras. Muitos camponeses faliram e seus bens foram comprados pelos capitalistas. A pequena nobreza samurai estava descontente com a reforma militar, que transformou seus títulos e prerrogativas em pensões que a inflação destruía. Em 1877, ela tentou se rebelar e foi derrotada, constituindo esta a última revolta dos nobres japoneses. Em apenas 50 anos, o Japão tornou-se uma potência econômica e militar de primeira grandeza, após ter dominado as técnicas e os modelos ocidentais. Com isso, manteve sua indique descia e pôde lançar se, ao lado das grandes potências ocidentais, à conquista de colônias e áreas de influência na Ásia.
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